XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO A)

A PALAVRA

A liturgia do XXX Domingo Comum nos revela, de forma clara e inquestionável, que o AMOR ocupa o centro da experiência cristã. O que Deus pede, ou melhor, o que Deus exige de cada fiel, é que entregue o seu coração para ser inundado pelo amor.

O Evangelho (Mt 22,34-40) nos diz, de maneira clara e inquestionável, que toda a revelação de Deus se resume no amor – AMOR a Deus e AMOR ao próximo. Esses dois mandamentos não podem ser separados: “AMAR A DEUS” é cumprir Sua vontade e estabelecer relações de amor, solidariedade, partilha e serviço com os irmãos, chegando até mesmo ao sacrifício total de si. Tudo o mais é explicação, desenvolvimento e aplicação prática dessas duas coordenadas fundamentais da vida cristã.

A primeira leitura (Ex 22,20-26) nos assegura que Deus não tolera a perpetuação de situações injustas, arbitrárias, opressivas e desrespeitosas com relação aos direitos e à dignidade dos mais pobres e vulneráveis. A leitura, como exemplo, menciona a situação dos estrangeiros, órfãos, viúvas e pobres que são vítimas da especulação de agiotas. Qualquer injustiça ou arbitrariedade cometida contra um irmão mais pobre ou vulnerável é um crime sério aos olhos de Deus, que nos afasta da comunhão com Ele e nos coloca fora da aliança.

A segunda leitura (1Ts 1,5c-10) nos apresenta o exemplo de uma comunidade cristã, originária da cidade grega de Tessalônica, que, apesar da hostilidade e da perseguição, aprendeu a seguir o caminho do amor e do dom da vida junto com Cristo e Paulo. Esse caminho, percorrido com alegria e dor, tornou-se uma semente de fé e amor, gerando frutos em outras comunidades cristãs no mundo grego. A partir dessa experiência compartilhada, surgiu uma imensa família de irmãos, unidos em torno do Evangelho e espalhados por todo o mundo grego.

Fonte de reflexão: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

A primeira leitura nos instiga a praticar a compaixão e demonstrar cuidado para com os estrangeiros, as viúvas, os órfãos e os menos afortunados. Ele ressalta a importância de proteger, amar e respeitar essas pessoas, condenando firmemente qualquer forma de exploração, preconceito ou negligência. Fica evidente que Deus não tolera a injustiça, e, nos como crentes, temos a responsabilidade de rejeitar ativamente as situações que prejudicam a vida e a dignidade dos mais vulneráveis.

Assim diz o Senhor:
20 Não oprimas nem maltrates o estrangeiro,
pois vós fostes estrangeiros na terra do Egito.
21 Não façais mal algum à viúva nem ao órfão.
22 Se os maltratardes, gritarão por mim,
e eu ouvirei o seu clamor.
23 Minha cólera, então, se inflamará
e eu vos matarei à espada;
vossas mulheres ficarão viúvas
e órfãos os vossos filhos.
24 Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo,
a um pobre que vive ao teu lado,
não sejas um usurário,
dele cobrando juros.
25 Se tomares como penhor o manto do teu próximo,
deverás devolvê-lo antes do pôr do sol.
26 Pois é a única veste que tem para o seu corpo,
e coberta que ele tem para dormir.
Se clamar por mim, eu o ouvirei,
porque sou misericordioso.
Palavra do Senhor.

Com gratidão no coração, encontrei refúgio na proteção divina, pois Deus é minha fortaleza, minha rocha, meu libertador.

R. Eu vos amo, ó Senhor, sois minha força e salvação.

2 Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força, *
3a minha rocha, meu refúgio e Salvador!
Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga, *
minha força e poderosa salvação. R.
 
3bc Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga *
sois meu escudo e proteção: em vós espero!
4 Invocarei o meu Senhor: a ele a glória! *
e dos meus perseguidores serei salvo! R.
 
47 Viva o Senhor! Bendito seja o meu Rochedo! *
E louvado seja Deus, meu Salvador!
51ab Concedeis ao vosso rei grandes vitórias *
e mostrais misericórdia ao vosso Ungido. R.

A segunda leitura enfatiza a relevância de reconhecer nossa ligação com a comunidade de fé em todo o mundo, a necessidade de comunidades cristãs colaborarem e se apoiarem mutuamente, e como a fé abrange tanto a alegria quanto a dor, desempenhando um papel crucial no crescimento espiritual e na compreensão dos valores cristãos.

Irmãos:
5c Sabeis de que maneira procedemos entre vós,
para o vosso bem.
6 E vós vos tornastes imitadores nossos e do Senhor,
acolhendo a Palavra com a alegria do Espírito Santo,
apesar de tantas tribulações.
7 Assim vos tornastes modelo
para todos os fiéis da Macedônia e da Acaia.
8 Com efeito, a partir de vós,
a Palavra do Senhor não se divulgou apenas
na Macedônia e na Acaia,
mas a vossa fé em Deus propagou-se por toda parte.
Assim, nós já nem precisamos de falar,
9 pois as pessoas mesmas contam como vós nos acolhestes
e como vos convertestes, abandonando os falsos deuses,
para servir ao Deus vivo e verdadeiro,
10 esperando dos céus o seu Filho,
a quem ele ressuscitou dentre os mortos:
Jesus, que nos livra do castigo que está por vir.
Palavra do Senhor.

O Evangelho destaca que ao longo dos séculos, o cristianismo acumulou muitas regras e tradições, muitas vezes obscurecendo a mensagem essencial de Jesus. Essa mensagem é clara: AMAR A DEUS E AMAR O PRÓXIMO. O amor a Deus envolve escutar Sua Palavra e obedecer a Seus planos. O amor ao próximo significa ser solidário com todos, independentemente de quem sejam. O Evangelho nos desafia a redescobrir o AMOR, a solidariedade e o serviço aos outros, especialmente os mais necessitados. É um apelo para vivermos de acordo com os princípios do amor a Deus e ao próximo, colocando-nos a serviço dos outros sem condições.

Naquele tempo,
34 Os fariseus ouviram dizer que Jesus
tinha feito calar os saduceus.
Então eles se reuniram em grupo,
35 e um deles perguntou a Jesus, para experimentá-lo:
36 “Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?”
37 Jesus respondeu: 
“‘Amarás o Senhor teu Deus
de todo o teu coração, de toda a tua alma,
e de todo o teu entendimento!’
38 Esse é o maior e o primeiro mandamento.
39 O segundo é semelhante a esse:
‘Amarás ao teu próximo como a ti mesmo’.
40 Toda a Lei e os profetas
dependem desses dois mandamentos”.
Palavra da Salvação.

Reflexão

O MAIOR MANDAMENTO: AMARÁS!

As leituras deste domingo nos falam do “AMOR“; elas nos convidam a descobrir aquele fogo que flui através de nós de mil maneiras, em mil direções, de dentro para fora e de fora para dentro. O que é amar? O melhor não é defini-lo, mas experimentá-lo. Quando amamos, há um “terceiro misterioso” que se revela.

Dividirei esta homilia em três partes:

  • O Compassivo… e sua ira inflamada.
  • O mandamento: Amarás!
  • Um amor eloquente.
O COMPASSIVO… E SUA IRA INFLAMADA.

‘Estrangeiros, emigrantes, viúvas, órfãos, pobres e vizinhos’. Aqui estão os nomes daqueles indivíduos nos quais Deus derrama o Seu amor, a Sua predileção. São eles que tocam o Seu coração e são os Seus favoritos no amor. Somente uma razão justifica isso, e é esta: ‘PORQUE SOU COMPASSIVO!

Deus é compassivo: Ele sofre com os que sofrem, sente a fraqueza dos fracos e ama os pobres como a Si mesmo… Portanto, Seu mandamento em relação a eles é claro: Não oprimirás! Não explorarás! Não serás usurário! Devolverás! Estes são os verbos do amor zeloso e preferencial de Deus para com os pobres. Aquele que praticar o mal contra eles acenderá a ira de Deus. O Compassivo pode ser o pior inimigo daquele que não tem compaixão.

O MANDAMENTO: AMARÁS!

Jesus veio como o Mestre do Amor. Ele fez do amor o centro de toda a sua vida. Quando lhe perguntaram sobre o principal mandamento, procuravam colocá-lo à prova: Mestre, qual é o mandamento mais importante da Lei? perguntou-lhe um fariseu. Jesus não respondeu da maneira habitual: ‘Deus é único, a Ele adorarás somente’. Mais do que a adoração, o que Ele valoriza é o AMOR, e o amor que se estende ‘EM TODAS AS DIREÇÕES’: em direção a Deus e aos outros.

O que é o amor? Em que consiste? O escritor austríaco Peter Handke o descreveu com belas palavras, certamente inspiradas pelo Espírito de Jesus:

“Acabo de perceber com total clareza (foi uma descoberta!) que no amor, para o amor, não bastam apenas dois: repetidamente, eu preciso de um terceiro a quem possa me dirigir, para encontrar tranquilidade, fortalecimento, firmeza, renovação e agradecimento… E a esse terceiro no meu amor, que sempre cuida de mim quando me volto para Ele, só posso conceber com o nome de ‘DEUS’.” (Peter Handke)

O amor se conjuga ativamente e passivamente, tanto no divino quanto no humano.

UM AMOR ELOQUENTE.

Paulo e seus companheiros reconhecem, na segunda leitura, que a comunidade cristã de Tessalônica acolheu com ardor a Palavra de Deus e deixou-se inflamar pelo fogo do amor divino. Assim, ‘a partir de vossa Igreja, a Palavra de Deus ecoou por toda parte’.

Quem me ama guardará minha palavra e meu Pai o amará, e viremos a ele. A comunidade de Tessalônica foi preenchida pelo AMOR e pela PALAVRA. O amor floresce quando conhecemos a Palavra. A Palavra inflama o coração, é poderosa e alcança o âmago do coração. Como cristãos, somos chamados a guardar a palavra de Deus em nossos corações e permitir que ela nos guie para experimentar o amor divino em nossas vidas.

CONCLUSÃO

Quando nos deparamos com tantos fracassos no amor (divórcios, amizades rompidas, egoísmos fechados), naturalmente nos afastamos do romantismo. No entanto, se Deus é amor, o amor é possível e necessário. Os obstáculos não podem afogar o amor. Aquele que ama nunca comete erros. Assim é o nosso Deus, porque DEUS É AMOR.

Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU