A liturgia deste domingo nos convida à reflexão sobre nossa responsabilidade em relação aos irmãos que nos cercam. Ela afirma claramente que ninguém pode permanecer indiferente diante das ameaças à vida e à felicidade de um irmão, e que todos somos responsáveis uns pelos outros.
A primeira leitura (Ez 33,7-9) nos apresenta o profeta como uma “sentinela” que Deus colocou para vigiar a cidade dos homens. Atento aos planos de Deus e à realidade do mundo, o profeta percebe o que está subvertendo os planos de Deus e impedindo a felicidade dos homens. Como sentinela responsável, ele alerta a comunidade para os perigos que a ameaçam.
O Evangelho (Mt 18,15-20) deixa claro nossa responsabilidade em ajudar cada irmão a tomar consciência de seus erros. Isso é um dever que resulta do mandamento do AMOR. No entanto, Jesus ensina que o caminho correto para alcançar esse objetivo não envolve humilhação ou condenação daqueles que falharam, mas sim o diálogo fraterno, leal e amigável, que revela ao irmão que nossa intervenção é motivada pelo amor.
Na segunda leitura (Rm 13,8-10), Paulo convida os cristãos de Roma (e de todos os lugares e épocas) a colocar o mandamento do AMOR no centro da existência cristã. Isso representa uma “dívida” que temos com todos os nossos irmãos e que nunca estará completamente quitada.
Fonte de reflexão: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus
Leituras
O que devemos denunciar? Tudo o que contradiz os projetos de Deus. Portanto, o profeta/sentinela deve ser alguém que vive em comunhão com Deus, medita na Palavra de Deus, dialoga com Deus e, nessa intimidade, compreende o que Deus deseja para os seres humanos e para o mundo. Além disso, é desse relacionamento sólido com Deus que o profeta/sentinela obtém a coragem para falar, denunciar e agir. Portanto, é difícil cumprir nossa missão profética sem um relacionamento sólido com Deus.
Encontramos tempo para fortalecer nosso relacionamento com Deus,
para conversar com Ele, para ouvir e meditar em Sua Palavra?
Logo que ouvires alguma palavra de minha boca,
tu os deves advertir em meu nome.
advertindo-o a respeito de sua conduta,
o ímpio vai morrer por própria culpa,
mas eu te pedirei contas da sua morte.
e ele não se arrepender,
o ímpio morrerá por própria culpa,
porém, tu salvarás tua vida.
Palavra do Senhor.
Venham, adoremos e nos prostremos diante do Senhor, que nos criou e nos guia.
R. Não fecheis o coração, ouvi, hoje, a voz de Deus!
1Vinde, exultemos de alegria no Senhor, *
aclamemos o Rochedo que nos salva!
2Ao seu encontro caminhemos com louvores, *
e com cantos de alegria o celebremos! R.
6Vinde, adoremos e prostremo-nos por terra, *
e ajoelhemos ante o Deus que nos criou!
7Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor, †
e nós somos o seu povo e seu rebanho, *
as ovelhas que conduz com sua mão. R.
8Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: *
“Não fecheis os corações como em Meriba,
9como em Massa, no deserto, aquele dia, †
em que outrora vossos pais me provocaram, *
apesar de terem visto as minhas obras”. R.
As nossas comunidades cristãs, à semelhança da primitiva comunidade cristã de Jerusalém, deveriam ser comunidades fraternas onde se evidenciam as marcas do amor. Aqueles que estão de fora deveriam olhar para nós e dizer: ‘Eles são diferentes, são um acréscimo para o mundo, porque amam mais do que os outros‘. Isso está acontecendo? Quem observa as nossas comunidades consegue identificar as marcas do AMOR, ou as marcas da insensibilidade, do egoísmo, do conflito, do ciúme e da inveja? Os estrangeiros, os doentes,
os necessitados, os frágeis e os marginalizados são acolhidos nas
nossas comunidades com solicitude e AMOR?”
pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei.
“Não roubarás”,
e qualquer outro mandamento, se resumem neste:
“Amarás a teu próximo como a ti mesmo”.
Palavra do Senhor.
O Evangelho deste domingo nos lembra da nossa responsabilidade em ajudar nossos irmãos a reconhecerem seus erros. Ele nos chama a respeitar nossos irmãos, mas não a compactuar com suas ações erradas. Amar alguém significa não permanecer indiferente quando essa pessoa está se prejudicando; portanto, amar muitas vezes implica corrigir, admoestar, questionar, discordar e interpelar. Isso requer um profundo respeito pelo outro, a ponto de correr o risco de discordar dele, de fazer observações que podem causar desconforto. No entanto, é uma exigência que
emana do mandamento do AMOR.
Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão.
para que toda a questão seja decidida
sob a palavra de duas ou três testemunhas.
seja tratado como se fosse um pagão
ou um pecador público.
e tudo o que desligardes na terra
será desligado no céu.
sobre qualquer coisa que quiserem pedir,
isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus.
Palavra da Salvação.
Reflexão
ALI ESTOU EU NO MEIO DELES.
Este mundo não é perfeito. Não é necessário que eu o diga; basta ouvir as notícias ou olhar para as ruas para perceber que nem tudo funciona harmoniosamente. Há uma grande dose de injustiça ao redor, e parece que as forças malignas dominam o mundo. Aqueles que são considerados ‘maus’ muitas vezes desfrutam de conforto, enquanto os ‘bons’ continuam a sofrer. É verdade que muitas coisas boas acontecem diariamente e não são noticiadas, porque não vendem tanto quanto as tragédias. Contudo, o mal frequentemente faz eco estrondoso e, em algumas ocasiões, ensurdece.
Como crentes, devemos esforçar-nos para enxergar a vida de uma maneira diferente. Eu diria que, pelo menos, em dois aspectos. O primeiro é não nos contentarmos com o que existe. Isso nos é ensinado na primeira leitura, do profeta Ezequiel. Somos sentinelas, guardiões de Deus no mundo. Portanto, é nossa responsabilidade sermos mensageiros e não permitir que outros, devido à nossa omissão, se condenem à morte eterna.
É que todos nós somos solidários, não podemos dizer que os problemas dos outros não são nossos problemas, nem que os pecados dos outros não nos afetam. Quando fomos batizados, nos tornamos sacerdotes, profetas e reis, à semelhança de Jesus. Cada um dos meus irmãos é também minha responsabilidade. Portanto, não podemos permitir que outros vivam no erro. Isso também nos é lembrado no Evangelho de hoje.
Jesus oferece a forma para corrigir aqueles que se desviaram, mesmo sendo parte do nosso grupo. Como corrigir nossos irmãos é uma tarefa que, por experiência própria, sei que nunca é simples. É necessário encontrar a maneira de unir o amor fraternal com a sensibilidade necessária para prestar auxílio sem causar ofensa. É preciso dedicar tempo suficiente, fundamentados na Palavra de Deus, para orientar nossos irmãos na direção certa. Isso requer humildade de ambas as partes: de quem está corrigindo, pois reconhece que também não é perfeito, e daquele que está sendo corrigido, para se permitir ser iluminado por aqueles que estão próximos e podem perceber onde há espaço para melhoria. Nem sempre é agradável ouvir que estamos cometendo erros.
Em todo caso, se não houver possibilidade de encontrar tempo para fazer o que o Evangelho nos sugere, sempre podemos ser criativos. Uma frase no momento adequado, uma indicação, um gesto de aprovação ou desaprovação… Pode ser uma mensagem, uma ligação, dizendo que faz muito tempo que não o vemos na Missa, por exemplo; um emoji triste no WhatsApp, por exemplo, e um ‘sentimos sua falta’. Mostrar-se atento, para que a ‘ovelha desgarrada‘ saiba que tem em você um apoio caso necessite. Estar próximo, disponível, para poder ajudar. Que, se a pessoa não se converter, não seja porque não tentamos.
É preciso realizar todas as tarefas com AMOR, inclusive as correções. Aquele que ama o seu próximo não lhe causa danos, mesmo quando o corrige. Amar é cumprir integralmente a Lei, e isso inclui a correção – feita com amor – daquele que cometeu equívocos. Não devemos cometer o erro da omissão.
O segundo aspecto a recordar, acredito, é que devemos sempre ter em mente que Deus está sempre conosco. Há sempre um caminho para nos comunicarmos com Ele, mesmo que ocasionalmente nos esqueçamos disso. Costumamos nos reunir ‘em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo‘, para orar, celebrar e trazer o Mistério para a nossa vida cotidiana. Não importa se somos poucos ou muitos, apenas dois ou três são suficientes para que Cristo se faça presente. Isso é um conforto para aqueles católicos que se sentem minoria. É um conforto para todos.
Estamos habituados a presenciar grandes multidões em concertos, em celebrações esportivas, a avaliar as contas nas redes sociais de acordo com o número de seguidores… Quanto mais, melhor. Mesmo na vida espiritual, aplicamos esses critérios. Certamente, impressiona ver uma celebração na Jornada Mundial da Juventude ou na Vigília Pascal no Vaticano. Isso é um estímulo positivo para muitas pessoas, ao verem que não estão sozinhas nessa jornada de fé.
No entanto, onde realmente se define o jogo está no dia a dia. Nem sempre há grandes grupos de pessoas ao seu redor. Às vezes, a pessoa ao seu lado pode não ser alguém com quem você mais se identifica. E, no entanto, ‘onde dois ou três se reúnem em meu nome, ali estou Eu‘. Porque os companheiros no banco da igreja não são escolhidos por você; o próprio Senhor os coloca em seu caminho.
Embora às vezes seja difícil de entender, nossa força reside na oração conjunta. Através do perdão e da reconciliação, podemos restaurar as relações comunitárias e, juntos, pedir ao Pai que continue nos acompanhando em nossa jornada. Pois não somos simplesmente um conjunto de pessoas; somos uma comunidade de crentes, na qual todos dependem uns dos outros para se tornarem melhores. Se alguém fica para trás, a missão se desacelera, e sabemos que o Bom Pastor procura a ovelha perdida até encontrá-la, carrega-a nos ombros e a devolve ao rebanho.
Temos o melhor exemplo em Cristo. Ele soube perdoar os ‘traidores’ entre os apóstolos, aqueles que o abandonaram, e os transformou em colaboradores na propagação de sua mensagem por todos os cantos do mundo. Que possamos imitá-lo, amando cada vez mais nossos irmãos, corrigindo-os e perdoando-os sempre. JUNTOS, PODEMOS. JUNTOS, SOMOS MAIS FORTES. Mesmo que seja desafiador. Vale a pena.
Vosso irmão na fé
ALEJANDRO, cmf
Fonte: CIUDAD REDONDA