A liturgia do XXIX Domingo do Tempo Comum convida-nos a refletir sobre como devemos equacionar a relação entre as realidades de Deus e as realidades do mundo. Ela nos diz que Deus é a nossa prioridade e que a Ele devemos subordinar toda a nossa existência. No entanto, também nos adverte que Deus nos convoca a um compromisso efetivo com a construção do mundo.
O Evangelho (Mt 22,15-21) ensina que o ser humano, sem deixar de cumprir suas obrigações com a comunidade em que está inserido, pertence a Deus e deve entregar toda a sua existência nas mãos Dele. Tudo o mais deve ser relativizado, inclusive a submissão ao poder político.
A primeira leitura (Is 45,1.4-6) sugere que Deus é o verdadeiro Senhor da história e que é Ele quem conduz a caminhada de Seu Povo rumo à felicidade e à realização plena. Os seres humanos que atuam e intervêm na história são apenas instrumentos que Deus utiliza para concretizar Seus projetos de salvação.
A segunda leitura (1Ts 1,1-5b) apresenta o exemplo de uma comunidade cristã que colocou DEUS NO CENTRO DE SEU CAMINHO e que, apesar das dificuldades, se comprometeu de forma corajosa com os valores e os planos de Deus. Escolhida por Deus para ser Sua testemunha no meio do mundo, ela vive ancorada em uma fé ativa, uma caridade esforçada e uma esperança inabalável.
Leituras
O texto reflete a perplexidade e inquietação que frequentemente experimentamos diante dos eventos do nosso tempo, levando-nos a questionar o papel de Deus na condução dos destinos do mundo. Sentimo-nos perdidos, incapazes de entender o significado dos acontecimentos, enquanto Deus parece permanecer em silêncio. No entanto, a leitura assegura que Deus nunca abandona os seres humanos. Ele intervém na história de maneiras que podem não ser compreendidas pela lógica humana, mas continua a guiar o mundo de acordo com Seu projeto de vida, salvação e libertação. Mesmo quando não conseguimos entender Seus critérios, somos chamados a confiar e nos entregar em Suas mãos.
para submeter os povos ao seu domínio,
dobrar o orgulho dos reis,
abrir todas as portas à sua marcha,
e para não deixar trancar os portões.
reservei-te, e não me reconheceste.
Armei-te guerreiro, sem me reconheceres,
Eu sou o Senhor, não há outro”.
Palavra do Senhor.
Adoremos o Senhor na beleza de sua santidade, pois Ele reina sobre toda a terra e guia nossos corações com amor e justiça.
R. Ó família das nações, dai ao Senhor poder e glória!
1 Cantai ao Senhor Deus um canto novo, *
2a cantai ao Senhor Deus, ó terra inteira!
3 manifestai a sua glória entre as nações, *
e entre os povos do universo seus prodígios! R.
4 Pois Deus é grande e muito digno de louvor,*
é mais terrível e maior que os outros deuses,
5 porque um nada são os deuses dos pagãos. *
Foi o Senhor e nosso Deus quem fez os céus. R.
7 Ó família das nações, dai ao Senhor, *
ó nações, dai ao Senhor poder e glória,
8 dai-lhe a glória que é devida ao seu nome! *
Oferecei um sacrifício nos seus átrios. R.
9 Adorai-o no esplendor da santidade, *
terra inteira, estremecei diante dele!
10a Publicai entre as nações: “Reina o Senhor!” *
c pois os povos ele julga com justiça. R.
A comunidade cristã de Tessalónica, apesar dos desafios iniciais, abraçou o Evangelho com fé, amor e esperança. Essa história nos convida a questionar e renovar nosso próprio compromisso espiritual, avaliando se vivemos com entusiasmo, coerência e ação. Nossa fé deve se traduzir em ações transformadoras, nosso amor em partilha e solidariedade, e nossa esperança em serenidade, apesar das dificuldades. A comunidade de Tessalónica nos desafia a viver a fé de maneira comprometida e transformadora.
reunida em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo:
a vós, graça e paz!
o esforço da vossa caridade e a firmeza
mas também mediante a força que é o Espírito Santo;
e isso, com toda a abundância.
Palavra do Senhor.
O texto destaca que, em meio às liberdades e descobertas do nosso tempo, muitas pessoas se afastaram de Deus, confiando em sua própria capacidade para encontrar a felicidade. No entanto, a mensagem ressalta a importância de redescobrir a centralidade de Deus em nossas vidas. Isso não compromete nossa identidade ou liberdade, mas nos chama a uma comunhão profunda com o divino. Encontramos verdadeira felicidade e realização ao entregar confiantemente nossa vida a Deus e fazê-Lo o centro de nossa jornada espiritual.
para dizerem a Jesus:
“Mestre, sabemos que és verdadeiro
e que, de fato, ensinas o caminho de Deus.
Não te deixas influenciar pela opinião dos outros,
pois não julgas um homem pelas aparências.
“Dai pois a César o que é de César,
e a Deus o que é de Deus”.
Palavra da Salvação.
Reflexão
MUITAS PERGUNTAS POLÍTICAS PARA JESUS...
É quase certo que, neste tempo, faríamos a Jesus muitas perguntas sobre questões políticas. Mestre, é permitido votar em…? É permitido proibir…? É permitido defender…? É permitido realizar um referendo…? Mudar a Constituição? As três leituras deste domingo nos oferecem algumas pistas de resposta.
Dividirei esta reflexão em três partes:
- Deus santifica Seu nome através de pagãos!
- O dinheiro para César, o povo para Deus
- A liderança do ‘nós’ e a perspectiva valorativa.
DEUS SANTIFICA SEU NOME ATRAVÉS DE PAGÃOS!
No Pai Nosso, dizemos: “santificado seja o Teu Nome” e “venha o Teu Reino para nós!” Declaramos dessa forma o nosso desejo de pertencer a Deus, ao Seu Reino.
Como isso é bem refletido na primeira leitura de Isaías, que acabamos de proclamar! Deus guia Ciro, o Grande, fundador do Império Persa, que respeitava a religião dos países que conquistava. Isaías o chama de ‘ungido de Deus‘ e afirma que Deus o guia, embora ele não fizesse parte do povo de Deus, que na época estava no exílio na Babilônia. Foi inspirado por Deus a promulgar o seguinte édito (preceito legal), por volta do ano 538 a.C.:
“Assim fala Ciro, rei da Pérsia: O Senhor, Deus do céu, deu-me todos os reinos da terra e me encarregou de lhe construir um templo em Jerusalém, que está na terra de Judá. Todo aquele dentre vós que for de seu povo, esteja seu Deus com ele e que ele para lá se dirija”. (2 Cr 36, 23).
O Povo de Deus foi devolvido à sua terra e construiu o Templo, o trono de Deus.
O DINHEIRO PARA CÉSAR, O POVO PARA DEUS
A frase de Jesus no evangelho de hoje é enigmática: DAI A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR E A DEUS O QUE É DE DEUS. Tinham perguntado a Ele se era lícito pagar tributo a César.
A resposta de Jesus foi inteligente e revolucionária: o tributo é pago com moedas que têm a efígie do César, então, dai a ele o que é dele! No entanto, o Povo não pertence a César, mas a Deus; é o povo de Sua propriedade. Portanto, Jesus diz: DAI A DEUS O QUE É DE DEUS.
A LIDERANÇA DO ‘NÓS’ E A PERSPECTIVA VALORATIVA
A segunda leitura da carta aos Tessalonicenses é assinada por três evangelizadores. Ela é expressa através do ‘nós’ composto por Paulo, Silvano e Timóteo: nenhum deles se considera superior aos outros dois. Os três pregaram o Evangelho em Tessalônica, onde uma comunidade cristã foi formada.
Sua visão da comunidade não é de superiores para inferiores. É de irmãos que reconhecem os Tessalonicenses com esses títulos: ‘amados de Deus’, ‘escolhidos por Deus’, ‘UNGIDOS PELO ESPÍRITO‘. Eles elogiam a comunidade por três traços característicos: FÉ ATIVA, AMOR DEDICADO, ESPERANÇA QUE PERSEVERA. Liderar a comunidade cristã requer amor, valorização, cuidado, e não censura ou imposição. O povo de Deus merece respeito, muito respeito e apreço.
CONCLUSÃO
A política na sociedade e a pastoral na Igreja exigem de nós uma ‘perspectiva valorativa’, como a do profeta Isaías em relação a Ciro, como a de Jesus em relação a César, como a dos Três Evangelistas em relação aos cristãos de Tessalônica. A “perspectiva valorativa” refere-se a uma abordagem que enfatiza a importância de considerar valores, princípios éticos e méritos como pontos de referência fundamentais na tomada de decisões e ações. Essa perspectiva valoriza o que é moralmente correto e digno de apreço, priorizando esses valores em análises e abordagens em diversas áreas, como política, ética e ações pastorais.
Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU