XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO C)

A PALAVRA DESTAQUE

Em um mundo que glorifica a autossuficiência, a Palavra de Deus oferece um antídoto radical: a humildade. Ela nos convida a reconhecer nossa pequenez, não para nos diminuir, mas para nos libertar da ilusão de que controlamos tudo. Somos chamados a um compromisso com o Reino, acolhendo os dons de Deus com gratidão.

Diante do clamor de Habacuc por justiça, a resposta de Deus é um convite à confiança. Seu silêncio não é indiferença, mas o espaço sagrado onde nossa fé é forjada. “O justo viverá pela fé” é a âncora que nos sustenta quando as tempestades da vida questionam a presença de Deus.

No Evangelho, ao pedirem “Aumenta a nossa fé!“, Jesus responde que a fé, mesmo minúscula como um grão de mostarda, possui força divina. Em seguida, ensina uma lição de humildade com a parábola do servo, que, após trabalhar, simplesmente cumpre seu dever. Somos instrumentos nas mãos do Divino Artista; a obra é d’Ele.

Para que este serviço não se torne um peso, Paulo exorta a reavivar o dom de Deus. É o Espírito Santo que nos inflama para guardar e testemunhar a fé, uma missão sustentada pela graça.

Que possamos, portanto, abraçar nossa pequenez, servir com gratuidade e esperar com fé inabalável. É na entrega confiante que descobrimos nossa verdadeira grandeza.

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

Diante do caos que grita em nossos dias, enquanto a injustiça parece triunfar, o justo viverá pela fé. Eis o sussurro divino que transforma nossa espera angustiada em confiança audaz, âncora da alma em qualquer tempestade.

2 Senhor, até quando clamarei,
sem me atenderes?
Até quando devo gritar a ti: “Violência!”,
sem me socorreres?
3 Por que me fazes ver iniquidades,
quando tu mesmo vês a maldade?
Destruições e prepotência estão à minha frente;
reina a discussão, surge a discórdia.
2,2 Respondeu-me o Senhor, dizendo:
“Escreve esta visão,
estende seus dizeres sobre tábuas,
para que possa ser lida com facilidade.
3 A visão refere-se a um prazo definido,
mas tende para um desfecho, e não falhará;
se demorar, espera,
pois ela virá com certeza, e não tardará.
4 Quem não é correto, vai morrer,
mas o justo viverá por sua fé”.
Palavra do Senhor.

Não fecheis vosso coração ao clamor do mundo; escutai hoje a voz de Deus, deixando que sua verdade, mais suave que o mel, dissolva a indiferença e acenda novamente a luz em vossa alma.

R. Não fecheis o coração, ouvi, hoje, a voz de Deus!

1 Vinde, exultemos de alegria no Senhor,*
aclamemos o Rochedo que nos salva!
2 Ao seu encontro caminhemos com louvores,*
e com cantos de alegria o celebremos! R.

6 Vinde adoremos e prostremo-nos por terra,*
e ajoelhemos ante o Deus que nos criou!
7 Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor, †
e nós somos o seu povo e seu rebanho,*
as ovelhas que conduz com sua mão. R.

8 Oxalá ouvísseis hoje a sua voz:*
“Não fecheis os corações como em Meriba,
9 como em Massa, no deserto, aquele dia, †
em que outrora vossos pais me provocaram,*
apesar de terem visto as minhas obras”. R.

Em meio às dúvidas, que tua coragem em testemunhar Cristo acenda, como chama viva, o Espírito em teu coração. Que jamais te envergonhes do Seu nome e que, com amor e fidelidade, sustentes a verdade que salva o mundo.

Caríssimo:
6 Exorto-te a reavivar a chama do dom de Deus
que recebeste pela imposição das minhas mãos.
7 Pois Deus não nos deu um espírito de timidez
mas de fortaleza, de amor e sobriedade.
8 Não te envergonhes do testemunho de Nosso Senhor
nem de mim, seu prisioneiro,
mas sofre comigo pelo Evangelho,
fortificado pelo poder de Deus.
13 Usa um compêndio 
das palavras sadias que de mim ouviste em matéria de fé 
e de amor em Cristo Jesus.
14 Guarda o precioso depósito,
com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós.
Palavra do Senhor.

Se tivésseis fé, mesmo que tão pequena quanto um grão de mostarda, o poder que desarraiga amoreiras e move montanhas floresceria silenciosamente em vosso coração. Pois, como disse o Mestre: ‘Se tivésseis fé como um grão de mostarda’, até o impossível se curvaria à confiança humilde que tudo espera de Deus e nada teme em seu amor.

Naquele tempo,
5 os apóstolos disseram ao Senhor:
“Aumenta a nossa fé!”
6 O Senhor respondeu:
“Se vós tivésseis fé,
mesmo pequena como um grão de mostarda,
poderíeis dizer a esta amoreira:
‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’,
e ela vos obedeceria.
7 Se algum de vós tem um empregado
que trabalha a terra ou cuida dos animais,
por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo:
‘Vem depressa para a mesa?’
8 Pelo contrário, não vai dizer ao empregado:
‘Prepara-me o jantar, cinge-te e serve-me,
enquanto eu como e bebo;
depois disso tu poderás comer e beber?’
9 Será que vai agradecer ao empregado,
porque fez o que lhe havia mandado?
10 Assim também vós:
quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: 
‘Somos servos inúteis;
fizemos o que devíamos fazer’ “.
Palavra da Salvação.

Homilia

“O JUSTO VIVERÁ PELA FÉ”: UM CHAMADO PARA OS DIAS DE HOJE

INTRODUÇÃO

Em um tempo marcado por incertezas, medo e desânimo, a fé se revela como um dos maiores tesouros da vida cristã. Longe de ser um sentimento passageiro, ela é a força interior que nos sustenta quando tudo parece ruir, que ilumina as trevas mais densas e nos encoraja quando o coração vacila. Mais do que nunca, nossos dias clamam por homens e mulheres que vivam pela fé, confiando em Deus mesmo quando o mundo grita o contrário.

QUANDO O SILÊNCIO DE DEUS NOS INQUIETA

As leituras do XXVII Domingo do Tempo Comum (Ano C) tocam uma ferida profundamente atual: a sensação da ausência de Deus diante da dor e da injustiça. O profeta Habacuc expressa uma angústia que é também a nossa: “Até quando, Senhor, clamarei sem que me ouças?

Essa pergunta ecoa hoje nos lábios de milhões: vítimas da violência, famílias assoladas pela miséria, jovens temerosos diante do futuro. Diante de crises tão vastas, o silêncio de Deus pode parecer insuportável.

Mas a resposta divina atravessa os séculos para nos alcançar: “O JUSTO VIVERÁ PELA SUA FÉ”,  É uma convocação, não uma fuga: confiar, mesmo quando os caminhos de Deus nos são incompreensíveis.

A FÉ QUE VENCE O MEDO

Na segunda leitura, Paulo escreve a Timóteo em um momento de vacilação. Seu conselho ressoa com urgência hoje: “Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de fortaleza, amor e sabedoria.”

Vivemos tempos onde o medo impera: medo da violência, da solidão, do desemprego, da instabilidade. A fé autêntica, porém, nos recorda que o Espírito Santo não nos paralisa, mas nos infunde a coragem para testemunhar.

Precisamos, mais do que nunca, de cristãos que irradiem esperança onde reina o desânimo e transmitam coragem onde domina a insegurança.

UMA FÉ PEQUENA, MAS TRANSFORMADORA

No Evangelho, os discípulos suplicam: “SENHOR, AUMENTA A NOSSA FÉ!

Jesus responde com duas imagens poderosas que nos orientam:

  • A fé, ainda que minúscula como um grão de mostarda, tem poder para realizar o impossível;
  • A fé genuína se manifesta no serviço humilde, sem buscar glórias ou recompensas.

Eis a essência: não necessitamos de uma fé espetacular, mas de uma fé sincera e humilde, que se traduz em gestos concretos de serviço, perdão e amor no cotidiano.

FÉ QUE ILUMINA O PRESENTE

Ao unirmos as três leituras, escutamos um chamado claro para nosso tempo:

  • DIANTE DA INJUSTIÇA: perseverar na confiança, certos de que Deus conduz a história.
  • DIANTE DO MEDO: reavivar a coragem e o amor que o Espírito nos concede.
  • DIANTE DA PEQUENEZ: confiar que até uma fé mínima, vivida com sinceridade, pode transformar vidas.

O mundo de hoje precisa desesperadamente de homens e mulheres de fé. Pessoas que, mesmo envoltas pelas trevas, brilhem como luzeiros, apontando para Aquele que é a Esperança.

CONCLUSÃO: NOSSA ORAÇÃO HOJE

Que esta seja, pois, a nossa súplica neste domingo:

SENHOR, AUMENTA A NOSSA FÉ!

  • Para não desanimarmos diante do sofrimento;
  • Para não permitirmos que o medo governe nossas escolhas;
  • Para servirmos com humildade e amor, mesmo sem reconhecimento.

Deste modo, seremos testemunhas de que a fé é, de fato, força, coragem e esperança. E o mundo poderá enxergar, em nossas vidas, que a última palavra não é do medo, da dor ou da injustiça, mas de DEUS, QUE SALVA.

Que assim seja, hoje e sempre.
Amém.