IV DOMINGO DA PÁSCOA (ANO B)

A PALAVRA

O IV Domingo da Páscoa é considerado o “Domingo do Bom Pastor”, pois todos os anos a liturgia propõe, neste domingo, um trecho do capítulo 10 do Evangelho segundo João, no qual Jesus é apresentado como “Bom Pastor”. É, portanto, este o tema central que a Palavra de Deus põe, hoje, à nossa reflexão.

O Evangelho (Jo 10,11-18) apresenta Cristo como “o Pastor modelo”, que ama de forma gratuita e desinteressada as suas ovelhas, até ser capaz de dar a vida por elas. As ovelhas sabem que podem confiar n’Ele de forma incondicional, pois Ele não busca o próprio bem, mas o bem do seu rebanho. O que é decisivo para pertencer ao rebanho de Jesus é a disponibilidade para “escutar” as propostas que Ele faz e segui-l’O no caminho do amor e da entrega.

A primeira leitura (At 4,8-12) afirma que Jesus é o único Salvador, já que “não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos” (neste “Domingo do Bom Pastor” dizer que Jesus é o “único salvador” equivale a dizer que Ele é o único pastor que nos conduz em direção à vida verdadeira). Lucas avisa-nos para não nos deixarmos iludir por outras figuras, por outros caminhos, por outras sugestões que nos apresentam propostas falsas de salvação.

Na segunda leitura (1Jo 3,1-2), o autor da primeira Carta de João convida-nos a contemplar o amor de Deus pelo homem. É porque nos ama com um “amor admirável” que Deus está apostado em levar-nos a superar a nossa condição de debilidade e de fragilidade. O objetivo de Deus é integrar-nos na sua família e tornar-nos “semelhantes” a Ele.

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

Naqueles dias:
8Pedro, cheio do Espírito Santo, disse:
‘Chefes do povo e anciãos:
9hoje estamos sendo interrogados
por termos feito o bem a um enfermo
e pelo modo como foi curado.
10Ficai, pois, sabendo todos vós e todo o povo de Israel:
é pelo nome de Jesus Cristo, de Nazaré,
– aquele que vós crucificastes
e que Deus ressuscitou dos mortos –
que este homem está curado, diante de vós.
11Jesus é a pedra, que vós, os construtores,
desprezastes, e que se tornou a pedra angular.
12Em nenhum outro há salvação,
pois não existe debaixo do céu outro nome dado aos
homens pelo qual possamos ser salvos’.
Palavra do Senhor.

R.A pedra que os pedreiros rejeitaram,*
tornou-se agora a pedra angular.

1Dai graças ao Senhor, porque ele é bom!
‘Eterna é a sua misericórdia!’
8É melhor buscar refúgio no Senhor,*
do que pôr no ser humano a esperança;
9é melhor buscar refúgio no Senhor,*
do que contar com os poderosos deste mundo!’R.

21Dou-vos graças, ó Senhor, porque me ouvistes*
e vos tornastes para mim o Salvador!
22‘A pedra que os pedreiros rejeitaram,*
tornou-se agora a pedra angular.
23Pelo Senhor é que foi feito tudo isso:*
Que maravilhas ele fez a nossos olhos!R.

26Bendito seja, em nome do Senhor,*
aquele que em seus átrios vai entrando!
28Vós sois meu Deus, eu vos bendigo e agradeço!*
Vós sois meu Deus, eu vos exalto com louvores!
29Dai graças ao Senhor, porque ele é bom!*
‘Eterna é a sua misericórdia!’R.

Caríssimos:
1Vede que grande presente de amor o Pai nos deu:
de sermos chamados filhos de Deus!
E nós o somos!
Se o mundo não nos conhece,
é porque não conheceu o Pai.
2Caríssimos, desde já somos filhos de Deus,
mas nem sequer se manifestou o que seremos!
Sabemos que,
quando Jesus se manifestar,
seremos semelhantes a ele,
porque o veremos tal como ele é.
Palavra do Senhor.

Naquele tempo, disse Jesus:
11Eu sou o bom pastor.
O bom pastor dá a vida por suas ovelhas.
12O mercenário, que não é pastor
e não é dono das ovelhas,
vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge,
e o lobo as ataca e dispersa.
Pois ele é apenas um mercenário
e não se importa com as ovelhas.
14Eu sou o bom pastor.
Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem,
15assim como o Pai me conhece
e eu conheço o Pai.
Eu dou minha vida pelas ovelhas.
16Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil:
também a elas devo conduzir;
escutarão a minha voz,
e haverá um só rebanho e um só pastor.
17É por isso que o Pai me ama,
porque dou a minha vida,
para depois recebê-la novamente.
18Ninguém tira a minha vida,
eu a dou por mim mesmo;
tenho poder de entregá-la
e tenho poder de recebê-la novamente;
esta é a ordem que recebi do meu Pai’.
Palavra da Salvação.

Reflexão

OLHE COMO DEUS NOS AMA!

A segunda leitura de hoje começa com um convite à surpresa, à gratidão, à emoção, à contemplação: “Vede o amor que o Pai teve por nós”. No Salmo, oramos: “Dou-vos graças, ó Senhor, porque me ouvistes e vos tornastes para mim o Salvador!” E no Evangelho: “Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai.” Quer dizer: Que o Pai nos ama a ponto de nos tornar seus filhos. O Bom Pastor nos ama a ponto de dar a vida por nós e também pelas ovelhas que ainda não estão entre as suas. É o Espírito, que é o amor de Deus derramado em nossos corações e que clama “Aba, Pai”. TODO O MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO E DA PÁSCOA É UM MISTÉRIO DE AMOR! Deus é amor, é o que ama e se entrega, e é o que faz possível o amor entre suas ovelhas: a COMUNIDADE. Por isso me parece necessário insistir nesse amor de Deus, tal como nos convidou o Apóstolo João.

  • Se DEUS É AMOR, isso não significa simplesmente que Deus “às vezes ama”, de vez em quando. Ou que Deus ama alguns (que merecem e ganham), e outros nem tanto. Mas Deus não pode parar de amar, não importa o quão mau nós, homens, sejamos. Se ele parasse de nos amar, ele não seria mais Deus. Ou se em certas circunstâncias não amou, não poderíamos dizer que “é Amor”. O amor ama, mesmo que não receba resposta (os pais sabem disso muito bem por experiência própria).
  • Se DEUS É AMOR, não precisamos cumprir nenhum requisito para que Deus nos ame… Portanto, embora sejamos pecadores, Deus não se afasta de nós, nem fica com raiva. Somos seus filhos! No mínimo, – é assim que imagino -, algumas lágrimas de tristeza lhe escaparão, enquanto espera para ver se decidimos voltar. Porque amar é também ter esperança, nunca desistir de algo dado por perdido. Como dizia São Paulo aos coríntios: “o amor não dá conta das ofensas, tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo apóia”. Visto que, como diz um Salmo: “o Senhor se lembra que somos barro“, ele nos criou frágeis, e porque somos frágeis, falhamos… falhamos com ele. Mas o amor sempre acredita e espera que o outro seja melhor. Dizemos: “Algum dia ele vai perceber“, “ele vai amadurecer, vai mudar…”. E embora acreditemos que merecemos o castigo, a Primeira Carta de João nos lembra: “Se a nossa consciência nos condena, Deus é maior do que a nossa consciência.” E também: “o amor não consiste em nosso amor a Deus, mas que ele nos amou primeiro“. Tudo isso sabemos com a cabeça, claro, mas nos é difícil aceitar a bondade, o amor, a misericórdia de Deus, e andamos pensando que precisamos “merecer” seu amor. Mas a lógica de Deus é que Ele ama primeiro, sem limites e livremente.
  • Se DEUS É AMOR, significa que ele precisa de mim, que deseja encontrar-me continuamente para me dizer e se fazer notar. Outra coisa importante e a oração, que como diz a conhecida definição de Teresa de Jesus é a “elevação da mente a Deus”, uma definição simples porque Deus é a simplicidade, uma definição bela, pois Deus é a Beleza, porque DEUS É AMOR. Mas ele também precisa de mim para que o seu amor alcance os outros: o amor é expansivo e o Bom Pastor tem outras ovelhas distantes… as quais devemos sair para procurar, acolher e cuidar, pois, eu devo ser INSTRUMENTO DO SEU AMOR, devo: estender, multiplicar, compartilhar, testemunhar o Amor recebido de Deus.
  • Se Deus ama o homem, isso significa que o homem é extremamente importante. Deus amou tanto o mundo que desceu do céu, para entrar em nossa carne e experimentar em si mesmo o que somos e o que sentimos. Um amor solidário: fazendo-se um de nós, pobre entre os pobres… atribuía um valor infinito ao homem, aos pobres. E quando começamos a amá-los, nos parecemos muito com Deus: somos deuses. E ele tanto nos amou que deu a vida por nós, que é um sinal de amor incomparável. O amor vai a este extremo: o outro é mais importante do que a minha própria vida.
  • Se DEUS É AMOR, todas as nossas coisas afetam e importam para ele. Sofre, luta e se alegra e triunfa comigo. Ele está interessado em minhas pequenas e grandes preocupações e gosta quando eu as compartilho com ele: “Eu conheço minhas ovelhas.” Percebo assim que ele não me abandona nem de dia nem de noite: «Agradeço-te porque me ouviste» (Salmo). Saber é uma consequência de amar, e amar requer conhecimento.

O Amor de Deus torna-se companhia quando sofremos, é força para seguirmos em frente. Por amor, ele se torna um Bom Pastor quando precisamos de proteção ou orientação porque atravessamos desfiladeiros escuros. E nós, em seu nome, faremos o mesmo.

  • Se DEUS É AMOR, não sou seu servo, nem seu escravo. Ele não tem ciúme da minha liberdade, porque foi justamente ele quem a deu para mim. Ele me quer livre e responsável por minha vida. E está à minha disposição para me levantar toda vez que eu cair. Ou quando o sofrimento ou o mal parecem me derrotar. Ele gosta de me ver em pé, nem prostrado nem humilhado. Ajuda-me a libertar-me quando me permito ser enredado com outros falsos deuses e senhores: Eles realmente me fisgam, eles me “amarram”, eles me escravizam. Por outro lado, ele não tem problemas em se ajoelhar para lavar meus pés cansados ​​das estradas. Ajoelhe-se para servir e amar, sim.
  • Se DEUS É AMOR, significa que o amor é a única coisa que importa. O primeiro mandamento da Antiga Aliança dizia: “Amarás a Deus acima de todas as coisas“. E todos os outros são derivados dele. Certamente nenhum outro mandamento seria necessário. Mas quando falta amor… leis, normas, proibições se multiplicam… Bem, depois de nos mostrar até onde chega o amor (entrega, dar a vida, cuidar, proteger, acompanhar…). Jesus nos deixou um único mandamento: “Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado”, que significa dar amor ao irmão acima de todas as coisas.

Por que digo todas essas coisas, tão conhecidas de todos? Suspeita-se que a “falta” de vocações (sejam elas quais forem) pode ser devido a um déficit de amor: por isso é cada vez mais urgente e necessário que os gestos de amor, tanto dos pastores da Igreja, como de toda a comunidade, sejam as verdadeiras preocupações pelo bem de todas as ovelhas.

Eu termino como comecei: OLHE COMO DEUS NOS AMA! Por isso: Senhor, que teu amor guie meus passos.

Texto: QUIQUE MARTÍNEZ DE LA LAMA-NORIEGA, cmf
Imagem: PIXABAY
Fonte: CIUDAD REDONDA (Missionários Claretianos)