No XXXIV Domingo do Tempo Comum, celebramos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. As leituras deste domingo falam do Reino de Deus (esse Reino do qual Jesus é rei). Apresentam-no como uma realidade que Jesus semeou, que os discípulos são chamados a edificar na história (através do amor) e que terá seu tempo definitivo no mundo que há de vir.
A primeira leitura (Ez 34,11-12.15-17) utiliza a imagem do Bom Pastor para apresentar Deus e para definir sua relação com os homens. A imagem sublinha, por um lado, a autoridade de Deus e seu papel na condução de seu Povo pelos caminhos da história; e sublinha, por outro lado, a preocupação, o carinho, o cuidado, o amor de Deus pelo seu Povo.
O Evangelho (Mt 25,31-46) apresenta-nos, num quadro dramático, o ‘rei’ Jesus a interpelar seus discípulos acerca do amor que partilharam com os irmãos, sobretudo com os pobres, os débeis, os desprotegidos. A questão é esta: o egoísmo, o fechamento em si próprio, a indiferença para com o irmão que sofre não tem lugar no Reino de Deus. Quem insistir em conduzir a sua vida por esses critérios ficará à margem do Reino.
Na segunda leitura (1Cor 15,20-26.28), Paulo lembra aos cristãos que o fim último da caminhada do crente é a participação nesse ‘Reino de Deus’ de vida plena, para o qual Cristo nos conduz. Nesse Reino definitivo, Deus manifestar-se-á em tudo e atuará como Senhor de todas as coisas (versículo 28).
Leituras
Quanto a vós, minhas ovelhas, a promessa é de justiça. Em meio às trilhas da vida, cuidarei para que cada uma de vocês receba o devido cuidado e equidade. Como o Pastor atento, estou aqui para proteger, guiar e assegurar que nenhuma ovelha seja deixada para trás. Que a justiça floresça em nossas jornadas, unindo-nos em solidariedade e amor, para que cada passo seja iluminado pela luz da equidade e compaixão. Sigamos juntos, confiando que a justiça divina é nossa bússola constante.
e tomar conta delas.
assim vou cuidar de minhas ovelhas e vou resgatá-las
de todos os lugares em que foram dispersadas
num dia de nuvens e escuridão.
fortalecer a doente, e vigiar a ovelha gorda e forte.
Vou apascentá-las conforme o direito.
eu farei justiça entre uma ovelha e outra,
entre carneiros e bodes”.
Palavra do Senhor.
Confio no Senhor, meu pastor, que me guia e cuida de mim em todos os momentos. Com Ele, encontro segurança, plenitude e paz em minha jornada.
R. O Senhor é o pastor que me conduz;
não me falta coisa alguma.
2 Pelos prados e campinas verdejantes *
ele me leva a descansar.
Para as águas repousantes me encaminha, *
3 e restaura as minhas forças. R.
e com óleo vós ungis minha cabeça; *
o meu cálice transborda. R.
6 Felicidade e todo bem hão de seguir-me *
por toda a minha vida;
e, na casa do Senhor, habitarei *
pelos tempos infinitos. R.
A segunda leitura assegura que o destino final de nossa jornada é o REINO DE DEUS, uma realidade de plenitude e permanência, onde doença, tristeza, sofrimento, injustiça, prepotência e morte não terão lugar. É essencial ter sempre essa realidade em mente ao percorrermos nossa jornada na terra. Nossa vida presente não é um drama sem sentido; é uma jornada tranquila e confiante, mesmo quando enfrentamos sofrimento e dor, em direção a um florescer completo, à vida total que Deus reserva para nós.
depois, os que pertencem a Cristo,
por ocasião da sua vinda.
25 Pois é preciso que ele reine,
àquele que lhe submeteu todas as coisas,
para que Deus seja tudo em todos.
Palavra do Senhor.
O Reino de Deus, um novo mundo guiado pelos princípios e valores divinos, é uma semente plantada por Jesus. A missão dos discípulos é construir esse Reino na história, principalmente através do amor, que terá sua plenitude no futuro. É IMPORTANTE LEMBRAR QUE O REINO JÁ ESTÁ PRESENTE ENTRE NÓS; nossa responsabilidade é torná-lo uma realidade ativa em nosso mundo. Como cidadãos desse Reino, o amor ao próximo é essencial. Como cristãos, estamos conscientes e nos sentimos responsáveis pelos que sofrem? Demonstramos ativamente solidariedade aos desempregados, às vítimas de injustiças, aos pobres sem acesso à justiça, aos idosos com pensões insuficientes, aos solitários e aos que estão doentes ou na prisão? A construção ativa do Reino de Deus implica cuidar ativamente daqueles que mais necessitam.
então se assentará em seu trono glorioso.
assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.
Recebei como herança o Reino
desde a criação do mundo!
eu era estrangeiro e me recebestes em casa;
eu estava na prisão e fostes me visitar’.
e te demos de comer?
com sede e te demos de beber?
e sem roupa e te vestimos?
que todas as vezes que fizestes isso
a um dos menores de meus irmãos,
foi a mim que o fizestes!’
preparado para o diabo e para os seus anjos.
eu estava doente e na prisão e não fostes me visitar’.
como estrangeiro, ou nu, doente ou preso,
e não te servimos?’
todas as vezes que não fizestes isso
a um desses pequeninos,
foi a mim que não o fizestes!’
Palavra da Salvação.
Reflexão
JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO: O LÍDER SONHADO E ALTERNATIVO
Todos queremos estar ao lado do ‘rei’: os jovens ao lado de seu ‘ídolo’ musical, esportivo, tecnológico; muitas pessoas ao lado de seu ídolo político, religioso ou cinematográfico… Adoramos estar na presença do ‘rei’. A fome por um líder transforma-se em fome por um rei. Assim é o nosso mundo contemporâneo!
Hoje celebramos a festividade do nosso rei: JESUS, que morreu e ressuscitou. Seu reino não pertence a este mundo como o conhecemos, mas sua mensagem nos inspira a sonhar e ansiar por um mundo novo, repleto de amor, justiça e compaixão.
Em um tempo em que enfrentamos desafios e incertezas, a figura de Jesus como nosso líder oferece uma alternativa esperançosa. Seu exemplo de sacrifício, ressurreição e amor incondicional nos motiva a buscar uma transformação profunda em nossas vidas e na sociedade.
Que, ao celebrarmos Jesus como o Rei do Universo, possamos encontrar inspiração para construir um mundo mais solidário, onde a compaixão e a justiça prevaleçam. Que esse reino de amor e esperança, não limitado por fronteiras terrenas, se torne uma realidade em nossos corações e em nossa comunidade, guiando-nos na construção de um futuro mais promissor e alinhado com os valores do Evangelho.
Dividirei esta reflexão em três partes:
- Ansiando pelo líder perfeito.
- Cristo deve reinar.
- Ele reunirá a todos, mas também julgará.
ANSIANDO PELO LÍDER PERFEITO
Em busca do líder perfeito, o líder dos sonhos, nos deparamos com a expectativa de que esse líder seja capaz de unir, de contribuir para a formação de uma grande nação e de uma comunidade feliz. Desejamos alguém que promova um espírito comum e entusiástico em todos, alguém que transcenda as diferenças e fomente a coesão.
A primeira leitura, através do profeta Ezequiel, lança um olhar cético sobre essa possibilidade aqui na terra. Ezequiel aponta que, na realidade terrena, não existe um líder perfeito. Ninguém, absolutamente ninguém, alcança tal perfeição. Exceto Deus. Ou aquele em quem Deus se manifesta. É Deus, o Pastor supremo, o líder que reúne os dispersos, que cuida de todos sem parcialidades e julga com retidão…
Essa reflexão nos conduz à compreensão de que a perfeição em liderança talvez seja uma busca incessante, uma aspiração utópica. Porém, há uma confiança depositada em Deus como o único líder verdadeiramente perfeito, capaz de orientar, unir e cuidar sem falhas. Assim, a busca por líderes humanos perfeitos pode ser substituída por uma confiança maior na liderança divina, reconhecendo que apenas Deus é capaz de guiar de forma imparcial e justa, sem distinções ou preconceitos.
CRISTO DEVE REINAR
Na segunda leitura, a afirmação enfática de que “CRISTO DEVE REINAR” transcende não apenas o tempo em que ele viveu, mas abrange toda a história misteriosa da humanidade. A compreensão é de que a soberania de Cristo é atemporal, estendendo-se a todos os momentos históricos e governando sobre o mundo.
Hoje, Jesus também ‘reina’ como nosso ‘rei invisível’. No dia de Corpus Christi, tornamo-lo visível em nossas ruas. E ao ‘reinar’, Ele coloca seus inimigos sob Seus pés. Jesus não nos subjuga com armas violentas, mas gradualmente, porque ‘faz do amor a sua arma mais poderosa‘ e espera. Ele continuará vencendo todos os seus inimigos. O último será a morte: quando for vencida, Jesus entregará o Reino a Deus-Pai, o Abbá.
ELE REUNIRÁ A TODOS, MAS TAMBÉM JULGARÁ.
O evangelho nos apresenta a figura de Jesus sob a inspiradora imagem do FILHO DO HOMEM. Jesus, de maneira característica, gostava de se autodenominar assim, como uma espécie de carta de apresentação. Essa expressão remonta ao profeta Daniel, que, em sua profecia, referiu-se aos poderes monstruosos e bestiais que frequentemente surgem em nossa história, responsáveis por guerras, crimes, pobreza e abusos. Contudo, a mensagem profética de Daniel assegura que esses poderosos não terão a última palavra. Ele antecipou a chegada de um outro Poder, denominado ‘O FILHO DO HOMEM‘ — uma força alternativa a qualquer poder bestial.
Jesus, de forma consistente, identificou-se com essa imagem: ‘EU SOU O FILHO DO HOMEM‘, proclamava Ele, manifestando-se como o rei com um rosto humano. Este título não representa apenas uma designação, mas uma missão que vai além de coroas e tronos terrenos. Jesus é nosso rei porque nos congrega quando estamos separados e em conflito. Ele nos reúne como indivíduos e como comunidades, transcendo barreiras de gênero e etnia. O FILHO DO HOMEM emerge como nosso juiz, um juiz justo e misericordioso que compreende e acolhe a humanidade em suas diversas formas.
A singularidade de Jesus como rei se destaca ainda mais quando observamos sua identificação com os que sofrem — os famintos, sedentos, encarcerados, doentes e marginalizados. Em sua posição como juiz, Ele olha para aqueles que frequentemente são negligenciados pela sociedade e, ao fazer isso, traz um mistério profundo e transformador. Esse é um rei cujo trono está entre os últimos e esquecidos, desafiando as noções convencionais de poder e oferecendo um modelo de liderança centrado na compaixão e na justiça.
Portanto, a mensagem persiste: o FILHO DO HOMEM é não apenas um rei, mas um rei peculiar e revolucionário, cujo reinado se estabelece na empatia, na solidariedade ativa e na transformação das vidas daqueles que frequentemente são deixados à margem. Este é um chamado para reconhecer e seguir um líder cujo trono é erguido não sobre pompa e circunstância, mas sobre o alicerce firme da compaixão e do amor pelos menos favorecidos.
CONCLUSÃO
Com esta celebração de Cristo Rei do Universo, marcamos o encerramento do ano litúrgico 2022-2023, que se revelou como um curso exemplar na Academia da Palavra de Deus. Expressamos nossa gratidão ao Espírito Santo por cada uma de suas valiosas lições, reconhecendo como Ele nos guiou ao longo do caminho de Jesus, através da rica experiência espiritual de cada domingo. Agradecemos à Santíssima Trindade por nos purificar, iluminar e unir em cada encontro sacramental, preparando-nos assim para a chegada de um novo ADVENTO.
Neste período litúrgico, mergulhamos nas profundezas do ensinamento divino, absorvendo os ensinamentos espirituais que nos foram oferecidos. Cada celebração sacramental foi uma oportunidade de renovação, fortalecendo nossa conexão com a mensagem de Cristo. A sinodalidade (caminhar juntos como Povo de Deus) espiritual, tão presente a cada domingo, revelou-se como um guia fiel, conduzindo-nos na jornada da fé.
Portanto, enquanto concluímos este ano litúrgico, carregamos conosco as bênçãos e aprendizados, agradecendo pela purificação, iluminação e união que experimentamos. Olhamos para o futuro com esperança e nos preparamos para iniciar um novo Advento, renovados e inspirados pelos ensinamentos recebidos ao longo deste ano litúrgico. Que a mensagem de Cristo Rei do Universo continue a nos guiar em todos os nossos caminhos.
Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU