I DOMINGO DO ADVENTO (ANO C)

A PALAVRA

No tempo do Advento somos convidados a sair da rotina e olhar além, preparando-nos com alegria e esperança para a vinda do Senhor. A Palavra de Deus nos chama a uma preparação ativa, exigindo atenção e vigilância. Não se trata apenas de oração e silêncio, mas também de reconhecer o rosto de Cristo nos irmãos, especialmente nos pobres e esquecidos.

Na Primeira Leitura (Jr 33,14-16), Jeremias oferece palavras de consolo e esperança, recordando a fidelidade de Deus às Suas promessas. Ele anuncia o Messias que trará justiça e paz. Este sinal transcende as gerações, apontando para um reino que reflete a plenitude da promessa divina.

No Evangelho (Lc 21,25-28.34-36), Jesus fala sobre o “dia do Senhor” como um momento de renovação, quando o mundo marcado pelo pecado será transformado. Para os discípulos, será o dia da libertação, aguardado com esperança. Até lá, somos chamados a vigiar, a perceber Deus nos pequenos e grandes sinais da vida e a responder com atenção amorosa às dores e necessidades ao nosso redor.

São Paulo, na Segunda Leitura (1Ts 3,12-4,2), exorta os cristãos a crescerem no amor fraterno, vivendo-o de forma concreta e superando a mediocridade. Ele lembra que o Advento não é um tempo de apatia, mas de cuidado ativo uns pelos outros, refletindo a luz de Cristo.

Assim, o que diferencia o discípulo é o amor que transcende barreiras, um amor que dá mais do que recebe. É nesse amor que nos preparamos para o encontro definitivo com o Senhor. Este Advento é um chamado a um encontro renovado com Cristo, transformando-nos interiormente e tornando-nos luz para os outros. Dessa forma, a vinda de Jesus deixa de ser apenas um evento futuro e passa a ser uma realidade presente, visível em nossos gestos e ações.

Fonte de reflexão: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

De Davi brotará a semente da justiça, sinal do amor fiel de Deus, que transforma corações e ilumina o mundo com esperança, paz e misericórdia.

14 “Eis que virão dias, diz o Senhor,
em que farei cumprir a promessa de bens futuros
para a casa de Israel e para a casa de Judá.
15 Naqueles dias, naquele tempo,
farei brotar de Davi a semente da justiça,
que fará valer a lei e a justiça na terra.
16 Naqueles dias, Judá será salvo
e Jerusalém terá uma população confiante;
este é o nome que servirá para designá-la:
‘O Senhor é a nossa Justiça'”.
Palavra do Senhor.

Senhor meu Deus, a vós elevo a minha alma, confiando plenamente em vossa promessa de justiça e redenção, que renova os corações e faz brotar esperança em meio às nossas lutas cotidianas.

R. Senhor meu Deus, a vós elevo a minha alma!

4 Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos, *
e fazei-me conhecer a vossa estrada!
5 Vossa verdade me oriente e me conduza, *
porque sois o Deus da minha salvação! R.

8 O Senhor é piedade e retidão,*
e reconduz ao bom caminho os pecadores.
9 Ele dirige os humildes na justiça,*
e aos pobres ele ensina o seu caminho. R.
 
10 Verdade e amor são os caminhos do Senhor *
para quem guarda sua Aliança e seus preceitos.

14 O Senhor se torna íntimo aos que o temem *
e lhes dá a conhecer sua Aliança. R.

Que o Senhor fortaleça os vossos corações, para que, na espera vigilante pela vinda de Cristo, sejais testemunhas vivas de amor abundante e santidade, refletindo a luz da graça divina em cada passo do caminho.

Irmãos:
3,12 O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com
todos aumente e transborde sempre mais,
a exemplo do amor que temos por vós.
13 Que assim ele confirme os vossos corações
numa santidade sem defeito aos olhos de Deus, nosso Pai,
no dia da vinda de nosso Senhor Jesus,
com todos os seus santos.
4,1 Enfim, meus irmãos, eis o que vos pedimos
e exortamos no Senhor Jesus:
Aprendestes de nós como deveis viver para agradar a Deus,
e já estais vivendo assim.
Fazei progressos ainda maiores!
2 Conheceis, de fato, as instruções
que temos dado em nome do Senhor Jesus.
Palavra do Senhor.

Erguei os olhos e deixai que a esperança ilumine vossos corações, pois o Senhor vos assegura: a vossa libertação está próxima, trazendo consigo a plenitude da paz e a renovação de todas as coisas.

Naquele tempo disse Jesus a seus discípulos:
25 “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas.
Na terra, as nações ficarão angustiadas,
com pavor do barulho do mar e das ondas.
26 Os homens vão desmaiar de medo,
só em pensar no que vai acontecer ao mundo,
porque as forças do céu serão abaladas.
27 Então eles verão o Filho do Homem,
vindo numa nuvem com grande poder e glória.
28 Quando estas coisas começarem a acontecer,
levantai-vos e erguei a cabeça,
porque a vossa libertação está próxima.
34 Tomai cuidado para que vossos corações
não fiquem insensíveis por causa da gula,
da embriaguez e das preocupações da vida,
e esse dia não caia de repente sobre vós;
35 pois esse dia cairá como uma armadilha
sobre todos os habitantes de toda a terra.
36 Portanto, ficai atentos e orai a todo momento,
a fim de terdes força
para escapar de tudo o que deve acontecer
e para ficardes em pé diante do Filho do Homem”.
Palavra da Salvação.

Homilia

DESPERTAR A ESPERANÇA

O Advento, como época de preparação e esperança, nos convida a refletir profundamente sobre a natureza da libertação prometida e o significado de sua chegada, especialmente em um mundo marcado por dificuldades e sofrimentos. O texto nos apresenta uma visão ampla dessa esperança cristã, dividida em três partes que convidam à reflexão e à ação: um ramo de esperança, a surpresa divina e o abraço universal da redenção.

UM RAMO DE ESPERANÇA

A mensagem de Jeremias sobre a promessa de Deus a Israel e Judá ressoa em nossa vida contemporânea, ainda que em um contexto muito diferente, mas igualmente de sofrimento e busca por justiça. A esperança, conforme apresentada neste trecho, não é uma mera ilusão ou expectativa vazia. Ela é viva e concreta, sendo fundamentada na promessa divina que se cumpre em Jesus Cristo. No Advento, somos chamados a recordar e viver essa esperança como um ramo que brota mesmo em solo árido.

Jeremias faz alusão a um futuro de renovação e restauração, e é essa promessa que nos guia. A espera do Salvador no Advento é uma preparação ativa, uma confiança de que o que foi prometido se realizará. Viver com essa esperança não é somente um exercício de paciência, mas um convite a acreditar que, por mais distantes que possam parecer as promessas divinas, elas sempre se cumprem no tempo certo de Deus. Somos convidados a renovar nossa confiança e a esperar com fé, assim como os antigos esperaram pela vinda do Messias.

A SURPRESA DIVINA

A surpresa divina, tal como apresentada por Paulo aos Tessalonicenses, nos desafia a viver o Advento com uma expectativa que transforma a nossa realidade presente. Cristo, embora tenha vindo uma vez, promete voltar, e sua vinda tem o poder de transformar o nosso aqui e agora. O Advento nos ensina que a esperança cristã não é apenas uma espera passiva, mas uma espera ativa, de vigilância e oração.

Erguemos a cabeça” com esperança, porque sabemos que nossa libertação está por vir. A expectativa da segunda vinda de Cristo é a motivação para nos mantermos firmes na fé, especialmente diante das calamidades e sofrimentos do mundo. O “hoje” é permeado por essa expectativa, e ela nos capacita a viver com coragem e convicção, não como aqueles que não têm esperança, mas como aqueles que sabem que a história não termina no sofrimento, mas na redenção.

O ABRAÇO UNIVERSAL DA REDENÇÃO

A universalidade da redenção de Cristo é uma das mensagens centrais do Advento. A salvação que Ele traz não é limitada a um grupo de pessoas, mas se estende a todo o mundo. A missão de Cristo é para todos, sem exceção, e esse é um aspecto fundamental da mensagem do Evangelho. Ele oferece sua vida por todo o mundo, convidando-nos a viver com os outros em mente, e não apenas focados em nós mesmos.

Neste sentido, a salvação não é algo que devemos guardar para nós, mas algo que deve ser partilhado. A vigilância do Advento deve ser uma vigilância ativa, que se traduz em oração, em atitudes de justiça e de amor ao próximo. O chamado é para que vivamos de maneira que, ao aguardarmos a vinda de Cristo, também sejamos agentes de transformação no mundo. O Advento, assim, nos desafia a sermos mensageiros dessa salvação universal, partilhando a luz da esperança com todos ao nosso redor.

CONCLUSÃO

A reflexão de Santo Agostinho sobre a esperança, como filha da indignação e da coragem, é um chamado à ação. A indignação nos move diante da injustiça e nos impede de aceitar o mundo como ele é, enquanto a coragem nos capacita a agir para transformá-lo. O Advento, então, não é apenas um tempo de espera, mas um tempo de preparação para sermos instrumentos de mudança no mundo. A nossa esperança deve ser viva e ousada, desafiando-nos a não nos conformarmos com a realidade que vemos, mas a lutar por um mundo mais justo e mais próximo da promessa divina.

Que este Advento nos inspire a viver com um coração renovado, aguardando com alegria a vinda de Cristo e, ao mesmo tempo, sendo reflexo dessa esperança transformadora no mundo em que vivemos. A mensagem do Advento nos convida, portanto, a ser faróis de luz em um mundo muitas vezes mergulhado nas trevas, irradiando esperança, justiça e amor até a chegada do Salvador.

Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU