NÃO TENHAIS MEDO

ARTIGOS

O anjo tomou a palavra e disse às mulheres:
«Não tenhais medo. Sei que buscais Jesus, o crucificado; não está aqui, pois ressuscitou, como tinha dito. Vinde, vede o lugar onde jazia e ide depressa dizer aos seus discípulos: ’Ele ressuscitou dos mortos e vai à vossa frente para a Galileia. Lá o vereis.’ Eis o que tinha para vos dizer.» Afastando-se rapidamente do sepulcro, cheias de temor e de grande alegria, as mulheres correram a dar a notícia aos discípulos. Jesus saiu ao seu encontro e disse-lhes: «Salve!» Elas aproximaram-se, estreitaram-lhe os pés e prostraram-se diante dele. Jesus disse-lhes: «Não temais. Ide anunciar aos meus irmãos que partam para a Galileia. Lá me verão.» Enquanto elas iam a caminho, alguns dos guardas foram à cidade participar aos sumos sacerdotes tudo o que tinha acontecido! Eles reuniram-se com os anciãos; e, depois de terem deliberado, deram muito dinheiro aos soldados, recomendando-lhes: «Dizei isto: ’De noite, enquanto dormíamos, os seus discípulos vieram e roubaram-no.’ E, se o caso chegar aos ouvidos do governador, nós o convenceremos e faremos com que vos deixe tranquilos.» Recebendo o dinheiro, eles fizeram como lhes tinham ensinado. E esta mentira divulgou-se entre os judeus até ao dia de hoje. Os onze discípulos partiram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha indicado. Quando o viram, adoraram-no; alguns, no entanto, ainda duvidavam. Aproximando-se deles, Jesus disse-lhes: «Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.»
(Mateus 28,5–20)

“Não tenhais medo!”; “Não temais!”. O que José ouve no começo do Evangelho de Mateus, as mulheres ouvem no final. Com estas palavras, começa, para José e para as mulheres, um encontro. Compreendem que Deus está presente nas suas provas e que lhes abre um caminho. A Bíblia não pretende indicar que tudo correrá sempre bem, mas tenta dizer-nos que não temos de enfrentar sozinhos as nossas dificuldades.

No Jardim das Oliveiras, era Jesus que enfrentava a angústia e as dificuldades; os discípulos deixaram-no sozinho. Enquanto rezava, eles adormeceram. Quando Jesus foi preso, eles fugiram. As mulheres não abandonam aquele que morreu na cruz. Visitam o túmulo de alguém de quem nada mais se espera. Os discípulos afastam-se da dificuldade e do desespero; as mulheres aproximam-se. E recebem a mensagem: Não temais! Ele ressuscitou.

Existem neste relato três encontros e três envios: o anjo envia as mulheres aos discípulos; depois, Jesus envia as mulheres «aos seus irmãos»; e, por fim, Jesus envia os discípulos «a todas as nações». Ninguém compreende sozinho a mensagem da ressurreição e ninguém a pode guardar para si. É uma mensagem recebida num encontro e que convida a criar outros.

A ressurreição não significa que não existirão mais dificuldades nas nossas vidas ou mais sofrimento no mundo. Os primeiros cristãos, começando pelas mulheres e pelos discípulos, ganham progressivamente consciência de que Jesus enfrentou sozinho a angústia e o sofrimento para que nós nunca tenhamos de enfrentar sozinhos as nossas angústias e os nossos sofrimentos. Pouco a pouco, compreendem que a esperança preencheu o desespero e que a morte de Jesus se tornou fonte de vida.

A primeira reação das mulheres e dos discípulos é uma mistura de grande alegria e de medo, ou, ainda, uma mistura de adoração e de dúvidas. Porém, Mateus não termina o seu relato a observar a reação dos discípulos, mas dirige o olhar para as últimas palavras de Jesus. Os discípulos que deixaram Jesus são agora enviados a fazer discípulos em todas as nações. Jesus deseja que, ao batizar e ensinar os seus mandamentos, os discípulos partilhem com os povos a nova vida que veio dar.

Este envio e esta vida são suportados pela sua presença. Recebeu o poder e estará presente. No meio das dificuldades e o desespero deste mundo, o Reino de Deus já começou. A ressurreição é isso mesmo: um começo definitivo e a dinâmica de uma presença até ao fim dos tempos. Uma presença para os dias de alegria e para os dias de desespero: uma presença que é fonte de esperança.

PARA REFLETIR

  • O papel do medo e da coragem na fé: Como as palavras “Não tenhais medo!” ditas às mulheres e a José refletem o papel do medo e da coragem na fé cristã? Como podemos aplicar essa mensagem em nossas vidas diárias?

  • Encontros transformadores: O que podemos aprender com os três encontros e envios (anjo para as mulheres, Jesus para as mulheres e Jesus para os discípulos) sobre a importância de encontrar e compartilhar a mensagem da ressurreição? Como esses encontros transformam os personagens envolvidos?

  • Solidariedade no sofrimento: Como o comportamento das mulheres, que não abandonaram Jesus, contrasta com o dos discípulos, que fugiram? O que isso nos ensina sobre solidariedade e presença em momentos de dificuldade?

  • O significado da ressurreição: A ressurreição de Jesus é descrita como um “começo definitivo” e uma “dinâmica de uma presença até ao fim dos tempos”. Como essa perspectiva muda a forma como enfrentamos as dificuldades e o sofrimento no mundo?

  • Missão e discipulado: Jesus envia os discípulos a todas as nações para ensinar e batizar. Como podemos entender e cumprir essa missão em nosso contexto atual? Qual é o papel do testemunho pessoal na evangelização?

Estas meditações bíblicas são sugeridas como meio de procura de Deus no silêncio e na oração, mesmo no dia-a-dia. Consiste em reservar uma hora durante o dia para ler em silêncio o texto bíblico sugerido, acompanhado de um breve comentário e de algumas perguntas. Em seguida constituem-se pequenos grupos de 3 a 10 pessoas, para uma breve partilha do que cada um descobriu, integrando eventualmente um tempo de oração.

Fonte: Ateliers et Presses de Taizé