SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E JOSÉ (ANO C)

A PALAVRA

As leituras deste domingo complementam-se ao apresentar as duas coordenadas fundamentais a partir das quais se deve construir a família cristã: O AMOR A DEUS E O AMOR AOS OUTROS, sobretudo a esses que estão mais perto de nós – os pais e demais familiares.

O Evangelho (Lc 2,41-52) sublinha, sobretudo, a dimensão do amor a Deus: o projeto de Deus tem de ser a prioridade de qualquer cristão, a exigência fundamental, a que todas as outras se devem submeter. A família cristã constrói-se no respeito absoluto pelo projeto que Deus tem para cada pessoa.

A segunda leitura (Cl 3,12-21) sublinha a dimensão do amor que deve brotar dos gestos de todos os que vivem “em Cristo” e aceitaram ser HOMEM NOVO. Esse amor deve atingir, de forma mais especial, todos os que conosco partilham o espaço familiar e deve traduzir-se em determinadas atitudes de compreensão, de bondade, de respeito, de partilha, de serviço.

A primeira leitura (Eclo 3,3-7.14-17a) apresenta, de forma muito prática, algumas atitudes que os filhos devem ter para com os pais. É uma forma de concretizar esse amor de que fala a segunda leitura.

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus  

Leituras

Sentimo-nos gratos aos nossos pais porque eles aceitaram ser, em nosso favor, instrumentos de Deus criador? Lembramo-nos de lhes demonstrar essa gratidão?

3Deus honra o pai nos filhos
e confirma, sobre eles, a autoridade da mãe.
4Quem honra o seu pai,
alcança o perdão dos pecados;
evita cometê-los
e será ouvido na oração quotidiana.
5Quem respeita a sua mãe
é como alguém que ajunta tesouros.
6Quem honra o seu pai,
terá alegria com seus próprios filhos;
e, no dia em que orar, será atendido.
7Quem respeita o seu pai, terá vida longa,
e quem obedece ao pai é o consolo da sua mãe.
14Meu filho, ampara o teu pai na velhice
e não lhe causes desgosto enquanto ele vive.
15Mesmo que ele esteja perdendo a lucidez,
procura ser compreensivo para com ele;
não o humilhes, em nenhum dos dias de sua vida,
a caridade feita a teu pai não será esquecida,
16mas servirá para reparar os teus pecados
17ae, na justiça, será para tua edificação.
Palavra do Senhor

R. Felizes os que temem o Senhor e trilham seus caminhos!

1Feliz és tu se temes o Senhor*
e trilhas seus caminhos!
2Do trabalho de tuas mãos hás de viver,*
serás feliz, tudo irá bem! R.

3A tua esposa é uma videira bem fecunda*
no coração da tua casa;
os teus filhos são rebentos de oliveira*
ao redor de tua mesa. R.

4Será assim abençoado todo homem*
que teme o Senhor.
5O Senhor te abençoe de Sião,*
cada dia de tua vida. R.

Viver “em Cristo” implica fazer do amor a nossa referência fundamental e deixar que ele
se manifeste em gestos concretos de bondade, de perdão, de compreensão,
de respeito pelo outro, de partilha, de serviço… É este o quadro em que se desenvolvem
as nossas relações com aqueles que nos rodeiam?

Irmãos:
12Vós sois amados por Deus,
sois os seus santos eleitos.
Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia,
bondade, humildade, mansidão e paciência,
13suportando-vos uns aos outros
e perdoando-vos mutuamente,
se um tiver queixa contra o outro.
Como o Senhor vos perdoou,
assim perdoai vós também.
14Mas, sobretudo, amai-vos uns aos outros,
pois o amor é o vínculo da perfeição.
15Que a paz de Cristo reine em vossos corações,
à qual fostes chamados como membros de um só corpo.
E sede agradecidos.
16Que a palavra de Cristo, com toda a sua riqueza,
habite em vós.
Ensinai e admoestai-vos uns aos outros com toda a
sabedoria.
Do fundo dos vossos corações, cantai a Deus
salmos, hinos e cânticos espirituais,
em ação de graças.
17Tudo o que fizerdes, em palavras ou obras,
seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo.
Por meio dele dai graças a Deus, o Pai.
18Esposas, sede solícitas para com vossos maridos,
como convém, no Senhor.
19Maridos, amai vossas esposas
e não sejais grosseiros com elas.
20Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais,
pois isso é bom e correto no Senhor.
21Pais, não intimideis os vossos filhos,
para que eles não desanimem.
Palavra do Senhor.

Anima-nos o mesmo entusiasmo de Jesus pela Palavra de Deus? Somos capazes de esquecer outros interesses legítimos para nos dedicarmos à escuta,
à reflexão e à discussão da Palavra?
Vemos nela um meio privilegiado de conhecer o projeto que Deus tem para nós?

41Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém,
para a festa da Páscoa.
42Quando ele completou doze anos,
subiram para a festa, como de costume.
43Passados os dias da Páscoa, começaram a viagem
de volta, mas o menino Jesus ficou em Jerusalém,
sem que seus pais o notassem.
44Pensando que ele estivesse na caravana,
caminharam um dia inteiro.
Depois começaram a procurá-lo
entre os parentes e conhecidos.
45Não o tendo encontrado,
voltaram para Jerusalém à sua procura.
46Três dias depois, o encontraram no Templo.
Estava sentado no meio dos mestres,
escutando e fazendo perguntas.
47Todos os que ouviam o menino estavam maravilhados
com sua inteligência e suas respostas.
48Ao vê-lo, seus pais ficaram muito admirados
e sua mãe lhe disse:
‘Meu filho, por que agiste assim conosco?
Olha que teu pai e eu estávamos, angustiados,
à tua procura.’
49Jesus respondeu:
‘Por que me procuráveis?
Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?’
50Eles, porém, não compreenderam
as palavras que lhes dissera.
51Jesus desceu então com seus pais para Nazaré,
e era-lhes obediente.
Sua mãe, porém,
conservava no coração todas estas coisas.
52E Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça,
diante de Deus e diante dos homens.
Palavra da Salvação.

Reflexão

UMA FAMÍLIA MARCADA PELO SOFRIMENTO

Estrategicamente situada imediatamente após o Natal, esta festa convida-nos a olhar à família formada por Jesus, Maria e José. Em primeiro lugar, lembra-nos uma vez mais que o fato da encarnação teve local em nossa história. Não só em um tempo e local concreto senão também em uma família concreta. Maria e José formaram o casal no qual Jesus nasceu, cresceu e amadureceu fisicamente e como pessoa.

Temos a tentação de pensar naquela família e tratar de aplicar a ela o que hoje pensamos que é o ideal para uma família. Se a nós nos parece que o que “idealizamos” é bom para uma família, então esse valor “idealizado” esteve presente naquela família de Nazaré. Imaginamos a vida daquela família cheia de harmonia, de amor, de paz. José trabalhando na oficina e Maria na cozinha, enquanto Jesus brincava ou está na escola. Tudo isso não são mais que projeções de nossa realidade sobre uma realidade da qual sabemos muito pouco e da qual os Evangelhos nos falam menos ainda. No caso em que os poucos dados que temos são históricos – já se sabe que os evangelhos da infância têm mais uma composição teológica do que uma história fiel aos fatos – a vida daquela família era realmente imprevisível. José teve que acolher a Maria, quando esta ficou grávida sem sua participação.

Não deve ter sido fácil esse primeiro momento da relação. Depois vem o nascimento em Belém. O texto fala-nos da pobreza em que viviam. Ninguém os acolheu! E a pobreza não costuma fazer parte do ideal da vida de uma família. Não só isso. A família viu-se obrigada a emigrar para o Egito. Refugiados políticos! Hoje sabemos como é dura a vida dos emigrantes e migrantes. Bem mais dura seria naqueles tempos nos quais não existiam em absoluto as organizações e leis que hoje, boas ou ruins, se destinam a acolher e fazer em certa medida a vida mais fácil. Do pai não se volta a falar nos Evangelhos e, por mais que nos empenhemos em alguns textos se vê que teve certa distância entre Jesus e sua família, devido a sua missão. O mesmo pode ser dito do Evangelho de hoje, talvez uma parábola do que ocorreu quando Jesus se fez maior.

Assim foi a família ao longo dos séculos e culturas. Uma realidade sempre em constante mudança, sempre submetida a pressões e dificuldades. Nesta festa, talvez  o mais importante não seja tratar de impor o ideal do qual a nós nos parece bom para a família senão nos comprometer a ajudar as famílias que sofrem, ser compressivos com aqueles que não se encaixam em nossa ideal de família, a acolher aos que estão sós e lhes abrir as portas de nosso coração, embora não sejam de nossa família. Porque a família dos filhos de Deus é maior que a família dos laços da carne.

Para reflexão

  • Como vivo a relação com minha própria família?
  • Dou-me conta de que em Jesus minha família se alargou até abarcar a toda a humanidade?
  • Como pratico o acolhimento e o amor com eles, meus irmãos e irmãs do mundo, sobretudo os que mais sofrem?

Texto: Fernando Torres, cmf
Imagem: PIXABAY
Fonte: Ciudad Redonda