XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO A)

A PALAVRA

A liturgia do XXVII Domingo do Tempo Comum utiliza a imagem da “VINHA DE DEUS” para falar do povo que aceita o desafio do amor de Deus e se coloca a serviço de Deus. Deus exige desse povo frutos de amor, paz, justiça, bondade e misericórdia.

Na primeira leitura (Is 5,1-7), o profeta Isaías revela o amor e a preocupação de Deus por Sua “VINHA“. No entanto, esse amor e preocupação não podem ser respondidos com frutos de egoísmo e injustiça. O povo de Deus deve deixar-se transformar pelo amor sempre fiel de Deus e produzir os bons frutos que Deus aprecia, como justiça, retidão, obediência aos mandamentos e fidelidade à Aliança.

No Evangelho (Mt 21,33-43), Jesus retoma a imagem da “VINHA” e faz uma crítica contundente aos líderes judaicos que se apropriaram da “VINHA DE DEUS” em benefício próprio e sempre se recusaram a oferecer a Deus os frutos que lhe eram devidos. Jesus anuncia que a “VINHA” será retirada deles e entregue a trabalhadores que produzam e apresentem a Deus os frutos que Ele espera.

Na segunda leitura (Fl 4,6-9), Paulo exorta os cristãos da cidade grega de Filipos, bem como todos aqueles que fazem parte da “VINHA DE DEUS“, a viverem com alegria e serenidade, honrando o que é verdadeiro, nobre, justo e digno. São esses os frutos que Deus espera de Sua “VINHA“.

Fonte de reflexão: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

A “parábola da vinha” é uma história de amor que nos fala sobre o amor de um Deus que liberta Seu povo da escravidão, o guia em direção à liberdade, estabelece laços familiares, oferece orientações seguras para trilhar o caminho da justiça, harmonia e felicidade, e o protege ao longo da jornada da história. Devemos estar cientes de que essa história de amor não chegou ao fim, e o mesmo Deus continua a derramar Seu amor, bondade e misericórdia sobre nós todos os dias.
Temos consciência disso? Mantemos o coração aberto para receber Seus dons?
Encontramos tempo e disposição para agradecer e louvar a Ele?

1 Vou cantar para o meu amado
o cântico da vinha de um amigo meu:
Um amigo meu possuía uma vinha em fértil encosta.
2 Cercou-a, limpou-a de pedras,
plantou videiras escolhidas,
edificou uma torre no meio e construiu um lagar;
esperava que ela produzisse uvas boas,
mas produziu uvas selvagens.
3 Agora, habitantes de Jerusalém e cidadãos de Judá,
julgai a minha situação e a de minha vinha.
4 O que poderia eu ter feito a mais por minha vinha
e não fiz?
Eu contava com uvas de verdade,
mas, por que produziu ela uvas selvagens?
5 Pois agora vou mostrar-vos 
o que farei com minha vinha:
vou desmanchar a cerca, e ela será devastada;
vou derrubar o muro, e ela será pisoteada.
6 Vou deixá-la inculta e selvagem:
ela não será podada nem lavrada,
espinhos e sarças tomarão conta dela;
não deixarei as nuvens derramar a chuva sobre ela.
7 Pois bem, a vinha do Senhor dos exércitos
é a casa de Israel,
e o povo de Judá, sua dileta plantação;
eu esperava deles frutos de justiça — e eis injustiça;
esperava obras de bondade — e eis iniquidade.
Palavra do Senhor.

Imploramos a Deus para proteger e restaurar Sua vinha, para que possamos viver em Sua presença e ser salvos.

R. A vinha do Senhor é a casa de Israel.

9 Arrancastes do Egito esta videira, *
e expulsastes as nações para plantá-la;
12 até o mar se estenderam seus sarmentos, *
até o rio os seus rebentos se espalharam. R.

13 Por que razão vós destruístes sua cerca, *
para que todos os passantes a vindimem,
14 o javali da mata virgem a devaste, *
e os animais do descampado nela pastem? R.

15 Voltai-vos para nós, Deus do universo! †
Olhai dos altos céus e observai.*
Visitai a vossa vinha e protegei-a!
16 Foi a vossa mão direita que a plantou; *
protegei-a, e ao rebento que firmastes! R.

19 E nunca mais vos deixaremos, Senhor Deus! *
Dai-nos vida, e louvaremos vosso nome!
20 Convertei-nos, ó Senhor Deus do universo, †
e sobre nós iluminai a vossa face!*
Se voltardes para nós, seremos salvos! R.

Paulo incentiva os crentes a não se preocuparem, pois estão unidos a Cristo e confiantes na ressurreição. Ele questiona por que, às vezes, mostramos tristeza e inquietação diante das dificuldades, destacando a importância de sermos testemunhas de paz e serenidade para os outros.

Irmãos:
6 Não vos inquieteis com coisa alguma,
mas apresentai as vossas necessidades a Deus,
em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças.
7 E a paz de Deus, 
que ultrapassa todo o entendimento,
guardará os vossos corações e pensamentos
em Cristo Jesus.
8 Quanto ao mais, irmãos, 
ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, 
justo, puro, amável, honroso,
tudo o que é virtude 
ou de qualquer modo mereça louvor.
9 Praticai o que aprendestes e recebestes de mim,
ou que de mim vistes e ouvistes.
Assim o Deus da paz estará convosco.
Palavra do Senhor.

A parábola trata dos trabalhadores da “VINHA” de Deus que rejeitam o “filho” de forma absoluta e radical. Embora não rejeitemos Jesus conscientemente, muitas vezes deixamos que valores como egoísmo, comodismo, orgulho, dinheiro, poder e fama influenciem nossas escolhas. Isso é, de certa forma, rejeitar Jesus e mantê-Lo à margem de nossa vida. Como incorporamos os valores de Jesus em nosso dia a dia? Eles servem como alicerce sólido para nossa jornada ou são facilmente descartados sob pressão de interesses egoístas e comodistas?

Naquele tempo, Jesus disse aos sumos sacerdotes
e aos anciãos do povo:
33 “Escutai esta outra parábola:
Certo proprietário plantou uma vinha, 
pôs uma cerca em volta, 
fez nela um lagar para esmagar as uvas,
e construiu uma torre de guarda.
Depois, arrendou-a a vinhateiros,
e viajou para o estrangeiro.
34 Quando chegou o tempo da colheita,
o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros
para receber seus frutos.
35 Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados,
espancaram a um, mataram a outro,
e ao terceiro apedrejaram.
36 O proprietário mandou de novo outros empregados,
em maior número do que os primeiros.
Mas eles os trataram da mesma forma.
37 Finalmente, o proprietário enviou-lhes o seu filho,
pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’.
38 Os vinhateiros, porém, ao verem o filho, 
disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. 
Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!’
39 Então agarraram o filho,
jogaram-no para fora da vinha e o mataram.
40 Pois bem, quando o dono da vinha voltar,
o que fará com esses vinhateiros?”
41 Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam:
“Com certeza mandará matar de modo violento 
esses perversos 
e arrendará a vinha a outros vinhateiros,
que lhe entregarão os frutos no tempo certo”.
42 Então Jesus lhes disse:
“Vós nunca lestes nas Escrituras:
‘A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se a pedra angular;
isto foi feito pelo Senhor
e é maravilhoso aos nossos olhos?’
43 Por isso, eu vos digo:
o Reino de Deus vos será tirado
e será entregue a um povo que produzirá frutos”.
Palavra da Salvação.

Reflexão

DIREITOS DE DEUS-ESPOSO

Nos dois últimos domingos, a liturgia tem se concentrado na imagem da “VINHA“: trabalhadores contratados para trabalhar durante todo o dia, outros por algumas horas e alguns apenas na última hora. É chocante que todos recebam o mesmo salário. Ou os dois filhos, aquele que diz “sim” não vai trabalhar na vinha, enquanto o que diz “não” acaba indo. O tema da “VINHA” continua neste domingo e se concentra no “senhor” apaixonado por sua vinha.

Vou dividir esta reflexão em três partes:

  • Os ciúmes em um amor não correspondido;
  • A vinha amada e os administradores assassinos;
  • Nunca viticultores assassinos! Bem-aventurados os pacíficos!

OS CIÚMES DE UM AMOR NÃO CORRESPONDIDO

Os ciúmes de um amor não correspondido são evidenciados na primeira leitura. O profeta Isaías se coloca como um amigo de Deus que deseja expressar o profundo amor de Deus por Sua VINHA:

“Vou cantar para o meu amado o cântico da vinha de um amigo meu”

O cântico do profeta se converteu em uma lamentação terrível: o povo, que era a VINHA DE DEUS, decepcionou profundamente Aquele que tanto a amava. Isso nos leva a refletir sobre como, em nossos próprios tempos, também podemos desapontar o amor e os cuidados divinos ao permitir que nossos caminhos se afastem dos valores que Deus deseja que cultivemos em nossas vidas. A história da VINHA DE DEUS serve como um lembrete sobre a importância de corresponder ao amor de Deus com frutos dignos de Sua graça e bondade.

A VINHA AMADA E OS ADMINISTRADORES ASSASSINOS

Jesus no evangelho estende o cântico da vinha com novos detalhes: o dono confiou a vinha a um vigia permanente; ele a alugou para alguns agricultores cuidarem; o dono partiu em viagem. No devido tempo, o dono enviou mensageiros para colher os frutos da vinha, mas eles foram espancados; depois, ele enviou seu próprio Filho, que foi assassinado fora da vinha.

Para Jesus, a vinha produz excelentes frutos. O problema está nos cuidadores da vinha, que se tornam proprietários. O povo de Deus não pertence aos seus líderes, apenas a Deus e ao Seu Filho! Por isso, os maus líderes terão um fim triste.

Que advertência tão séria para os líderes da Igreja e dos Estados! Os abusos de poder, os abusos sexuais, a tirania sobre o povo de Deus não ficarão impunes! Deus está apaixonado por Sua VINHA. E como bem compreendeu o grande teólogo protestante Karl Barth:

“Se Jesus não se casou, foi porque Sua única esposa, Seu único amor, foi Sua Igreja.”

A Igreja não pertence nem ao Papa, nem aos Bispos, nem aos Párocos, o povo não pertence aos políticos… ela pertence apenas a Jesus, que entregou sua vida ‘POR TODOS’!

NUNCA VITICULTORES ASSASSINOS! BEM-AVENTURADOS OS PACÍFICOS!

Ao refletirmos sobre a segunda leitura da carta de São Paulo aos Filipenses, somos exortados a viver como homens e mulheres de paz. Esta exortação está em consonância com as palavras de São Paulo aos Filipenses, que nos incentivam a não nos preocuparmos com ansiedade, mas, em todas as circunstâncias, apresentarmos nossas petições a Deus com orações e súplicas, com ações de graças. O apóstolo nos convida a encontrar a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardando nossos corações e mentes em Cristo Jesus.

Assim, quando nos referimos à parábola da VINHA DO SENHOR, que é o Seu povo, podemos compreender que Deus nos plantou com cuidado em Sua vinha, nos preparou com amor e nos protege com Sua graça. O chamado à paz reflete o desejo de Deus de que cuidemos uns dos outros, como Ele nos cuida. Devemos ser os zeladores diligentes dessa vinha, garantindo que ela produza os frutos de amor, justiça e misericórdia que Deus espera.

Ao agirmos em paz, demonstramos um comportamento totalmente oposto ao dos homicidas da vinha, que representam aqueles que semeiam discórdia, injustiça e conflito. Em vez disso, busquemos a paz com todos, abraçando a harmonia e a reconciliação como princípios fundamentais de nossa vida cristã. A vinha do Senhor merece o melhor de nós, nosso esforço constante para promover o bem e a paz em nosso mundo.

Ao fazermos isso, permitimos que o Deus da paz esteja sempre conosco, guiando-nos em nossa jornada espiritual e capacitando-nos a ser agentes de Sua paz no mundo. Que possamos abraçar a exortação de São Paulo aos Filipenses, cultivando a paz em nossas vidas e refletindo a luz de Deus na vinha que Ele nos confiou.

Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU