XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B)

A PALAVRA

A liturgia do XXX Domingo do Tempo Comum fala-nos da preocupação de Deus em que o homem alcance a vida verdadeira e aponta o caminho que é preciso seguir para atingir essa meta. De acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, o homem chega à vida plena, aderindo a Jesus e acolhendo a proposta de salvação que Ele nos veio apresentar.

A primeira leitura (Jr 31,7-9) afirma que, mesmo nos momentos mais dramáticos da caminhada histórica de Israel, quando o Povo parecia privado definitivamente de luz e de liberdade, Deus estava lá, preocupando-se em libertar o seu Povo e em conduzi-lo pela mão, com amor de pai, ao encontro da liberdade e da vida plena.

A segunda leitura (Hb 5,1-6) apresenta Jesus como o sumo-sacerdote que o Pai chamou e enviou ao mundo a fim de conduzir os homens à comunhão com Deus. Com esta apresentação, o autor deste texto sugere, antes de mais, o amor de Deus pelo seu Povo; e, em segundo lugar, pede aos crentes que “ACREDITEM” em Jesus – isto é, que escutem atentamente as propostas que Ele veio fazer, que as acolham no coração e que as transformem em gestos concretos de vida.

No Evangelho (Mc 10,46-52), o catequista Marcos propõe-nos o caminho de Deus para libertar o homem das trevas e para o fazer nascer para a luz. Como Bartimeu, o cego, os crentes são convidados a acolher a proposta que Jesus lhes veio trazer, a deixar decididamente a vida velha e a seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. Dessa forma, garante-nos Marcos, poderemos passar da escravidão à liberdade, da morte à vida.

Hoje, também celebramos a FESTA DE SANTO ANTONIO MARIA CLARET. Claret foi educador, comunicador e disseminador da palavra de Deus e de Maria. Em sua história, vemos seu compromisso com o semear do Evangelho, se mostrando muito além do seu tempo. Conheça mais sobre Claret

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus  

Leituras

7Isto diz o Senhor:
Exultai de alegria por Jacó,
aclamai a primeira das nações;
tocai, cantai e dizei:
‘Salva, Senhor, teu povo,
o resto de Israel`.
8Eis que eu os trarei do país do Norte
e os reunirei desde as extremidades da terra;
entre eles há cegos e aleijados,
mulheres grávidas e parturientes:
são uma grande multidão os que retornam.
9Eles chegarão entre lágrimas
e eu os receberei entre preces;
eu os conduzirei por torrentes d’água,
por um caminho reto onde não tropeçarão,
pois tornei-me um pai para Israel,
e Efraim é o meu primogênito’.
Palavra do Senhor.

R. Maravilhas fez conosco o Senhor,
exultemos de alegria!

1Quando o Senhor reconduziu nossos cativos,*
parecíamos sonhar;
2aencheu-se de sorriso nossa boca,*
2bnossos lábios, de canções.R.

2cEntre os gentios se dizia: ‘Maravilhas*
2dfez com eles o Senhor!’
3Sim, maravilhas fez conosco o Senhor,*
exultemos de alegria!R.

4Mudai a nossa sorte, ó Senhor,*
como torrentes no deserto.
5Os que lançam as sementes entre lágrimas,*
ceifarão com alegria.R.

6Chorando de tristeza sairão,*
espalhando suas sementes;
cantando de alegria voltarão,*
carregando os seus feixes!R.

1Todo sumo sacerdote é tirado do meio dos homens
e instituído em favor dos homens
nas coisas que se referem a Deus,
para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados.
2Sabe ter compaixão
dos que estão na ignorância e no erro,
porque ele mesmo está cercado de fraqueza.
3Por isso, deve oferecer sacrifícios
tanto pelos pecados do povo,
quanto pelos seus próprios.
4Ninguém deve atribuir-se esta honra,
senão o que foi chamado por Deus, como Aarão.
5Deste modo, também Cristo não se atribuiu a si mesmo
a honra de ser sumo sacerdote,
mas foi aquele que lhe disse:
‘Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei’.
6Como diz em outra passagem:
‘Tu és sacerdote para sempre, na ordem de Melquisedec’.
Palavra do Senhor.

Naquele tempo:
46Jesus saiu de Jericó,
junto com seus discípulos e uma grande multidão.
O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo,
estava sentado à beira do caminho.
47Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno,
estava passando, começou a gritar:
‘Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!’
48Muitos o repreendiam para que se calasse.
Mas ele gritava mais ainda:
‘Filho de Davi, tem piedade de mim!’
49Então Jesus parou e disse: ‘Chamai-o’.
Eles o chamaram e disseram:
‘Coragem, levanta-te, Jesus te chama!’
50O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus.
51Então Jesus lhe perguntou:
‘O que queres que eu te faça?’
O cego respondeu: ‘Mestre, que eu veja!’
52Jesus disse: ‘Vai, a tua fé te curou’.
No mesmo instante, ele recuperou a vista
e seguia Jesus pelo caminho.
Palavra da Salvação.

Reflexão

PARA QUE UM CEGO COMEÇE A CAMINHAR

Tudo o que os evangelistas coletaram, elaboraram e escreveram sobre a vida de Jesus não tem como objetivo de nos “informar” sobre o que aconteceu (como faria um jornalista, por exemplo), mas nos ajudar a ler nossa realidade de hoje e iluminá-la. Quer dizer: este relato tem a ver comigo, é dirigida a mim, quer me contar algo para minha vida, espera dialogar comigo e me ajudar a mudar. E devemos ler estes relatos com base em nossas circunstâncias específicas.

Vejamos a quem representa este cego e quais seriam as cegueiras que nós precisamos curar ou ajudar a curar:

UM CEGO SENTADO À BEIRA DO CAMINHO

  • Bartimeu é alguém que vive «dependendo» dos outros, as suas circunstâncias pessoais o impedem de se defender e vive do que os outros lhe querem dar. Você não tem direito, não pode exigir nada.
  • Ele é alguém que não “” seu futuro. Sua situação não tem saída. Nada o motiva a se levantar e “se mover” em qualquer direção. É um “descartado”, jogado à beira da estrada. Seu “sentido da vida” nada mais é do que sobreviver o melhor possível. Tem tantas carências e limitações… «Os outros são melhores do que eu, podem mais do que eu, têm mais possibilidades do que eu…»
  • Podemos falar também da “cegueira” do povo e dos discípulos? Ambos não repararam naquele cego ali deitado, não perceberam a sua solidão e dor, porque “estavam tratando de suas vidas“, embora neste caso seja magnífico que tenham consciência do Mestre. E eles sentem que Bartimeu os atrapalha com seus gemidos e vozes. A cegueira de não ver quem está perto de nós.
  • Por outro lado, teríamos a “cegueira” da fé. Muitos “não vêem” o Senhor Jesus, apesar de tê-lo tão perto, embora tenham ouvido falar dele. Parece que, por ouvir dizer, Bartimeu sabia algo sobre Jesus, o suficiente para ousar pedir-lhe algo. Mas você não pode vê-lo. É por isso que ele o chama, e duas vezes ele pede “COMPAIXÃO“. Poderíamos também falar sobre as pessoas e discípulos que acompanham e ouvem Jesus… ainda não “captaram” sua mensagem ou não se sintonizaram bem com ele. Eles carecem de sensibilidade para com os pobres, carecem (todavia) de compaixão.

O CEGO GRITAVA:

Há muitos modos de gritar, de chamar atenção:

  • Há quem grita com a “violência oral”: grita, faz barulho, protesta, reclama… E às vezes vai da violência oral à violência dos fatos.
  • Há quem, por outro lado, opte por total e estrondoso “silêncio“, já não sabe o que dizer nem como dizer… e guardam silencio.
  • Alguns gritam nas redes sociais, com suas mensagens e imagens de denúncias, e na esperança de que outros se solidarizem com eles ou que se espalhe alguma situação injusta.

Enfim, há quem grite, como Bartimeu, pedindo ajuda a Deus. É o que é chamado em todos os sentidos de “ORAÇÃO“. Reivindique a Deus, reclame a Deus, espere em Deus, peça e até literalmente grite com Deus. Talvez o façam no silêncio de uma capela, em uma cama de hospital, em um banco de parque solitário, fazendo uma mamadeira ou dormindo em qualquer lugar… com uma lágrima ou uma torrente delas, de joelhos, ou com as mãos juntas, ou em pé com a cabeça baixa, ou com o olhar para a cruz, ou com o olhar perdido…

O que Marcos nos ensina sobre a atitude e reação de Jesus ante uma cegueira como essa?

JESUS ​​SE DETEVE

  • Jesus é alguém capaz de olhar, de ouvir, de perceber… mesmo no meio de toda a comoção que o rodeia. É uma pessoa atenta, focada no que é importante: atenta às pessoas. Ele não se deixa arrastar, ele é dono de si mesmo. Isso é algo que podemos e devemos aprender, está em nossas mãos conseguir.
  • Em segundo lugar, ele “chama”, está interessado, aproxima-se, não se informa à distância (aquela “proximidade” que o Papa tanto nos pede hoje). E também dialoga: o que você quer que eu faça por você? Ele não dá as coisas como certas, ele não “adivinha” o que há de errado com ele. Ele prefere que aquele homem dê um nome aos seus sofrimentos, aos seus desejos, à sua ansiedade. Ajuda a se expressar. É uma condição essencial para sair de sua situação. Nem todo mundo sabe ou quer fazer isso. Jesus lhe faz uma pergunta oportuna para que conte, para que reconheça sua dor, seu desejo, sua esperança: O que você quer que eu faça por você? É uma pergunta muito missionária: pergunte… e ouça a resposta como uma pergunta pessoal. Ele não lhe pediu um milagre ou qualquer coisa material: apenas “TENHA PIEDADE DE MIM“. Então, já na conversa entre os dois, ele pergunta o mais necessário: recuperar a visão (quer dizer que ele tinha antes?).
  • Quando Jesus o chama, ele dá um “salto“, ao mesmo tempo em que se “desprende” do seu manto (as suas garantias, que parecem protegê-lo…). São sinais de “CONFIANÇA“. Bartimeu abriu-se a Jesus, sentiu-se “cuidado, importante, acolhido…”.
  • Marcos não conta que Jesus “faça” nada pelo cego. Poucas palavras (é a força da Palavra de Deus ouvida com fé): “Anda” (curiosamente também, o convite não é para “ver” ou “olhar”, mas para se mover, caminhar deixar de ficar sentado…) , que se traduz em “SEGUI-LO NA ESTRADA“. A Palavra de Jesus tem servido para que o cego “veja” que tem que “seguir Jesus“, e também tenha descoberto que nele há “força“, ““, o que ele precisa para sair do manto e sair da beira da estrada. Jesus não lhe deu “coisas feitas”, ele o “empurrou” para andar sozinho. Para ser um discípulo.

CONCLUSÕES

No contexto do mês das missões e da vida de Claret, podemos sublinhar:

  • Detectar a nossa própria cegueira (e surdez)… E meditando as leituras deste domingo possamos seguir Jesus, ser um discípulo…
  • Ser mediadores (missionários) e não atrapalhar tantos os que estão à beira de tantos caminhos. Fora… ou em casa. E convidar: “CORAGEM, LEVANTA, ELE TE CHAMA“.
  • Como o Mestre, devemos oferecer a nossa “compaixão”, que não é pena nem dor… é a compaixão de Jesus que se “CONECTA” à situação de vida de quem é expulso, abandonado, que “esta cego”. Devemos assumir, e então perguntar a ele: “O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA COM VOCÊ?
  • O que temos a dizer? Como o Senhor nos faz olhar as coisas com mais profundidade e significado? As Palavras que ouvimos nos ajudam a ser mais gente e iluminam os nossos passos. Como sigo o Senhor ao longo do caminho e como experimento Sua presença em mim? Não se trata de dizer o que penso, o que li, o que os outros dizem, o que está escrito, o que fazer ou ser… Mais o que VI E OUVI: a minha experiência de vida, a ação de Deus em mim.
  • Por ultimo: a razão, a fonte, a raiz, a força, o “como” da tarefa missionária nada mais é do que a força do amor de Deus. Como afirma o Papa:

“Fomos feitos para a plenitude que só pode ser alcançada no amor e quando reconhecemos sua presença como Pai em nossa vida pessoal e comunitária. Não podemos deixar de anunciar e compartilhar o que vimos e ouvimos”.

Por isso concluo com uma oração de Santo Antônio Maria Claret (hoje dia 24 é a sua / nossa festa):

Ó Virgem e Mãe de Deus,
bem sabeis que somos filhos e ministros vossos,
formados por Vós mesma na frágua
da vossa misericórdia e amor.
Somos como setas colocadas em vossas mãos poderosas:
lançai-nos, Mãe nossa,
contra o que se opõe ao Reino de Deus.
Confiantes em vossa proteção, anunciamos o Evangelho
sem outras armas que a divina Palavra,
sem outros títulos que o de Filhos
do vosso Imaculado Coração.
Será o vosso triunfo.
A vitória será vossa, ó Mãe!
Amém.

Texto: Quique Martínez de la Lama-Noriega, cmf
Imagem: Missionários Claretianos do Brasil
Fonte: CIUDAD REDONDA