XIII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B)

A PALAVRA

Deus ama a vida! Ele quer apenas a vida! “Deus criou o homem para a imortalidade” (Primeira Leitura – Sb 1,13-15;2,23-24). Pelo seu Filho, nos salva da morte: eis porque Lhe damos graças em cada Eucaristia. Na sua vida terrena, Jesus sempre defendeu a vida.

O Evangelho (Mc 5,21-43) de hoje relata-nos dois episódios que assinalam a defesa da vida: Ele cura, Ele levanta. Ele torna livres as pessoas, nos dá toda a dignidade e capacidade para viver plenamente. Sabemos dizer-Lhe que Ele é a nossa alegria de viver?

Este tempo é uma ocasião propícia para celebrar a festa da vida! O XIII domingo celebra a vida mais forte que a morte, celebra Deus apaixonado pela vida. Convém, pois, que na celebração deste dia a vida exploda em todas as suas formas: na beleza das flores, nos gestos e atitudes, na proclamação da Palavra, nos cânticos e aclamações, na luz… No cântico do salmo e na profissão de fé, devemos recordar que é o Deus da vida que nós confessamos, as suas maravilhas que nós proclamamos. Durante toda a missa, rezando, mantenhamos a convicção expressa pelo Livro da Sabedoria: “DEUS NÃO SE ALEGRA COM A PERDIÇÃO DOS VIVOS”.

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

13Deus não fez a morte,
nem tem prazer com a destruição dos vivos.
14Ele criou todas as coisas para existirem,
e as criaturas do mundo são saudáveis:
nelas não há nenhum veneno de morte,
nem é a morte que reina sobre a terra:
15pois a justiça é imortal.
2,23Deus criou o homem para a imortalidade
e o fez à imagem de sua própria natureza;
24foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo,
e experimentam-na os que a ele pertencem.
Palavra do Senhor.

R.Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes e preservastes minha vida da morte.!

2Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes,*
e não deixastes rir de mim meus inimigos!
4Vós tirastes minha alma dos abismos*
e me salvastes, quando estava já morrendo!R.

5Cantai salmos ao Senhor, povo fiel,*
dai-lhe graças e invocai seu santo nome!
6Pois sua ira dura apenas um momento,*
mas sua bondade permanece a vida inteira;
se à tarde vem o pranto visitar-nos,*
de manhã vem saudar-nos a alegria.R.

11Escutai-me, Senhor Deus, tende piedade!*
Sede, Senhor, o meu abrigo protetor!
12Transformastes o meu pranto em uma festa,*
13Senhor meu Deus, eternamente hei de louvar-vos!R.

Irmãos:
7Como tendes tudo em abundância
– fé, eloqüência, ciência, zelo para tudo,
e a caridade de que vos demos o exemplo –
assim também procurai ser abundantes
nesta obra de generosidade.
9Na verdade, conheceis a generosidade
de nosso Senhor Jesus Cristo:
de rico que era, tornou-se pobre por causa de vós,
para que vos torneis ricos, por sua pobreza.
13Não se trata de vos colocar numa situação aflitiva
para aliviar os outros;
o que se deseja é que haja igualdade.
14Nas atuais circunstâncias,
a vossa fartura supra a penúria deles
e, por outro lado,
o que eles têm em abundância
venha suprir a vossa carência.
Assim haverá igualdade, como está escrito:
15‘Quem recolheu muito não teve de sobra
e quem recolheu pouco não teve falta’.
Palavra do Senhor.

Naquele tempo:
21Jesus atravessou de novo, numa barca,
para a outra margem.
Uma numerosa multidão se reuniu junto dele,
e Jesus ficou na praia.
22Aproximou-se, então, um dos chefes da sinagoga,
chamado Jairo.
Quando viu Jesus, caiu a seus pés,
23e pediu com insistência:
‘Minha filhinha está nas últimas.
Vem e pðe as mãos sobre ela, para que ela sare e viva!’
24Jesus então o acompanhou.
Uma numerosa multidão o seguia e o comprimia.
25Ora, achava-se ali uma mulher
que, há doze anos, estava com uma hemorragia;
26tinha sofrido nas mãos de muitos médicos,
gastou tudo o que possuía,
e, em vez de melhorar, piorava cada vez mais.
27Tendo ouvido falar de Jesus,
aproximou-se dele por detrás, no meio da multidão,
e tocou na sua roupa.
28Ela pensava:
‘Se eu ao menos tocar na roupa dele, ficarei curada’.
29A hemorragia parou imediatamente,
e a mulher sentiu dentro de si
que estava curada da doença.
30Jesus logo percebeu que uma força tinha saído dele.
E, voltando-se no meio da multidão, perguntou:
‘Quem tocou na minha roupa?’
31Os discípulos disseram:
‘Estás vendo a multidão que te comprime
e ainda perguntas: ‘Quem me tocou’?’
32Ele, porém, olhava ao redor
para ver quem havia feito aquilo.
33A mulher, cheia de medo e tremendo,
percebendo o que lhe havia acontecido,
veio e caíu aos pés de Jesus,
e contou-lhe toda a verdade.
34Ele lhe disse:
‘Filha, a tua fé te curou.
Vai em paz e fica curada dessa doença’.
35Ele estava ainda falando,
quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga,
e disseram a Jairo:
‘Tua filha morreu. Por que ainda incomodar o mestre?’
36Jesus ouviu a notícia e disse ao chefe da sinagoga:
‘Não tenhas medo. Basta ter fé!’
37E não deixou que ninguém o acompanhasse,
a não ser Pedro, Tiago e seu irmão João.
38Quando chegaram à casa do chefe da sinagoga,
Jesus viu a confusão
e como estavam chorando e gritando.
39Então, ele entrou e disse:
‘Por que essa confusão e esse choro?
A criança não morreu, mas está dormindo’.
40Começaram então a caçoar dele.
Mas, ele mandou que todos saíssem,
menos o pai e a mãe da menina,
e os três discípulos que o acompanhavam.
Depois entraram no quarto onde estava a criança.
41Jesus pegou na mão da menina e disse:
‘Talitá cum’ – que quer dizer:
‘Menina, levanta-te!’
42Ela levantou-se imediatamente e começou a andar,
pois tinha doze anos.
E todos ficaram admirados.
43Ele recomendou com insistência
que ninguém ficasse sabendo daquilo.
E mandou dar de comer à menina.
Palavra da Salvação.

Reflexão

QUEM TOCOU EM MIM?

Jesus estava a caminho da casa de Jairo. Centenas de pessoas se aglomeraram para ouvi-lo. Eles dificilmente o deixavam avançar. É o burburinho típico e conhecido de pessoas que querem fofocar, bisbilhotar… Muitos se aproximaram desse “Mestre-Rabino” para mais tarde poderem dizer que o tinham visto ou tocado. É a reaproximação “superficial” que tantas vezes ocorre entre nós: aproximamos-nos, nos olhamos, dizemos alguma coisa, apertamos as mãos ou um abraço, mas nenhum encontro real ocorreu. E também acontece com o Senhor: encontramos-nos em seu nome, dizemos seja o que for, ouvimos sua Palavra, o recebemos na Eucaristia… nada ou quase nada muda em nós.

Um encontro “AUTÊNTICO” com um irmão ou com o próprio Deus… é aquele que produz em nós algo novo, algo belo, que nos faz crescer, que nos torna melhores, que nos transforma de alguma forma. Não por estarmos juntos, não por fazermos coisas juntos, não por estarmos no mesmo lugar… mais, nós realmente nos encontramos.

Nesta cena, entre tantos que o rodeiam, olham para ele e o admiram, o ouvem, se apertam… Entre tantas pessoas, realmente apenas uma pessoa realmente “ENCONTROU” Jesus. Apenas uma mulher se aproximou dele em silêncio e, por trás, tocou na ponta de seu manto. Havia muita necessidade e muita confiança nela. Ela vinha sofrendo por anos com seu sangramento. Ela estava carregada de humilhação e dor de uma doença vergonhosa que a tornava desprezível para o povo: IMPURA!

Ela foi proibida de participar de qualquer reunião. Ninguém poderia tocá-la. E tudo o que ela tocou também se tornou impuro. Incluindo pessoas. Assim diziam as normas sociais e as sagradas leis religiosas escritas na Bíblia. “IMPURA” também significava que sua doença era um sinal de seu afastamento de Deus. Quer dizer: era considerada uma pecadora. Doze anos sem receber uma carícia, um abraço, um beijo… (COMO TODOS A ENTENDEMOS BEM DEPOIS DESTA PANDEMIA E SUAS “DISTÂNCIAS” FÍSICAS). Ela havia procurado ajuda de especialistas em vão, a ponto de gastar tudo que possuía e ela mesma. Seu último recurso foi aquele Mestre de Nazaré que dizia fazer milagres.

Esta mulher é semelhante a tantas pessoas que se sacrificam pelos outros, colocam à disposição os seus bens, estão sempre disponíveis para o que for preciso, oferecem o seu tempo… mais o que inconscientemente e realmente procuram é o reconhecimento, que as levem em consideração, que prestem atenção a elas. Elas fingem comprar o que não é comprado. Todos nós conhecemos pessoas que nos procuram para nos contar mazelas, problemas, complicações e infortúnios… Sempre lhes acontece alguma coisa ruim. É a sua forma (inconsciente) de buscar a nossa atenção, que as escutemos, mesmo que por um breve período. Elas não precisam de ajuda, ou conselho, ou… Elas não precisam se sentir tão sozinhas!

Mas, no final, raramente encontram o que precisam e se sentem vazias, usadas, exaustas, tristes… Não sabem mais o que dar o que fazer ou o que dizer para alguém atendê-las.

Quando aquela mulher anônima estendeu a mão para tocar a borda do manto do Senhor, toda uma torrente de solidão, impotência, vergonha, culpa saiu dela… Mas para alcançar a borda de seu manto, para romper, ela também tinha que tocar nas pessoas, tornando-as impuras. Assim como Jesus foi “manchado” com sua impureza. Ela havia quebrado as regras religiosas que certamente conhecia muito bem. E ela tentou se esconder no silêncio e entre as pessoas. O fato é que seu sangramento havia parado.

“QUEM ME TOCOU?”

Jesus percebeu que ali estava alguém “diferente”, que o abordou de outra maneira: com sinceridade, discretamente, sem incomodar, sem interromper, mas com todas as suas misérias, suas dores, suas tristezas, seus mal-entendidos. Sem palavras, sem pedir nada. Apenas um gesto de confiança (e ousadia!): TOCÁ-LO. E dele veio uma corrente de compreensão, de paz, de graça, de vida!

Jesus pergunta: “Quem era?” Procura a pessoa: um rosto, uma palavra para dialogar. Ele também quer que ela recupere sua dignidade pessoal, sua autoestima, e não apenas sua saúde. A “caridade anônima” não combina com Jesus.

Ela ainda estava se escondendo, ela estava com vergonha, ela estava com medo e tremendo. Ela temia, com razão, ser repreendida por sua audácia por não respeitar as leis sagradas.

Mas o que se encontra no Senhor é ternura, acolhimento, respeito, compreensão, diálogo. Isso a tira de seu medo, sua vergonha, seu anonimato e sua exclusão de 12 anos. Jesus a chama de “FILHA“, nada menos, declarando-a como família de Deus, e elogiando-a por sua fé, por sua confiança, mesmo que ela tenha violado as normas religiosas.

A pessoa e sua dor estão acima de qualquer regra religiosa ou social. E o Senhor dirige-lhe uma palavra de encorajamento: VÁ EM PAZ E COM SAÚDE.

O Papa Francisco comentou:
Ele espera por nós, Ele sempre espera por nós, não para resolver magicamente nossos problemas, mas para nos fortalecer em nossos problemas. Jesus não tira os fardos da vida, mas a angústia do coração; Ele não tira a cruz de nós, mas a carrega conosco. E, com Ele, todo peso se torna leve, porque Ele é o descanso que buscamos. Quando Jesus entra em nossa vida, a paz vem, aquela que permanece mesmo nas provações, nos sofrimentos. Dirijamo-nos à Jesus, encontremo-nos com Ele todos os dias na oração, num diálogo confiante e pessoal; familiarizemo-nos com a sua Palavra, redescubramos sem medo o seu perdão, contentemo-nos com o seu Pão da vida: sentiremos-nos amados e nos consolaremos por Ele.   

Hoje, nesta Eucaristia, ao estender a mão para recebê-la, você tocará o Senhor. Espero que sinta neste momento que lhe foi devolvida a vida, aquela que às vezes te escapa silenciosamente ou que os outros tiram de você. Não importa se você está assim há muitos anos. Ele não vai repreender você, você já viu.

Para Jesus basta sinceridade e confiança… e que você seja um pouco ousado. Confie em você e Nele. Isso vai te fazer muito bem.

Texto: Quique Martínez de la Lama-Noriega, cmf
Imagem: IMAGEVINE
Fonte: CIUDAD REDONDA (Missionários Claretianos)