Dizem que havia um menino judeu chamado Mortaki que resistia a ir para a escola. Quando completou seis anos, sua mãe o levou ao colégio, mas ele chorava e protestava ao longo do caminho e, assim que sua mãe se foi, o menino teimoso correu de volta para casa. Ela o levou novamente à escola, e essa cena se repetiu por vários dias. O menino não queria ficar na escola, e seus pais tentaram convencê-lo com argumentos, explicando que, como todas as crianças, ele tinha que ir. Foi em vão. Seus pais tentaram então a velha tática de combinar subornos e ameaças. Mas isso também não funcionou.
Desesperados, os pais foram visitar seu rabino e explicaram a situação. O rabino, por sua vez, disse simplesmente: “Se o menino não atender às palavras, tragam-no até mim.” Os pais levaram o menino até o rabino. O rabino não disse uma palavra. Simplesmente o colocou em seu colo, abraçou-o e o apertou contra seu coração por um longo tempo. Depois, ainda sem dizer nada, o colocou de volta no chão. O que as palavras não conseguiram, um abraço silencioso conseguiu. Mortaki não apenas começou a ir à escola de boa vontade, mas mais tarde se tornou um grande professor e rabino.
Esta parábola expressa de forma maravilhosa como funciona a Eucaristia. Nela, Deus nos abraça fisicamente. Os sacramentos, na verdade, são abraços físicos de Deus. As palavras, como sabemos, têm um poder relativo. Em momentos críticos, frequentemente falham. Quando isso acontece, ainda temos outro tipo de linguagem, o dos rituais. O ritual mais antigo e primordial de todos é o abraço físico. Ele pode expressar e alcançar o que as palavras não conseguem.
Jesus agiu de acordo com isso. Em grande parte de seu ministério, usou palavras. Através delas, tentou nos trazer o consolo, o desafio e a força de Deus. Suas palavras, como todas as palavras, tinham um certo poder. Elas moviam corações, curavam pessoas e promoviam conversões. Mas, ao mesmo tempo, por mais poderosas que fossem, as palavras tornaram-se insuficientes. Era necessário algo mais. Então, na noite antes de sua morte, depois de ter esgotado o que poderia expressar e fazer com palavras, Jesus foi além e as superou. Ele nos deu a Eucaristia, seu abraço físico, seu beijo, um ritual que nos envolve e nos guarda em seu coração.
Para mim, essa é a melhor maneira de compreender a Eucaristia. Durante todo o meu treinamento e estudos teológicos, estudei extensivamente sobre a Eucaristia. No entanto, esses estudos profundos não explicaram o mistério da Eucaristia, não porque não fossem bons, mas porque a Eucaristia, como um beijo, não precisa e não tem explicação. Se alguém escrevesse um livro de quatrocentas páginas intitulado “A Metafísica do Beijo”, não mereceria leitores. Beijos simplesmente agem, sua dinâmica interior não precisa de explicação metafísica.
A Eucaristia é um beijo de Deus. André Dubos, o romancista que escreve em dialeto cajun, costumava dizer: “Sem a Eucaristia, Deus se torna um monólogo”. É verdade. Alguns anos atrás, Brenda Peterson, em um pequeno e excepcional ensaio intitulado “Em Louvor da Pele”, descreveu como uma forte erupção cutânea a afetou, e nenhum medicamento aliviou. Ela tentou toda sorte de médicos e remédios. Em vão. Finalmente, voltou à sua avó. Lembrou-se de como sua avó costumava fazer massagens em sua pele quando era pequena, sempre que tinha erupções, contusões ou estava doente. O antigo remédio funcionou novamente. Sua avó fez a massagem repetidas vezes, e a erupção que parecia impossível de erradicar desapareceu. A pele precisa de toque. Isso é exatamente o que acontece na Eucaristia, e é por isso que a Eucaristia e todos os outros sacramentos sempre têm algum elemento físico muito tangível – imposição de mãos, consumo de pão e vinho, imersão em água, unção com óleo. Um abraço precisa ser físico, não apenas imaginado.
G.K. Chesterton escreveu uma vez: “Chega um momento, normalmente ao entardecer, quando a criança se cansa de brincar de policiais e ladrões. É então que começa a incomodar e a se meter com o gato.” As mães com crianças pequenas conhecem muito bem essa hora do entardecer e sua dinâmica peculiar. Chega um momento, normalmente justo antes do jantar, quando a energia da criança está baixa, quando ela se sente cansada e começa a choramingar e a mãe já esgotou sua paciência e repertório de advertências: “Pare com isso! Não faça isso!” A criança, tensa e abatida, se abraça à perna da mãe. Nesse momento, a mãe sabe o que fazer. Pega a criança e a coloca em seu colo. O contato físico, não as palavras, é o que se precisa. Nos braços de sua mãe, a criança se acalma e a tensão desaparece completamente.
Essa é uma boa imagem aplicável à Eucaristia. Nós somos aquela criança tensa, nervosa e perdida, sempre perturbando o gato. Há momentos, também com Deus, em que as palavras não são suficientes. Deus precisa nos levantar, nos acolher em Seus braços, como a mãe faz com seu filho. O que se necessita é um abraço físico. A pele precisa de toque. Deus sabe disso. Por isso, Jesus nos deu a Eucaristia.
Texto: Ron Rolheiser, OMI
Fonte: Ciudad Redonda (Missionários Claretianos – Espanha)