XII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B)

A PALAVRA

Deus preocupa-se com os dramas dos homens? Onde está Ele nos momentos de sofrimento e de dificuldade que enfrentamos ao longo da nossa vida? A liturgia do XII Domingo do Tempo Comum diz-nos que, ao longo da sua caminhada pela terra, o homem não está perdido, sozinho, abandonado à sua sorte; mas Deus caminha ao seu lado, cuidando dele com amor de pai e oferecendo-lhe a cada passo a vida e a salvação.
A primeira leitura (Jó 38,1.8-11) fala-nos de um Deus majestoso e onipotente, que domina a natureza e que tem um plano perfeito e estável para o mundo. O homem, na sua pequenez e finitude, nem sempre consegue entender a lógica dos planos de Deus; resta-lhe, no entanto, entregar-se nas mãos de Deus com humildade e com total confiança.
No Evangelho (Mc 4,35-41), Marcos propõe-nos uma catequese sobre a caminhada dos discípulos em missão no mundo… Marcos garante-nos que os discípulos nunca estão sozinhos enfrentando as tempestades que todos os dias se levantam no mar da vida… Os discípulos nada têm que temer, porque Cristo vai com eles, ajudando-os a vencer a oposição das forças que se opõe à vida e à salvação dos homens.
A segunda leitura (2Cor 5,14-17) garante-nos que o nosso Deus não é um Deus indiferente, que deixa os homens abandonados à sua sorte. A vinda de Jesus ao mundo para nos libertar do egoísmo que escraviza e para nos propor a liberdade do amor mostra que o nosso Deus é um Deus interveniente, que nos ama e que quer ensinar-nos o caminho da vida.
Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

1O Senhor respondeu a Jó,
do meio da tempestade, e disse:
8Quem fechou o mar com portas,
quando ele jorrou com ímpeto do seio materno,
9quando eu lhe dava nuvens por vestes
e névoas espessas por faixas;
10quando marquei seus limites
e coloquei portas e trancas,
11e disse: ‘Até aqui chegarás, e não além;
aqui cessa a arrogância de tuas ondas?`
Palavra do Senhor.

R.Dai graças ao Senhor, porque ele é bom, porque eterna é a sua misericórdia!

23Os que sulcam o alto-mar com seus navios,*
para ir comerciar nas grandes águas,
24testemunharam os prodígios do Senhor*
e as suas maravilhas no alto-mar.R.

25Ele ordenou, e levantou-se o furacão,*
arremessando grandes ondas para o alto;
26aos céus subiam e desciam aos abismos,*
seus coraçðes desfaleciam de pavor.R.

28Mas gritaram ao Senhor na aflição,*
e ele os libertou daquela angústia.
29Transformou a tempestade em bonança,*
e as ondas do oceano se calaram.R.

30Alegraram-se ao ver o mar tranqüilo,*
e ao porto desejado os conduziu.
31Agradeçam ao Senhor por seu amor*
e por suas maravilhas entre os homens!R.

Irmãos:
14O amor de Cristo nos pressiona,
pois julgamos que um só morreu por todos,
e que, logo, todos morreram.
15De fato, Cristo morreu por todos,
para que os vivos não vivam mais para si mesmos,
mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.
16Assim, doravante, não conhecemos ninguém
conforme a natureza humana.
E, se uma vez conhecemos Cristo segundo a carne,
agora já não o conhecemos assim.
17Portanto, se alguém está em Cristo,
é uma criatura nova.
O mundo velho desapareceu.
Tudo agora é novo.
Palavra do Senhor.

35Naquele dia, ao cair da tarde,
Jesus disse a seus discípulos:
‘Vamos para a outra margem!’
36Eles despediram a multidão e levaram Jesus consigo,
assim como estava na barca.
Havia ainda outras barcas com ele.
37Começou a soprar uma ventania muito forte
e as ondas se lançavam dentro da barca,
de modo que a barca já começava a se encher.
38Jesus estava na parte de trás,
dormindo sobre um travesseiro.
Os discípulos o acordaram e disseram:
‘Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?’
39Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar:
‘Silêncio! Cala-te!’
O ventou cessou e houve uma grande calmaria.
40Então Jesus perguntou aos discípulos:
‘Por que sois tão medrosos?
Ainda não tendes fé?’
41Eles sentiram um grande medo e diziam uns aos outros:
‘Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?’
Palavra da Salvação.

Reflexão

NO MEIO DA TEMPESTADE

O medo bateu na minha porta.
A fé foi abrir.
Não havia ninguém.
(M Luther King)

Vê-se que Jesus não gosta dos barcos parados, atracados. Ele não gosta de portos. Nem ficar sempre no mesmo lugar. Ele está interessado na outra margem (pagã), as periferias existenciais (Papa Francisco). E ele empurra seus discípulos para o mar.

Somos bons em “entrar no barco“:

Começamos um projeto, uma empresa, um relacionamento, um caminho de oração, uma comunidade cristã, alguns estudos, um programa de formação na fé…

Mas muitas vezes ficamos atracados no porto contemplando o mar, e as gaivotas, o céu e o horizonte… Ou talvez entremos no barco, mas prontos para saltar para o continente assim que forem agitadas as ondas um pouco ou o vento nos atinge na face.

No entanto, a palavra do Senhor Jesus soou muito clara hoje: PASSEMOS PARA A OUTRA MARGEM!

Sentimo-nos calmos e seguros quando pensamos que estamos no controle da situação. Quando conhecemos o barco e o manejamos com facilidade e segurança. E então tentamos administrar por conta própria, com nossos próprios recursos. Preferimos não ter que contar com ninguém, não pedir ajuda. Nem para o Senhor…

Os discípulos, pescadores experientes do Lago, são os que manejam o barco. Já navegaram muitas vezes, “já sabem”. Dá-lhes tranquilidade ver que existem outros barcos por perto, fazendo o mesmo que eles. Eles certamente se sentem calmos porque têm Jesus a bordo. “Não vamos sozinhos“, dizem a si mesmos. E como não precisam Dele (o que Ele vai nos dizer!), o Mestre não se preocupa, adormece. Ele vai com eles no barco. Mas… é como se não fosse.

O fato é que em cada mar (em cada projeto, em cada viagem…), a tempestade é sempre possível. E as ondas agitaram-se, o sol escureceu, o vento os sacudiu… por dentro também! Mas já que deixamos o Senhor adormecer… agora não ousamos acordá-lo!

O Senhor geralmente embarca conosco, porque Ele quer nos levar mais longe:

Quando você se casou na Igreja, aceitou em embarcar. Quando você foi batizado, confirmado, subiu a bordo.
Quando você começou seus estudos ou seu trabalho profissional… Ele queria viajar com você.
Cada vez que você pede perdão a Ele e se reconhece como um pecador, você o está convidando a voltar a bordo.
Quando você se reúne com outras pessoas para construir a comunidade cristã, Ele já está no convés há muito tempo.
Cada vez que você se aproxima Dele em oração e diz “aqui estou, o que você quer de mim?” Bem, Ele quer que você vá além do que pensa.
Quando você quer amar e servir com Ele e se entregar completamente perdido, é porque Ele está a bordo.
Mas se não O tivermos, se não perguntarmos nada, se Ele não fizer parte dos nossos planos… Bem, Ele vai adormecer

E então, nervosos e assustados, clamamos por Ele: “Mestre. Você não se importa se morrermos?” Você não se importa se afundarmos? Nós até o culpamos. O barco foi carregado por nós, tínhamos esquecido, e agora…

Ele é o culpado por termos entrado na tempestade e por nosso medo! Faça alguma coisa, acalme a tempestade! Não foi Você quem nos disse para irmos para a outra margem? Se tivéssemos ficado no cais, a salvo, sem nos arriscarmos…

Para surpresa dos discípulos, é Ele quem os censura: “Mas, vejamos: não estou contigo no barco? Confie! Por que você não confia? VOCÊ NÃO TEM FÉ? “(O oposto da fé é… o medo).

Algo que podemos aprender com essa cena evangélica é que tê-lo em nosso barco não significa que estejamos seguros “apesar da tempestade“, mas que tudo vai bem ‘no meio’ da tempestade, que só se atinge a outra margem conquistando as tempestades.

Que não podemos ficar onde estamos, na comodidade, no já conhecido…

Como São Paulo nos disse hoje: “Quem vive com Cristo é uma nova criatura. O velho passou, o novo chegou”.

Ter fé, portanto, não significa presumir que ele acalmará todas as tempestades. Ter fé significa confiar que no meio da tempestade ELE IRÁ COMIGO.

Ter fé é não ter medo de afundar, porque Ele está a bordo. Cristo morreu por todos, para que nós que vivemos não vivamos mais para nós mesmos, mas para aquele que morreu e ressuscitou por nós. Portanto, não deixe o medo nos pressionar: antes, deixe o amor de Cristo nos pressionar.

Ter fé não é esperar que Ele acalme a tempestade (embora às vezes o faça), mas confiar no Pai e saber que a tempestade nos dará experiência e nos fortalecerá para poderemos chegar a outro porto, a essa outra “margem” que não conhecemos e que não são nossas, mais são das periferias que não interessam a ninguém… MAS ELE PRECISA (não é obrigatório!) que o acompanhemos.

E no final de todas as nossas viagens tempestuosas, ele vai esperar por nós “na Outra Margem

Texto: Quique Martínez de la Lama-Noriega, cmf – a partir de um texto de Dolores Aleixandre
Imagem: JORGE COCCO SANTÁNGELO 
Fonte: CIUDAD REDONDA (Missionários Claretianos)