As leituras do 6º Dia na Oitava de Natal propõe-nos a FAMÍLIA DE JESUS, como exemplo e modelo das nossas comunidades familiares… As leituras fornecem indicações práticas para nos ajudar a construir famílias felizes, que sejam espaços de encontro, de partilha, de fraternidade, de amor verdadeiro.
O Evangelho (Mt 2,13-15.19-23) apresenta uma catequese sobre Jesus e a missão que o Pai lhe confiou; mas, sobretudo, propõe-nos o quadro de uma família exemplar – a família de Nazaré. Nesse quadro há duas coordenadas que são postas em relevo: trata-se de uma família onde existe verdadeiro amor e verdadeira solidariedade entre os seus membros; e trata-se de uma família que escuta Deus e que segue, com absoluta confiança, os caminhos por Ele propostos.
A segunda leitura (Cl 3,12-21) sublinha a dimensão do amor que deve brotar dos gestos dos que vivem “em Cristo” e aceitaram ser Homem Novo. Esse amor deve atingir, de forma muito especial, todos os que conosco partilham o espaço familiar e deve traduzir-se em determinadas atitudes de compreensão, de bondade, de respeito, de partilha, de serviço.
A primeira leitura (Eclo 3,3-7.14-17a) apresenta, de forma muito prática, algumas atitudes que os filhos devem ter para com os pais… É uma forma de concretizar esse amor de que fala a segunda leitura.
Leituras
Apesar da sensibilidade moderna com os direitos humanos e o respeito pela dignidade das pessoas, a nossa civilização cria, com frequencia, situações de abandono e de marginalização, cujas vítimas são, muitas vezes, aqueles que já não têm uma vida considerada produtiva, ou aqueles a quem a idade ou a doença trouxeram limitações.
Que motivos justificam o desprezo e abandono daqueles a quem devemos “honrar”?
evita cometê-los
e será ouvido na oração cotidiana.
e, no dia em que orar, se á atendido.
não o humilhes, em nenhum dos dias de sua vida,
a caridade feita a teu pai não será esquecida,
Será assim abençoado todo homem que teme o Senhor.
R. Felizes os que temem o Senhor e trilham seus caminhos!
os teus filhos são rebentos de oliveira *
ao redor de tua mesa. R.
4 Será assim abençoado todo homem *
que teme o Senhor.
5 O Senhor te abençoe de Sião, *
cada dia de tua vida. R.
Viver “em Cristo” implica fazer do amor a nossa referência fundamental e deixar que ele se manifeste em gestos concretos de bondade, de perdão, de compreensão, de respeito pelo outro, de partilha, de serviço… É este o quadro em que se desenvolvem as nossas relações com aqueles que nos rodeiam (nossa Família)?
Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia,
bondade, humildade, mansidão e paciência,
se um tiver queixa contra o outro.
Como o Senhor vos perdoou,
assim perdoai vós também.
E sede agradecidos.
Ensinai e admoestai-vos uns aos outros com toda a
sabedoria.
Do fundo dos vossos corações, cantai a Deus
salmos, hinos e cânticos espirituais,
em ação de graças.
Por meio dele dai graças a Deus, o Pai.
Palavra do Senhor.
A Sagrada Família é, ainda, uma família que obedece a Deus… Diante das indicações de Deus, não discute nem argumenta; mas cumprem à risca os desígnios de Deus… E é precisamente o cumprimento obediente dos projetos de Deus que assegura a esta família um futuro de vida, de tranquilidade e de paz. A nossa família aceita com serenidade os esquemas e a lógica de Deus e percorre, com confiança, os caminhos de Deus?
“Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o
Egito! Fica lá até que eu te avise!
Porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo”.
“Do Egito chamei o meu Filho”.
pois aqueles que procuravam matar o menino
já estão mortos”.
Por isso, depois de receber um aviso em sonho,
José retirou-se para a região da Galileia,
“Ele será chamado Nazareno”.
Palavra da Salvação.
Reflexão
FAMÍLIA É ACOLHIDA, CARINHO, CUIDADO MÚTUO...
Os leitores desta página me perdoem, mais hoje não vou comentar diretamente as leituras de hoje. O tema da família cristã é complicado. Ocorre-me que é melhor trazer ao primeiro plano dois exemplos ou duas historias, reais, que falam de alguns personagens que decidem viver em família ao estilo de Jesus: acolhendo, amando…
O primeiro é um sacerdote que deixou o ministério já faz algum tempo. Desde o seminário já se dedicava a tarefas um pouco marginais. Não foi um seminarista normal, nem tão pouco um sacerdote normal. Tinha e tem uma veia artística. Entre isso e a leitura do Evangelho, passou a vida próximo dos pobres e dos marginalizados. Deixou a segurança da casa paroquial para viver em comunidade com um grupo de laicos, homens e mulheres, com os quais compartilhava sua tarefa de anunciar de muitas maneiras o Evangelho da compaixão, da misericórdia e da salvação aos que estavam tão longe e que nunca chegaram a olhar as paredes da igreja.
ACOLHIMENTO AO DIFERENTE
Em um belo dia se aproximou uma pessoa. Era um homem com deficiência psíquica. Sua família praticamente não queria saber dele. De fato, o tinham abandonado. Naquela comunidade foi acolhido, lhe foi dada hospitalidade. Não por uma noite, mais de uma forma permanente. Passou a ser um membro a mais da comunidade. Vivia e convivia.
A comunidade, com o tempo, dissolveu-se. A vida é assim. Cada um vai procurando seus caminhos. Pouco depois, por razões que não vem ao caso, aquele sacerdote deixou o ministério. Porém não deixou de crer em Jesus. E não deixou de estar próximo dos pobres e marginalizados. Seu trabalho seguiu sendo o mesmo. Casou-se. Mais sua casa seguiu sendo lugar de acolhida. Os marginalizados seguiam entrando nela, e saindo. Às vezes, levando o que não era seu. Porém a casa segue aberta. Sabem do melhor? Hoje em dia ainda vive com o parceiro deficiente mental. É um da família. E é por mais de vinte anos.
A outra história é algo diferente. É sobre um casal com um filho e uma filha. Não iam bem as coisas no matrimonio. A violência estava muito presente na família. A mãe e os filhos eram suas Vítimas. Álcool, palavras fortes e uma ou outra vez ocorria à violência física. Até que chegou o inevitável: a separação. Voltou a paz, apesar da mãe e os filhos passarem por dificuldades econômicas. Porém seguiram em frente. Uma fé profunda em Jesus os animava. Sua casa se converteu também em lugar de acolhida para muitos. Os amigos abundavam. O pai quase havia desaparecido do mapa.
TESTEMUNHO DO AMOR DE DEUS
Passaram anos. Os filhos cresceram e ficaram maiores. O filho tinha casado. Mãe e filha seguiam vivendo juntas. E o pai voltou a aparecer. Agora estava doente e só. Enfermo de verdade. Um câncer estava comendo-lhe a vida. Então se produziu o milagre: o acolheram em casa. Acolheram-no em família. Não foi fácil a convivência. Mas pode mais o espírito cristão da acolhida. O acompanharam até o último momento. Com paciência e carinho infinitos.
Veio-me à mente estas historias porque hoje falamos de FAMÍLIA, e que devemos ter presente que família verdadeira, a família cristã, não se faz de carne nem de sangue, senão de amor, da acolhida, do perdão, da reconciliação, do carinho mutuo. A família de Jesus são todos os que se sentem seus filhos. Como Jesus, sabem acolher o diferente e dão assim testemunho do amor com o qual nos ama o Deus da Vida. Família, família de verdade, foram para Jesus os leprosos, os publicanos, os impuros, os pobres…
Garanto que vocês conhecem muitos mais exemplos de outras famílias que vivem no cristianismo. TUDO NOS LEVA A PENSAR QUE FAMÍLIA CRISTÃ É AQUELA QUE TEM SUAS PORTAS ABERTAS PARA ACOLHER E PARA ACOLHER COM CARINHO. Essa, e não outra, é a mensagem e o testemunho que pode entender o mundo de hoje.