
A Palavra de Deus proposta neste sexto domingo comum nos convida a uma reflexão profunda sobre as escolhas que definem não apenas o rumo de nossa existência, mas também a qualidade e o sentido que atribuímos à vida. Diante de nós, dois caminhos se apresentam: um, proposto por Deus, que muitas vezes parece desafiador, até mesmo improvável, exigindo que nademos contra a corrente das convenções humanas; e outro, aparentemente mais fácil, moldado pela lógica do mundo, que promete satisfação imediata, mas que, no fim das contas, pode nos levar a um vazio existencial. A mensagem é clara: escolher o caminho de Deus é optar pela vida verdadeira, ainda que isso exija coragem, fé e uma mudança radical de perspectiva.
Na Primeira Leitura (Jr 17,5-8), o profeta Jeremias nos alerta sobre o perigo de depositar nossa esperança em realidades humanas, efêmeras e passageiras. Quantas vezes não nos pegamos correndo atrás de sucessos, riquezas ou reconhecimento, apenas para descobrir, no final, que tudo isso não preenche o vazio que carregamos dentro de nós? Jeremias nos convida a uma inversão de valores: em vez de confiar no que é transitório, devemos colocar nossa esperança em Deus, cujas promessas são eternas. Ele nos garante que, ao vivermos de acordo com Suas indicações, encontraremos não apenas vida em abundância, mas uma felicidade que transcende as limitações deste mundo. Essa felicidade não depende das circunstâncias externas, mas de uma conexão profunda com o divino.
No Evangelho (Lc 6,17.20-26) Jesus radicaliza essa mensagem ao apresentar as bem-aventuranças. Ele nos mostra que a verdadeira felicidade não está onde o mundo costuma buscá-la: não está no poder, no prestígio ou na acumulação de bens, mas na humildade, na misericórdia, na pureza de coração e na busca pela justiça. As bem-aventuranças são um convite a inverter completamente nossa escala de valores. Elas nos desafiam a enxergar a beleza na simplicidade, a encontrar força na fraqueza e a reconhecer a presença de Deus nos lugares e nas pessoas que o mundo muitas vezes ignora. Jesus não promete uma vida fácil, mas garante que esse caminho, embora estreito, é o único que nos conduz a uma existência plena e significativa.
Na Segunda Leitura (1Cor 15,12.16-20) Paulo nos lembra que, como cristãos, nossa visão deve estar fixa não apenas nas realidades terrenas, mas no mundo que há de vir. Ele nos convida a viver com os olhos postos na ressurreição, na esperança de uma vida eterna. Isso não significa desprezar o presente ou negligenciar nossas responsabilidades no mundo, mas sim reconhecer que as coisas deste mundo são passageiras. Quando entendemos que nossa verdadeira pátria está nos céus, nossas prioridades se reorganizam. As dificuldades, as perdas e até mesmo as injustiças que enfrentamos adquirem um novo significado, pois sabemos que elas não têm a última palavra. A ressurreição de Cristo é a garantia de que o amor de Deus triunfa sobre a morte e que, no final, todas as coisas serão restauradas.
Essa mensagem é profundamente contracultural. Vivemos em uma sociedade que valoriza o imediatismo, o sucesso pessoal e o acúmulo de bens materiais. Escolher o caminho de Deus, portanto, não é apenas uma decisão espiritual, mas um ato de resistência. É dizer não a uma lógica que nos reduz a meros consumidores e sim a uma visão de vida que nos eleva à condição de filhos amados de Deus. É abraçar a paradoxal beleza das bem-aventuranças, que nos ensinam que os últimos serão os primeiros, que os que choram serão consolados e que os pobres de espírito possuirão o reino dos céus.
Leituras
Maldito quem deposita sua esperança em frágeis mãos humanas; feliz quem, com o coração aberto, confia no Senhor, pois só Ele transforma desertos em jardins e dá vida às raízes da alma.
e faz consistir sua força na carne humana,
enquanto o seu coração se afasta do Senhor;
prefere vegetar na secura do ermo,
em região salobra e desabitada.
que estende as raízes em busca de umidade,
por isso não teme a chegada do calor:
sua folhagem mantém-se verde,
não sofre míngua em tempo de seca
e nunca deixa de dar frutos”.
Palavra do Senhor.
Em dias inquietos, feliz quem, enraizado no Senhor, não se abala por ventos efêmeros, mas frutifica à margem eterna, onde a confiança floresce e a alma repousa na sinfonia divina que transforma caos em cântico sagrado
R. É feliz quem a Deus se confia!
1 Feliz é todo aquele que não anda *
conforme os conselhos dos perversos;
que não entra no caminho dos malvados, *
nem junto aos zombadores vai sentar-se;
2 mas encontra seu prazer na lei de Deus *
e a medita, dia e noite, sem cessar. R.
3 Eis que ele é semelhante a uma árvore, *
que à beira da torrente está plantada;
ela sempre dá seus frutos a seu tempo, †
e jamais as suas folhas vão murchar. *
Eis que tudo o que ele faz vai prosperar. R.
4 Mas bem outra é a sorte dos perversos. †
Ao contrário, são iguais à palha seca *
espalhada e dispersada pelo vento.
6 Pois Deus vigia o caminho dos eleitos, *
mas a estrada dos malvados leva à morte. R.
Se Cristo não ressuscitou, todo o sentido da fé se esvanece; mas Ele vive, e n’Ele repousa nossa esperança, pois Sua vitória sobre a morte ilumina nosso caminho rumo à eternidade.
Irmãos:
12 Se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos,
como podem alguns dizer entre vós
que não há ressurreição dos mortos?
16 Pois, se os mortos não ressuscitam,
então Cristo também não ressuscitou.
17 E se Cristo não ressuscitou,
a vossa fé não tem nenhum valor
e ainda estais nos vossos pecados.
18 Então, também os que morreram em Cristo pereceram.
19 Se é para esta vida
que pusemos a nossa esperança em Cristo,
nós somos – de todos os homens –
os mais dignos de compaixão.
20 Mas, na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos
como primícias dos que morreram.
Palavra do Senhor.
Bem-aventurados os que, na humildade, confiam em Deus, pois deles é a verdadeira riqueza; mas ai dos que se apegam ao efêmero, pois encontrarão vazio onde buscavam plenitude.
Ali estavam muitos dos seus discípulos
e grande multidão de gente
de toda a Judeia e de Jerusalém,
do litoral de Tiro e Sidônia.
porque vosso é o Reino de Deus!
Bem-aventurados vós, que agora chorais,
porque havereis de rir!
vos expulsarem, vos insultarem
e amaldiçoarem o vosso nome,
por causa do Filho do Homem!
porque era assim
que os antepassados deles tratavam os profetas.
Ai de vós, que agora rides,
porque tereis luto e lágrimas!
tratavam os falsos profetas”.
Palavra da Salvação.
Homilia
EM QUEM DEPOSITAMOS NOSSA CONFIANÇA?
A mensagem deste domingo nos convida a refletir sobre a CONFIANÇA. Sabemos o quanto é essencial sermos pessoas que confiam e que inspiram confiança. Esse é o tema que perpassa as três leituras proclamadas hoje: as palavras do profeta Jeremias, a exortação de São Paulo e o Evangelho segundo São Lucas.
Dividirei esta homilia em três partes:
- A confiança e seus perigos
- A esperança na ressurreição
- As bem-aventuranças de Jesus
Que estas palavras nos inspirem a refletir sobre a profundidade da confiança que depositamos em Deus e nos outros, especialmente em um mundo onde a desconfiança parece pairar sobre tantos corações.

A CONFIANÇA E SEUS PERIGOS
A sedução pelo poder — seja ele político, econômico, cultural ou até mesmo religioso — pode nos conduzir a um perigoso “ateísmo prático”, onde, sem perceber, afastamo-nos da verdadeira confiança em Deus.
Colocar todo o nosso amor e esperança em outra pessoa — seja um amigo, um familiar ou um companheiro — pode nos levar às mais profundas desilusões e ao maior sofrimento.
Na primeira leitura, o profeta Jeremias nos adverte contra a ilusão de confiar exclusivamente nas forças humanas, desconectadas de Deus. Esse caminho conduz à aridez da alma e ao vazio existencial. Suas palavras são incisivas: “Maldito o homem que confia no homem” (Jr 17,5).
As leituras deste domingo nos ensinam que a verdadeira confiança deve estar firmemente ancorada em Deus, pois Ele é a fonte inesgotável de força, verdade e amor. Como proclama a Escritura: “Bendito o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor” (Jr 17,7).
Quantas pessoas vêm ao templo para orar, suplicar, entregar suas angústias e depositar, com fé inabalável, toda a sua confiança em Deus, em Jesus e na intercessão de Maria! Esse é o caminho que nos conduz à verdadeira paz e plenitude.
A ESPERANÇA NA RESSURREIÇÃO
Na segunda leitura, São Paulo nos fala de uma confiança tão profunda que transcende os limites da nossa existência. É a certeza de que seremos ressuscitados por Cristo e de que nossa vida não termina, ela se transforma!
A realidade do “mundo da Ressurreição” pode ser difícil de compreender, mas está fundamentada na fé em um amor eterno e inabalável, um amor que não conhece barreiras e que triunfa sobre a morte. Como nos ensina a Escritura: “Se Cristo não ressuscitou, a vossa fé é vã e ainda estais em vossos pecados” (1Cor 15,17).
Que essa verdade ilumine nosso caminho e nos inspire a viver com esperança, confiando plenamente no poder da ressurreição e no amor infinito de Deus!

AS BEM-AVENTURANÇAS DE JESUS
No Evangelho de São Lucas, Jesus nos apresenta uma versão profunda e transformadora das bem-aventuranças: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, expulsarem, insultarem e proscreverem vosso nome como infame, por causa do Filho do Homem” (Lc 6,20-22). Estas palavras não são apenas um consolo, mas um chamado à esperança ativa, uma promessa de que o sofrimento presente não é o fim, mas um caminho para a alegria eterna.
Jesus dirige seu olhar compassivo aos pobres, famintos, afligidos e perseguidos, revelando que, em sua fragilidade, eles são portadores de uma bem-aventurança que transcende as aparências. Seu sofrimento não é definitivo, pois o Reino de Deus já está entre nós e se manifestará plenamente no futuro. Contudo, Ele também nos alerta: “Ai de vós, ricos, porque já tendes a vossa consolação! Ai de vós, que agora estais fartos, porque tereis fome” (Lc 6,24-25). Aos que se apoiam na segurança passageira das riquezas materiais, Jesus adverte sobre o perigo de perderem a verdadeira confiança em Deus, fonte de toda alegria e plenitude.
Neste VI Domingo do Tempo Comum (Ano C), somos convidados a refletir sobre o contraste entre os valores do mundo e os do Reino. Em um tempo marcado pela busca incessante por riquezas, status e segurança material, Jesus nos chama a olhar para os que sofrem com os olhos da fé, reconhecendo neles a presença do Reino. Suas palavras nos inspiram a viver com o coração desapegado, confiando que a verdadeira riqueza está em Deus, que acolhe os humildes e transforma a dor em esperança.
Que esta mensagem ilumine nossos dias, nos lembrando de que a felicidade não está na acumulação de bens, mas na confiança plena no amor do Pai, que nunca abandona os que n’Ele esperam. Que possamos, como discípulos de Cristo, ser testemunhas de um Reino que já começa aqui, na simplicidade do serviço e na solidariedade com os mais frágeis.
CONCLUSÃO
A mensagem deste domingo nos convida a refletir sobre a verdadeira confiança, tema presente nas leituras de hoje. O profeta Jeremias alerta contra a ilusão de confiar nas forças humanas desconectadas de Deus, que levam à aridez da alma. Ele proclama que a verdadeira confiança está em Deus, fonte de força e esperança. São Paulo nos ensina que nossa confiança deve transcender esta vida, fundamentada na certeza da ressurreição em Cristo, que nos transforma e nos dá a vida eterna. No Evangelho, Jesus nos apresenta as bem-aventuranças, mostrando que os pobres, famintos e perseguidos são bem-aventurados, pois o sofrimento não é o fim, mas o caminho para a alegria eterna. Ele nos adverte sobre o perigo de confiar nas riquezas passageiras, que nos afastam da verdadeira plenitude. Somos chamados a viver com um coração desapegado, confiando em Deus, que acolhe os humildes e transforma a dor em esperança. Que esta reflexão ilumine nosso caminhar, lembrando-nos de que a verdadeira riqueza está no amor do Pai.
ORAÇÃO
Senhor, ensina-nos a confiar no Teu amor, não nas riquezas passageiras. Como diz ‘Bem-aventurados os pobres’ (Lucas 6,20), ajuda-nos a encontrar felicidade na simplicidade. Guia-nos a ser justos, protegidos por Ti, como promete o Salmo: ‘o Senhor protege o caminho dos justos’ (Salmo 1,6). Fortalece-nos para levar esperança aos pobres e aflitos, construindo um mundo de fé e amor. Em Jesus, AMÉM.
Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU
Este artigo foi produzido com a assistência de ferramentas de inteligência artificial.