VI DOMINGO DA PÁSCOA (ANO B)

A PALAVRA

A liturgia do VI Domingo da Páscoa convida-nos a contemplar o AMOR DE DEUS, manifestado na pessoa, nos gestos e nas palavras de Jesus e dia a dia tornados presente na vida dos homens por ação dos discípulos de Jesus.

A segunda leitura (1Jo 4,7-10) apresenta uma das mais profundas e completas definições de Deus: “DEUS É AMOR”. A vinda de Jesus ao encontro dos homens e a sua morte na cruz revelam a grandeza do amor de Deus pelos homens. Ser “filho de Deus” e “conhecer a Deus” é deixar-se envolver por este dinamismo de amor e amar os irmãos.

No Evangelho (Jo 15,9-17), Jesus define as coordenadas do “CAMINHO” que os seus discípulos devem percorrer, ao longo da sua marcha pela história… Eles são os “amigos” a quem Jesus revelou o amor do Pai; a sua missão é testemunhar o amor de Deus no meio dos homens. Através desse testemunho, concretiza-se o projeto salvador de Deus e nasce o Homem Novo.

A primeira leitura (At 10,25-26.34-35.44-48) afirma que essa salvação oferecida por Deus através de Jesus Cristo, e levada ao mundo pelos discípulos, se destina a todos os homens e mulheres, sem exceção. Para Deus, o que é decisivo não é a pertença a uma raça ou a um determinado grupo social, mas sim a disponibilidade para acolher a oferta que Ele faz.

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

25Quando Pedro estava para entrar em casa,
Cornélio saiu-lhe ao encontro,
caiu a seus pés e se prostrou.
26Mas Pedro levantou-o, dizendo:
‘Levanta-te. Eu, também, sou apenas um homem’.
34Então, Pedro tomou a palavra e disse:
‘De fato, estou compreendendo
que Deus não faz distinção entre as pessoas.
35Pelo contrário, ele aceita quem o teme
e pratica a justiça,
qualquer que seja a nação a que pertença.
44Pedro estava ainda falando,
quando o Espírito Santo desceu
sobre todos os que ouviam a palavra.
45Os fiéis de origem judaica, que tinham vindo com Pedro,
ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo
fosse derramado também sobre os pagãos.
46Pois eles os ouviam falar e louvar a grandeza de Deus
em línguas estranhas.
Então Pedro falou:
47‘Podemos, por acaso, negar a água do batismo
a estas pessoas que receberam, como nós,
o Espírito Santo?’
48E mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo.
Eles pediram, então,
que Pedro ficasse alguns dias com eles.
Palavra do Senhor.

R. O Senhor fez conhecer a salvação e
revelou sua justiça às nações.


1Cantai ao Senhor Deus um canto novo,*
porque ele fez prodígios!
Sua mão e o seu braço forte e santo*
alcançaram-lhe a vitória.R.

2O Senhor fez conhecer a salvação,*
e às nações, sua justiça;
3arecordou o seu amor sempre fiel*
3bpela casa de Israel.R.

3cOs confins do universo contemplaram*
3da salvação do nosso Deus.
4Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira,*
alegrai-vos e exultai!R.

Caríssimos:
7Amemo-nos uns aos outros,
porque o amor vem de Deus
e todo aquele que ama
nasceu de Deus e conhece Deus.
8Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus,
pois Deus é amor.
9Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós:
Deus enviou o seu Filho único ao mundo,
para que tenhamos vida por meio dele.
10Nisto consiste o amor:
não fomos nós que amamos a Deus,
mas foi ele que nos amou
e enviou o seu Filho
como vítima de reparação pelos nossos pecados.
Palavra do Senhor.

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:
9Como meu Pai me amou,
assim também eu vos amei.
Permanecei no meu amor.
10Se guardardes os meus mandamentos,
permanecereis no meu amor,
assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai
e permaneço no seu amor.
11Eu eu vos disse isto,
para que a minha alegria esteja em vós
e a vossa alegria seja plena.
12Este é o meu mandamento:
amai-vos uns aos outros,
assim como eu vos amei.
13Ninguém tem amor maior
do que aquele que dá sua vida pelos amigos.
14Vós sois meus amigos,
se fizerdes o que eu vos mando.
15Já não vos chamo servos,
pois o servo não sabe o que faz o seu senhor.
Eu vos chamo amigos,
porque vos dei a conhecer
tudo o que ouvi de meu Pai.
16Não fostes vós que me escolhestes,
mas fui eu que vos escolhi
e vos designei para irdes e para que produzais fruto
e o vosso fruto permaneça.
O que então pedirdes ao Pai em meu nome,
ele vo-lo concederá.
17Isto é o que vos ordeno:
amai-vos uns aos outros.
Palavra da Salvação.

Reflexão

DEUS É AMOR

A primeira grande palavra que já existiu, é a origem de todas as palavras bonitas e todas as coisas boas é “AMOR“.

No começo era o AMOR DE DEUS. E como o amor é comunicação e expressão, o amor começou a falar e mudar tudo: caos, desordem, escuridão, e criou luz, vida, equilíbrio, paraíso… e o ser humano para receber tudo o que ele era e deu, e fez com que ele pudesse dar a si mesmo, dialogar, fundir e amar. E como tudo era fruto do AMOR, tudo era muito bom. O amor muitas vezes continua a dizer “faça isso”, e faz tudo de bom, vital, luminoso, humano.

Quando dizemos que Deus “é” amor, estamos dizendo que Deus “ama”, que Ele é feito de amor, que Ele só sabe e só pode amar, e que tudo o que ele faz é por amor, para crescer amor, para sustentar o amor, para tornar o amor possível.  O amor é o que está atrás de mim e antes do meu nascimento. Ele me amava e queria que eu existisse. E o amor será o último abraço que receberei quando minha existência acabar. E entre o nascimento e o descanso eterno, o amor é a “fórmula secreta” para encher a vida de significado e torná-la frutífera.

Se esta é a “definição” de Deus, significa que onde Deus está, há AMOR lá. Portanto, todo mundo que se aproxima de Deus tem que amar, porque o amor o absorve e o envolve e sempre sai, expande, multiplica, se espalha.

Quanto mais perto está de Deus, mais ele tem que ser notado pelo seu AMOR; todos que forem tocados por Deus, mesmo que ele não tenha percebido, mesmo que ele diga que não acredita em Deus, terão se infectado pelo amor e isso se aplica a todos e para sempre… porque nada e ninguém existe sem o amor de Deus.

Ninguém pode realmente dizer que viu Deus, que conhece Deus, que acredita em Deus, que ama Deus, que compôs o sacramento do amor, que falou com Deus… se seu coração é frio, duro, violento, egoísta, se é individualista, se seu coração faz distinções, se você ama seletivamente, se você ama e exigi correspondência, se você ama possuir e dominar, se você ama absorver ou ousar, se você ama com ciúmes, controlando.

DEUS É AMOR” também significa que onde há amor há Deus.

Se você encontrar sinais de amor autêntico, você está rastreando as pegadas de Deus. Onde há pessoas que se ajudam, perdoam a si mesmas, se unem, comprometem-se uns com os outros é que são movidos – embora não saibam – pelo Espírito de Deus, que é o Amor de Deus derramado em nossos corações.

É verdade que a palavra “AMOR“, tão curta, tão simples, mas tão rica, é usada sem muita precisão, sem respeito, esvaziando-a de conteúdo, confundindo-a com outras coisas.

E acabamos chamando quase tudo de “amor”. E então vêm as decepções. Nós passamos a dizer “amor” ao que é puro egoísmo, manipulação, dominância, atração física, desejo ou sentimentalismo, dependência, necessidade… Por isso que é importante e necessário que quando falamos de amor ou queremos chamar algo de “amor” olhamos para aquele que mais sabe sobre o amor: Deus, o Pai em Jesus Cristo pelo Espírito.

    • O verdadeiro amor é LIBERTADOR.

Ele não suporta ver o outro emaranhado, sem dignidade, escravo, limitado, usado, diminuído.
E então ele começa a quebrar as correntes e enfrentar qualquer um que queira tirar vantagem.
Assim Deus se apresentou a Moisés no espinheiro, e Jesus dedicou toda a sua vida a ele.

    • O verdadeiro amor é o DIÁLOGO.

Quando se equivoca, falha, responde  com uma “grosseria”, se esconde, foge …

Quando o outro pensa diferente, quando em seus próprios  critérios…  Ele sabe como sair e encontrá-lo onde quer que esteja escondido, deprimido, envergonhado, sofrendo, e pergunta preocupado: “Onde você está? O que aconteceu com você?”. Tentando restaurar a comunhão, construir pontes, tornar o encontro possível.

    • O amor autêntico REVELA SUA PRÓPRIA INTIMIDADE, ousa confiar no mais secreto.

Aí temos Jesus “revelando” aos seus discípulos a sua estreita relação com o Pai: “Eu os chamo de amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer”. Silêncio, oração, preocupações, sonhos, lágrimas, medos, discernimento quando as decisões precisam ser feitas… também são compartilhados.

    • O amor autêntico é SACRIFÍCIO. “Deus amou tanto o mundo que lhe deu o que mais amava, o seu único Filho”, para tornar possível o amor entre nós.

Quando o amor é verdadeiro e puro, é até capaz de sair do caminho para não ser um obstáculo: “Eu te amo muito, quero você feliz… mesmo sem mim”; “Eu me importo mais com você do que comigo”; “Ficarei feliz se você estiver, mesmo que me custe e doa não estar com você”. Os pais sabem disso muito bem. Mas também todos aqueles que entendem o que é o amor verdadeiro.

E “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos“. É a renúncia máxima aos próprios desejos justos ou interesses pessoais. Para tornar possível a felicidade do outro, quem ama está disposto a desistir ao máximo: desistir de si e do outro. É assim que Deus é, é assim que Jesus fez. Nós também devemos. E assim, o amor verdadeiro SE MULTIPLICA e cresce.

É muito significativo para mim que Jesus, depois daquela “declaração” amorosa aos seus discípulos, depois de chamá-los de “amigos”, revelando a sua intimidade, e tudo o mais, não reivindique o amor a si mesmo. Teria sido lógico ouvi-lo dizer: “Me ame assim também.” Mas não: a prova de que o amamos, de que acolhemos e valorizamos o seu amor… é o amor que temos um pelo outro. Requisito surpreendente. O sinal de que amamos alguém (incluindo Deus) é o que criamos em torno da comunhão, da comunidade, da fraternidade. Sentimos a necessidade de que aqueles ao nosso redor também se amem e se sintam amados. Ainda mais: que qualquer homem ou mulher se sinta amado, e ainda mais aqueles que mais precisam de amor: os enfermos, os famintos, os que vivem sem dignidade, os que falham na vida, os que não podem estar na sua a terra, o sujeito, o doente, o idoso, o imigrante sem recursos…

“Ouse”: que é essencial recordar e saborear com frequência que DEUS É AMOR e tudo o que ele fez por nós por amor… para que nós, que fomos feitos à sua imagem e semelhança, coloquemos o amor em primeiro lugar, acima de tudo com obras, com fatos: há tanto para amar! E podemos amar muito mais! Permanecendo ao alcance de seu imerecido Amor, Seu Amor é o que torna possível o nosso.

Meu irmão: eu te amo. Eu te amo por mil razões:
Eu te amo porque Deus quer que eu te ame e me fez seu irmão.
Eu te amo porque Deus me ordena. Eu te amo porque Deus te ama.
Amo-te porque Deus te criou à sua imagem e para o céu.
Eu te amo porque Deus derramou Seu sangue para te dar vida.
Eu te amo por quanto Jesus Cristo fez e sofreu por você.
E como prova do amor que tenho por você, vou fazer e sofrer por você
todas as dores e obras, até a morte se for preciso… Amo-te porque fui amada por Maria, minha querida mãe.
Amo-te, e por amor te ensinarei de que males deves separar-te, que virtudes deves desenvolver, e te acompanharei ao longo dos caminhos das boas obras e do céu.
(Santo Antonio Maria Claret)

Texto: QUIQUE MARTÍNEZ DE LA LAMA-NORIEGA, cmf
Imagem: PEXELS  em PIXABAY 
Fonte: CIUDAD REDONDA (Missionários Claretianos)