SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS (ANO B)

A PALAVRA

A Solenidade de Todos os Santos nos convida a olhar além do visível e a contemplar o mistério da vida que brota silenciosa, mesmo nas sombras do túmulo. É um chamado à esperança, a compreender que a vitória de Jesus sobre a morte não foi apenas para Ele, mas também para os Seus amigos, para os santos que caminharam com fé antes de nós e para todos nós, Seus discípulos amados. Assim, abrimos o coração às promessas de ressurreição e à vida eterna, que já ecoam nas nossas almas.

Na visão de São João (Ap 7,2-4.9-14), vemos em sua glória indescritível, uma multidão que ninguém pode contar, de todas as nações, línguas e povos. Esse povo, ao qual pertencemos, carrega consigo a promessa de vida eterna, lavada no sangue do Cordeiro. É uma imagem de pureza e triunfo, que nos inspira a caminhar com firmeza na fé, rumo à plenitude da comunhão com Deus.

O Salmo (Sl 23(24),1-2.3-4ab.5-6 (R. cf. 6)) de hoje eleva o nosso olhar ao Templo do Senhor, onde somos convidados a entrar com mãos puras e coração sincero. Ele nos recorda que a pureza do coração não é um obstáculo, mas a condição para vermos a Deus. Como o povo que marcha ao encontro do Deus Santo, trazemos em nossos passos o desejo de contemplar Sua face, de partilhar da Sua santidade.

A Primeira Carta de São João (1Jo 3,1-3) nos recorda de nossa identidade divina: somos filhos de Deus, escolhidos e amados desde o batismo, com o selo da eternidade impresso em nosso ser. E como filhos, aguardamos com confiança o dia em que, purificados, nos revelaremos como Ele é, na visão da glória.

No Evangelho (Mt 5,1-12a), as bem-aventuranças revelam o destino dos amigos de Deus: para eles, o Reino dos Céus é já uma realidade em germinação. Felizes são os pobres de espírito, os misericordiosos, os que promovem a paz – cada um dos que, vivendo na simplicidade, na bondade e na justiça, testemunha o amor de Deus no mundo. Para esses, Deus reserva a alegria que não passa, o consolo eterno e a felicidade que só Ele pode dar.

Que esta celebração desperte em nós o desejo profundo de santidade e a coragem para seguirmos o caminho dos santos, certos de que o Pai nos aguarda de braços abertos na eternidade. Somos todos chamados à comunhão, à alegria que transborda, à vida que jamais se extingue. Sob o manto dos santos, ergamos nossos corações a Deus e deixemo-nos envolver pela esperança que nos conduz ao seu Reino eterno.

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

Contemplei uma multidão incontável de todas as nações, tribos, povos e línguas, unidos em uma só voz e em uma só esperança — uma visão que ecoa até nossos dias, lembrando-nos de que, apesar das diferenças, somos todos chamados a viver na luz da paz e do amor, rumo ao abraço eterno de Deus.

Eu, João,
2 vi um outro anjo,
que subia do lado onde nasce o sol.
Ele trazia a marca do Deus vivo
e gritava, em alta voz,
aos quatro anjos que tinham recebido o poder
de danificar a terra e o mar,
dizendo-lhes:
3 “Não façais mal à terra, nem ao mar nem às arvores,
até que tenhamos marcado na fronte
os servos do nosso Deus”.
4 Ouvi então o número dos que tinham sido marcados:
eram cento e quarenta e quatro mil,
de todas as tribos dos filhos de Israel.
9 Depois disso, vi uma multidão imensa
de gente de todas as nações,
tribos, povos e línguas,
e que ninguém podia contar.
Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro;
trajavam vestes brancas
e traziam palmas na mão.
10 Todos proclamavam com voz forte:
“A salvação pertence ao nosso Deus,
que está sentado no trono, e ao Cordeiro”.
11 Todos os anjos estavam de pé, em volta do trono
e dos Anciãos e dos quatro Seres vivos e prostravam-se,
com o rosto por terra, diante do trono.
E adoravam a Deus, dizendo:
12 “Amém. O louvor, a glória e a sabedoria,
a ação de graças, a honra, o poder e a força
pertencem ao nosso Deus para sempre.
Amém”
13 E um dos Anciãos falou comigo e perguntou:
“Quem são esses vestidos com roupas brancas?
De onde vieram?”
14 Eu respondi:
“Tu é que sabes, meu senhor”.
E então ele me disse:
“Esses são os que vieram da grande tribulação.
Lavaram e alvejaram as suas roupas
no sangue do Cordeiro”.
Palavra do Senhor.

Esta é a geração dos que buscam o Senhor, dos que anseiam por Sua presença e trilham o caminho com mãos limpas e corações puros — chamados a encontrar a face de Deus e a refletir Sua luz no mundo.

R. É assim a geração dos que procuram o Senhor!

1 Ao Senhor pertence a terra e o que ela encerra, *
o mundo inteiro com os seres que o povoam;
2 porque ele a tornou firme sobre os mares, *
e sobre as águas a mantém inabalável. R.

3 “Quem subirá até o monte do Senhor, *
quem ficará em sua santa habitação?”
4a “Quem tem mãos puras e inocente coração, *
4b quem não dirige sua mente para o crime. R.

5 Sobre este desce a bênção do Senhor *
e a recompensa de seu Deus e Salvador”.
6 “É assim a geração dos que o procuram, *
e do Deus de Israel buscam a face”. R.

Um dia, contemplaremos Deus tal como Ele é, e essa esperança nos convida, desde já, a viver na luz e na pureza, caminhando como filhos amados que anseiam pelo abraço eterno do Pai.

Caríssimos,
1 vede que grande presente de amor o Pai nos deu:
de sermos chamados filhos de Deus!
E nós o somos!
Se o mundo não nos conhece,
é porque não conheceu o Pai.
2 Caríssimos, desde já somos filhos de Deus,
mas nem sequer se manifestou o que seremos!
Sabemos que,
quando Jesus se manifestar,
seremos semelhantes a ele,
porque o veremos tal como ele é.
3 Todo o que espera nele,
purifica-se a si mesmo,
como também ele é puro.
Palavra do Senhor.

Um dia, contemplaremos Deus tal como Ele é, e essa esperança nos convida, desde já, a viver na luz e na pureza, caminhando como filhos amados que anseiam pelo abraço eterno do Pai.

Naquele tempo,
1 vendo Jesus as multidões, 
subiu ao monte e sentou-se.
Os discípulos aproximaram-se,
2 e Jesus começou a ensiná-los:
3 “Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o Reino dos Céus.
4 Bem-aventurados os aflitos,
porque serão consolados.
5 Bem-aventurados os mansos,
porque possuirão a terra.
6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados.
7 Bem-aventurados os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia.
8 Bem-aventurados os puros de coração,
porque verão a Deus.
9 Bem-aventurados os que promovem a paz,
porque serão chamados filhos de Deus.
10 Bem-aventurados os que são perseguidos
por causa da justiça,
porque deles é o Reino dos Céus.
11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem
e perseguirem, e mentindo,
disserem todo tipo de mal contra vós, 
por causa de mim.
12 Alegrai-vos e exultai,
porque será grande a vossa recompensa nos céus”.
Palavra da Salvação.

Reflexão

SANTOS DA PORTA AO LADO?

Hoje em dia, é comum ouvirmos falar dos “santos da porta ao lado”. São aquelas pessoas que, no silêncio das suas rotinas diárias, permanecem fiéis a sua amizade com Deus, cultivando esta fidelidade em meio às pequenas tarefas cotidianas. São essas pessoas – muitas vezes mães – que, em meio à vida comum, saem para as compras, preparam as refeições e aguardam pacientemente o retorno dos filhos enquanto deslizam as contas do Rosário entre os dedos. Elas parecem diferentes daquela grande multidão gloriosa mencionada nas Escrituras, dos santos que “vieram da grande tribulação“, ou dos bem-aventurados que foram pobres, perseguidos, misericordiosos, e que lutaram pela justiça.

Mas será que as grandes e pequenas tribulações não têm algo em comum? Em muitos casos, são as pequenas que mais pesam, que exigem mais da alma, porque não trazem nenhum brilho, nenhum reconhecimento aparente. Esse martírio silencioso, vivido gota a gota, também contribui para lavar  a nossa túnica no Sangue do Cordeiro. Aquela multidão incontável, mencionada no livro do Apocalipse, composta por 144.000 (um número simbólico das tribos de Israel que sustentam o povo de Deus), marcha diariamente entre nós. Podemos cruzar com esses santos no caminho ou senti-los caminhando em nossa própria alma, mas muitas vezes não os reconhecemos. Eles são aqueles que ecoam as palavras de São João: “Vede o amor que Deus nos concedeu ao nos chamar de filhos! E realmente o somos!

Quer sejamos vizinhos anônimos, aqueles santos discretos da porta ao lado, ou parte da heroica marcha dos mártires que enfrentaram perseguições cruéis, o chamado à santidade é para todos. Ele pode surgir no derramamento de sangue invisível e cotidiano ou em atos heróicos diante de provas que parecem insuperáveis.

Hoje, celebramos, sobretudo, a santidade de Deus, que nos consagra e nos acolhe como seus filhos. Celebramos o sangue do Cordeiro que, através do nosso batismo, lava e purifica a nossa túnica, e que nos chama, repetidas vezes, em cada tribulação – grande ou pequena – a seguir lavando-a.

Que essa Solenidade de Todos os Santos, então, nos inspire a reconhecer a grandeza de Deus não apenas nos grandes mártires e nos feitos heroicos, mas também naqueles que silenciosamente transformam o ordinário em extraordinário, que santificam o mundo ao seu redor com pequenas fidelidades e amor sem medida. Pois a santidade é feita tanto de grandes atos quanto de gestos pequenos e constantes de devoção e amor.

ORAÇÃO

Senhor, Deus de infinita bondade, hoje celebramos todos os santos e santas, aqueles que, em sua simplicidade e amor, responderam ao Teu chamado, vivendo as bem-aventuranças que Jesus nos ensinou.

Faze-nos bem-aventurados, ó Pai! Que sejamos pobres de espírito, reconhecendo em Ti a nossa verdadeira riqueza. Concede-nos um coração humilde e generoso, disposto a partilhar o que somos e temos, levando alívio e esperança a quem mais precisa.

Que possamos chorar com os que choram, oferecendo compaixão e ombro amigo. Que nossa sede de justiça nunca se apague, mas seja força para trabalharmos por um mundo mais fraterno, onde todos encontrem dignidade e paz.

Dá-nos, Senhor, a graça de sermos puros de coração, para que, em tudo o que fazemos, reflitamos a Tua presença viva em nós. E que, como construtores da paz, tenhamos coragem para plantar o Teu amor onde houver discórdia, e Tua luz onde houver escuridão.

Neste domingo, unidos aos santos que estão contigo, rogamos a Tua bênção. Que nossas vidas se tornem um reflexo de Teu amor para o mundo, uma resposta às bem-aventuranças que nos guiam ao Teu Reino.
Amém.

Texto: Cármen Aguinaco
Fonte: Ciudad Redonda