UM CAMINHO PARA ALGO SUPERIOR

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O que é o pecado? Não ir à missa no domingo é pecado? E sonegar impostos? Embriagar-se? Guardar rancor? A masturbação é pecado? A infidelidade no matrimônio é pecado?

Por tempo demais, pregadores, catequistas, professores de catecismo, a hierarquia eclesiástica e teólogos morais têm se concentrado excessivamente no pecado. Sim, o pecado existe, mas ele não pode ser o eixo central da nossa compreensão sobre o que significa viver uma vida cristã moral. Nesse sentido, devemos olhar para Jesus como nosso modelo.

No Sermão da Montanha, Ele nos ensina: “Não penseis que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento.” (Mateus 5,17). O que Ele quer nos dizer com isso? Ele não veio para desfazer-se dos Dez Mandamentos, mas para nos convidar a algo maior.

Infelizmente, tendemos a acreditar que viver moralmente bem significa apenas obedecer aos Mandamentos e evitar o pecado. Tradicionalmente, a chamada “teologia moral” tem girado em torno de questões éticas: o que é certo e o que é errado? No entanto, se olharmos para Jesus como mestre moral, perceberemos algo diferente. Seu Sermão da Montanha – talvez o mais belo código moral já proclamado – não se limita a nos dizer o que evitar, mas nos convida a algo mais profundo. Ele parte do pressuposto de que já seguimos os Dez Mandamentos e, então, nos desafia a ir além: a sermos aqueles que ajudam a sustentar as tensões do mundo.

Jesus não nos oferece uma teologia moral convencional. Ele nos chama a um discipulado mais profundo – algo que a verdadeira catequese e a vivência cristã deveriam proporcionar.

Um dos exemplos mais belos dessa chamada está no coração do Sermão da Montanha. Em certo momento, Ele nos desafia a viver uma “justiça maior do que a dos escribas e fariseus” (Mateus 5,20). É fácil perder de vista o significado real dessa afirmação. Frequentemente, pensamos que Jesus estava criticando a hipocrisia dos fariseus e escribas, mas não é bem assim. A maioria deles eram homens sinceros, piedosos, que observavam os Dez Mandamentos com rigor e tratavam os outros com justiça. Ser moralmente correto, para eles, significava exatamente isso: cumprir todas as leis e ser justos com todos.

Mas, então, o que falta? Se sou uma pessoa que cumpre os Mandamentos e trata todos com justiça, por que isso ainda não é suficiente?

A resposta de Jesus nos leva além da justiça e dos Mandamentos. Ele nos convida a algo maior.

A justiça, por si só, ainda permite que odiemos nossos inimigos, que amaldiçoemos aqueles que nos fazem mal e que exijamos castigo proporcional para os culpados (“olho por olho, dente por dente”). Mas Jesus nos convida a transcender tudo isso:

Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, orai pelos que vos caluniam” (Lucas 6,27-28).

Essa é a essência da verdadeira moral cristã. E notemos que isso não vem como uma imposição, mas como um convite. O chamado de Cristo não é uma lista de proibições, mas um apelo para que almejemos algo mais alto, que transcendamos nossos impulsos naturais. Viver moralmente bem não significa apenas cumprir regras, mas amar com plenitude.

Lembro-me de uma palestra do falecido Michael Hines, em que ele ofereceu uma bela imagem sobre esse chamado constante de Deus para que cresçamos espiritualmente. Ele nos convida a imaginar uma mãe incentivando seu bebê a dar os primeiros passos. Ela se agacha diante da criança, estende as mãos a uma pequena distância, encorajando-a com um sorriso a se arriscar e dar o primeiro passo. Assim que o bebê dá esse passo, ela recua ligeiramente as mãos e, com ternura, convida-o a dar mais um. Assim, pouco a pouco, o bebê atravessa toda a sala.

Essa é a imagem perfeita para o discipulado cristão e a verdadeira teologia moral. Nossa principal preocupação não deveria ser apenas perguntar: “Isso é pecado?” ou “Posso ou não fazer isso?”.

A pergunta essencial que devemos nos fazer é:

A QUE SOU CHAMADO? ONDE PRECISO CRESCER PARA ALCANÇAR ALGO MAIOR? ESTOU AMANDO ALÉM DOS MEUS INSTINTOS NATURAIS?

E mais especificamente:

  • Estou amando aqueles que me odeiam?
  • Estou abençoando aqueles que me amaldiçoam?
  • Estou perdoando aqueles que me ferem?

Jesus nos ensina: “Não vim para abolir os Mandamentos, mas para levá-los à plenitude” (Mateus 5,17). Ele nos convida, sempre, a um caminho mais elevado. Um caminho que nos leva, passo a passo, ao coração do próprio Deus.

Texto: Ron Rolheiser
Fonte: Ciudad Redonda