A liturgia desta noite fala-nos de um Deus que ama os homens; por isso, não os deixa perdidos e abandonados percorrendo caminhos de sofrimento e de morte, mas envia “UM MENINO” para lhes apresentar uma proposta de vida e de liberdade. Esse “menino será “A LUZ” para “o povo que andava nas trevas”.
A primeira leitura (Isaias 9,1-6) anuncia a chegada de “um menino”, da descendência de Davi, dom de Deus ao seu Povo; esse “MENINO” eliminará a guerra, o ódio, o sofrimento e inaugurará uma era de alegria, de felicidade e de paz sem fim.
O Evangelho (Lucas 2,1-14) apresenta a realização da promessa profética: Jesus, o “menino de Belém”, é o Deus que vem ao encontro dos homens para lhes oferecer – sobretudo aos pobres e marginalizados – a salvação. A proposta que Ele traz não será uma proposta que Deus quer impor pela força; mas será uma proposta que Deus oferece ao homem com ternura e amor.
A segunda leitura (Tito 2,1-14) lembra-nos as razões pelas quais devemos viver uma vida cristã autêntica e comprometida: porque Deus nos ama verdadeiramente; porque este mundo não é a nossa morada permanente e os valores deste mundo são passageiros; porque, comprometidos e identificados com Cristo, devemos realizar as obras d’Ele.
LEITURAS
É Jesus, o “menino de Belém”, que dá sentido pleno a esta profecia messiânica de Isaías. Ele é “aquele que veio de Deus” para vencer as trevas e as sombras da morte que ocultavam a esperança e instaurar o mundo novo da justiça, da paz e da felicidade. O nascimento de Jesus que celebramos esta noite significa que, efetivamente, este “REINO” chegou e encarnou no meio dos homens. No entanto: Ele é hoje uma realidade instituída, viva, atuante na história humana? Por quê?
para os que habitavam nas sombras da morte,
uma luz resplandeceu.
como alegres ceifeiros na colheita,
ou como exaltados guerreiros ao dividirem os despojos.
tu os abateste como na jornada de Madiã.
tudo será queimado e devorado pelas chamas.
ele traz aos ombros a marca da realeza;
o nome que lhe foi dado é:
Conselheiro admirável, Deus forte,
Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz.
que ele irá consolidar e confirmar
em justiça e santidade,
a partir de agora e para todo o sempre.
O amor zeloso do Senhor dos exércitos
há de realizar estas coisas.
Palavra do Senhor.
Governará o mundo todo com justiça, e o povo julgará com lealdade.
R. Hoje nasceu para nós o Salvador,que é Cristo o Senhor.
1 Cantai ao Senhor Deus um canto novo, †
2a cantai ao Senhor Deus, ó terra inteira! *
Cantai e bendizei seu santo nome! R.
3 manifestai a sua glória entre as nações, *
Governará o mundo todo com justiça, *
e os povos julgará com lealdade. R.
A nossa civilização ocidental institucionalizou e sacralizou uma série de valores efêmeros (dinheiro, poder, êxito profissional, “status” social, bens de consumo…) e montou uma máquina de publicidade eficaz para apresentá-los como a chave da verdadeira felicidade. No entanto, com frequência esses valores estão em absoluta contradição com os valores do Evangelho… Aprendemos, com Jesus, a ter um olhar crítico sobre os valores que o mundo nos propõe e a confrontar, dia a dia, a nossa vida com os valores do Evangelho?
com equilíbrio, justiça e piedade
e que se dedique a praticar o bem.
Palavra do Senhor.
A presença libertadora de Jesus neste mundo é uma “boa notícia” que devia encher de felicidade os pobres, os débeis, os marginalizados e dizer-lhes que Deus os ama e que quer caminhar com eles, quer oferecer-lhes a salvação. É essa proposta que nós, OS SEGUIDORES DE JESUS, passamos ao mundo? Nós, Igreja, não estamos demasiado ocupados discutindo questões laterais, esquecendo o essencial, o anúncio libertador aos pobres?
ordenando o recenseamento de toda a terra.
até a cidade de Davi, chamada Belém, na Judeia,
pois não havia lugar para eles na hospedaria.
tomando conta do seu rebanho.
e eles ficaram com muito medo.
Eu vos anuncio uma grande alegria,
que o será para todo o povo:
envolvido em faixas e deitado numa manjedoura”.
Cantavam louvores a Deus, dizendo:
Palavra da Salvação.
Reflexão
NASCEU PARA NÓS...
Nesta noite, resplandece «uma grande luz» (Is 9, 1); sobre todos nós, brilha a luz do nascimento de Jesus. Como são verdadeiras e atuais as palavras que ouvimos do profeta Isaías: «Multiplicaste a alegria, aumentaste o júbilo» (9, 2)! O nosso coração já estava cheio de alegria vislumbrando este momento; mas, agora, aquele sentimento multiplica-se e sobreabunda, porque a promessa se cumpriu: finalmente realizou-se. Júbilo e alegria garantem-nos que a mensagem contida no mistério desta noite provém verdadeiramente de Deus. Não há lugar para a dúvida; deixemo-la aos cépticos, que, por interrogarem apenas a razão, nunca encontram a verdade. Não há espaço para a indiferença, que domina no coração de quem é incapaz de amar, porque tem medo de perder alguma coisa. Fica afugentada toda a tristeza, porque o Menino Jesus é o verdadeiro consolador do coração.
Hoje, o Filho de Deus nasceu: TUDO MUDA. O Salvador do mundo vem para Se tornar participante da nossa natureza humana: já não estamos sós e abandonados. A Virgem oferece-nos o seu Filho como princípio de vida nova. A verdadeira luz vem iluminar a nossa existência, muitas vezes encerrada na sombra do pecado. Hoje descobrimos de novo quem somos! Nesta noite, torna patente o caminho que temos de percorrer para alcançar a meta. Agora, deve cessar todo o medo e pavor, porque a luz nos indica a estrada para Belém. Não podemos permanecer inertes. Não nos é permitido ficar parados. Temos de ir ver o nosso Salvador, deitado numa manjedoura. Eis o motivo do júbilo e da alegria: este Menino «NASCEU PARA NÓS», foi-nos «dado a nós», como anuncia Isaías (cf. 9, 5). A um povo que, há dois mil anos, percorre todas as estradas do mundo para tornar cada ser humano participante desta alegria, é confiada a missão de dar a conhecer o «Príncipe da paz» e tornar-se um instrumento eficaz d’Ele no meio das nações.
Por isso, quando ouvirmos falar do nascimento de Cristo, permaneçamos em silêncio e deixemos que seja aquele Menino a falar; gravemos no nosso coração as suas palavras, sem afastar o olhar do seu rosto. Se O tomarmos nos nossos braços e nos deixarmos abraçar por Ele, dar-nos-á a paz do coração que jamais terá fim. Este Menino ensina-nos aquilo que é verdadeiramente essencial na nossa vida. Nasce na pobreza do mundo, porque, para Ele e sua família, não há lugar na hospedaria. Encontra abrigo e proteção num estábulo e é deitado numa manjedoura para animais. E, todavia, a partir deste nada, surge a luz da glória de Deus. A partir daqui, para os homens de coração simples, começa o caminho da verdadeira libertação e do resgate perene. Deste Menino, que, no seu rosto, traz gravados os traços da bondade, da misericórdia e do amor de Deus Pai, brota – em todos nós, seus discípulos, como nos ensina o apóstolo Paulo – a vontade de «renúncia à impiedade» e à riqueza do mundo, para vivermos «com sobriedade, justiça e piedade» (Tt 2, 12).
Numa sociedade frequentemente embriagada de consumo e prazer, de abundância e luxo, de aparência e narcisismo, Ele chama-nos a um comportamento sóbrio, isto é, simples, equilibrado, linear, capaz de individuar e viver o essencial. Num mundo que demasiadas vezes é duro com o pecador e brando com o pecado, há necessidade de cultivar um forte sentido da justiça, de buscar e pôr em prática a vontade de Deus. No seio duma cultura da indiferença, que não raramente acaba por ser cruel, o nosso estilo de vida seja, pelo contrário, cheio de piedade, empatia, compaixão, misericórdia, extraídas diariamente do poço de oração.
Como os pastores de Belém, possam também os nossos olhos encher-se de espanto e maravilha, contemplando no Menino Jesus o Filho de Deus. E, diante d’Ele, brote dos nossos corações a invocação:
«MOSTRA-NOS, SENHOR, A TUA MISERICÓRDIA, CONCEDE-NOS A TUA SALVAÇÃO» (Sal 85/84, 8).
SANTA MISSA DA NOITE DE NATAL
Basílica Vaticana
Quinta-feira, 24 de Dezembro de 2015
PAPA FRANCISCO