DOMINGO DE RAMOS DA PAIXÃO DO SENHOR (ANO C)

A PALAVRA

O Domingo de Ramos da Paixão do Senhor nos coloca diante do maior paradoxo da fé cristã: um Deus que reina através da humildade, vence pela entrega, e transforma o mundo não com poder, mas com amor crucificado. A liturgia deste dia não é apenas uma recordação, mas um convite a entrar no mistério de um amor que não calcula, não recua e não se poupa.

A Primeira Leitura (Is 50,4-7) apresenta um profeta anônimo, chamado a anunciar a Palavra de Deus mesmo quando isso lhe custa insultos e sofrimento. Ele não se cala, porque sua confiança está no Senhor. Os primeiros cristãos viram neste servo sofredor uma prefiguração de Cristo — aquele que, mesmo inocente, aceita o sofrimento por amor.

Quantas vezes preferimos o silêncio cômodo ao anúncio corajoso da verdade? Este texto nos desafia: a fidelidade a Deus nem sempre traz aplausos, mas sempre traz significado.

Na Segunda Leitura (Fl 2,6-11), São Paulo nos apresenta o “hino cristológico” mais profundo da Bíblia: Cristo, sendo Deus, esvaziou-se, assumiu a condição de servo e obedeceu até a morte na cruz.

Essa não é apenas uma declaração teológica, mas um modelo de vida. Jesus poderia ter exigido glória, mas escolheu a simplicidade; poderia ter dominado, mas preferiu servir. E é esse mesmo caminho que nos é proposto: renunciar ao orgulho, abraçar a humildade e encontrar grandeza na doação.

O Evangelho (Lc 22,14–23,56) nos leva ao coração do mistério: a Última Ceia, a agonia no Horto, o julgamento injusto, a crucifixão. Em cada passo, Jesus poderia ter revidado, mas escolheu o perdão.

Aqui está a essência do Evangelho: o amor que não barganha, não desiste, não se corrompe. A cruz, que parecia o fim, torna-se o início de uma nova humanidade — libertada não pela força, mas pela misericórdia.

A sociedade hoje prega que vencer é dominar, que amar é receber, que felicidade é acumular. Mas Cristo subverte essa lógica: O VERDADEIRO TRIUNFO ESTÁ EM DAR A VIDA; A VERDADEIRA FORÇA, NA FRAQUEZA ASSUMIDA POR AMOR.

A pergunta que fica é: Estamos dispostos a seguir esse caminho?

A cruz não foi apenas o destino de Jesus — é o chamado de todo cristão. Tomaremos a nossa e O seguiremos?

O Domingo de Ramos não é só sobre ramos e hosanas, mas sobre a escolha radical de um amor que vai até o fim. Que possamos, nesta semana santa, contemplar a cruz não com tristeza, mas com gratidão — pois nela, Deus nos mostrou que O AMOR, MESMO CRUCIFICADO, SEMPRE RESSUSCITA.

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

Eis que vem Aquele que transforma nossos ‘hosanas’ em esperança viva, que entra não sobre um trono de ouro, mas sobre um jumentinho – bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor, trazendo não espadas, mas paz; não dominação, mas o amor que se inclina para lavar nossos pés!

Naquele tempo,
28 Jesus caminhava à frente dos discípulos,
subindo para Jerusalém.
29 Quando se aproximou de Betfagé e Betânia,
perto do monte chamado das Oliveiras,
enviou dois de seus discípulos, dizendo:
30 “Ide ao povoado ali na frente.
Logo na entrada encontrareis um jumentinho amarrado,
que nunca foi montado.
Desamarrai-o e trazei-o aqui.
31 Se alguém, por acaso, vos perguntar:
‘Por que desamarrais o jumentinho?’,
respondereis assim: ‘O Senhor precisa dele'”.
32 Os enviados partiram e encontraram tudo
exatamente como Jesus lhes havia dito.
33 Quando desamarravam o jumentinho,
os donos perguntaram:
“Por que estais desamarrando o jumentinho?”
34 Eles responderam: “O Senhor precisa dele”.
35 E levaram o jumentinho a Jesus.
Então puseram seus mantos sobre o animal
e ajudaram Jesus a montar.
36 E enquanto Jesus passava,
o povo ia estendendo suas roupas no caminho.
37 Quando chegou perto da descida do monte das Oliveiras,
a multidão dos discípulos,
aos gritos e cheia de alegria,
começou a louvar a Deus
por todos os milagres que tinha visto.
38 Todos gritavam:
“Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor!
Paz no céu e glória nas alturas!”
39 Do meio da multidão, alguns dos fariseus
disseram a Jesus:
“Mestre, repreende teus discípulos!”
40 Jesus, porém, respondeu: 
“Eu vos declaro:
se eles se calarem, as pedras gritarão”.
Palavra da Salvação.

Mesmo quando as bofetadas da vida doem e o gosto amargo da humilhação queima, ‘não desviei meu rosto‘ – pois quem caminha com Deus sabe que a verdadeira dignidade nasce na fidelidade que vence toda vergonha!

4 O Senhor Deus deu-me língua adestrada,
para que eu saiba dizer
palavras de conforto à pessoa abatida;
ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido,
para prestar atenção como um discípulo.
5 O Senhor abriu-me os ouvidos;
não lhe resisti nem voltei atrás.
6 Ofereci as costas para me baterem
e as faces para me arrancarem a barba;
não desviei o rosto de bofetões e cusparadas.
7 Mas o Senhor Deus é meu auxiliador,
por isso não me deixei abater o ânimo,
conservei o rosto impassível como pedra,
porque sei que não sairei humilhado.
Palavra do Senhor.

‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?’ no abismo da dor, até Cristo gritou; mas eis o mistério: é no grito da alma que Deus tece a ressurreição!

R. Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?

8 Riem de mim todos aqueles que me veem, *
torcem os lábios e sacodem a cabeça:
9 “Ao Senhor se confiou, ele o liberte *
e agora o salve, se é verdade que ele o ama!” R.

17 Cães numerosos me rodeiam furiosos, *
e por um bando de malvados fui cercado.
Transpassaram minhas mãos e os meus pés *
18 e eu posso contar todos os meus ossos. R.
 
19 Eles repartem entre si as minhas vestes *
e sorteiam entre si a minha túnica.
20 Vós, porém, ó meu Senhor, não fiqueis longe, *
ó minha força, vinde logo em meu socorro! R.
 
23 Anunciarei o vosso nome a meus irmãos*
e no meio da assembleia hei de louvar-vos!
24 Vós que temeis ao Senhor Deus, dai-lhe louvores, †
glorificai-o, descendentes de Jacó,*
e respeitai-o, toda a raça de Israel! R.

‘Humilhou-se a si mesmo’ – eis o paradoxo divino: Cristo desceu ao pó da terra para nos elevar aos céus, provando que a verdadeira grandeza nasce quando o amor se abaixa!

6 Jesus Cristo, existindo em condição divina,
não fez do ser igual a Deus uma usurpação,
7 mas ele esvaziou-se a si mesmo,
assumindo a condição de escravo
e tornando-se igual aos homens.
Encontrado com aspecto humano,
8 humilhou-se a si mesmo,
fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz.
9 Por isso, Deus o exaltou acima de tudo
e lhe deu o Nome que está acima de todo nome.
10 Assim, ao nome de Jesus,
todo joelho se dobre no céu,
na terra e abaixo da terra,
11 e toda língua proclame: 
“Jesus Cristo é o Senhor”,
para a glória de Deus Pai.
Palavra do Senhor.

‘Desejei ardentemente comer convosco esta ceia pascal’ – eis o coração de Deus: um anseio tão humano de comunhão, que transforma até a cruz em banquete de amor eterno!

Desejei ardentemente comer convosco esta ceia pascal, antes de sofrer.

14 Quando chegou a hora,
Jesus pôs-se à mesa com os apóstolos e disse: 
15 “Desejei ardentemente comer convosco esta ceia pascal, 
antes de sofrer. 
16 Pois eu vos digo que nunca mais a comerei,
até que ela se realize no Reino de Deus”.
17 Então Jesus tomou um cálice, deu graças e disse:
“Tomai este cálice e reparti entre vós;
18 pois eu vos digo que, de agora em diante,
não mais bebereis do fruto da videira,
até que venha o Reino de Deus”.

Fazei isto em memória de mim.

19 A seguir, Jesus tomou um pão, deu graças,
partiu-o e deu-o aos discípulos, dizendo:
“Isto é o meu corpo, que é dado por vós.
Fazei isto em memória de mim”.
20 Depois da ceia,
Jesus fez o mesmo com o cálice, dizendo:
“Este cálice é a nova aliança no meu sangue,
que é derramado por vós”.
 
Mas ai daquele por meio de quem o Filho do Homem é entregue.
 
21 “Todavia, a mão de quem me vai entregar
está comigo, nesta mesa.
22 Sim, o Filho do Homem vai morrer, como está determinado.
Mas ai daquele homem por meio de quem ele é entregue”.
23 Então os apóstolos começaram a perguntar uns aos outros
qual deles haveria de fazer tal coisa.
 

Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve.

24 Houve também uma discussão entre eles
sobre qual deles deveria ser considerado o maior.
25 Jesus, porém, lhes disse:
“Os reis das nações dominam sobre elas,
e os que têm poder se fazem chamar benfeitores.
26 Entre vós, não deve ser assim. 
Pelo contrário, o maior entre vós seja como o mais novo,
e o que manda, como quem está servindo.
27 Afinal, quem é o maior:
quem está sentado à mesa, ou quem está servindo?
Não é quem está sentado à mesa?
Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve.
28 Vós ficastes comigo em minhas provações.
29 Por isso, assim como o meu Pai me confiou o Reino,
eu também vos confio o Reino.
30 Vós havereis de comer e beber à minha mesa no meu Reino,
e sentar-vos em tronos
para julgar as doze tribos de Israel.
 

Tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos.

31 Simão, Simão! Olha que Satanás pediu permissão
para vos peneirar como trigo.
32 Eu, porém, rezei por ti, para que tua fé não se apague.
E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos”.
33 Mas Simão disse: “Senhor, eu estou pronto para ir contigo 
até mesmo à prisão e à morte!’
34 Jesus, porém, respondeu:
“Pedro, eu te digo que hoje, antes que o galo cante,
três vezes tu negarás que me conheces”.
 
É preciso que se cumpra em mim a palavra da Escritura.
 
35 E Jesus lhes perguntou: “Quando vos enviei sem bolsa,
sem sacola, sem sandálias, faltou-vos alguma coisa?”
Eles responderam: “Nada”.
36 Jesus continuou: 
“Agora, porém, quem tiver bolsa, deve pegá-la;
do mesmo modo, quem tiver uma sacola;
e quem não tiver espada,
venda o manto para comprar uma.
37 Porque eu vos digo:
É preciso que se cumpra em mim a palavra da Escritura:
‘Ele foi contado entre os malfeitores’.
Pois o que foi dito a meu respeito tem de se realizar”.
38 Mas eles disseram: “Senhor, aqui estão duas espadas”.
Jesus respondeu: “Basta”.
 
Tomado de angústia, Jesus rezava com mais insistência.
 
39 Jesus saiu e, como de costume,
foi para o monte das Oliveiras.
Os discípulos o acompanharam.
40 Chegando ao lugar, Jesus lhes disse:
“Orai para não entrardes em tentação”.
41 Então afastou-se a uma certa distância
e, de joelhos, começou a rezar:
42 “Pai, se queres, afasta de mim este cálice;
contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua!”
43 Apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava.
44 Tomado de angústia, Jesus rezava com mais insistência.
Seu suor tornou-se como gotas de sangue
que caíam no chão.
45 Levantando-se da oração,
Jesus foi para junto dos discípulos
e encontrou-os dormindo, de tanta tristeza.
46 E perguntou-lhes: “Por que estais dormindo?
Levantai-vos e orai para não entrardes em tentação”.
 
Judas, com um beijo tu entregas o Filho do Homem?
 
47 Jesus ainda falava, quando chegou uma multidão.
Na frente, vinha um dos Doze, chamado Judas,
que se aproximou de Jesus para beijá-lo.
48 Jesus lhe disse:
“Judas, com um beijo tu entregas o Filho do Homem?”
49 Vendo o que ia acontecer,
os que estavam com Jesus disseram:
“Senhor, vamos atacá-los com a espada?”
50 E um deles feriu o empregado do Sumo Sacerdote,
cortando-lhe a orelha direita.
51 Jesus, porém, ordenou: “Deixai, basta!”
E tocando a orelha do homem, o curou.
52 Depois Jesus disse aos sumos sacerdotes,
aos chefes dos guardas do templo e aos anciãos,
que tinham vindo prendê-lo:
“Vós saístes com espadas e paus,
como se eu fosse um ladrão?
53 Todos os dias eu estava convosco no templo,
e nunca levantastes a mão contra mim.
Mas esta é a vossa hora, a hora do poder das trevas”.
 

Pedro saiu para fora e chorou amargamente.

54 Eles prenderam Jesus e o levaram,
conduzindo-o à casa do Sumo Sacerdote.
Pedro acompanhava de longe.
55 Eles acenderam uma fogueira no meio do pátio
e sentaram-se ao redor.
Pedro sentou-se no meio deles.
56 Ora, uma criada viu Pedro sentado perto do fogo;
encarou-o bem e disse:
“Este aqui também estava com ele!”
57 Mas Pedro negou: “Mulher, eu nem o conheço!”
58 Pouco depois, um outro viu Pedro e disse:
“Tu também és um deles”.
Mas Pedro respondeu: “Homem, não sou”.
59 Passou mais ou menos uma hora, e um outro insistia:
“Certamente, este aqui também estava com ele,
porque é galileu!”
Mas Pedro respondeu:
60 “Homem, não sei o que estás dizendo!”
Nesse momento,
enquanto Pedro ainda falava, um galo cantou.
61 Então o Senhor se voltou e olhou para Pedro.
E Pedro lembrou-se da palavra
que o Senhor lhe tinha dito:
“Hoje, antes que o galo cante, três vezes me negarás”.
62 Então Pedro saiu para fora e chorou amargamente.
 

Profetiza quem foi que te bateu?

63 Os guardas caçoavam de Jesus e espancavam-no;
64 cobriam o seu rosto e lhe diziam:
“Profetiza quem foi que te bateu?”
65 E o insultavam de muitos outros modos.
 

Levaram Jesus ao tribunal deles.

66 Ao amanhecer, os anciãos do povo,
os sumos sacerdotes e os mestres da Lei
reuniram-se em conselho
e levaram Jesus ao tribunal deles.
67 E diziam: “Se és o Cristo, dize-nos!” 
Jesus respondeu: “Se eu vos disser, não me acreditareis,
68 e, se eu vos fizer perguntas, não me respondereis.
67 Mas, de agora em diante, o Filho do Homem
estará sentado à direita do Deus Poderoso”.
70 Então todos perguntaram:
“Tu és, portanto, o Filho de Deus?”
Jesus respondeu:
“Vós mesmos estais dizendo que eu sou!”
71 Eles disseram:
“Será que ainda precisamos de testemunhas?
Nós mesmos o ouvimos de sua própria boca!”
23,1 Em seguida, toda a multidão se levantou
e levou Jesus a Pilatos.
 

Não encontro neste homem nenhum crime.

2 Começaram então a acusá-lo, dizendo:
“Achamos este homem
fazendo subversão entre o nosso povo,
proibindo pagar impostos a César
e afirmando ser ele mesmo Cristo, o Rei”.
3 Pilatos o interrogou: “Tu és o rei dos judeus?”
Jesus respondeu, declarando: “Tu o dizes!”
4 Então Pilatos disse aos sumos sacerdotes e à multidão:
“Não encontro neste homem nenhum crime”.
5 Eles, porém, insistiam: “Ele agita o povo,
ensinando por toda a Judeia,
desde a Galileia, onde começou, até aqui”.
6 Quando ouviu isto, Pilatos perguntou:
“Este homem é galileu?”
7 Ao saber que Jesus estava sob a autoridade de Herodes,
Pilatos enviou-o a este,
pois também Herodes estava em Jerusalém naqueles dias.
 

Herodes, com seus soldados, tratou Jesus com desprezo.

8 Herodes ficou muito contente ao ver Jesus,
pois havia muito tempo desejava vê-lo.
Já ouvira falar a seu respeito
e esperava vê-lo fazer algum milagre.
9 Ele interrogou-o com muitas perguntas.
Jesus, porém, nada lhe respondeu.
10 Os sumos sacerdotes e os mestres da Lei
estavam presentes e o acusavam com insistência.
11 Herodes, com seus soldados, tratou Jesus com desprezo,
zombou dele, vestiu-o com uma roupa vistosa
e mandou-o de volta a Pilatos.
12 Naquele dia Herodes e Pilatos
ficaram amigos um do outro, pois antes eram inimigos.
 

Pilatos entregou Jesus à vontade deles.

13 Então Pilatos convocou os sumos sacerdotes,
os chefes e o povo, e lhes disse:
14 “Vós me trouxestes este homem
como se fosse um agitador do povo.
Pois bem! Já o interroguei diante de vós e não encontrei nele
nenhum dos crimes de que o acusais;
15 nem Herodes, pois o mandou de volta para nós.
Como podeis ver, ele nada fez para merecer a morte.
16 Portanto, vou castigá-lo e o soltarei.
18 Toda a multidão começou a gritar:
“Fora com ele! Solta-nos Barrabás!”
19 Barrabás tinha sido preso
por causa de uma revolta na cidade e por homicídio.
20 Pilatos falou outra vez à multidão,
pois queria libertar Jesus.
21 Mas eles gritavam: “Crucifica-o! Crucifica-o!”
22 E Pilatos falou pela terceira vez:
“Que mal fez este homem?
Não encontrei nele nenhum crime que mereça a morte.
Portanto, vou castigá-lo e o soltarei”.
23 Eles, porém, continuaram a gritar com toda a força,
pedindo que fosse crucificado.
E a gritaria deles aumentava sempre mais.
24 Então Pilatos decidiu
que fosse feito o que eles pediam.
25 Soltou o homem que eles queriam
– aquele que fora preso por revolta e homicídio –
e entregou Jesus à vontade deles.
 

Filhas de Jerusalém, não choreis por mim!

26 Enquanto levavam Jesus,
pegaram um certo Simão, de Cirene,
que voltava do campo,
e impuseram-lhe a cruz para carregá-la atrás de Jesus.
27 Seguia-o uma grande multidão do povo
e de mulheres que batiam no peito e choravam por ele.
28 Jesus, porém, voltou-se e disse:
“Filhas de Jerusalém, não choreis por mim!
Chorai por vós mesmas e por vossos filhos!
29 Porque dias virão em que se dirá:
‘Felizes as mulheres que nunca tiveram filhos,
os ventres que nunca deram à luz
e os seios que nunca amamentaram’.
30 Então começarão a pedir às montanhas:
‘Caí sobre nós! e às colinas: ‘Escondei-nos!’
31 Porque, se fazem assim com a árvore verde,
o que não farão com a árvore seca?”
32 Levavam também outros dois malfeitores
para serem mortos junto com Jesus.
 

Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!

33 Quando chegaram ao lugar chamado “Calvário”,
ali crucificaram Jesus e os malfeitores:
um à sua direita e outro à sua esquerda.
34 Jesus dizia: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!”
Depois fizeram um sorteio,
repartindo entre si as roupas de Jesus.


Este é o Rei dos Judeus.

35 O povo permanecia lá, olhando.
E até os chefes zombavam, dizendo:
“A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo,
se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!”
36 Os soldados também caçoavam dele;
aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre,
37 e diziam: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!”
38 Acima dele havia um letreiro:
“Este é o Rei dos Judeus”.


Hoje estarás comigo no Paraíso.

39 Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo:
“Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!”
40 Mas o outro o repreendeu, dizendo:
“Nem sequer temes a Deus,
tu que sofres a mesma condenação?
41 Para nós, é justo,
porque estamos recebendo o que merecemos;
mas ele não fez nada de mal”.
42 E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim,
quando entrares no teu reinado”.
43 Jesus lhe respondeu: “Em verdade eu te digo:
ainda hoje estarás comigo no Paraíso”.


Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.

44 Já era mais ou menos meio-dia
e uma escuridão cobriu toda a terra
até às três horas da tarde,
45 pois o sol parou de brilhar.
A cortina do santuário rasgou-se pelo meio,
46 e Jesus deu um forte grito:
“Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”.
Dizendo isso, expirou.
 

Aqui todos se ajoelham e faz-se uma pausa.

47 O oficial do exército romano viu o que acontecera
e glorificou a Deus dizendo:
“De fato! Este homem era justo!”
48 E as multidões, que tinham acorrido para assistir,
viram o que havia acontecido,
e voltaram para casa, batendo no peito.
49 Todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres
que o acompanhavam desde a Galileia,
ficaram à distância, olhando essas coisas.
 

José colocou o corpo de Jesus num túmulo escavado na rocha.

50 Havia um homem bom e justo, chamado José,
membro do Conselho,
51 o qual não tinha aprovado a decisão
nem a ação dos outros membros.
Ele era de Arimateia, uma cidade da Judeia,
e esperava a vinda do Reino de Deus.
52 José foi ter com Pilatos e pediu o corpo de Jesus.
53 Desceu o corpo da cruz, enrolou-o num lençol
e colocou-o num túmulo escavado na rocha,
onde ninguém ainda tinha sido sepultado.
54 Era o dia da preparação da Páscoa,
e o sábado já estava começando.
55 As mulheres, que tinham vindo da Galileia com Jesus,
foram com José, para ver o túmulo
e como o corpo de Jesus ali fora colocado.
56 Depois voltaram para casa
e prepararam perfumes e bálsamos.
E, no sábado, elas descansaram,
conforme ordenava a Lei.
Palavra da Salvação.

Homilia

JESUS ENTRA NA CIDADE, NUM JUMENTINHO.

Jesus entra na cidade num jumentinho: rejeitando todo o triunfalismo, recusando-se a impor-se, ou a aproveitar-se de tantos que o apoiam e aclamam, rejeitando qualquer tipo de violência, chega “em paz“, rejeitando as expectativas do povo, que está à espera de um Messias libertador.

Deus não vem como gostaríamos, como gostaríamos que ele viesse… Ele não é um político populista, que tira partido do desencanto das pessoas.

Portanto, este jumentinho que Jesus escolheu impede-nos certamente, pois obriga-nos a renunciar aos nossos sonhos de grandeza, de triunfo, de influenciar para alcançar os nossos nobres objetivos… E, em vez disso, nos faz optar por um trabalho simples, humilde e tenaz, entre pessoas sem poder…

Optar pela Palavra que constrói, pela proximidade com aqueles que sofrem, pela cura, para a transformação dos corações, para a integração dos descartados, mesmo que isto seja cansativo e lento para produzir resultados; obriga-nos a baixar a nossa guarda, renunciando às nossas armas e escudos, para O acolher com paz, com os nossos mantos, com as nossas canções,  com os nossos gritos de esperança,  reconhecendo que precisamos da presença de Deus entre nós, e atento quando ele se apresenta de formas tão desconcertante,  acolhendo-O e aclamando-O com a alegria das crianças.

Porém corremos sempre o risco de que o espetáculo externo, as aclamações, a procissão, as canções, as liturgias… tenham pouco a ver com o que “acontece” no interior. Todas aquelas pessoas que vieram à procissão com as suas palavras e ramos de oliveira, que o recebem, o aclamam, o aplaudem… onde estão nos dias seguintes? Identificaram-se com ele, colocaram-se à sua disposição? Assim que terminaram o desfile, foram para casa como se nada tivesse acontecido. Disseram que estavam com o Messias, que confiavam nele… MAS NÃO FICARAM COM ELE. No interior, nada parece ter mudado. Como se esperassem tudo de Deus… mas sem fazer nada de sua parte.

Por isso, a leitura da Paixão (segundo São Lucas) e a Primeira Leitura nos advertem. Este homem que se despojou de sua grandeza, que se apresentou (apresenta-se) como escravo, que suporta cuspe, chicotadas, insultos e desprezos, que ficou sem túnica, HOMEM NU, sem títulos, sem multidões ao redor, ele deixa-nos nus, com a nossa verdade no ar.

Quando ele realmente se apresenta como é – e não é fácil reconhecê-lo – haverá aqueles que: 

Como pessoas, podem sentar e cuidar de seus negócios e mudar de ideia em um único dia, de “filho de Davi” para “crucificá-lo“.

Como sumos sacerdotes, podemos acusá-lo de muitas coisas:

  • de perturbar as nossas ideias e expectativas em relação a Deus
  • de expor em evidencia a hipocrisia da nossa religiosidade e culto
  • de protestar e reclamar porque não resolve os nossos problemas: Onde estás quando rebenta uma guerra que não queremos? Onde estás quando a doença se apodera dos nossos? Onde estás quando não sabemos o que escolher nas nossas vidas? Porque nos fazes sentir mal quando os nossos estilos, planos e escolhas… não concordam, não se parecem com os teus?

Como Pilatos, teríamos muitas perguntas a fazer-lhe, mas nenhum interesse nas suas respostas, se pretendemos defender os nossos «tronos», significa reconhecer que temos outros senhores a quem servimos, se podemos «perder» algo… se preferirmos lavar as mãos ao invés de nos molharmos para defender a justiça e a verdade.

Como Simão de Cirene, devemos nos mostrar dispostos a ajudá-lo com sua cruz, mesmo que a iniciativa não tenha sido nossa, e talvez o façamos com relutância.

Como x’, o nosso testemunho público pode ser posto à prova e a nossa autossuficiência e a nossa postura de bravura podem ser abaladas.

Podemos também continuar a rezar com ele na noite da fé (rezar para não cair em tentação), ou adormecer primeiro, e fugir depois.

Podemos aceitar seu Pão e seu Cálice, permitir que ele lave nossos pés… ou recusa-lo e ir embora…

Em suma, veremos onde e como cada um se situa na celebração desta Semana Santa. Porque o Evangelho é a Palavra Viva hoje, não é uma simples “memória” do que aconteceu… mas do que continua a acontecer entre nós hoje. A história se repete, e cada um de nós escolherá um ou mais “papéis” para assistir HOJE à Paixão de Cristo.

Texto: QUIQUE MARTÍNEZ DE LA LAMA-NORIEGA, CMF
Fonte: Ciudad Redonda