São Paulo escreve: Porque, se eu anuncio o Evangelho, não é para mim motivo de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar! Se o fizesse por iniciativa própria, mereceria recompensa; mas, não sendo de maneira espontânea, é um encargo que me está confiado. Qual é, portanto, a minha recompensa? É que, pregando o Evangelho, eu faço-o gratuitamente, sem me fazer valer dos direitos que o seu anúncio me confere.
De fato, embora livre em relação a todos, fiz-me servo de todos, para ganhar o maior número. Fiz-me judeu com os judeus, para ganhar os judeus; com os que estão sujeitos à Lei, comportei-me como se estivesse sujeito à Lei – embora não estivesse sob a Lei – para ganhar os que estão sujeitos à Lei; com os que vivem sem a Lei, fiz-me como um sem Lei – embora eu não viva sem a lei de Deus porque tenho a lei de Cristo – para ganhar os que vivem sem a Lei. Fiz-me fraco com os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para salvar alguns a qualquer custo. E tudo faço por causa do Evangelho, para dele me tornar participante.
Não sabeis que os que correm no estádio correm todos, mas só um ganha o prémio? Correi, pois, assim, para o alcançardes. Os atletas impõem a si mesmos toda a espécie de privações: eles, para ganhar uma coroa corruptível; nós, porém, para ganhar uma coroa incorruptível. Assim, também eu corro, mas não às cegas; dou golpes, mas não no ar. Castigo o meu corpo e mantenho-o submisso, para que não aconteça que, tendo pregado aos outros, venha eu próprio a ser eliminado. (1 Coríntios 9,16-27)
As palavras de S. Paulo são como fogo. Todo o seu ser é preenchido e movido pelo zelo em anunciar o Evangelho. Para ele é uma necessidade, uma feliz obrigação. Sem ter vergonha, ele grita: «Ai de mim, se eu não evangelizar!» (v.16). Ele fala deste modo porque o Evangelho é a força de Deus para a salvação do que crêem (Romanos 1,16). Primeiro, ele próprio é tomado por esta força, no corpo e na alma. Ao encontrar Cristo Ressuscitado, a sua vida transformou-se e começou então uma nova vida em comunhão com ele. Agora, quer transmitir o amor de Deus manifestado na pessoa de Jesus aos que ainda não o conhecem.
Com força e eloquência, o apóstolo desvenda o segredo do seu ministério de evangelização. Sem contradição nem polêmica, ele identifica-se com cada um e com todos, mesmo quando pertencem a categorias diferentes. Ele quer ultrapassar as separações culturais e religiosas para ter acesso a todos, para «GANHAR» ouvintes. O apóstolo é verdadeiramente livre e não se deixa paralisar pelas opiniões correntes. Trata-se de anunciar a Palavra de Vida a todos sem exceção, porque Cristo morreu e ressuscita para todos.
As imagens do atleta e da coroa mostram o quanto a disciplina, o sacrifício e o domínio de si são pedidos aos que se comprometem no trabalho de evangelização. Como os atletas, os discípulos de Cristo precisam treinar.
Paulo é realista. Ele sabe que a sua mensagem não será acolhida por todos. Mas isso não o desencoraja nem o impede de ousar atravessar barreiras aparentemente inultrapassáveis. Mesmo quando ele trabalha tanto e, em certo sentido, tem êxito no seu ministério, ele evita todo o orgulho. Está consciente dos seus limites e da sua fraqueza. Mas, apesar de tudo, Deus trabalha. Paulo dirá mais tarde que trazemos o tesouro do Evangelho em vasos de barro (2 Coríntios 4,7). Ele sabe muito bem que a força vem de Deus, não de nós.
Paulo mostra o zelo pelo anúncio do evangelho, não para se vangloriar, mas para, através do seu exemplo, exortar os cristãos dispersos entre povos na maioria não crentes. Ele segue o exemplo de Cristo, seu mestre. Durante a sua vida na terra, o próprio Jesus não excluiu ninguém e mostrou a face de Deus, Pai de todos os homens.
Hoje, como no tempo de S. Paulo, viver do Evangelho e anunciá-lo caminham a par. Neste mundo sempre marcado pelas divisões e as oposições, trata-se de anunciar Cristo, que destruiu a barreira da separação que é o ódio, a hostilidade (ver Efésios 2,14). Sem nos colocarmos de um lado contra o outro, teremos a audácia de anunciar Cristo de comunhão? Isso começa em nós mesmos. A atitude de S. Paulo inspira-nos e interpela-nos.
PARA REFLETIR
- Com quem posso partilhar a minha fé? Onde posso dar testemunho dela? Se um interlocutor meu não conhecer Cristo, qual será a minha atitude?
- O que significa para S. Paulo «pregar gratuitamente o Evangelho»? O que significa isso para nós, hoje?
- No meu meio social e cultural, quais são as barreiras a ultrapassar para anunciar o Evangelho?
Texto: COMMUNAUTÉ DE TAIZÉ
Imagem: PIXABAY
Estas meditações bíblicas são sugeridas como meio de procura de Deus no silêncio e na oração, mesmo no dia-a-dia. Consiste em reservar uma hora durante o dia para ler em silêncio o texto bíblico sugerido, acompanhado de um breve comentário e de algumas perguntas. Em seguida constituem-se pequenos grupos de 3 a 10 pessoas, para uma breve partilha do que cada um descobriu, integrando eventualmente um tempo de oração.