Uma das causas e sonhos que Dom Pedro Casaldáliga encarnou e vivenciou profundamente, com sua vida e pastoreio, foi acalentar e promover o grande sonho da Ameríndia, Afro-América, América Criolla, a livre Pátria Grande, onde como afirma Eduardo Galeano, “caibam todos, indígenas, negros, mestiços, brancos e todas as etnias migrantes”. Soube semear nas CEBs, nas Pastorais e Movimentos Sociais, o olhar para nossas raízes comuns superando a barreira ideológica da guerra fria, mostrando que a grande contradição e barreira era Norte-Sul, ou seja, como tinha dito São João Paulo II na Solicitudo Rei Socialis, entre os países ricos e abastados e os pobres do Sul, explorados e despojados.
Que, como afirmava Puebla, a libertação dos nossos povos tinha como meta a comunhão e participação do nosso destino comum, sem fronteiras nem cercas, que escravizassem os empobrecidos e humildes. Foi exemplo de solicitude e solidariedade com as Igrejas que sofriam em seus países a desigualdade multissecular e a dependência econômica e financeira que oprimia os povos sul-americanos e do Caribe.
Com ele, nos acostumamos a receber nos nossos encontros, delegados das comunidades eclesiais de toda a América Latina, despertando a nossa condição de pertença e partilha ao Continente da fé e da esperança, mas com um grande débito no amor social e na justiça.
Como o Papa Francisco, na Evangelii Gaudium afirma, hoje, a Igreja está para acompanhar os povos, na sua busca de paz, reconciliação e justiça, ajudando a promover seu protagonismo como sujeitos e atores da sua emancipação plena e integral, humana e cristã. Na verdade, Dom Pedro Casaldáliga era cidadão do Reino, peregrino da esperança, acendedor da utopia e dos melhores sonhos de liberdade, fraternidade e igualdade, da humanidade. Quem o conheceu, seja pessoalmente ou através de seus textos e gestos, encantou-se ao descobrir o Evangelho em sua versão mais autêntica e simples, sem glosas, como dizia Francisco de Assis, com a radicalidade da ternura e coerência de Jesus, o Filho de Deus e nosso irmão.
Tê-lo como irmão na CNBB, para mim foi e sempre será uma graça inesquecível e um grande desafio, de fazer acontecer a profecia e santidade em nosso pastoreio. Que o Deus da Vida e da Misericórdia o acolha e lhe dê a justa recompensa!
Fonte: Dom Roberto Francisco Ferreria Paz – Bispo de Campos (RJ)