A solenidade de Pentecostes faz reviver os ensinamentos fundamentais de Jesus Cristo e, segundo Lucas (Atos dos Apóstolos 2,1-11), o nascimento da Igreja. A presente reflexão refletirá somente dois pontos: a unidade na universalidade e o fogo do amor.
A narração do Pentecostes no livro de Atos dos Apóstolos apresenta um novo caminho da obra de Deus que envolve o homem, a história e o cosmos. O ponto de partida é o mistério pascal. Depois da ascensão de Jesus ao céu, emana de Deus Pai e de Jesus Cristo o Espírito Santo, uma nova energia que produz um efeito novo. A família humana está marcada por conflitos, divisões, competições. O novo efeito da obra de Deus é a unidade na comunidade humana, mesmo que ela fale línguas diferentes, seja composta de diversas raças ou organizada em diversos Estados nacionais.
A IGREJA que surge de Pentecostes se torna no mundo um SINAL DE UNIDADE. Naquele acontecimento extraordinário encontramos as notas fundamentais e qualificadoras da Igreja. A Igreja é una como a comunidade de Pentecostes que estava unida em oração e “tinha um coração e uma só alma” (Atos 4,32). A Igreja é SANTA, não por seus méritos, mas porque animada pelo Espírito Santo que a faz manter os olhos fixos em Jesus Cristo. É CATÓLICA porque o Evangelho se destina a todos os povos e por isso fala diversas línguas. A Igreja é APOSTÓLICA por estar fundamentada nos Apóstolos que conservam fielmente os ensinamentos.
Um critério prático de discernimento para a comunidade cristã, se ela vive no Espírito Santo, é se conserva a unidade. Quando uma pessoa ou um grupo se fecha no seu modo de pensar e de agir é um sinal de afastamento da unidade e de uma vida sem o Espírito de Deus. A unidade criada pelo Espírito Santo não é uma espécie de igualitarismo. Pelo contrário, Pentecostes fala línguas diferentes, mas compreendida por todos. “A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1 Coríntios 12,7).
Outra sugestão concreta que o livro de Atos nos oferece é da universalidade da Igreja. A citação dos destinatários da primeira pregação dos Apóstolos em Pentecostes aponta nesta direção. Lucas elenca povos da Ásia, do noroeste da África e acrescenta outros três elementos: o mundo ocidental ao citar os “romanos”; os “judeus e prosélitos”, incluindo de modo novo a unidade de Israel e o mundo, e enfim “cretenses e árabes”, que representam ocidente e oriente, ilhas e terra firme. Esta abertura de horizontes confirma a novidade de Cristo na dimensão do espaço humano, da história e das gentes. Muros e barreiras devem dar lugar a pontes.
O Espírito Santo em Pentecostes se manifesta na forma de fogo. A chama descida sobre os Apóstolos acendeu neles o fogo do amor de Cristo, um novo ardor por Deus e os fez saírem de si mesmos, das fronteiras culturais e étnicas para anunciarem o Evangelho que lhes fora confiado ao mundo. Agora, o seu pequeno mundo ganhou dimensões cósmicas. O fogo que os iluminou e aqueceu, eles o levaram pelo mundo afora, tornando-se colaboradores de Deus para renovar a face da terra. Levaram um fogo muito diferente do fogo oriundo das guerras e das bombas que incendeia para matar e destruir. O fogo de Deus, o fogo do Espírito Santo, é aquele experimentando por Moisés na sarça ardente, que ardia sem consumir a sarça (cf. Êxodo, 3,2). A chama de Deus arde sem destruir, pelo contrário faz aparecer a parte mais verdadeira e melhor do homem. Queima o que é sem valor, supérfluo e faz brilhar e evidenciar o essencial da vida humana e cristã.
“Vinde, Espírito Santo! Enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor”.
Texto: Dom Rodolfo Luís Weber
Fonte: CNBB