VI DOMINGO DA PÁSCOA (ANO B)

A PALAVRA

Na celebração do sexto Domingo da Páscoa, somos conduzidos a uma jornada de contemplação profunda, onde a essência do divino amor se desvela diante de nossos olhos. É como se, ao mergulharmos na liturgia, nos encontrássemos envolvidos por uma intricada “rede” de amor, cujos fios tecem os momentos mais significativos da história da salvação.

Nesse enredo divino, Deus se ergue como a fonte inesgotável desse amor eterno. Desde os tempos imemoriais, Ele nutre um amor incomensurável por seu Filho Jesus, enviando-O com a missão suprema de revelar aos homens a magnitude desse amor divino. A jornada terrena de Jesus, permeada por gestos de ternura e palavras de sabedoria, ilumina o caminho da humanidade, mostrando-nos O AMOR INCONDICIONAL DE DEUS.

Os discípulos, testemunhas privilegiadas desse amor divino, acompanham Jesus em sua trajetória desde as pacíficas margens da Galileia até os áridos terrenos de Jerusalém. Ali, eles contemplam a manifestação máxima desse amor, expresso na entrega total de Jesus, “até ao extremo“, uma prova inabalável do poder transformador desse amor divino. Transfigurados por esse amor, os discípulos emergem como Homens Novos, revestidos da missão sagrada de proclamar, no seio do mundo, a grandiosidade desse amor.

Na Segunda Leitura (1Jo 4,7-10), somos recordados de que Deus é a fonte suprema de todo amor. Em um ato de sublime generosidade, Ele emana esse amor, criando uma corrente celestial que nos alcança através de Jesus, o messias amoroso que nos conduz de volta aos braços do Pai. Por meio desse amor transformador, somos capacitados a nos aproximar de Deus, a conhecê-Lo intimamente e a nos tornarmos herdeiros de Sua divina herança.

No Evangelho (Jo 15,9-17), em um momento solene de despedida, Jesus lega aos Seus discípulos o mandamento fundamental: “amai-vos como Eu vos amei“. Essas não são apenas palavras, mas um convite profundo a incorporar em nossas vidas o amor compassivo e sacrificial que Jesus demonstrou até o último suspiro. Os discípulos, agora chamados de “amigos“, são encarregados de testemunhar esse amor redentor em cada aspecto de suas vidas, espalhando suas sementes de esperança por toda a terra.

A Primeira Leitura (At 10,25-26.34-35.44-48) ecoa o clamor universal da salvação. Não há distinção de raça, status social ou origem; todos são chamados a acolher esse amor divino, a tornarem-se testemunhas vivas desse amor que transcende qualquer fronteira terrena. O que importa, para Deus, não é nossa posição na sociedade, mas sim a disposição do coração para receber e compartilhar esse amor sem limites.

Assim, imersos na riqueza dessas leituras sagradas, somos desafiados a nos tornarmos agentes desse amor transformador, a tecer a “rede” divina em cada interação, em cada gesto de bondade, em cada palavra de compaixão. Que esse amor, que atravessa os séculos e alcança cada coração sedento, continue a nos inspirar e a nos guiar em nossa jornada rumo à plenitude da vida em Deus.

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

LEITURAS

Como um suave orvalho que abraça a terra sedenta, o divino presente do Espírito Santo banhou também os corações dos pagãos, tecendo uma teia celestial de união e transcendência.

25 Quando Pedro estava para entrar em casa,
Cornélio saiu-lhe ao encontro,
caiu a seus pés e se prostrou.
26 Mas Pedro levantou-o, dizendo:
“Levanta-te. Eu, também, sou apenas um homem”.
34 Então, Pedro tomou a palavra e disse:
“De fato, estou compreendendo
que Deus não faz distinção entre as pessoas.
35 Pelo contrário, ele aceita quem o teme
e pratica a justiça,
qualquer que seja a nação a que pertença”.
44 Pedro estava ainda falando,
quando o Espírito Santo desceu
sobre todos os que ouviam a palavra.
45 Os fiéis de origem judaica, que tinham vindo com Pedro,
ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo
fosse derramado também sobre os pagãos.
46 Pois eles os ouviam falar e louvar a grandeza de Deus
em línguas estranhas.
Então Pedro falou:
47 “Podemos, por acaso, negar a água do batismo
a estas pessoas que receberam, como nós,
o Espírito Santo?”
48 E mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo.
Eles pediram, então,
que Pedro ficasse alguns dias com eles.
Palavra do Senhor.

Sobre os corações dos pagãos, o divino fogo do Espírito Santo se derramou, e assim, o Senhor revelou aos povos a essência da salvação e a beleza de Sua justiça.

R. O Senhor fez conhecer a salvação e
revelou sua justiça às nações.

1
Cantai ao Senhor Deus um canto novo, *
porque ele fez prodígios!
Sua mão e o seu braço forte e santo *
alcançaram-lhe a vitória. R.

2 O Senhor fez conhecer a salvação, *
e às nações, sua justiça;
3a recordou o seu amor sempre fiel * 
b pela casa de Israel. R.

c Os confins do universo contemplaram *
d a salvação do nosso Deus.
4 Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, *
alegrai-vos e exultai! R.

Nos vastos horizontes da existência, resplandece a verdade eterna: Deus, em Sua essência, é o próprio amor.

Caríssimos:
7 Amemo-nos uns aos outros,
porque o amor vem de Deus
e todo aquele que ama
nasceu de Deus e conhece Deus.
8 Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus,
pois Deus é amor.
9 Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós:
Deus enviou o seu Filho único ao mundo,
para que tenhamos vida por meio dele.
10 Nisto consiste o amor:
não fomos nós que amamos a Deus,
mas foi ele que nos amou
e enviou o seu Filho
como vítima de reparação pelos nossos pecados.
Palavra do Senhor.

Nenhum gesto expressa um amor mais puro do que o sacrifício da própria vida por aqueles que chamamos de amigos.

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:
9 “Como meu Pai me amou,
assim também eu vos amei.
Permanecei no meu amor.
10 Se guardardes os meus mandamentos,
permanecereis no meu amor,
assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai
e permaneço no seu amor.
11 Eu eu vos disse isso,
para que a minha alegria esteja em vós
e a vossa alegria seja plena.
12 Este é o meu mandamento:
amai-vos uns aos outros,
assim como eu vos amei.
13 Ninguém tem amor maior
do que aquele que dá sua vida pelos amigos.
14 Vós sois meus amigos,
se fizerdes o que eu vos mando.
15 Já não vos chamo servos,
pois o servo não sabe o que faz o seu senhor.
Eu vos chamo amigos,
porque vos dei a conhecer
tudo o que ouvi de meu Pai.
16 Não fostes vós que me escolhestes,
mas fui eu que vos escolhi
e vos designei para irdes e para que produzais fruto
e o vosso fruto permaneça.
O que então pedirdes ao Pai em meu nome,
ele vo-lo concederá.
17 Isto é o que vos ordeno:
amai-vos uns aos outros”.
Palavra da Salvação.

Homilia

AMOR POR "TODOS" SEM EXCLUSÃO

Em nossa jornada pela vida, nos deparamos com uma verdade transcendental: o amor vai além das limitações da condição humana, revelando-se como uma força universal, uma verdade cósmica que ecoa pelos tempos: “DEUS É AMOR“. É uma epifania que nos faz reconhecer que todo amor verdadeiro traz consigo o selo divino, uma expressão sagrada que não conhece barreiras e acolhe cada ser humano sem exceção.

Quando o amor se inflama, uma revolução irrompe em nossa alma, intensificando a própria essência da existência. Aquele que ama se apega apaixonadamente ao objeto de seu afeto, enquanto se desapega do restante. O que captura nossa alma —sejam pessoas, ideias, lugares, a beleza ou mesmo o esporte— nos abala e nos incita a viver com uma intensidade corajosa e apaixonada.

Esta homilia desdobra-se em três atos reflexivos:

  • O Assombro de Pedro diante do amor sem fronteiras – É a revelação deslumbrante de um amor que transcende qualquer barreira imaginável, convidando-nos a expandir os próprios horizontes de nossa compreensão e aceitação.
  • Deus é Amor – Uma profunda meditação sobre a essência de Deus como a fonte infinita de amor, um amor que nos convida à comunhão e ao reconhecimento de nossa própria divindade, pois somos feitos à Sua imagem e semelhança.
  • Dar a vida pelos amigos – É a expressão máxima do amor, onde somos convocados a emular o supremo sacrifício de Jesus, amando ao próximo com a mesma profundidade e entrega com que Ele nos amou.

Que esta homilia seja como um farol a iluminar o caminho em direção a um amor mais profundo e sem fronteiras, refletindo a luz do amor divino em cada passo de nossa jornada espiritual, nos guiando rumo à plenitude do amor que transcende todas as fronteiras terrenas.

O ASSOMBRO DE PEDRO DIANTE DO AMOR SEM FRONTEIRAS

A primeira leitura nos relata como um grupo de pagãos ou gentios, reunidos na casa de Cornélio, pediu a Pedro que os aceitasse na comunidade de Jesus por meio do batismo. Inicialmente, Pedro recusou, pois acreditava que o dom de Deus estava reservado apenas para os judeus. No entanto, ele teve um sonho simbólico, no qual Deus lhe pedia para comer ‘animais’ considerados por Pedro como ‘impuros’. Diante da recusa de Pedro, Deus lhe disse: ‘Pedro, o que Deus purificou, não chames de impuro’. Depois, o Espírito se derramou sobre os pagãos e eles começaram a falar línguas estranhas e a proclamar as grandezas de Deus. Então, Pedro, cheio de espanto, perguntou: ‘Pode-se negar a água do batismo àqueles que receberam o Espírito Santo da mesma forma que nós?

O Espírito Santo é o Amor de Deus derramado em nossos corações. Deus ama a todos e quer que todos sejam salvos; o Espírito se derrama sobre toda a humanidade. Por isso, Jesus nos enviou para proclamar o Evangelho e batizar todas as pessoas.

Este relato nos convida a refletir sobre a universalidade do amor de Deus e a inclusividade da fé cristã. Pedro, um dos principais apóstolos de Jesus, teve que superar seus próprios preconceitos e compreender que o amor de Deus se estende a todos, independentemente de sua origem ou crenças anteriores. ESTE É UM PODEROSO LEMBRETE DE QUE A FÉ DEVE NOS UNIR, NÃO NOS DIVIDIR, E QUE TODOS SÃO BEM-VINDOS NA COMUNIDADE DE FÉ.

Além disso, destaca o papel transformador do Espírito Santo. Aqueles que foram tocados pelo Espírito começaram a falar em línguas e a proclamar as grandezas de Deus, um sinal claro de sua nova fé e compromisso. Isso nos lembra que o Espírito Santo não é apenas uma força divina, mas uma presença ativa e transformadora em nossas vidas.

Finalmente, a pergunta de Pedro: ‘Pode-se negar a água do batismo àqueles que receberam o Espírito Santo da mesma forma que nós?’ é uma poderosa chamada à reflexão. Ela nos desafia a questionar nossas próprias barreiras e preconceitos e a reconhecer que o amor de Deus é para todos.

DEUS É AMOR

A segunda leitura nos presenteia com a mais surpreendente definição de Deus: DEUS É AMOR, proclama São João. Neste trecho sublime, somos conduzidos a uma compreensão mais profunda da natureza divina, onde o amor não é apenas uma qualidade de Deus, mas sua própria essência. Para verdadeiramente conhecer quem é Deus, é imprescindível o exercício do amor; afinal, “quem não ama não pode conhecer a Deus“. Aqui, somos desafiados a compreender que a medida do nosso conhecimento divino está intrinsecamente ligada à intensidade do nosso amor. Aqueles que amam com fervor têm uma percepção mais aguçada da presença divina do que aqueles cujo amor é tímido e escasso.

E o amor, neste contexto, transcende a simples expressão humana de afeto; é o próprio cerne do mistério da redenção. Não se trata apenas de nosso amor por Deus, mas da magnitude do amor de Deus por nós, revelado no envio de seu Filho como sacrifício pelos nossos pecados. Aqui reside a sublime ironia: somos amados tão profundamente por Deus que Ele entrega o próprio Filho para nossa salvação.

É na luz desse amor divino que se vislumbra a universalidade da salvação. Deus deseja ardentemente a redenção de toda a humanidade e, nesse ímpeto salvífico, Ele emprega todos os meios possíveis e impossíveis para alcançar esse desígnio. Assim como Ele nos ama incondicionalmente, somos chamados a amar a todos, até mesmo aqueles que se mostram como nossos adversários mais ferrenhos. O amor cristão não conhece exclusões; ele se estende a todos, sem distinção, refletindo a amplitude do amor divino que abraça a todos os filhos e filhas da Terra.

DAR A VIDA PELOS AMIGOS

Jesus, no evangelho de hoje, nos mostra qual é o maior amor: dar a vida pelos amigos! Jesus nos amou tanto que deu sua vida por nós. A fonte do amor é a experiência de como Deus nos ama, de como Jesus nos amou.

Quem ama não é partidário nem universalista; se é de direita, está aberto aos de esquerda e se é de esquerda, está aberto aos de direita. Quem ama não busca uma unidade fictícia e imposta, porque reconhece os direitos individuais e os protege. Quem ama não se sente satisfeito em ser membro de um grupo, comunidade ou religião, em viver em um território ou espaço de terra: quem ama tende a ser global, aberto ao todo, habitante do mundo, ser histórico.

Quem ama não condena, mas tenta compreender o outro e está disposto a passar pelo difícil trago do ‘PERDÃO’ e por relativizar o que entendemos por justiça. Quem ama está disposto a nascer de novo. Quem ama se preocupa mais com as vítimas do que consigo mesmo. É sincero e humilde. Quem ama pede perdão e perdoa. A verdade do amor se mostra na capacidade de pedir perdão e de perdoar. O silêncio e a não defesa da verdade são algo como um orgulho insolente, revestido de humildade.

Este texto nos convida a refletir profundamente sobre a natureza do amor e a essência do cristianismo. A afirmação de que o maior amor é “dar a vida pelos amigos” é uma poderosa expressão da fé cristã, sugerindo que o amor não é apenas um sentimento, mas um ato de sacrifício e doação.

A ideia de que quem ama não é partidário nem universalista, mas aberto a todos, independentemente de suas crenças políticas ou ideológicas, é um convite para superar nossas divisões e preconceitos. Isso sugere que o amor não é apenas um sentimento, mas uma forma de conexão e compreensão.

A passagem também destaca a ideia de que quem ama está disposto a nascer de novo, a passar pelo difícil trago do perdão e a se preocupar mais com as vítimas do que consigo mesmo. Isso nos lembra que o amor é um processo de transformação e renovação, que nos desafia a crescer e a mudar.

Finalmente, a passagem nos desafia a sermos sinceros e humildes, a pedir perdão e a perdoar. Isso é um lembrete poderoso de que o amor é um ato de humildade e sinceridade, que nos desafia a sermos verdadeiros conosco mesmos e com os outros. Esta é uma mensagem que, espero, ressoará com o leitor e o levará a refletir sobre sua própria jornada de amor e fé.

CONCLUSÃO

Madre Teresa de Calcutá pedia às suas irmãs Missionárias da Caridade que, ao atenderem os mais pobres, a todos, se notasse nos olhos delas a alegria.

As leituras deste domingo nos convidam a refletir profundamente sobre a natureza do amor e a essência do cristianismo. A afirmação de Madre Teresa de Calcutá sobre a importância da alegria no serviço aos mais pobres é uma poderosa lembrança de que o amor cristão se expressa através da ação e do serviço aos outros.

A ideia de que a “aventura amorosa de toda a nossa vida” foi possível porque Deus nos visitou e derramou o Seu Espírito em nossos corações é uma bela expressão da fé cristã, sugerindo que o amor não é apenas um sentimento, mas uma jornada espiritual e transformadora.

A leituras também destacam a ideia de que podemos lamentar as oportunidades perdidas de amar e a falta de uso do “embelezador, reconstituinte, configurador” dos nossos amores, que são o Espírito de Deus e a Sua Palavra. Isso nos lembra que o amor é um processo de crescimento e transformação, desafiando-nos a amar mais profundamente e plenamente.

Finalmente, as leituras nos desafiam a permitir que os nossos amores sejam moldados pelo Santo Espírito e pela Palavra. Esta é uma mensagem que, espero, ressoe e nos leve a refletir sobre nossa própria jornada de amor e fé.

Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES, CMF
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU