É sabido que o termo “pastoral” está ligado à figura bíblica do Pastor. Jesus se apresenta como o “BOM PASTOR QUE DÁ A VIDA PELAS SUAS OVELHAS” (Jo. 10, 11). A Igreja continua a ação de Jesus no mundo, cuidando das ovelhas: “Apascenta as minhas ovelhas!” (Jo. 21, 15)
Ao longo da história da Igreja e da reflexão teológica, a palavra “pastoral” tomou vários significados. O Concílio de Trento (1545-1563) deu grande ênfase à figura do pastor, aplicando este termo, primeiramente à figura do Bispo e depois à figura do Padre. O projeto de reforma da Igreja, neste Concílio, passa por uma definição das características do pastor e a seleção e formação de pastores: bispos e padres. Assim a palavra “pastor” era utilizada para definir as funções do bispo e do padre, em oposição ao apostolado dos leigos.
Antes da segunda metade do século XIX, a palavra passou a ser interpretada a partir dos três ofícios de Cristo: sacerdotal, profético e real. Essa noção é assimilada pelo Concílio Vaticano II. Assim, toda a ação dos cristãos como continuadores da missão de Cristo, seria também entendida como uma ação pastoral. E também, a partir deste conceito, toda a ação da Igreja seria também uma ação pastoral.
Mais tarde o termo “pastoral” passou a ser empregado para significar somente a terceira da tríplice missão de Cristo e dos seus seguidores: o cristão teria uma missão sacerdotal, como dom sagrado para santificar o mundo; uma missão profética, de anúncio e denúncia; uma missão pastoral (real) de cuidado da vida e da dignidade do ser humano.
Pode-se perceber que havia uma dificuldade de compreensão da ação pastoral da Igreja no mundo.
O Concílio Vaticano II (1962-1965), após longos debates, apresenta um novo significado para o termo “pastoral”. O primeiro passo nessa direção foi dado pelo Papa João XXIII, indicando como ponto saliente do Concílio sua “orientação predominantemente pastoral”. O Papa vai mais longe, quando introduz, na linguagem e no programa do Concílio Vaticano II, novas palavras como aggiornamento e sinais dos tempos. Aggiornamento indica, na intenção do Papa, que o Concílio não seja uma mera repetição da doutrina, mas uma apresentação desta mesma doutrina, com uma roupagem nova, com uma linguagem atraente e adequada aos novos tempos. Que o Concílio falasse a linguagem do povo. Com sinais dos tempos, o Papa expressa a atenção que a Igreja deve dar à situação do mundo atual, através da qual Deus nos fala.
“O CONCÍLIO VATICANO II, PARTINDO DE UM CONCEITO PÓS-TRIDENTINO DE PASTORAL, NÃO LIMITA A AÇÃO PASTORAL AOS PASTORES (BISPOS E PADRES), MAS NELA ENVOLVE TAMBÉM OS LEIGOS. DE OUTRO LADO, NÃO SÓ CONSIDERA COMO PASTORAL A AÇÃO INTRAECLESIAL, VOLTADA PARA A EDIFICAÇÃO DA COMUNIDADE, MAS RECONHECE COMO “PASTORAL” A PREOCUPAÇÃO DE ESTABELECER O DIÁLOGO E O RELACIONAMENTO COM AS CONDIÇÕES CONCRETAS DA HUMANIDADE NO MUNDO, NA SITUAÇÃO HISTÓRICA DE HOJE” (PE. ALBERTO ANTONIAZZI).
A partir destas reflexões, podemos entender que “PASTORAL”, de um lado, faz referência à fé cristã e à acolhida de Deus em nossa vida; de outro, significa o compromisso da Igreja de dar uma resposta às necessidades do ser humano, dentro da situação do mundo em que vive. Portanto, não podemos compreender uma pastoral desvinculada da fé cristã e nem alheia à realidade que vivemos. A AÇÃO PASTORAL DEVE UNIR FÉ E VIDA, ESPIRITUALIDADE E COMPROMISSO CONCRETO, EVANGELIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL.
SUJEITO DA AÇÃO PASTORAL
O Concílio Vaticano II afirma que existe verdadeira igualdade entre os fiéis, quanto à dignidade e ação comum, na edificação do Corpo de Cristo, e todos participam da missão da Igreja no mundo e são chamados ao apostolado (CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA LUMEN GENTIUM 31 e 32). Todos os fiéis participam da tríplice missão de Cristo sacerdote, profeta e rei. Aqui podemos entender uma igualdade fundamental que é compatível com a desigualdade funcional. Ou seja, todos participam plenamente da vida e do ministério de Cristo, mas cada um com sua função, seus dons e carismas próprios. Há funções específicas do bispo, do padre e dos leigos, formando todos um só corpo, que é a Igreja.
O Concílio vaticano II dá ênfase ao sacerdócio na Igreja: o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial. “APÓS O CONCÍLIO, A CONSCIÊNCIA ECLESIAL SE DESLOCA DO SACERDÓCIO PARA O MINISTÉRIO; DESCOBRE A DIMENSÃO MINISTERIAL DE TODA A IGREJA E EXPERIMENTA NOVAS FORMAS DE MINISTÉRIO, ALÉM DO MINISTÉRIO ORDENADO OU HIERÁRQUICO, NÃO COMO FORMAS SUPLETIVAS DESTA, MAS COMO REALIDADES AUTÔNOMAS E ORIGINAIS, QUE BROTAM DE OUTRAS TANTAS VOCAÇÕES E CARISMAS” (Pe. Alberto Antoniazzi).
Aqui concluímos que o sujeito (sujeitos) da ação pastoral é toda a Igreja, os ministros ordenados com seu ofício e os fiéis leigos com o seu apostolado.
LUGAR DA AÇÃO PASTORAL
Até o Concílio Vaticano II, predominava na Igreja, por influência de reflexões teológicas anteriores, a separação entre missão espiritual e a tarefa temporal. Assim cabia aos bispos e padres a missão espiritual, enquanto aos leigos e leigas cabia a tarefa de agir e transformar o mundo. A CONSTITUIÇÃO LUMEN GENTIUM do Concílio Vaticano II deixa claro que a presença cristã no mundo é responsabilidade de toda a Igreja, de modo que os leigos têm também uma missão espiritual; e aos ministros ordenados cabe também a missão de promover a justiça e transformar a sociedade. A missão do padre e do bispo não é só no interior da Igreja, mas também no mundo; e a missão do leigo não é só no mundo, mas também no interior da Igreja.
Isso significa que A IGREJA E O MUNDO NÃO SÃO DUAS REALIDADES OPOSTAS OU SEPARADAS. A Igreja é o “sacramento do mundo”, o sinal eficaz de que o Reino de Deus está presente no mundo. Assim, a comunidade cristã se acha inserida no Reino de Deus e no mundo, sem ver o mundo como um inimigo a ser combatido, mas como lugar de sua ação pastoral e evangelizadora, “a caminho do Reino definitivo”.
Aqui não pretendemos responder prontamente “o que é Pastoral?”, mas oferecer subsídio para uma reflexão sobre a nossa ação pastoral no mundo em que vivemos, levando em conta, principalmente quatro aspectos:
- uma aproximação maior entre pastores (bispos e padres) e fiéis, na tomada de decisões conjuntas e na descoberta de que todos são chamados, igualmente, a exercer no mundo o seu ministério, seja leigo ou ordenado;
- Provocar outra visão da missão da Igreja, dentro do mundo e não separada dele;
- uma maior atenção à história concreta do ser humano, levando em conta a realidade em que cada um vive;
- Evangelizar, dando uma resposta às necessidades concretas de cada pessoa humana.
FONTE: Padre José Geraldo de Oliveira, Vigário Episcopal da Região Centro
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: Padre Alberto Antoniazzi. O que é Pastoral? – subsídios para uma reflexão