São Francisco Xavier, declarado padroeiro das missões por Pio IX, em 1925, é considerado na Igreja o que mais conversões conseguiu ao cristianismo, desde o apóstolo Paulo. Em uma de suas cartas, dizia: “Muitos deixam de se fazer cristãos nestas terras, por não haver quem se ocupe de tão santas obras”. E noutra, concluía: “Viemos por povoações de cristãos que se converteram há uns oito anos. Nestes sítios não vivem portugueses, por a terra ser muitíssimo estéril e extremamente pobre. Os cristãos destes lugares, por não terem quem os instrua na nossa fé, somente sabem dizer que são cristãos”. São Francisco, missionário na Índia, Japão e China, aponta estes desafios fundamentais da missão da Igreja no século XVI: a falta de missionários e a falta de formação na fé. São duas dimensões da missão ressaltadas nesses escritos: o anúncio do Evangelho que leve à conversão e a iniciação à vida cristã que forme discípulos. Para realizar isto, a Igreja precisa estar em estado permanente de missão, e nós cristãos, à imitação de Santa Teresinha, também padroeira das missões, precisamos descobrir nossa vocação na Igreja: “Ó Jesus, meu amor, encontrei afinal minha vocação: minha vocação é o amor. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, tu me deste este lugar, meu Deus. No coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor”. Somente o testemunho de uma comunidade eclesial que se move pelo amor pode fazer a Igreja estar permanentemente em missão. Diferentemente de São Francisco Xavier, missionário em terras estrangeiras, Santa Teresinha foi missionária com vida contemplativa no Carmelo! Esse amor e esse fogo missionário da Igreja precisam ser alimentados constantemente. O Papa Francisco usa algumas expressões na EVANGELII GAUDIUM que servem de alerta:
“NÃO NOS DEIXEMOS ROUBAR O ENTUSIASMO MISSIONÁRIO” (EG 80);
“NÃO DEIXEMOS QUE NOS ROUBEM A ALEGRIA DA EVANGELIZAÇÃO” (EG 83);
“NÃO DEIXEMOS QUE NOS ROUBEM A FORÇA MISSIONÁRIA” (EG 109).
A Igreja não entra em estado permanente de missão com a simples reorganização pastoral, constituindo conselhos, equipes e realizando atividades missionárias. Ninguém dá o que não tem. O elã evangelizador da Igreja brota da fé convicta em Jesus Cristo, fonte de vida nova: “Se alguém tiver sede, venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior brotarão rios de água viva” (Jo 7,37-38). É sempre o Espírito Santo que “enche os corações dos fiéis e renova a face da terra”. Assim como não se esconde uma lâmpada debaixo de uma caixa, a fé de uma comunidade se difunde de forma brilhante. Nada a pode conter, e não faltam testemunhos eloquentes de cristãos em todos os tempos. São Paulo dizia: “Para mim, de fato, o viver é Cristo e o morrer, lucro” (Fl 1,21). Diante da perseguição e das ameaças, os apóstolos dizem com firmeza: “Quanto a nós, não podemos deixar de falar sobre o que vimos e ouvimos (At 4,20)! Santa Teresa de Calcutá pede em oração: “Senhor, permanece em mim. Assim resplandecerei com Teu próprio resplendor para que meu resplendor sirva de luz para os outros… Tu és quem estarás iluminando os outros ao meu redor”. E Dom Bosco: “Deus colocou-nos no mundo para os outros”. Ainda mais próxima de nós, Santa Dulce dos Pobres: “NO AMOR E NA FÉ ENCONTRAREMOS AS FORÇAS NECESSÁRIAS PARA A NOSSA MISSÃO”. A fé que leva à caridade na missão se alimenta na comunidade com o pão da Palavra e da Eucaristia. É esta a ênfase dada pelas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil ao ressaltar os pilares de sustentação da vida e da missão da Igreja: Palavra, Pão, Caridade, Ação Missionária! Neste mês dedicado às missões somos chamados a orar pela Igreja missionária e a aprofundar o pilar da ação missionária, procurando conhecer as propostas que estão no nosso Plano Diocesano de Evangelização, porque nos dão indicações concretas de como estar em estado permanente de missão e de como responder aos desafios mais urgentes da evangelização em nossa realidade atual. Entre os destaques está a atenção aos jovens e aos meios de comunicação. Será que há algo a ser feito e melhor cuidado neste sentido? Há algum reflexo de luz a irradiar-se neste campo? Há ainda corações como de São Francisco Xavier e de Santa Teresinha para difundir este amor?
Texto: DOM TARCÍSIO SCARAMUSSA,SDB (Bispo Diocesano de Santos)
Imagem: Arquidiocese de Maringá