XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO A)

A PALAVRA

No centro da reflexão que a liturgia do XXI Domingo do Tempo Comum nos propõe, estão dois temas à volta dos quais se constrói e se estrutura toda a existência cristã: Cristo e a Igreja.

O Evangelho (Mateus 16,13-20) convida os discípulos a aderirem a Jesus e a acolherem-n’O como “O MESSIAS, FILHO DE DEUS”. Dessa adesão, nasce a Igreja – a comunidade dos discípulos de Jesus, convocada e organizada à volta de Pedro. A missão da Igreja é dar testemunho da proposta de salvação que Jesus veio trazer. À Igreja e a Pedro é confiado o poder das chaves – isto é, de interpretar as palavras de Jesus, de adaptar os ensinamentos de Jesus aos desafios do mundo e de acolher na comunidade todos aqueles que aderem à proposta de salvação que Jesus oferece.

A primeira leitura (Isaías 22,19-23) mostra como se deve concretizar o poder “das chaves”. Aquele que detém “as chaves” não pode usar a sua autoridade para concretizar interesses pessoais e para impedir aos seus irmãos o acesso aos bens eternos; mas deve exercer o seu serviço como um pai que procura o bem dos seus filhos, com solicitude, com amor e com justiça.

A segunda leitura (Romanos 11,33-36) é um convite a contemplar a riqueza, a sabedoria e a ciência de Deus que, de forma misteriosa e às vezes desconcertante, realiza os seus projetos de salvação do homem. Ao homem resta entregar-se confiadamente nas mãos de Deus e deixar que o seu espanto, reconhecimento e adoração se transformem num hino de amor e de louvor ao Deus salvador e libertador.
Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus 

Leituras
Primeira Leitura – Leitura do Livro do Profeta Isaías (22,19-23)
Salmo – Sl 137,1-2a.2bc-3.6.8bc (R. 8bc)
Segunda Leitura – Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos (11,33-36)
Evangelho – Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus (16,13-20)
Fonte: Liturgia Diária

Reflexão do Evangelho
CONTRA OS ADMINISTRADORES ESPERTALHÕES

Nos remotos tempos do profeta Isaías também ocorriam coisas “feias”. Na coisa pública (sejam nos tribunais de justiça, seja na administração de impostos, seja nos cargos e nomeações no Templo…) ocorria escândalos, abusos de poder, esbanjamento do dinheiro público, corrupção administrativa, apadrinhamento e favoritismos. Havia personagens hábeis, com muito pouca consciência e menos escrúpulos, ambiciosos, que aproveitavam de seus cargos públicos, e de seus bons contatos para fazer fortuna à sombra complacente do palácio, ou de qualquer que pudesse facilitar seus fins.

Como Sobna, de cujos ardilosos negócios nos fala Isaías. Trata-se de um “mordomo de palácio” (talvez para entender fosse mais adequado chamá-lo de “Administrador”, ou Primeiro-ministro ou Chefe da Casa Real…) É assim que eles descreveram-no: ambição desenfreada, delírios de grandeza, intrigas, negócios ardilosos, aproveitando-se do seu cargo, e servindo aparentemente ao rei e a seu povo… Mas só aparentemente.

Sobna estava preocupado e ocupado por deixar impressão na história, apesar de ter sujado ele mesmo seu nome; desejava ser lembrado e honrado pelas gerações vindouras. Para o qual tinha projetado construir um grandioso monumento funerário. Hoje talvez optasse por um aeroporto, um grande arranha-céu, alguma ponte faraônica, um muro ou inclusive alguma estação espacial. Quem sabe!

Ao mesmo tempo, os muitos pobres ao seu redor simplesmente tinham dificuldade em sobreviver. Era sua responsabilidade cuidar deles em nome do rei (e de Deus), mas o que realmente lhe interessava era seu próprio túmulo, perpetuar seu nome. Não é difícil encontrar personagens semelhantes hoje em dia.

Nos últimos tempos temos comprovando como, desde todo o arco parlamentar, se pretende enclausurar a fé no âmbito proibido, dizendo que Deus e os cristãos não têm que se meter em política, que se deve respeitar aos que tem pensamentos diferentes… e abster-se de defender os próprios valores. Seria coerente que eles aplicassem a si mesmos, a suas diferentes ideias políticas e ideológicas. Também ocorre que alguns grupos ou líderes políticos pretendem “apropriar-se de Deus” para justificar suas posturas que pouco ou nada têm que ver com Deus… Porque a Deus importa o pobre, o emigrante, o órfão, o idoso, o doente, os povos nativos sem recursos…

E quanto à fé, não se pode converter em um assunto privado, sem espiritualidade ou da outra vida… Tem que afetar as leis, a economia, a política, a ecologia… a tudo… embora nós, crentes,    não tenhamos as soluções para tantos problemas, e por isso mesmo podemos e devemos colaborar com todas as iniciativas que tentem um mundo mais humano, mais justo, mais livre, mais pacífico, mais fraterno… apartando-nos  (e até denunciando) aos que pretendem ao contrário.

SOBRE O EVANGELHO

O ser humano costuma perceber a realidade a partir de expectativas, necessidades, situações pessoais, formação cultural e religiosa, experiências e vivências, interesses… Esses são os nossos filtros, conscientes ou inconscientes. E Jesus quer dar uma “retroalimentação”, uma avaliação do que as pessoas puderam captar das suas palavras e dos seus feitos, o que restou de todo o seu empenho missionário. É uma tarefa necessária sempre, e também para nos agentes pastorais. O equilíbrio apresentado por seus discípulos não é encorajador. Alguns grupos judeus começaram a se distanciar de Jesus, desapontados, senão escandalizados. As “pessoas” não estão muito equivocadas, mas sua percepção do Mestre é muito incompleta. A partir daqui, Jesus mudará sua “estratégia” para se concentrar quase exclusivamente no grupo de seus discípulos.

Mas ele também quer investigá-los. A questão não é dirigida ao campo intelectual ou teológico…: O QUE VOCÊ TEM PERCEBIDO DE MIM NO CONTATO PESSOAL, O QUE SIGNIFICA ME SEGUIR, ME OUVIR, ESTAR COMIGO…? Como você mudou pessoalmente, como estou influenciando suas vidas. Digamos que seja uma questão “existencial” que apenas um pode responder e para a qual não há respostas.

Pedro se apresenta para responder como porta-voz de todo o grupo e faz uma declaração curta, mas profunda sobre Jesus: “VOCÊ É O MESSIAS, O FILHO DO DEUS VIVO.” É uma resposta muito mais completa do que a que deram no barco, depois da tempestade. E essa declaração de fé será o alicerce, a pedra sobre a qual Jesus construirá a sua futura Igreja (a minha Igreja). Mas é preciso dizer que, apesar da bem-aventurança de Jesus dirigida a Pedro … sua confissão precisa ser purificada. Seu conceito de “Messias” deverá mudar muito desde a experiência pascal (fracasso, rejeição, a cruz e a ressurreição), deixando de lado muitas conotações e expectativas que não coincidem com o projeto de Jesus.

Nunca temos nossa experiência de fé fechada e completa. O que “dizemos” sobre Jesus deve continuar a amadurecer. O que dizemos deve ser uma experiência pessoal. E a fé eclesial / comunitária dos apóstolos e a revelação progressiva de Deus (nem carne nem sangue) tornarão isso possível… se não nos encerrarmos em nossas idéias e subjetivismos pessoais. Nossa fé é sempre eclesial / comunitária, mesmo quando é (deveria ser) pessoal.
FONTE: ENRIQUE MARTÍNEZ DE LA LAMA-NORIEGA, cmf (Ciudad Redonda – Missionários Claretianos)
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