Na jornada espiritual que é a Páscoa, o quinto Domingo irradia uma luminosidade singular, convidando-nos a mergulhar nas profundezas da autenticidade da Vida. Sob a égide de Jesus, fonte inesgotável da essência da existência, somos convocados a nos unir a Ele, a nos saciar de Sua plenitude e a testemunhar, através de gestos impregnados de amor, a resplandecente novidade divina que permeia nosso mundo e toca a alma dos homens.
No Evangelho (Jo 15,1-8), num momento de despedida que transcende o tempo, Jesus se revela como a verdadeira VIDEIRA, e nós, os discípulos, os ramos que dela brotam. Nele encontramos a promessa de Vida em abundância, frutificando os desejos mais profundos do coração divino. Unidos a Ele, nossa existência se torna testemunho vivo, uma canção entoada na sinfonia dos tempos, proclamando a Vida nova de Deus aos quatro cantos da terra.
Na Primeira Leitura (At 9,26-31), somos levados a contemplar a jornada de Paulo de Tarso na comunidade de Jerusalém, lembrando-nos que a experiência cristã é tecida nos fios da comunhão. É no calor do diálogo e na partilha fraterna que nossa fé encontra solo fértil, onde brota, cresce e floresce. A comunidade cristã, portanto, é uma casa acolhedora, com suas portas sempre abertas, onde cada alma encontra seu lugar e, de mãos dadas com os irmãos, vive o encontro transformador com o Cristo ressuscitado.
A Segunda Leitura (1Jo 3,18-24) ressoa a melodia da autenticidade cristã, cujo alicerce repousa no crer em Jesus e no amar como Ele nos amou. Estes são os frutos que o Pai Celestial anseia colher da árvore da vida que somos chamados a ser. Quando traduzimos o amor de Jesus em gestos tangíveis, nós nos tornamos um só com Ele, e Sua vida flui em nós, irrigando os desertos do mundo com a água viva da graça e do amor divino.
LEITURAS
Ele descreveu-lhes o encontro com o Senhor durante sua jornada, quando a luz celeste o abraçou em uma revelação transcendental.
Mas todos tinham medo dele,
pois não acreditavam que ele fosse discípulo.
e contou-lhes como Saulo tinha visto o Senhor no caminho,
e como Saulo havia pregado,
e daí o mandaram para Tarso.
Ela consolidava-se e progredia no temor do Senhor
e crescia em número com a ajuda do Espírito Santo.
Palavra do Senhor.
Senhor, és a minha canção entoada diante da vasta congregação, a melodia que ecoa em cada coração unido na busca da verdadeira essência da vida.
R. Senhor, sois meu louvor em meio à grande assembleia!
“Seus corações tenham a vida para sempre!” R.
28 Lembrem-se disso os confins de toda a terra,*
para que voltem ao Senhor e se convertam,
e se prostrem, adorando, diante dele *
todos os povos e as famílias das nações.
30 Somente a ele adorarão os poderosos, *
e os que voltam para o pó o louvarão. R.
“Eis a obra que o Senhor realizou!” R.
Crer em Deus e amar ao próximo são os pilares da nossa fé e caminho espiritual. Este mandamento nos orienta a buscar a essência da vida e a construir relações profundas e compassivas. Que ele ecoe em nossos corações, nos impulsionando a viver em harmonia com o divino e com nossos semelhantes.
e conhece todas as coisas.
e fazemos o que é do seu agrado.
e nos amemos uns aos outros,
de acordo com o mandamento que ele nos deu.
Que ele permanece conosco,
sabemo-lo pelo Espírito que ele nos deu.
Palavra do Senhor.
Aquele que se mantiver em íntima comunhão Comigo, e Eu nele, florescerá abundantemente, frutificando em profusão.
e todo ramo que dá fruto,
ele o limpa, para que dê mais fruto ainda.
Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo,
se não permanecer na videira,
assim também vós não podereis dar fruto,
se não permanecerdes em mim.
Aquele que permaneceu em mim, e eu nele,
esse produz muito fruto;
porque sem mim nada podeis fazer.
Tais ramos são recolhidos,
lançados no fogo e queimados.
pedi o que quiserdes
e vos será dado.
e vos torneis meus discípulos.
Palavra da Salvação.
Reflexão
AS TRÊS PRESENÇAS... dar muito fruto
‘Diante do fracasso, diante da ineficácia das iniciativas, diante do avanço imperturbável da vida, muitos de nós nos perguntamos: “tantas preocupações, tanto esforço, tanto empenho! Para quê?” A limitação humana é tão marcante que raramente nos sentimos satisfeitos com os resultados de nossas ações.
A vida muitas vezes nos coloca diante de desafios e obstáculos que parecem insuperáveis. Diante dessas situações, é comum questionarmos o propósito de nossos esforços. Porém, é importante lembrar que o caminho do crescimento e da realização nem sempre é linear.
Esta reflexão será dividida em três partes:
- O zelo infrutífero do recém-convertido – Muitas vezes, ao iniciarmos uma nova jornada ou nos dedicarmos a uma causa, esperamos resultados imediatos. No entanto, o processo de transformação e aprendizado pode ser lento e requer perseverança.
- Enxertado na videira, produz abundantes frutos – Assim como uma videira que precisa ser podada e cuidada para dar bons frutos, nós também precisamos nos conectar com fontes de sabedoria e nutrição espiritual para alcançarmos nosso potencial máximo.
- As três presenças – Nossa jornada é marcada pela presença de Jesus, na Eucaristia, na comunidade eclesial e na Missão. Ao reconhecermos e valorizarmos essas presenças, encontramos significado e propósito em nossas vidas, mesmo diante das dificuldades.
Portanto, mesmo diante das adversidades, não devemos desanimar. Cada desafio é uma oportunidade de crescimento e amadurecimento, e cada esforço dedicado contribui para a construção de um caminho mais significativo e pleno de realizações.
O ZELO INFRUTÍFERO DO RECÉM-CONVERTIDO
A primeira leitura dos Atos dos Apóstolos nos apresenta um recém-convertido, Paulo de Tarso, que despertava suspeitas na comunidade cristã primitiva. O cardeal Carlo Martini comentou este texto aproximadamente como: o recém-convertido, Paulo de Tarso, chegou a Jerusalém transbordando de entusiasmo, zelo e novas ideias. Os irmãos da comunidade cristã o receberam cautelosamente, desconfiados. Foi necessário que Barnabé interviesse, com sua autoridade moral, defendendo Paulo, pois via nele um “instrumento escolhido por Deus”. Então, deram carta branca a Paulo para que anunciasse Jesus. Porém, ele o fazia com tanta paixão e fervor que irritava os judeus e não os convertia. Paulo tornou-se um problema, não uma solução. Decidiram enviá-lo de volta a Tarso para salvar sua vida. Como resultado, o autor dos Atos acrescenta: “… e a Igreja desfrutava de paz”. Paulo ainda precisava de um tempo de quarentena para amadurecer interiormente e se tornar crível. Assim, ele passou vários anos. Com o passar do tempo, Barnabé o recuperou para a missão. Paulo era outro! O que havia acontecido?
- Esse relato nos convida a refletir sobre o processo de transformação pessoal e espiritual. Paulo, inicialmente cheio de fervor e entusiasmo, precisou passar por um período de amadurecimento e reflexão antes de se tornar eficaz em sua missão. Sua história nos lembra que a jornada de crescimento nem sempre é rápida ou linear. Às vezes, é necessário enfrentar desafios e obstáculos, aprender com os erros e crescer com as experiências.
- A história de Paulo também destaca a importância do apoio da comunidade e de mentores como Barnabé, que reconheceram seu potencial mesmo quando outros duvidavam dele. Isso ressalta a necessidade de compreensão, paciência e apoio mútuo dentro das comunidades religiosas e além delas.
Portanto, essa narrativa nos convida a considerar nossas próprias jornadas de transformação e a entender que o crescimento espiritual muitas vezes requer tempo, paciência e persistência.
ENXERTADO NA VIDEIRA, PRODUZ ABUNDANTES FRUTOS
O Evangelho nos traz uma metáfora poderosa: a necessidade de estar “enxertado na videira para poder dar fruto, e fruto abundante”. Nessa metáfora, Jesus é representado como a videira, a fonte da vida e da capacidade de produzir frutos. Sem estarmos conectados a Ele, somos como ramos secos, destinados ao fogo. Quando Jesus nos disse que Ele era a Ressurreição e a Vida, estava nos convencendo de que a comunhão com Ele é vital.
Essa passagem nos leva a refletir sobre o verdadeiro significado do ser cristão. Não é apenas sobre realizar determinados rituais ou cumprir obrigações religiosas, mas sim sobre cultivar uma conexão viva e profunda com Jesus. Ele é a fonte de nossa vitalidade espiritual, a raiz que nos sustenta e nos capacita a crescer e dar frutos em abundância.
Ao nos conectarmos com Jesus, encontramos sentido e propósito em nossas vidas. Ele nos inspira a amar e servir ao próximo, a buscar a justiça e a paz, e a viver de acordo com os valores do Reino de Deus. Sem essa conexão vital, nossos esforços são vazios e infrutíferos.
Portanto, ser cristão não se resume a seguir regras ou realizar práticas religiosas, mas sim a cultivar um relacionamento íntimo com Jesus, deixando que Sua vida flua em nós e através de nós. Ele é a fonte de nossa esperança, nossa força e nossa alegria, e somente Nele encontramos plenitude e realização verdadeira.
AS TRÊS PRESENÇAS
O evangelho de hoje e a segunda leitura nos falam das três presenças de Jesus: Sua presença na Eucaristia, na comunidade eclesial e na Missão. Jesus está presente no pão e no vinho eucarísticos; está presente na Palavra de Deus proclamada; está presente na comunidade cristã e nos mais pobres e necessitados. Encontramos Jesus nessas três presenças.
Nos conectamos verdadeiramente à Videira quando acolhemos Jesus nessas três presenças:
- Sem mim, nada podeis fazer – Essas palavras representam um desafio genuíno, nos levando a questionar: QUEM ÉS TU? E Jesus pode nos responder como fez a Paulo: “SOU JESUS, A QUEM PERSEGUES”. Isso ocorre quando não amamos Seu Corpo, que é a Igreja.
- QUEM ÉS TU? E Ele pode nos responder, como no Juízo Final: “Tive fome e não me destes de comer, estive enfermo e na prisão e não me visitastes”.
- QUEM ÉS TU? E Ele pode nos responder, como após a multiplicação dos pães: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós”.
A acolhida das Três Presenças faz com que tudo floresça e frutifique em nós. Jesus é a Vida que vivifica todas as dimensões que nos compõem: a dimensão mística, a dimensão comunitária, a dimensão social-política.
Que o Santo Espírito nos conduza à ecologia da Presença total e à espiritualidade completa. Jesus, que nunca nos separemos de Ti. Que Te encontremos através das três presenças pelas quais vens a nós. Não permitas que nos desconectemos para viver apenas com nossas próprias forças. Tu operas maravilhas em nós e através de nós. Somos Tua manifestação física, os ramos da Tua videira. O QUE SERIA UMA IGREJA SEM TI? QUE SEJAS TU, e não outro, quem habite verdadeiramente em tua Igreja.
CONCLUSÃO
Clamamos pelo Espírito Santo, implorando Sua orientação nessa ecologia da Presença plena, buscando viver uma espiritualidade que permeie todas as esferas de nossa existência.
Que nunca nos desviemos de Ti, Senhor. Que sempre Te encontremos nas três manifestações pelas quais vens a nós, e que jamais permitas que nos desconectemos, confiando apenas em nossas próprias forças. Pois és Tu quem opera maravilhas em nós e através de nós, visto que somos Tua manifestação física, os ramos da Tua videira.
Neste texto, somos convidados a mergulhar em uma espiritualidade que transcende o mundano, guiados pela presença constante do Espírito Santo. É um apelo para que permaneçamos conectados à fonte da vida espiritual, reconhecendo as múltiplas formas pelas quais Deus se revela a nós. E, ao fazê-lo, reconhecemos que somos instrumentos do divino, capacitados a manifestar Sua graça e amor no mundo ao nosso redor.
Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES, CMF
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU