O QUE É A EUCARISTIA? O que se entende o que acontecer quando nos reunimos para celebrar o ritual que Jesus nos deu na Última Ceia e nos pediu que o continuássemos até sua volta? É uma refeição em família ou uma atualização sobre a morte sacrifical de Jesus? Deve assemelhar-se com a velha missa latina ou o estilo da maioria das igrejas hoje?
Não há respostas fáceis para essas perguntas por que não há uma teologia única (com exclusão de todas as outras) da Eucaristia, nem mesmo no Novo Testamento. Em vez disso, existem diferentes teologias da Eucaristia, certamente complementares, mas cada uma enfatiza diferentes aspectos de uma realidade que é rica demais para ser capturada em um único conceito. O QUE É A EUCARISTIA?
Em essência, a Eucaristia é uma realidade com essas dimensões entrelaçadas.
A Eucaristia é uma oração pelo mundo, fazendo da carne de Cristo um alimento para a vida do mundo. É uma oração para pedir a ajuda de Deus para todo o mundo. Como um “silêncio quaker”, ele traz a Deus a impotência do mundo e pede-lhe que faça por ele o que ele não pode fazer por si mesmo: trazer paz e justiça.
A Eucaristia é um sacramento de reconciliação e perdão. Vamos à Eucaristia para que nossos pecados sejam perdoados, para participar, para estar como pecadores em torno da mesa com Jesus.
A Eucaristia é uma mútua lavagem de pés. O Evangelho de João não menciona o pão e o vinho na Última Ceia; em vez disso, onde os outros evangelistas e São Paulo destacam Jesus convertendo o pão e o vinho em seu corpo e seu sangue, João substitui com uma bacia e uma toalha o pão e o vinho. Por quê? Entre outras razões, para ensinar que este tipo de ação humilde entre uns e outros, de lavar os pés, é um dos mais importantes significados da Eucaristia.
A Eucaristia é um ato de espera vigilante. Jesus disse-nos que celebrássemos a Eucaristia para esperar sua volta. Celebramos a Eucaristia como uma espera vigilante. Como diz Gerhard Lohfink (padre e teólogo católico alemão) “As primeiras comunidades apostólicas não podem ser entendidas fora da matriz da intensa expectativa. Eram comunidades que esperavam a iminente volta de Cristo. Reuniam-se em Eucaristia, entre outras razões, para fomentar e sustentar esta consciência, isto é, que viviam em expectativa, esperando a volta de Cristo“. Na Eucaristia, reunimo-nos uns com outros em espera vigilante para permanecer conscientes da volta de Jesus.
A Eucaristia é o novo maná. Assim como Deus alimentava a cada dia a seu povo no deserto com o maná, agora, diariamente, Deus alimenta a seu povo com o pão do céu. (Este motivo é particularmente forte no Evangelho de João).
A Eucaristia é um sacrifício. É atualizar o memorial (Zikkaron) do acontecimento salvífico da morte de Jesus. Em resumo, é a ceia da Páscoa cristã. A prece eucarística não só pede a Deus que converta o pão e o vinho no corpo e o sangue de Cristo, pede também a Deus que nos faça disponível o acontecimento salvador da morte de Jesus para que hoje possamos nele participar.
A Eucaristia é uma intensificação de nossa união com os demais no Corpo de Cristo. Como discípulos de Jesus que somos, constituímos o Corpo de Cristo. Em uma Eucaristia, não só o pão e o vinho estão destinados a se converter no corpo e o sangue de Cristo; também nós, o povo. Por isso Santo Agostinho, quando dava a comunhão, dizia às vezes: “Recebe o que você é“.
A Eucaristia é o alimento que junto compartilhamos. A Última Ceia foi muitas coisas, mas foi também um alimento, um momento de comunhão humana, uma celebração em torno da mesa. Assim também, a Eucaristia é muitas coisas, mas é também uma mesa em torno da qual se reúne uma família, onde pode ser compartilhada a alegria e onde certamente se supera a dor.
A Eucaristia é o abraço físico que recebemos de Deus. Sem a Eucaristia, como assegura André Dubus (escritor e ensaísta americano), Deus vem a ser um monólogo. A Eucaristia é onde Deus nos toca fisicamente. É o local onde Deus segue se tomando carne.
Finalmente, a Eucaristia é o supremo ritual religioso através do qual nos mantemos na fé, o discipulado e a comunidade. Reunimo-nos em Eucaristia com o fim de nos manter vivos. Uma reunião eucarística é análoga a uma reunião de Alcoólicos Anônimos. Nos reunimos porque sem esta regular reunião ritual, nossa fé, discipulado e comunidade acabariam por desmoronar. Em palavras de Ronald Knox (padre católico inglês e teólogo), a Eucaristia é nosso único grande ato de fidelidade a Jesus. Dizendo a verdade, de fato, nem sempre somos fiéis aos Evangelhos: não amamos a nossos inimigos e não oferecemos a outra face, mas somos fiéis de uma maneira notável: mantemos a Eucaristia; e esse só ato vai nos salvar.
Texto: RON ROLHEISER (Tradução Benjamín Elcano, cmf)
Imagem: de Dorothée QUENNESSON em Pixabay
Fonte: Ciudad Redonda