A liturgia deste domingo convida-nos a refletir sobre a Igreja – a comunidade que nasce de Jesus e cujos membros continuam o “CAMINHO” de Jesus, dando testemunho do projeto de Deus no mundo, na entrega a Deus e no amor aos homens.
O Evangelho (Jo 14,1-12) define a Igreja: é a comunidade dos discípulos que seguem o “CAMINHO” de Jesus – “CAMINHO” de obediência ao Pai e de dom da vida aos irmãos. Os que acolhem esta proposta e aceitam viver nesta dinâmica tornam-se Homens Novos, que possuem a vida em plenitude e que integram a família de Deus – a família do Pai, do Filho e do Espírito.
A primeira leitura (At 6,1-7) apresenta-nos alguns traços que caracterizam a “família de Deus” (Igreja): é uma comunidade santa, embora formada por homens pecadores; é uma comunidade estruturada hierarquicamente, mas onde o serviço da autoridade é exercido no diálogo com os irmãos; é uma comunidade de servidores, que recebem dons de Deus e que põem esses dons ao serviço dos irmãos; e é uma comunidade animada pelo Espírito, que vive do Espírito e que recebe do Espírito a força de ser testemunha de Jesus na história.
A segunda leitura (1Pd 2,4-9) também se refere à Igreja: chama-lhe “templo espiritual”, do qual Cristo é a “PEDRA ANGULAR” e os cristãos “pedras vivas”. Essa Igreja é formada por um “povo sacerdotal”, cuja missão é oferecer a Deus o verdadeiro culto: uma vida vivida na obediência aos planos do Pai e no amor incondicional aos irmãos.
Leituras
É difícil encontrarmos, no nosso tempo, uma realidade que suscite tantas paixões e ódios como a Igreja: uns defendem-na intransigentemente, justificando até as falhas mais injustificáveis, outros atacam-na cegamente, culpando-a de todos os males do mundo. Uns e outros deviam ter presente que se trata de uma comunidade que vem de Jesus e é animada pelo Espírito, mas formada por homens; que ela é a testemunha no mundo do plano de salvação de Deus, mas é também (dada a sua faceta humana) uma realidade a “ser construída”, em contínuo processo de conversão. Os homens do nosso tempo devem exigir que a Igreja seja fiel à sua missão no mundo; mas devem também compreender as suas falhas, dificuldades e infidelidades.
e os fiéis de origem grega começaram a queixar-se
dos fiéis de origem hebraica.
eram deixadas de lado no atendimento diário.
“Não está certo que nós deixemos
a pregação da Palavra de Deus para servir às mesas.
repletos do Espírito e de sabedoria,
e nós os encarregaremos dessa tarefa.
Timon, Pármenas e Nicolau de Antioquia,
um pagão que seguia a religião dos judeus.
e grande multidão de sacerdotes judeus aceitava a fé.
Palavra do Senhor.
O Senhor pousa o olhar sobre os que o temem.
R. Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,
da mesma forma que em vós nós esperamos!
Depois de dois mil anos de cristianismo, parece que nem sempre se nota a presença efetiva de Cristo nesses caminhos em que se constrói a história do mundo e dos homens. O verniz cristão de que revestimos a nossa civilização ocidental não tem impedido a corrida aos armamentos, os genocídios, os atos bárbaros de terrorismo, as guerras religiosas, o capitalismo selvagem… Os critérios que presidem à construção do mundo estão, demasiadas vezes, longe dos valores do Evangelho. Porque é que isto acontece? Podemos dizer que Cristo é, para os cristãos, a referência fundamental?
Nós cristãos fizemos d’Ele, efetivamente, a “pedra angular” sobre a qual construímos a
nossa vida e a história do nosso tempo?
mas escolhida e honrosa aos olhos de Deus.
a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais,
agradáveis a Deus, por Jesus Cristo.
escolhida e magnífica;
quem nela confiar, não será confundido”.
os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular,
esse é o destino deles.
para proclamar as obras admiráveis
daquele que vos chamou das trevas
para a sua luz maravilhosa.
Palavra do Senhor.
A Igreja é essa comunidade de Homens Novos, que se identifica com Jesus que, animada pelo Espírito, segue “o caminho” de Jesus (caminho de obediência aos planos do Pai e de dom da vida aos irmãos), que procura dar testemunho de Jesus no meio dos homens e que é a “família de Deus”. No dia do nosso batismo, fomos integrados nesta família… A nossa vida tem sido coerente com os compromissos que, então, assumimos? Sentimo-nos “família de Deus”, ou deixamos que o egoísmo, o orgulho, a autossuficiência falem mais alto e escolhemos caminhar à margem desta família? É verdade que esta família tem falhas, e é verdade que nem sempre encontramos nela humanidade e amor. Que fazemos, então: afastamo-nos, ou esforçamo-nos para que ela viva de forma mais coerente e verdadeira?
Vou preparar um lugar para vós,
a fim de que onde eu estiver estejais também vós.
Como podemos conhecer o caminho?”
Ninguém vai ao Pai senão por mim.
e não me conheces, Felipe? Quem me viu, viu o Pai.
Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai’?
As palavras que eu vos digo,
não as digo por mim mesmo,
mas é o Pai, que, permanecendo em mim,
realiza as suas obras.
e fará ainda maiores do que estas.
Pois eu vou para o Pai”.
Palavra da Salvação.
Reflexão
SE ELE SE FOR ... O QUE FAREMOS?
“Não ande na minha frente, posso não te seguir.
Não caminhe atrás de mim, posso não guiá-lo.
Caminhe comigo e seja meu amigo”
(Albert Camus)
Acredito que é bom, antes de qualquer encontro com o Senhor e com os irmãos (a Eucaristia, uma assembleia comunitária, seja o que for), ouvirmos com os ouvidos do coração estas palavras que o Ressuscitado nos repete: Não percam a calma. Não tenham o coração agitado. Não fiquem perturbados.
- Não é fácil descobrir a presença do Ressuscitado no meio dos nossos irmãos, se estamos inquietos e nervosos.
- Não é fácil a Palavra de Deus nos dizer algo para nossas vidas, se estivermos com a cabeça cheia de muitas outras palavras.
- Não é fácil ouvirmos a voz de Deus nos irmãos que se aproximam de nós, quando estamos ensimesmados com nossas próprias coisas.
- É quase impossível orar seriamente quando nossa cabeça está repleta de “tenho que”, que parecem urgentes, irrenunciáveis e superimportantes para nós. Ou não, mas com certeza eles nos distraem.
Dessa forma, não vamos bem e não resolvemos as coisas adequadamente: deixamos tudo salpicado de inquietação, tensão, maus modos, nervosismo, pressa, superficialidade… e não raramente de agressividade, falta de acolhimento, atenção e escuta.
Jesus diz: “Creiam em Deus e também creiam em mim”. Essas palavras não são uma fórmula mágica para fazer os problemas desaparecerem ou para vermos claramente o que devemos fazer. Jesus não diz que Ele vai resolver as coisas para nós, nem que os “tenho que” não merecem nossa atenção. Mas Ele nos diz para confiarmos em Deus e nele. Ou seja, que sejamos conscientes de que nossa vida está nas mãos do Pai, e que Ele está disposto a fazer tudo o que estiver em Seu poder para nos ajudar a seguir em frente. E com o coração e a mente tranquilos, podemos perceber as coisas com muito mais clareza.
Jesus está alertando Seus discípulos de que Ele vai embora. E é compreensível que eles fiquem desconcertados. E AGORA, O QUE FAZER? Até aquele momento, tudo havia sido relativamente fácil para eles. Eles estavam confortáveis com o Mestre. Ele sempre tinha uma palavra apropriada para cada situação, um gesto oportuno ou uma solução para qualquer dificuldade que surgisse… Mas e agora, o que faremos sem Ele? A resposta que Jesus deu a eles é importante e também necessária para nós.
- A primeira coisa é corrigir a nossa ideia de Deus. Jesus se empenhou em apresentar-nos um ROSTO do Pai adequado: próximo, interessado na nossa felicidade/salvação, que já sabe o que nos acontece antes mesmo de pedirmos, que não precisamos acumular méritos para que Ele nos ouça e atenda, que não se afasta do pecador, mas que o busca… Ele não nos tenta, mas nos ajuda a não cair na tentação. O Evangelho de hoje o descreve como um PAI DE FAMÍLIA, cuja casa é um lar com quartos para todos os seus filhos, preparados cuidadosamente pelo seu próprio filho, para que todos possam estar com ele. Crede em Deus e sentireis segurança, conforto, acolhimento, proteção, companhia e fortalecimento pelo Pai Deus. A esperança desse LAR futuro nos ajuda a lidar com este mundo temporário, que muitas vezes é hostil e frio.
Nós não conseguimos acreditar totalmente nisso, ou pelo menos, não vivemos os acontecimentos e dificuldades a partir disso. Será que Jesus terá que nos repreender, assim como repreendeu a Felipe: Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces, Felipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai’?
- A segunda coisa é lançar-se no caminho de Jesus. Os membros da família de Deus nunca ficam parados. Eles podem e devem estar inquietos, mas pelas coisas do Pai. Isso é o que Jesus respondeu aos seus pais em um certo dia em que eles o procuravam angustiados: “Não sabeis que Eu devo estar ocupado com as coisas do Pai?“
O mais frequente é que somos como os velhos moinhos, que percorrem sempre o seu caminho no mesmo lugar. Andamos pelas mesmas coisas, pelas mesmas histórias, pelas mesmas pessoas, com os mesmos estilos… Em vez disso, Jesus decidiu sair pelos caminhos, saindo ao encontro do mundo e das pessoas da forma mais cativante. Bem, vendo quais foram os caminhos que Jesus percorreu e como era o seu estilo ao percorrê-los, também descobrimos e compreendemos como é o Pai que o enviou. Jesus caminha perdoando, acompanhando, descobrindo a presença de Deus nas coisas de cada dia: plantar, pescar, nascer do sol, remendar roupas, a mulher que varre à procura de uma moeda perdida, ou que amassa o pão, uma árvore no meio de um pomar…
E tornando-se próximos de todos aqueles que se encontram caídos à beira da estrada. Caminhe orando e procurando fazer a todo momento a vontade do Pai, o que Ele gosta. Ele conhece “as mãos” e, preocupado com tudo isso, às vezes nem tem tempo para comer. Mas ele parece feliz. Não é esse o caminho que todos queremos encontrar? Felicidade tem a ver com Deus. Por isso, quando Jesus nos fala de Deus e do seu Reino, o faz com a expressão de “bem-aventurados“; “abençoado”; “feliz”… para ter certeza de que a nossa vida não é uma vida indefesa, mas que está nas mãos amorosas do Pai. Enche-nos de alegria saber que a garantia do nosso sucesso é que Deus não quer que ele perca nem um de seus filhos menores. E o nosso é colaborar o máximo possível com Ele.
- A terceira coisa é que quem segue esse caminho de Jesus, ou melhor, esse caminho que é o próprio Jesus, acaba sendo um com Ele e com o Pai. O desejo inatingível de “ver” Deus (mostra-nos o Pai e basta-nos) realiza-se contemplando Jesus, estando com ele, amando-o, seguindo-o. E assim reconheceremos o rosto de Deus na história, nos homens, no meio de nós, entre as nossas panelas e computadores, no meio da nossa solidão, da nossa doença, dos nossos fardos, das nossas feridas… Deus está sempre a colocar esperança, força e paz.
Se ele se for, o que faremos? Continuamos caminhando, em companhia de outros irmãos, na direção certa. E ainda receberemos a ajuda inestimável do ESPÍRITO SANTO que Jesus nos prometeu… Vamos pedir insistentemente neste tempo pascal. E poderemos realizar obras ainda maiores do que as do próprio Jesus (ele mesmo nos disse isso hoje)!!
Texto: Quique Martínez de la Lama-Noriega, cmf.
Fonte: MISSIONÁRIOS CLARETIANOS (CIUDAD REDONDA)