
Em um mundo que glorifica a autossuficiência, a Palavra de Deus oferece um antídoto radical: a humildade. Ela nos convida a reconhecer nossa pequenez, não para nos diminuir, mas para nos libertar da ilusão de que controlamos tudo. Somos chamados a um compromisso com o Reino, acolhendo os dons de Deus com gratidão.
Diante do clamor de Habacuc por justiça, a resposta de Deus é um convite à confiança. Seu silêncio não é indiferença, mas o espaço sagrado onde nossa fé é forjada. “O justo viverá pela fé” é a âncora que nos sustenta quando as tempestades da vida questionam a presença de Deus.
No Evangelho, ao pedirem “Aumenta a nossa fé!“, Jesus responde que a fé, mesmo minúscula como um grão de mostarda, possui força divina. Em seguida, ensina uma lição de humildade com a parábola do servo, que, após trabalhar, simplesmente cumpre seu dever. Somos instrumentos nas mãos do Divino Artista; a obra é d’Ele.
Para que este serviço não se torne um peso, Paulo exorta a reavivar o dom de Deus. É o Espírito Santo que nos inflama para guardar e testemunhar a fé, uma missão sustentada pela graça.
Que possamos, portanto, abraçar nossa pequenez, servir com gratuidade e esperar com fé inabalável. É na entrega confiante que descobrimos nossa verdadeira grandeza.
Leituras
Diante do caos que grita em nossos dias, enquanto a injustiça parece triunfar, o justo viverá pela fé. Eis o sussurro divino que transforma nossa espera angustiada em confiança audaz, âncora da alma em qualquer tempestade.
Até quando devo gritar a ti: “Violência!”,
sem me socorreres?
Destruições e prepotência estão à minha frente;
reina a discussão, surge a discórdia.
estende seus dizeres sobre tábuas,
para que possa ser lida com facilidade.
se demorar, espera,
pois ela virá com certeza, e não tardará.
Palavra do Senhor.
Não fecheis vosso coração ao clamor do mundo; escutai hoje a voz de Deus, deixando que sua verdade, mais suave que o mel, dissolva a indiferença e acenda novamente a luz em vossa alma.
R. Não fecheis o coração, ouvi, hoje, a voz de Deus!
1 Vinde, exultemos de alegria no Senhor,*
aclamemos o Rochedo que nos salva!
2 Ao seu encontro caminhemos com louvores,*
e com cantos de alegria o celebremos! R.
6 Vinde adoremos e prostremo-nos por terra,*
e ajoelhemos ante o Deus que nos criou!
7 Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor, †
e nós somos o seu povo e seu rebanho,*
as ovelhas que conduz com sua mão. R.
8 Oxalá ouvísseis hoje a sua voz:*
“Não fecheis os corações como em Meriba,
9 como em Massa, no deserto, aquele dia, †
em que outrora vossos pais me provocaram,*
apesar de terem visto as minhas obras”. R.
Em meio às dúvidas, que tua coragem em testemunhar Cristo acenda, como chama viva, o Espírito em teu coração. Que jamais te envergonhes do Seu nome e que, com amor e fidelidade, sustentes a verdade que salva o mundo.
mas sofre comigo pelo Evangelho,
fortificado pelo poder de Deus.
Palavra do Senhor.
Se tivésseis fé, mesmo que tão pequena quanto um grão de mostarda, o poder que desarraiga amoreiras e move montanhas floresceria silenciosamente em vosso coração. Pois, como disse o Mestre: ‘Se tivésseis fé como um grão de mostarda’, até o impossível se curvaria à confiança humilde que tudo espera de Deus e nada teme em seu amor.
mesmo pequena como um grão de mostarda,
poderíeis dizer a esta amoreira:
‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’,
e ela vos obedeceria.
por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo:
‘Vem depressa para a mesa?’
enquanto eu como e bebo;
depois disso tu poderás comer e beber?’
fizemos o que devíamos fazer’ “.
Palavra da Salvação.
Homilia
“O JUSTO VIVERÁ PELA FÉ”: UM CHAMADO PARA OS DIAS DE HOJE

INTRODUÇÃO
Em um tempo marcado por incertezas, medo e desânimo, a fé se revela como um dos maiores tesouros da vida cristã. Longe de ser um sentimento passageiro, ela é a força interior que nos sustenta quando tudo parece ruir, que ilumina as trevas mais densas e nos encoraja quando o coração vacila. Mais do que nunca, nossos dias clamam por homens e mulheres que vivam pela fé, confiando em Deus mesmo quando o mundo grita o contrário.
QUANDO O SILÊNCIO DE DEUS NOS INQUIETA
As leituras do XXVII Domingo do Tempo Comum (Ano C) tocam uma ferida profundamente atual: a sensação da ausência de Deus diante da dor e da injustiça. O profeta Habacuc expressa uma angústia que é também a nossa: “Até quando, Senhor, clamarei sem que me ouças?”
Essa pergunta ecoa hoje nos lábios de milhões: vítimas da violência, famílias assoladas pela miséria, jovens temerosos diante do futuro. Diante de crises tão vastas, o silêncio de Deus pode parecer insuportável.
Mas a resposta divina atravessa os séculos para nos alcançar: “O JUSTO VIVERÁ PELA SUA FÉ”, É uma convocação, não uma fuga: confiar, mesmo quando os caminhos de Deus nos são incompreensíveis.
A FÉ QUE VENCE O MEDO
Na segunda leitura, Paulo escreve a Timóteo em um momento de vacilação. Seu conselho ressoa com urgência hoje: “Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de fortaleza, amor e sabedoria.”
Vivemos tempos onde o medo impera: medo da violência, da solidão, do desemprego, da instabilidade. A fé autêntica, porém, nos recorda que o Espírito Santo não nos paralisa, mas nos infunde a coragem para testemunhar.
Precisamos, mais do que nunca, de cristãos que irradiem esperança onde reina o desânimo e transmitam coragem onde domina a insegurança.
UMA FÉ PEQUENA, MAS TRANSFORMADORA
No Evangelho, os discípulos suplicam: “SENHOR, AUMENTA A NOSSA FÉ!”
Jesus responde com duas imagens poderosas que nos orientam:
- A fé, ainda que minúscula como um grão de mostarda, tem poder para realizar o impossível;
- A fé genuína se manifesta no serviço humilde, sem buscar glórias ou recompensas.
Eis a essência: não necessitamos de uma fé espetacular, mas de uma fé sincera e humilde, que se traduz em gestos concretos de serviço, perdão e amor no cotidiano.
FÉ QUE ILUMINA O PRESENTE
Ao unirmos as três leituras, escutamos um chamado claro para nosso tempo:
- DIANTE DA INJUSTIÇA: perseverar na confiança, certos de que Deus conduz a história.
- DIANTE DO MEDO: reavivar a coragem e o amor que o Espírito nos concede.
- DIANTE DA PEQUENEZ: confiar que até uma fé mínima, vivida com sinceridade, pode transformar vidas.
O mundo de hoje precisa desesperadamente de homens e mulheres de fé. Pessoas que, mesmo envoltas pelas trevas, brilhem como luzeiros, apontando para Aquele que é a Esperança.
CONCLUSÃO: NOSSA ORAÇÃO HOJE
Que esta seja, pois, a nossa súplica neste domingo:
“SENHOR, AUMENTA A NOSSA FÉ!”
- Para não desanimarmos diante do sofrimento;
- Para não permitirmos que o medo governe nossas escolhas;
- Para servirmos com humildade e amor, mesmo sem reconhecimento.
Deste modo, seremos testemunhas de que a fé é, de fato, força, coragem e esperança. E o mundo poderá enxergar, em nossas vidas, que a última palavra não é do medo, da dor ou da injustiça, mas de DEUS, QUE SALVA.
Que assim seja, hoje e sempre.
Amém.