SOLENIDADE SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS (ANO A)

A PALAVRA

Quem é esse Deus em quem acreditamos? Qual é a sua essência? Como é que o podemos definir? A liturgia deste dia diz-nos que “DEUS É AMOR”. Convida-nos a contemplar a bondade, a ternura e a misericórdia de Deus, a deixarmo-nos envolver por essa dinâmica de amor, a viver “no amor” a nossa relação com Deus e com os irmãos.

A primeira leitura (Dt 7,6-11) é uma catequese sobre essa história de amor que une Deus a Israel. Ensina que foi o amor – amor gratuito, incondicional, eterno – que levou Deus a eleger Israel, a libertá-lo da opressão, a fazer com ele uma Aliança, a derramar sobre ele a sua misericórdia em tantos momentos concretos da história… Diante da intensidade do amor de Deus, Israel não pode ficar de braços cruzados: o Povo é convidado a comprometer-se e a viver de acordo com os seus mandamentos.

A segunda leitura (1Jo 4,7-16) define, numa frase lapidar, a essência de Deus: “DEUS É AMOR”. Esse “amor” manifesta-se, de forma concreta, clara e inequívoca em Jesus Cristo, o Filho de Deus que Se tornou um de nós para nos manifestar – até à morte na cruz – o amor do Pai. Quem quiser “conhecer” Deus, permanecer em Deus ou viver em comunhão com Deus, tem de acolher a proposta de Jesus, despir-se do egoísmo, do orgulho e da arrogância e amar Deus e os irmãos.

O Evangelho (Mt 11,25-30) garante-nos que esse Deus que é amor tem um projeto de salvação e de vida eterna para oferecer a todos os homens. A proposta de Deus dirige-se especialmente aos pequenos, aos humildes, aos oprimidos, aos excluídos, aos que jazem em situações intoleráveis de miséria e de sofrimento: esses são não só os mais necessitados, mas também os mais disponíveis para acolher os dons de Deus. Só quem acolhe essa proposta e segue Jesus poderá viver como filho de Deus, em comunhão com Ele.

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

A catequese deuteronomista destaca o amor de Deus pelo Seu povo. O catequista reconhece esse amor como gratuito, incondicional e inexplicável, e convida seus concidadãos a perceberem a sorte de pertencerem a um povo agraciado por um Deus cujo coração transborda amor e bondade incondicionalmente. Não importam méritos, qualidades, defeitos ou status internacional, apenas o amor divino é relevante. No dia do Coração de Jesus, somos convidados a redescobrir esse amor e a nos maravilhar com sua gratuidade e eternidade. É uma oportunidade para refletir sobre o amor divino que ultrapassa nossa compreensão racional e nos envolve em Sua ternura, independentemente
de quem somos.

Moisés falou ao povo, dizendo:
6″Tu és um povo consagrado ao Senhor teu Deus.
O Senhor teu Deus te escolheu
dentre todos os povos da terra,
para seres o seu povo preferido.
7O Senhor se afeiçoou a vós e vos escolheu,
não por serdes mais numerosos que os outros povos
— na verdade sois o menor de todos —
8mas, sim, porque o Senhor vos amou
e quis cumprir o juramento que fez a vossos pais.
Foi por isso que o Senhor vos fez sair com mão
poderosa, e vos resgatou da casa da escravidão,
das mãos do Faraó, rei do Egito.
9Saberás, pois, que o Senhor teu Deus é o único Deus,
um Deus fiel, que guarda a aliança e
a misericórdia até mil gerações,
para aqueles que o amam e observam seus mandamentos;
10mas castiga diretamente aquele que o odeia,
fazendo-o perecer; e não o deixa esperar,
mas dá-lhe imediatamente o castigo merecido.
11Guarda, pois, os mandamentos,
as leis e os decretos que hoje te prescrevo,
pondo-os em prática!”
Palavra do Senhor.

Louvai ao Senhor, minha alma, e não esqueças de todos os seus benefícios; Ele perdoa, cura, redime, enche de justiça e ternura, é compassivo e misericordioso,
não nos trata conforme nossos pecados.

R. O amor do Senhor Deus por quem o teme,
    é de sempre e perdura para sempre.

1Bendize, ó minha alma, ao Senhor,*
e todo o meu ser, seu santo nome!
2Bendize, ó minha alma, ao Senhor,*
não te esqueças de nenhum de seus favores! R.

3Pois ele te perdoa toda culpa,*
e cura toda a tua enfermidade;
4da sepultura ele salva a tua vida*
e te cerca de carinho e compaixão. R.

6O Senhor realiza obras de justiça*
e garante o direito aos oprimidos;
7revelou os seus caminhos a Moisés,*
e aos filhos de Israel, seus grandes feitos. R.

😯 Senhor é indulgente, é favorável,*
é paciente, é bondoso e compassivo.
10Não nos trata como exigem nossas faltas,*
nem nos pune em proporção às nossas culpas. R.

O autor da Primeira Carta de João revela que Deus é amor, respondendo às questões sobre Sua natureza e relacionamento com a humanidade. Esse amor divino é expresso através de ternura, bondade e misericórdia, especialmente manifestado em Jesus Cristo. Ele desceu até nós, compartilhou nossa humanidade, lutou contra as injustiças e morreu na cruz pedindo perdão para Seus agressores. Internalizar essa revelação transforma nossa vida, condiciona nossas escolhas e potencializa serenidade, otimismo e esperança. Como mensageiros de Deus, devemos proclamar um Deus de amor, que derrama Sua bondade, ternura e misericórdia sobre todos Seus filhos. No dia do Coração de Jesus, somos convidados a redescobrir esse amor divino, ficar maravilhados com sua gratuidade e eternidade.

7Caríssimos, amemo-nos uns aos outros,
porque o amor vem de Deus
e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus.
8Quem não ama, não chegou a conhecer Deus,
pois Deus é amor.
9Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós:
Deus enviou o seu Filho único ao mundo,
para que tenhamos vida por meio dele.
10Nisto consiste o amor:
não fomos nós que amamos a Deus,
mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho
como vítima de reparação pelos nossos pecados.
11Caríssimos, se Deus nos amou assim,
nós também devemos amar-nos uns aos outros.
12Ninguém jamais viu a Deus.
Se nos amamos uns aos outros,
Deus permanece conosco
e seu amor é plenamente realizado entre nós.
13A prova de que permanecemos com ele,
e ele conosco,
é que ele nos deu o seu Espírito.
14E nós vimos, e damos testemunho,
que o Pai enviou o seu Filho
como Salvador do mundo.
15Todo aquele que proclama
que Jesus é o Filho de Deus,
Deus permanece com ele,
e ele com Deus.
16E nós conhecemos o amor que Deus tem para conosco,
e acreditamos nele.
Deus é amor: quem permanece no amor,
permanece com Deus, 
e Deus permanece com ele.
Palavra do Senhor.

Por trás das palavras de Jesus no Evangelho de hoje está o plano de salvação de Deus para a humanidade e o mundo. Deus ama incondicionalmente e deseja que todos alcancem a vida eterna e a felicidade plena. Ele enviou Seu Filho ao mundo para anunciar o Reino, sacrificar Sua vida e mostrar aos homens um caminho de liberdade e plenitude. Jesus combateu a opressão e a escravidão, proclamando o amor, a misericórdia e a bondade de Deus. Esse projeto de amor se volta especialmente para os pequenos, os pobres, os excluídos e os que sofrem, pois são os mais necessitados de salvação. Aqueles que seguem a espiritualidade do Coração de Jesus, como os Sacerdotes do Coração de Jesus, devem ser testemunhas privilegiadas desse amor de Deus, manifestado em Jesus e em Seu Coração trespassado. Eles são chamados a ser fiéis à sua vocação, testemunhando o amor de Deus por todos, por meio de gestos, palavras e suas próprias vidas.

25Naquele tempo, Jesus pôs-se a dizer:
“Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos
e as revelaste aos pequeninos.
26Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado.
27Tudo me foi entregue por meu Pai,
e ninguém conhece o Filho, senão o Pai,
e ninguém conhece o Pai, senão o Filho
e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
28Vinde a mim todos vós que estais cansados
e fatigados sob o peso dos vossos fardos,
e eu vos darei descanso.
29Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim,
porque sou manso e humilde de coração,
e vós encontrareis descanso.
30Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
Palavra da Salvação.

Reflexão

O CORAÇÃO DE DEUS

Para os espíritos críticos, o Deus revelado no Antigo Testamento parece ser excessivamente passional, com explosões de ira e, por outro lado, uma incrível capacidade para a ternura. Seriam, de qualquer forma, meras metáforas que não podem ser atribuídas diretamente ao verdadeiro Deus, transcendente e imutável. Esse Deus distante pode ser benevolente conosco, talvez com um toque de condescendência, mas sem verdadeiras entranhas. No entanto, os cristãos não acreditam apenas em Deus (o que, nos tempos atuais, já é algo significativo), mas em um Deus encarnado, que assumiu plenamente e com todas as suas consequências a nossa condição humana. Assim, justamente em Cristo, essas supostas metáforas se tornam realidade humana. A profecia de Ezequiel (36,26), que promete arrancar o coração de pedra do peito e dar um coração de carne, é cumprida em Jesus, o verdadeiro homem dotado de um coração, não angelical, mas de carne, um coração capaz de compaixão. Somente amando-nos com um coração de carne, Jesus pode curar o amor humano, ferido pelo pecado, pelo egoísmo, inveja, cobiça, rivalidade e ódio; e isso não apenas nos relacionamentos humanos mais impessoais (como os sociais ou econômicos), mas também nos mais próximos e íntimos (como os familiares), que frequentemente são fonte de conflitos e sofrimentos que nos atingem profundamente.

Jesus aproximou o amor incondicional de Deus e tornou acessível a nós, através do seu coração de carne, o coração de Deus. Ele não é um Deus distante e terrível, diante do qual devemos sentir medo e indignidade, mas um Deus Pai que se preocupa conosco, despertando em nós confiança e amor. Isso é o que podemos experimentar ao nos aproximarmos de Jesus com um espírito simples: a revelação de uma sabedoria que não é uma questão de erudição, mas a sabedoria do amor. O amor, é verdade, é exigente e às vezes nos pesa: “meu amor é meu peso”, como disse Santo Agostinho. Mas também é o que dá sentido e direção à nossa vida. Por isso, ele adicionou: “eo feror, quocumque feror” (por ele sou levado para onde quer que eu seja levado), porque o ser humano tende ao objeto de seu amor, por mais esforços que isso exija. É por isso que Jesus diz que o seu jugo é suave e o seu fardo é leve. E ainda mais se considerarmos que o peso do verdadeiro amor foi assumido por Jesus ao dar a sua vida por nós.

A sabedoria do amor que Jesus revelou é, certamente, exigente, mas acima de tudo nos dá confiança, nos acalma, nos traz alívio e descanso. Em Cristo, em seu coração manso e humilde, encontramos o equilíbrio perfeito entre autoestima e humildade: autoestima, porque somos amados incondicionalmente, o que significa que, no fundo do nosso ser, somos bons e valiosos; mas também humildade, porque sabemos que não somos perfeitos, que precisamos reconhecer com humildade nossos limites e pecados. Mas isso não é uma humilhação que nos destrói, é a certeza de que podemos melhorar, de que há possibilidades não exploradas em nós. E a nossa grande possibilidade, se aprendemos de Jesus, é o amor: saber que quando tentamos amar, Deus mesmo está agindo em nós e que Ele permanece conosco.

Texto: José M. Vegas cmf.     
Fonte: MISSIONÁRIOS CLARETIANOS (CIUDAD REDONDA)