A liturgia do XXV Domingo do Tempo Comum nos coloca diante de uma escolha profunda e transformadora: seguir a “sabedoria do mundo” ou abraçar a “SABEDORIA DE DEUS“. A sabedoria do mundo nos oferece reconhecimento, prestígio e uma felicidade passageira. Porém, a sabedoria de Deus nos conduz por um caminho muito mais elevado, um caminho que, embora não seja pavimentado com glórias terrenas, nos leva à Vida verdadeira e eterna, uma vida plena em comunhão com o Pai.
No Evangelho (Mc 9,30-37) deste domingo, Jesus, movido pela sabedoria divina, mostra aos discípulos o caminho que Ele escolhe seguir: o caminho da doação completa, do amor incondicional, da CRUZ. É o caminho que conduz à plenitude da vida, à paz que não se abala, à comunhão eterna com Deus. Mas os discípulos, ainda presos à lógica do mundo, hesitam. Buscam posições de honra, poder e prestígio. Jesus, firme em sua missão, não diminui a exigência: aquele que deseja fazer parte do Reino precisa estar disposto a abraçar a cruz, com tudo o que ela simboliza – a entrega, o sacrifício, o amor sem reservas.
Na segunda leitura (Tg 3,16-4,3), um sábio cristão nos exorta a viver segundo a “sabedoria do alto”, a sabedoria que brota da paz, da misericórdia e da generosidade. Esta sabedoria não semeia discórdia ou inveja, mas frutifica em comunhão e unidade. Ela nos desafia a abandonar as intrigas e os conflitos que tantas vezes minam nossas relações e nos distanciam uns dos outros. Quem escolhe a sabedoria de Deus encontra paz interior e constrói pontes de reconciliação.
A primeira leitura (Sb 2,12.17-20) revela o sofrimento dos justos nas mãos dos ímpios. Aqueles que seguem a verdade de Deus são frequentemente incompreendidos, perseguidos e marginalizados. Mas, mesmo em meio a essas provações, o justo encontra paz, pois sabe que Deus está ao seu lado. Não é uma paz que depende das circunstâncias, mas uma paz profunda, fruto de uma confiança inabalável no Senhor que jamais abandona os seus.
Neste domingo, somos chamados a refletir: qual sabedoria estamos seguindo? Estamos buscando os valores efêmeros deste mundo ou o tesouro eterno que Deus nos oferece? A sabedoria de Deus pode parecer loucura aos olhos do mundo, mas é nela que encontramos a verdadeira vida.
Leituras
Condenemos o justo a uma morte humilhante, acreditando que seu fim apagará sua luz; mas mal sabem os ímpios que, mesmo na escuridão do sacrifício, a verdade e a justiça ressurgem com mais força, iluminando o caminho para aqueles
que seguem a sabedoria divina.
ele se opõe ao nosso modo de agir,
repreende em nós as transgressões da lei
e nos reprova as faltas contra a nossa disciplina.
e provar a sua paciência;
virá alguém em seu socorro”.
Palavra do Senhor.
É o Senhor que sustenta minha vida, minha rocha inabalável em tempos de aflição; quando tudo parece desmoronar, é Nele que encontro força e refúgio, pois Seu amor fiel me guia e renova minha esperança a cada novo amanhecer.
R. É o Senhor quem sustenta minha vida!
3 Por vosso nome, salvai-me, Senhor;*
e dai-me a vossa justiça!
4 Ó meu Deus, atendei minha prece*
e escutai as palavras que eu digo! R.
5 Pois contra mim orgulhosos se insurgem, †
e violentos perseguem-me a vida:*
não há lugar para Deus aos seus olhos.
6 Quem me protege e me ampara é meu Deus;*
é o Senhor quem sustenta minha vida! R.
8 Quero ofertar-vos o meu sacrifício*
de coração e com muita alegria;
quero louvar, ó Senhor, vosso nome,*
quero cantar vosso nome que é bom! R.
O fruto da justiça floresce onde reina a paz, e é colhido por aqueles que se dedicam a semear a paz em cada gesto, em cada palavra; pois somente em corações pacificadores a verdadeira justiça pode criar raízes e
transformar o mundo ao nosso redor.
depois pacífica, modesta, conciliadora,
cheia de misericórdia e de bons frutos,
sem parcialidade e sem fingimento.
Não vêm, justamente, das paixões
que estão em conflito dentro de vós?
Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir.
E a razão está em que não pedis.
Pois só quereis esbanjar o pedido nos vossos prazeres.
Palavra do Senhor.
O Filho do Homem será entregue por amor, mostrando que a verdadeira
grandeza não está em ser exaltado, mas em servir com humildade.
Quem deseja ser o primeiro deve abraçar o caminho do serviço, porque é
no cuidado aos outros que se revela o coração do Reino de Deus.
“O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens,
e eles o matarão.
Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará”.
“O que discutíeis pelo caminho?”
que seja o último de todos
e aquele que serve a todos!”
e abraçando-a disse:
E quem me acolher, está acolhendo, não a mim,
mas àquele que me enviou”.
Palavra da Salvação.
Homilia
O ÚLTIMO POSTO
A mensagem deste domingo gira em torno da humildade, do serviço e da sabedoria que vem de Deus, em contraste com a ambição egoísta e a busca pela grandeza mundana.
Dividirei esta homilia em três partes:
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A verdadeira sabedoria – A verdadeira sabedoria não se encontra na acumulação de conhecimento ou na busca incessante por reconhecimento. Ela vem de Deus e se manifesta na capacidade de discernir o que é justo e bom. A sabedoria divina nos guia para viver de maneira que honre a Deus e beneficie o próximo. Ela nos ensina a valorizar o que realmente importa na vida, como a integridade, a compaixão e a humildade.
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Fazer-se o último e o servidor de todos – Jesus nos ensinou que, para ser grande no Reino de Deus, devemos nos fazer pequenos. Isso significa colocar as necessidades dos outros acima das nossas próprias e servir com um coração genuíno. Ser o último e o servidor de todos é um chamado para viver uma vida de serviço altruísta, onde a verdadeira grandeza é medida pelo amor e pela dedicação ao próximo.
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Acolher os pequenos – Acolher os pequenos significa abrir nossos corações e nossas vidas para aqueles que são vulneráveis, marginalizados e esquecidos pela sociedade. Jesus nos mostrou que o Reino de Deus pertence a esses pequenos, e que devemos recebê-los com amor e respeito. Acolher os pequenos é um ato de justiça e misericórdia, refletindo o amor incondicional de Deus por todos nós.
A VERDADEIRA SABEDORIA
O Livro da Sabedoria, na primeira leitura, nos ensina que jamais devemos submeter uma pessoa boa e justa a ultrajes ou tormentos. Oprimir o outro, usando de força e poder, não é atitude de quem possui verdadeira sabedoria. Quando tentamos humilhar ou fazer sofrer alguém que age com retidão, não só ferimos essa pessoa, mas nos afastamos daquilo que é justo e verdadeiro. A sabedoria não se revela na dominação, mas no respeito à dignidade de cada ser humano.
A Carta de São Tiago, na segunda leitura, nos apresenta uma sabedoria ainda mais elevada, que vem de Deus. Ele a descreve como “pura, pacífica, compreensiva, dócil, cheia de misericórdia e bons frutos, imparcial e sincera”. Essa sabedoria divina transforma os corações, tornando-nos mais compassivos, humildes e dispostos a servir ao próximo. Não se trata de um saber teórico ou distante, mas de uma prática de vida que traz paz, unidade e justiça a todos ao nosso redor. Quando permitimos que essa sabedoria molde nossas ações, ela nos faz agentes de paz e harmonia no mundo, cultivando relacionamentos baseados no amor, na empatia e na misericórdia.
Este chamado à sabedoria divina é um convite à reflexão profunda: vivemos de acordo com a sabedoria do alto ou nos deixamos levar pelas tentações de poder, egoísmo e dominação? A verdadeira sabedoria não busca vantagem pessoal, mas sim o bem comum, agindo com bondade, integridade e paz. Assim, somos desafiados a olhar para dentro de nós e avaliar nossas atitudes, para que possamos cultivar a paz e a justiça ao nosso redor, sendo instrumentos do amor de Deus no mundo.
FAZER-SE O ÚLTIMO E O SERVIDOR DE TODOS
O Evangelho de Marcos nos apresenta uma cena profundamente significativa: Jesus ensina aos discípulos sobre sua iminente paixão, morte e ressurreição – um momento de entrega total por amor. No entanto, em vez de ouvirem atentamente essa revelação, os discípulos se distraem com uma discussão mundana: “QUEM É O MAIS IMPORTANTE ENTRE NÓS?” Esta pergunta reflete a busca humana por status e poder, uma tentação que, ainda hoje, aflige nossos corações. Quantas vezes também nos preocupamos mais com nossa posição diante dos outros do que em entender o verdadeiro chamado de Cristo?
Jesus, sempre sábio e paciente, aproveita essa oportunidade para ensinar uma lição revolucionária e inesperada: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e o servo de todos”. Este ensinamento de Cristo inverte completamente a lógica do mundo. Enquanto o mundo exalta o poder, a superioridade e o destaque, Jesus nos chama a uma grandeza que se revela no serviço e na humildade. Ele não apenas fala sobre isso, mas vive essa verdade em sua própria vida, culminando no SACRIFÍCIO DA CRUZ.
Aqui, somos convidados a refletir profundamente: conseguimos nos imaginar ocupando o último lugar, servindo a todos, sem esperar reconhecimento ou recompensa? Essa é uma pergunta desafiadora, porque o serviço humilde exige que abandonemos nosso orgulho e egoísmo, para nos tornarmos instrumentos do amor de Deus.
Seguir este caminho não é fácil, mas Jesus nos garante que é o único caminho que conduz à verdadeira grandeza no Reino de Deus. Não se trata de uma grandeza temporária ou superficial, mas de uma grandeza que brota do amor, da generosidade e do cuidado com o próximo. Quando nos colocamos ao serviço dos outros, especialmente dos mais necessitados e marginalizados, imitamos o próprio Cristo, que veio “não para ser servido, mas para servir”.
Este chamado ao serviço é, na verdade, um convite à verdadeira liberdade e realização. Ao nos entregarmos ao serviço, experimentamos a alegria de participar da obra de Deus no mundo, transformando nossa vida e a vida daqueles ao nosso redor. Então, a pergunta permanece: estamos prontos para seguir este caminho, colocando-nos no último lugar, para sermos grandes aos olhos de Deus?
ACOLHER OS PEQUENOS
Para ilustrar seu ensinamento, Jesus tomou uma criança e a colocou no meio dos discípulos. Naquela cultura, as crianças não possuíam nenhum status social ou direitos. Eram vistas como dependentes e insignificantes aos olhos da sociedade. Jesus, porém, abraça a criança e pronuncia palavras que nos convidam a uma profunda reflexão: “Quem receber em meu nome uma criança como esta, recebe a mim”. A simplicidade desta frase esconde uma mensagem poderosa. Jesus, ao colocar uma criança no centro, subverte as convenções sociais da época, ensinando que, no Reino de Deus, o valor não é medido pela posição ou poder, mas pela pureza de coração e pela capacidade de acolher os mais frágeis.
Agora, pensemos no peso dessas palavras quando olhamos para nossa realidade atual. O que significa “RECEBER UMA CRIANÇA” em um mundo onde, muitas vezes, crianças são deliberadamente rejeitadas e descartadas? Que significado terrível ganham estas palavras quando uma criança é intencionalmente eliminada no ventre de sua mãe? Ou quando vemos crianças sem-teto, forçadas a migrar, expostas a perigos e sem proteção?
Jesus nos convida a um chamado urgente e claro: a COLHER E SERVIR AOS MAIS VULNERÁVEIS E MARGINALIZADOS DA SOCIEDADE. Ele nos ensina que, ao estender nossas mãos para os que são mais fracos, para aqueles que o mundo ignora ou rejeita, estamos, na verdade, acolhendo o próprio Cristo. Esse chamado não é uma sugestão, mas um mandato para vivermos com compaixão e justiça.
É através do gesto de amor e acolhimento aos pequenos e indefesos que nossa fé é verdadeiramente vivida. Quando nos comprometemos a cuidar dos que não podem retribuir, dos que são marginalizados, estamos nos conectando com o coração de Deus. Jesus, ao abraçar a criança, nos mostra que é nesse abraço aos mais necessitados que Ele mesmo se faz presente em nossas vidas. O que estamos fazendo para acolher e proteger os pequenos de hoje, os inocentes que sofrem e clamam por justiça? A resposta a essa pergunta define o quanto estamos dispostos a seguir o caminho que Cristo nos traçou.
CONCLUSÃO
As leituras deste XXV Domingo do Tempo Comum (Livro da Sabedoria, Carta de São Tiago e o Evangelho de Marcos) nos desafiam a refletir sobre nossas próprias vidas: estamos buscando poder e ambição, ou estamos nos dedicando ao serviço humilde e altruísta? Jesus nos dá o exemplo perfeito de serviço e sacrifício, lembrando-nos que a verdadeira grandeza está em servir aos outros.
COMO VOCÊ SE SENTE EM RELAÇÃO A ESSAS REFLEXÕES?
ORAÇÃO
Jesus, que, no meio da tua comunidade, eu seja como aquela criança sem pretensões, na qual te vês refletido. Que, em minha vida, eu não busque grandezas que ultrapassem minha capacidade. Que eu não deseje honras, privilégios ou subir a lugares onde outros não alcançam. Faz-me simplesmente irmão de todos, servidor das minhas irmãs e dos meus irmãos. E que, juntos, formemos a Igreja dos humildes, dos pequenos, daqueles que sempre procuram “os últimos lugares”.
Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU