A família é o âmbito da socialização primária, porque é o primeiro lugar onde se aprende a relacionar-se com o outro, a escutar, suportar, ajudar, respeitar, partilhar e conviver. Ela nos faz reconhecer que vivemos juntos a outros, com outros, e que estes são dignos de nossa atenção, de nosso cuidado e saudação, de nosso amor, de nossa gentileza, e de promover o reconhecimento mútuo. Somos felizes porque nós formamos, na Paróquia Imaculado Coração de Maria, a grande família de Deus.
E neste mês de outubro de 2025, vamos nos aprofundar e conhecer um pouco da convivência familiar de seu fundador, desde o seu nascimento até o dia de sua Ordenação Sacerdotal, com narrativas, fatos e acontecimentos marcantes e históricos de Antônio Maria Claret.


Em 23 de dezembro de 1807, nasceu Antônio Claret na cidade de Sallent, comarca de Manresa, na Diocese de Vic, província de Barcelona, na Espanha. Seus pais, João Claret e Josefa Clará, eram um casal temente a Deus e devotos do Santíssimo Sacramento. Antônio Claret foi o quinto dos onze filhos do casal, sendo seis homens e cinco mulheres.
Foi batizado no dia de Natal, na Paróquia de Santa Maria, em Sallent
Ele faleceu no dia 24 de outubro de 1870, aos 62 anos de idade, na Abadia Cisterciense de Fontfroide, uma ordem religiosa situada no sul da França. Os seus restos mortais encontram-se na Igreja dos Missionários Claretianos em Vic, na Espanha.
Alguns anos depois de sua infância, por iniciativa própria, Claret acrescentou o dulcíssimo nome de Maria, porque, depois de Jesus, Ela é: “minha mãe, minha mestra, minha diretora e meu tudo”. Seu nome passou a ser Antônio Maria Claret, sempre contemplado pela providência divina.
Aos quatro anos de idade, como sua mãe estava com a saúde fragilizada, seus pais tiveram que confiar o menino Claret aos cuidados de uma mulher residente no mesmo povoado. O marido dessa mulher, proprietário da casa, resolveu ampliar a construção, e as escavações profundas acabaram por danificar os antigos alicerces. As paredes trincaram, e as fissuras foram se alargando até tudo desabar. A casa ficou totalmente destruída. A mulher que cuidava do menino e seus quatro filhos foram atingidos pelos escombros e morreram no local. Naquela noite, o menino Claret não estava com eles; se estivesse, teria tido o mesmo destino. Inspirado por seus sentimentos, ele fazia questão de narrar a terrível experiência.
Aos seis anos de idade, ocorreu outra recordação. Seus pais o matricularam numa escola bem distante de sua casa. Pascoal foi o nome de seu primeiro professor, uma pessoa inteligente, dedicada e muito religiosa. Ele recebeu grandes ensinamentos desse homem bom e sábio, assim como toda a formação necessária e fundamental para os seus primeiros passos na vida estudantil. Os bons costumes, a sabedoria dos livros e os fundamentos da religião deram-lhe o início de uma formação segura, humana e cristã. Todas as tardes, ao sair da escola acompanhado por um grupo de crianças, o professor fazia questão de que todos entrassem na igreja, que ficava bem perto dali. Recitavam o terço em louvor a Nossa Senhora, Mãe de Deus e da humanidade. Antônio Maria Claret recitava as orações e puxava o terço, o que fazia com seriedade e concentração. Teve sempre o rosário como uma devoção preciosíssima.
Em 1816, ao concluir o curso primário, o menino começou a receber aulas com um sacerdote chamado João Rieira e já demonstrava o desejo de ser padre. Nunca faltava às missas dominicais, sempre acompanhado de João, seu querido e amado pai.
Aos dez anos de idade, fez a Primeira Comunhão. Foi tanta a emoção e a alegria que sentiu no dia por receber Jesus no seu coração pela primeira vez. Dali em diante, jamais se afastou dos sacramentos da Eucaristia e da Penitência, pois era grande a sua fé e o seu amor por Deus. Com frequência, oferecia seu divino serviço e sempre teve o desejo de ser um sacerdote.
Nessa época, o pai era proprietário de uma fábrica de fiação e tecidos. Lá trabalhou por alguns anos o pré-adolescente Antônio Maria Claret, passando por todas as atividades existentes. Na fábrica de seu pai, ele teve a ideia de rezar o terço diariamente nos intervalos do serviço, e os operários o acompanhavam com grande piedade. Estimulado e comovido, foi descobrindo que Jesus Cristo vinha agindo com a sua graça em seu coração.
Em 1820, já na adolescência, sentia-se muito feliz e sabia o que Deus queria e lhe reservava. Ficou convencido de que Deus queria que fosse um sacerdote e não um industrial. Agradecido e de forma contagiante, exclamava: “Ó meu Deus, quanta paciência tiveste comigo! Virgem Maria, minha Mãe, até de vós havia momentos que me esquecia. Perdão, minha Mãe!” Muitas eram suas preocupações rotineiras, e que sempre devem ser lembradas: ele não suportava conhecer um sofrimento alheio.
Com o desejo de se aperfeiçoar nas artes têxteis, pediu permissão ao pai para estudar em Barcelona. Lá, começou a trabalhar e ganhava o necessário e suficiente para pagar os estudos, comprar roupas, livros e se alimentar. O seu intuito maior era dominar a arte têxtil.
Ao participar de uma Santa Missa, fazia um esforço enorme para se libertar de tanta distração. Tinha em sua cabeça ideias e projetos novos, de tal maneira que, durante a celebração, havia mais máquinas em sua cabeça do que santos no altar.
Mas, certo dia, em plena celebração da Santa Missa, Antônio Maria Claret lembrou-se das palavras do Evangelho que tinha lido quando ainda era criança: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se ao fim perder a sua alma?”
A partir daí, passou a pensar no que deveria fazer de sua vida. Foi quando decidiu ir ao Oratório – Capela Doméstica de São Felipe Neri – e deu uma volta pelo mosteiro. No convento, viu um quarto aberto, pediu licença, entrou e deparou-se com um homem chamado Paulo, a quem expôs o seu problema particular. Em resposta, com paciência e bondade, Paulo lhe disse: “Sou um pobre leigo, e quem sou eu para orientá-lo? Vou levá-lo para conversar com um padre sábio e virtuoso, e ele vai dizer-lhe o que deverá fazer.”
Pacientemente, o padre escutou Antônio Maria Claret, elogiou-o pela resolução tomada e aconselhou-o a recomeçar os estudos de latim. Imediatamente, ele voltou a estudar com aplicação. Mas, por causa de uma enfermidade, foi obrigado a interromper os estudos. Após recuperar a saúde, continuou estudando latim até sair de Barcelona e voltar para Vic, a fim de iniciar os estudos de Filosofia. Entrando na Cartuxa, voltou a estudar e resolveu dar ciência ao seu pai.
Esforçou-se para falar sobre o que o futuro lhe reservava e sobre o seu ingresso na Cartuxa. O pai lhe disse: “Não quero me opor à tua vocação, e afirmo: se essa é a vontade de Deus, será a minha também. Mas eu bem gostaria, ao invés de ver-te monge cartuxo, de ver-te padre diocesano. Faça-se, porém, a vontade de Deus”. Ele decidiu atender ao pedido do pai. Antônio Maria Claret teve, desde pequeno, a orientação dos pais para pensar não somente na própria salvação, mas na das outras pessoas também, manifestando desde cedo a sua vocação missionária de se tornar um sacerdote.
Ao completar 22 anos, ingressou no Seminário e, a partir de então, viveu para Deus. Num longo processo de discernimento, foi descobrindo a vontade divina. “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para evangelizar os pobres” (Isaías 61:1).
Muitas outras lembranças marcaram a infância, a adolescência e a juventude de Antônio Maria Claret durante todo o período de sua caminhada familiar.
Em 1834, nas têmporas de São Tomé, recebeu o diaconato. De fato, foi ordenado sacerdote aos 27 anos de idade, no dia 13 de julho de 1835. Na hora de sua ordenação, o Reverendíssimo Bispo disse aquelas palavras do pontifical, tomadas do Apóstolo Paulo: “Não é contra homens de carne e sangue que temos que lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal espalhadas nos ares”.
Antes de sua ordenação sacerdotal, Antônio Maria Claret fez os quarenta dias de exercícios espirituais prescritos. Nunca tinha feito um retiro espiritual tão cheio de amarguras e tentações. Ninguém, porém, talvez tenha sentido tanta alegria espiritual e maiores graças do que ele. Ele se preparou para o dia em que, agora como Padre Antônio Maria Claret, celebrou a primeira Missa, ocorrida no dia 21 de junho de 1835, em sua terra natal.
Ó Deus, fazei que todos nos tornemos conscientes do caráter sagrado e inviolável da família, da sua beleza no projeto de Deus, seguindo o exemplo de Santo Antônio Maria Claret. Sejamos peregrinos da esperança!