
No quinto domingo da Páscoa, a liturgia não nos fala apenas de uma memória distante, mas de um chamado urgente, uma missão que ecoa através dos séculos. A comunidade que nasce de Jesus não é um acidente da história, nem um simples agrupamento de fiéis. Ela é, antes de tudo, um sinal vivo do amor de Deus – um amor que não se contenta com palavras, mas que se faz carne, gesto, presença.
O Evangelho (Jo 13,31-33a.34-35) leva-nos à sala onde Jesus está cercado por seus discípulos, Ele sabia que a traição e a cruz se aproximam. E, no entanto, sua última mensagem não é de medo, mas de um mandamento que é, ao mesmo tempo, um dom: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.“ Estas palavras não são uma sugestão piedosa, mas o resumo de tudo o que Ele foi e fez. Cada cura, cada perdão, cada momento em que Jesus se inclinou sobre os pequenos e os excluídos – tudo isso está contido nesse amor que agora nos é confiado.
Mas como vivemos esse amor hoje? A Primeira Leitura (At 14,21b-27) nos apresenta as primeiras comunidades cristãs, frágeis e ao mesmo tempo cheias de fogo. Elas não eram perfeitas – Paulo e Barnabé enfrentaram divisões, perseguições, dúvidas. Mas eram sal e luz, não por mérito próprio, mas porque o amor de Cristo as transformara. Ser sal significa não se dissolver na mediocridade do mundo, mas dar sabor à vida com gestos de bondade que fazem diferença. Ser luz é recusar-se a esconder a esperança, mesmo quando as trevas parecem vencer.
E para onde caminhamos com esse amor? A Segunda Leitura (Ap 21,1-5a) nos lembra que o céu não é um lugar distante, mas um encontro. “A morada de Deus com os homens”—eis a promessa final. Não se trata de fugir do mundo, mas de transformá-lo a partir do amor, até que, no fim, Deus enxugue toda lágrima e faça novas todas as coisas.
E nós? Somos herdeiros desse mesmo mandamento. Não basta admirar Jesus de longe; somos chamados a amar como Ele amou—sem medidas, sem barreiras, até os que nos ferem, até os que o mundo rejeita. Esse amor não é romântico; é revolucionário. Ele desarma ódios, derruba muros e, mesmo na escuridão, acende uma luz que o mundo não pode apagar.
Que nossas comunidades não sejam apenas edifícios, mas casas onde o amor de Deus respira. E que cada um de nós, ao partir o pão da vida, lembre-se: o céu começa aqui, no modo como amamos.
Leituras
Com corações transbordantes, voltaram à comunidade e ‘contaram tudo o que Deus fizera por meio deles’ – porque a fé não se cala, mas celebra, em meio ao mundo, os milagres que ainda hoje florescem nas mãos dos que se deixam guiar por Ele.
eles os exortavam a permanecerem firmes na fé, dizendo-lhes:
para entrar no Reino de Deus”.
Com orações e jejuns, eles os confiavam ao Senhor,
em quem haviam acreditado.
para o trabalho que haviam realizado.
e como havia aberto a porta da fé para os pagãos.
Palavra do Senhor.
Com júbilo que ecoa além do tempo, ‘Bendirei o vosso nome, ó meu Deus, meu Senhor e meu Rei para sempre’- pois mesmo nas sombras, Seu amor permanece, convocando-nos a viver em louvor que transforma o hoje em eternidade.
R. Bendirei o vosso nome, ó meu Deus,
meu Senhor e meu Rei para sempre.
10 Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem, *
e os vossos santos com louvores vos bendigam!
11 Narrem a glória e o esplendor do vosso reino *
e saibam proclamar vosso poder! R.
12 Para espalhar vossos prodígios entre os homens *
e o fulgor de vosso reino esplendoroso.
13a O vosso reino é um reino para sempre, *
b vosso poder, de geração em geração. R.
Entre dores e esperanças, ‘Deus enxugará toda lágrima dos seus olhos‘ – pois no fim da história, o Amor triunfará, transformando nossa angústia em abraço eterno, onde nenhum sofrimento terá a última palavra.
e o mar já não existe.
vestida qual esposa enfeitada para o seu marido.
“Esta é a morada de Deus entre os homens.
Deus vai morar no meio deles.
Eles serão o seu povo,
e o próprio Deus estará com eles.
e não haverá mais luto, nem choro, nem dor,
porque passou o que havia antes”.
Depois, ele me disse:
Palavra do Senhor.
No crepúsculo de sua jornada, Jesus nos entrega não uma regra, mas um legado: ‘Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros‘- chamado radical que transforma relações comuns em sinais vivos do Reino entre nós.
“Agora foi glorificado o Filho do Homem,
e Deus foi glorificado nele.
e o glorificará logo.
Como eu vos amei,
assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.
Palavra da Salvação.
Homilia
A IGREJA QUE JESUS SONHOU!

Hoje, formamos a Igreja com quase dois bilhões de pessoas em todo o mundo. E diante desse imenso corpo de fiéis, surge a pergunta: Quem somos realmente? Somos uma Igreja em missão ou apenas uma organização de serviços religiosos? Somos um organismo vivo ou apenas uma estrutura institucional? Somos a nova Jerusalém ou, infelizmente, nos assemelhamos mais à antiga Jerusalém, marcada por rivalidades, invejas e tensões?
A Igreja que Jesus sonhou possui três características essenciais: é uma Igreja missionária, é a morada de Deus entre os homens, e é a casa do amor fraterno.
Dividirei esta reflexão em três partes:
- A Igreja que Jesus Sonhou
- Igreja em Missão
- “Nova Jerusalém”
Que esta jornada seja um convite à contemplação. Que possamos não apenas ouvir, mas sentir o chamado de Cristo para sermos Igreja viva, missionária, acolhedora e transbordante de amor. Que cada um de nós seja um tijolo espiritual na construção dessa Nova Jerusalém, onde Deus habita e o amor reina.
A IGREJA QUE JESUS SONHOU
Estamos vivendo o tempo pascal, o tempo da Ressurreição. Nestes dias, celebramos o poder sem limites de Deus. Tudo é possível para Ele! Em Seu Espírito, o Pai manifesta uma energia que tem o poder de transformar todas as coisas.
Jesus ressuscitou como primícias, mas após Ele, ressuscitará também o Seu Corpo, a Igreja. Assim, a Igreja poderá se tornar aquela Nova Jerusalém, a casa do Amor e da Missão, a mesma que Jesus sonhou enquanto caminhava fisicamente entre nós.
Que este tempo Pascal seja um convite para renovarmos nossa fé no poder transformador de Deus. Que possamos reconstruir a Igreja em nós e através de nós, permitindo que ela se torne verdadeiramente a morada do amor fraterno e do envio missionário, tal como o Senhor idealizou.
IGREJA EM MISSÃO
A Igreja que Jesus sonhou é excêntrica – no sentido mais profundo da palavra. Ela nasceu para sair ao encontro do mundo, para evangelizar todas as nações e etnias, para batizar em nome da Santíssima Trindade. A missão não é um acessório temporário, uma atividade esporádica. A MISSÃO É A ESSÊNCIA DA NOSSA IDENTIDADE CRISTÃ.
Fomos batizados para ser “sal da terra” e “luz do mundo” (Mateus 5,13-14). Não fomos chamados para permanecer fechados em nossas igrejas e comunidades, mas para sermos Igreja em saída, uma Igreja que se lança ao mundo para transformar e ser transformada.
Paulo e Barnabé, esses dois apóstolos – criativos, ousados e apaixonados – encarnaram de forma única o espírito missionário da Igreja. A comunidade de Antioquia, desde o início, foi uma comunidade profética, marcada por uma identidade profundamente missionária.
Antioquia era uma Igreja excêntrica, centrífuga, em missão permanente. Tudo ali nascia na oração, no diálogo comunitário. A comunidade enviava seus mensageiros para anunciar o Reino de Deus. Não era Paulo, nem Barnabé que enviavam a Igreja. Era a Igreja que enviava Paulo e Barnabé.
Hoje, nossas atividades pastorais devem redescobrir essa mística missionária. Sem missão, não há Igreja, apenas um grupo de pessoas desempenhando tarefas que elas mesmas definiram. É urgente, portanto, reviver em nossas comunidades a experiência profética e missionária da Igreja de Antioquia.
Essa é a marca da verdadeira Igreja em saída!
“NOVA JERUSALÉM”
A antiga Jerusalém é marcada por um passado de violência e por estruturas que se desgastaram com o tempo. Já a Nova Jerusalém, que desce do céu, representa a novidade de Deus, que transforma todas as coisas.
Essa Nova Jerusalém não é apenas uma promessa futura. Ela já se manifesta misteriosa e sacramentalmente na vida daqueles que Deus escolhe como testemunhas. Essas testemunhas vivem as realidades eclesiais com um coração transformado, rompendo com estilos de poder, tradições mortas e valores ultrapassados.
Dessa forma, a Nova Jerusalém se revela como o Corpo Ressuscitado de Cristo, pulsando com a vida nova que Ele nos oferece. E diante dessa realidade, somos convidados a refletir profundamente: A qual Igreja estou servindo? À antiga Jerusalém, presa às suas estruturas e rivalidades? Ou à Nova Jerusalém, que encarna o amor, a paz e a missão?
“Eis que faço novas todas as coisas.” Apocalipse 21,5
Que esta Páscoa seja o tempo de abrir nossos corações para essa transformação. Que a Nova Jerusalém encontre morada em nós, em nossas comunidades, em nossas ações, para que o mundo veja e creia no poder da Ressurreição.
CONCLUSÃO: A CASA DO AMOR FRATERNAL
O amor fraterno é a marca essencial, o selo autêntico da Igreja que Jesus sonhou. Sem esse amor, a comunidade perde sua unidade, seu propósito, tornando-se algo distante daquilo que Cristo desejou para nós.
Jesus nos chama a amar como Ele amou, a superar divisões, a abrir nossos corações a todos, sem distinção. Esse amor é o caminho que nos permite antecipar a Nova Jerusalém, colaborando com o Espírito Santo na transformação do mundo.
Quando vivemos o amor fraterno, não apenas manifestamos o Reino de Deus, mas experimentamos a própria vida que une e harmoniza, como Jesus nos ensinou:
“Assim como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.” João 13,34-35
Que este tempo pascal seja um convite à conversão do coração, para que cada um de nós seja um sinal vivo do amor de Cristo, testemunhando que a Nova Jerusalém já começa aqui, na comunhão entre os irmãos, no serviço ao próximo e na unidade que nos faz verdadeiramente Igreja.
Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU
Este artigo foi produzido com a assistência de ferramentas de inteligência artificial.