III DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO C)

A PALAVRA

A liturgia deste domingo nos convida a uma reflexão transformadora sobre a Palavra de Deus. Ela não é apenas um conjunto de textos sagrados ou uma doutrina reservada para estudiosos. A Palavra de Deus é viva, libertadora e dirigida a todos, em todos os tempos e lugares. Ela é o coração da comunidade de Deus e se encarna em Jesus Cristo, o Verbo feito carne, ressoando em cada cristão que se abre ao seu chamado. 

A Primeira Leitura (Ne 8,2-4a.5-6.8-10) nos transporta a uma cena marcante: uma “liturgia da Palavra” celebrada em Jerusalém, quase cem anos após o retorno dos exilados. A assembleia se reúne, ouve atentamente as Escrituras e se deixa transformar. Não é apenas uma leitura, mas um encontro vivo com Deus. A Palavra questiona, convida à conversão e enche o coração de alegria. A comunidade redescobre sua identidade e missão e, ao final, celebra. O encontro com a Palavra de Deus não é um fardo, mas uma festa. É a alegria de saber que Deus continua a falar e renovar seu povo.

No Evangelho (Lc 1,1-4.4,14-21), Jesus entra na sinagoga de Nazaré e proclama as Escrituras. Ele, a Palavra encarnada, não repete mecanicamente, mas revela o pleno sentido das Escrituras. Jesus anuncia um programa revolucionário: libertar os oprimidos, devolver dignidade aos marginalizados, curar os feridos e proclamar um tempo de graça. Com Ele, começa um novo tempo, um “jubileu” que se estende por toda a história. É um tempo de alegria, paz, reconciliação e felicidade sem fim. Jesus não apenas fala da libertação; Ele a realiza e nos convida a fazer o mesmo, sendo instrumentos dessa libertação no mundo.

Já a Segunda Leitura (1Cor 12,12-30) apresenta a comunidade cristã como o corpo de Cristo. Não somos indivíduos isolados, mas membros interligados, cada um com dons e talentos para servir ao bem comum. A Palavra nos une e nos impulsiona a agir. Ela nos lembra que nossa fé não é apenas pessoal, mas comunitária. Cada gesto de amor, palavra de esperança e ato de justiça contribui para o Reino. Na diversidade de dons e serviços, a comunidade reflete o amor de Deus.

Ao refletir sobre essas leituras, somos desafiados a perguntar: como temos recebido a Palavra de Deus? Ela é apenas um texto que lemos ocasionalmente ou é uma força viva que nos transforma? A Palavra nos convida a sair da zona de conforto, olhar para os que sofrem e ser agentes de libertação. Ela nos lembra que a fé se concretiza no amor ao próximo e na busca por um mundo mais justo e fraterno.

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

A Palavra de Deus ilumina corações e guia caminhos, revelando sabedoria e alegria para vivermos no amor divino, transformados pela verdade que nos conduz à plenitude.

Naqueles dias,
2 o sacerdote Esdras apresentou a Lei
diante da assembleia de homens, de mulheres
e de todos os que eram capazes de compreender.
Era o primeiro dia do sétimo mês.
3 Assim, na praça que fica defronte da porta das Águas,
Esdras fez a leitura do livro,
desde o amanhecer até ao meio-dia,
na presença dos homens, das mulheres
e de todos os que eram capazes de compreender.
E todo o povo escutava com atenção
a leitura do livro da Lei.
4a Esdras, o escriba,
estava de pé sobre um estrado de madeira,
erguido para esse fim.
5 Estando num lugar mais alto,
ele abriu o livro à vista de todo o povo.
E, quando o abriu, todo o povo ficou de pé.
6 Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus,
e todo o povo respondeu, levantando as mãos:
“Amém! Amém!”
Depois inclinaram-se
e prostraram-se diante do Senhor, com o rosto em terra.
8 E leram clara e distintamente o livro da Lei de Deus
e explicaram seu sentido,
de maneira que se pudesse compreender a leitura.
9 O governador Neemias e Esdras, sacerdote e escriba,
e os levitas que instruíam o povo,
disseram a todos:
“Este é um dia consagrado ao senhor, vosso Deus!
Não fiqueis tristes nem choreis”,
pois todo o povo chorava ao ouvir as palavras da Lei.
10 E Neemias disse-lhes:
“Ide para vossas casas e comei carnes gordas,
tomai bebidas doces
e reparti com aqueles que nada prepararam,
pois este dia é santo para o nosso Senhor.
Não fiqueis tristes,
porque a alegria do Senhor será a vossa força”.
Palavra do Senhor.

As palavras do Senhor são sopro de vida e força para o coração; nelas encontramos o espírito que nos sustenta e a verdade que ilumina nosso caminho, mesmo em meio às sombras.

R. Vossas palavras, Senhor, são espírito e vida!

8 A lei do Senhor Deus é perfeita, *
conforto para a alma!
O testemunho do Senhor é fiel, *
sabedoria dos humildes. R.
 
9 Os preceitos do Senhor são precisos, *
alegria ao coração.
O mandamento do Senhor é brilhante, *
para os olhos é uma luz. R.
 
10 É puro o temor do Senhor, *
imutável para sempre.
Os julgamentos do Senhor são corretos *
e justos igualmente. R.
 
15 Que vos agrade o cantar dos meus lábios *
e a voz da minha alma;
que ela chegue até vós, ó Senhor, *
meu Rochedo e Redentor! R.

Unidos em Cristo, somos um só corpo, onde cada membro, com sua singularidade, reflete a beleza da comunhão divina. Que nossas vidas testemunhem essa unidade viva, fonte de amor e serviço.

Irmãos:
12 Como o corpo é um, embora tenha muitos membros,
e como todos os membros do corpo, 
embora sejam muitos, formam um só corpo,
assim também acontece com Cristo.
13 De fato, todos nós,
judeus ou gregos, escravos ou livres,
fomos batizados num único Espírito,
para formarmos um único corpo,
e todos nós bebemos de um único Espírito.
14 Com efeito, o corpo não é feito de um membro apenas,
mas de muitos membros.
15 Se o pé disser:
“Eu não sou mão, portanto não pertenço ao corpo”,
nem por isso deixa de pertencer ao corpo.
16 E se o ouvido disser:
“Eu não sou olho, portanto não pertenço ao corpo”,
nem por isso deixa de pertencer ao corpo.
17 Se o corpo todo fosse olho, onde estaria o ouvido?
Se o corpo todo fosse ouvido, onde estaria o olfato?
18 De fato, Deus dispôs os membros
e cada um deles no corpo, como quis.
19 Se houvesse apenas um membro, onde estaria o corpo?
20 Há muitos membros, e, no entanto, um só corpo.
21 O olho não pode, pois, dizer à mão:
“Não preciso de ti”.
Nem a cabeça pode dizer aos pés:
“Não preciso de vós”.
22 Antes pelo contrário,
os membros do corpo que parecem ser mais fracos
são muito mais necessários do que se pensa.
23 Também os membros que consideramos menos honrosos,
a estes nós cercamos com mais honra,
e os que temos por menos decentes,
nós os tratamos com mais decência.
24 Os que nós consideramos decentes
não precisam de cuidado especial.
Mas Deus, quando formou o corpo,
deu maior atenção e cuidado
ao que nele é tido como menos honroso,
25 para que não haja divisão no corpo
e, assim, os membros zelem igualmente uns pelos outros.
26 Se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele;
se é honrado, todos os membros se regozijam com ele.
27 Vós, todos juntos, sois o corpo de Cristo
e, individualmente, sois membros desse corpo.
28 E, na Igreja, Deus colocou,
em primeiro lugar, os apóstolos;
em segundo lugar, os profetas;
em terceiro lugar, os que têm o dom
e a missão de ensinar;
depois, outras pessoas com dons diversos, a saber:
dom de milagres, dom de curas,
dom para obras de misericórdia,
dom de governo e direção, dom de línguas.
29 Acaso todos são apóstolos?
Todos são profetas?
Todos ensinam?
Todos realizam milagres?
30 Todos têm o dom das curas?
Todos falam em línguas?
Todos as interpretam?
Palavra do Senhor.

Nas palavras de Cristo, o tempo da promessa se torna realidade viva. Hoje, a esperança se concretiza e a salvação se faz presente, convidando-nos a acolher a graça que transforma o mundo.

1 Muitas pessoas já tentaram escrever a história
dos acontecimentos que se realizaram entre nós,
2 como nos foram transmitidos
por aqueles que, desde o princípio,
foram testemunhas oculares e ministros da palavra.
3 Assim sendo, após fazer um estudo cuidadoso
de tudo o que aconteceu desde o princípio,
também eu decidi escrever de modo ordenado
para ti, excelentíssimo Teófilo.
4 Deste modo, poderás verificar
a solidez dos ensinamentos que recebeste.
Naquele tempo,
4,14 Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito,
e sua fama espalhou-se por toda a redondeza.
15 Ele ensinava nas suas sinagogas e todos o elogiavam.
16 E veio à cidade de Nazaré, onde se tinha criado.
Conforme seu costume, entrou na sinagoga no sábado,
e levantou-se para fazer a leitura.
17 Deram-lhe o livro do profeta Isaías.
Abrindo o livro,
Jesus achou a passagem em que está escrito:
18 “O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque ele me consagrou com a unção
para anunciar a Boa-Nova aos pobres;
enviou-me para proclamar a libertação aos cativos
e aos cegos a recuperação da vista;
para libertar os oprimidos
19 e para proclamar um ano da graça do Senhor”.
20 Depois fechou o livro,
entregou-o ao ajudante, e sentou-se.
Todos os que estavam na sinagoga
tinham os olhos fixos nele.
21 Então começou a dizer-lhes:
“Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura
que acabastes de ouvir”.
Palavra da Salvação.

Homilia

O LIVRO E O CORPO

Pode nos parecer algo insensato, uma ousadia até, dizer aos nossos contemporâneos que existe um livro escrito por Deus, pelo Espírito de Deus. E, mais ainda, pode soar como uma fantasia apocalíptica afirmar que esse livro está selado com sete selos, e que somente uma pessoa possui a chave para desvendá-lo: essa pessoa é Jesus. No entanto, essa é a nossa fé! Esse livro é a Bíblia, a Sagrada Escritura. É dela que nos fala a liturgia deste domingo, nos convidando a olhar para a Palavra de Deus com o coração aberto e o espírito atento.

Dividirei esta reflexão em três partes:

  • Esdras, o leitor do Livro
  • Jesus, leitor e intérprete de Isaías
  • E nós? O corpo estendido de Cristo

ESDRAS, O LEITOR DO LIVRO

Neemias era um judeu exilado que ocupava importante cargo junto ao rei, garantindo sua segurança contra envenenamentos. Com a permissão real, ele retornou à sua terra para liderar a reconstrução das muralhas de Jerusalém, símbolo de proteção e identidade para o povo de Deus.

Esdras, o escriba, trouxe renovação espiritual ao povo ao proclamar o livro da Lei. Após 70 anos no exílio, muitos mal compreendiam o hebraico antigo. Esdras lia, explicava e traduzia para o dialeto caldeu, tornando a Palavra acessível. Além do idioma, os ritos e cerimônias da fé também haviam sido esquecidos. Foi necessário restaurar celebrações como a festa dos Tabernáculos, marcando um reencontro com Deus.

Quando Esdras abençoou ao Senhor dizendo: “Bendito seja o Senhor, o grande Deus“, o povo respondeu com as mãos erguidas: “Amém! Amém!” Prostraram-se em adoração, tocados pela Palavra. Suas lágrimas refletiam contrição, gratidão e esperança.

O salmo expressa essa experiência ao proclamar: “A Lei do Senhor é perfeita, é conforto para a alma” (Salmo 18,8). Essa Palavra viva restaura corações aflitos e ilumina os passos daqueles que buscam Deus.

JESUS, LEITOR E INTÉRPRETE DE ISAÍAS

Jesus declarou que aquele texto falava sobre Ele. Contudo, enquanto o povo reagiu com entusiasmo às palavras de Esdras, com Jesus foi diferente: não só o rejeitaram como também tentaram lançá-lo de um precipício. O povo acolheu bem a mensagem de Esdras, mas os conterrâneos de Nazaret trataram Jesus com hostilidade.

O evangelho nos apresenta uma cena semelhante, mas infinitamente mais grandiosa. Aconteceu em Nazaret, onde Jesus já era reconhecido por Sua sabedoria. Ele ensinava nas sinagogas, e todos O louvavam. Em meio à Sua gente, Jesus tomou o rolo do profeta Isaías e proclamou as palavras que iluminam a missão divina: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu. Enviou-me para anunciar a Boa Nova aos pobres…” (Isaías 61,1).

Diante dessa leitura, Jesus trouxe uma verdade sublime: Ele é o cumprimento das promessas anunciadas por Isaías. O Espírito Santo, que O ungiu, fez de Sua vida o testemunho perfeito da misericórdia de Deus. Suas palavras ecoavam como um convite à conversão, à renovação, mas também despertavam incompreensão e resistência.

Neste III Domingo do Tempo Comum, somos chamados a refletir: como temos respondido ao chamado de Jesus? Será que acolhemos a Palavra com o mesmo fervor que o povo acolheu Esdras ou, como os habitantes de Nazaret, rejeitamos a presença viva de Cristo em nossas vidas?

Que o exemplo de Jesus, o ungido do Pai, nos inspire a reconhecer a ação do Espírito Santo em nossa história. Que Sua Palavra continue a ressoar em nossos corações, levando-nos a viver o evangelho com coragem, amor e fidelidade.

E NÓS? O CORPO ESTENDIDO DE CRISTO

A segunda leitura, extraída de 1 Coríntios 12, nos revela uma verdade profundamente consoladora: Jesus não é um estranho para nós. Pelo batismo, fomos unidos a Ele, tornando-nos parte viva do Seu Corpo. Cada um de nós é chamado a ser um membro essencial desse Corpo que é Cristo. Jesus deseja estender Seu Corpo e incluir a cada um de nós nessa comunhão divina.

Somos o Corpo de Cristo! A comunidade cristã é a presença viva de Jesus que se prolonga no espaço e no tempo, um testemunho constante de Sua graça e amor. Mas será que temos plena consciência desse tesouro extraordinário que carregamos em frágeis vasos de barro?

Quando comungamos, recebemos não apenas um símbolo, mas a própria vida de Cristo. Por meio de nós, flui o sangue redentor de Jesus, alimentando-nos e fazendo-nos sentir como membros vivos de Seu Corpo. Essa união íntima nos chama a refletir: vivemos realmente como partes desse Corpo, testemunhando o amor e a misericórdia de Deus no mundo?

Ecoando o salmista, podemos proclamar com fé: “Senhor, minha rocha, meu redentor” (Salmo 18,15). Essas palavras, cheias de confiança e gratidão, nos convidam a reconhecer a força que nos sustenta e a graça que nos redime.

CONCLUSÃO

Santa Teresinha do Menino Jesus fazia uma pergunta que ressoa em nossos corações: “Que parte do Corpo de Cristo sou eu?” Identificando-se com o coração, ela simbolizou o amor que dá vida ao Corpo. E nós, que papel desempenhamos nesse Corpo sagrado?

Pelo batismo, tornamo-nos membros do Corpo de Cristo, chamados a nutrir nossa fé com a Palavra de Deus, do Antigo e do Novo Testamento, para vivermos uma espiritualidade abundante.

Na celebração eucarística, encontramos duas mesas: a Mesa da Palavra e a Mesa do Corpo de Cristo. Assim como o povo de Israel ouviu a Lei proclamada por Esdras e Jesus leu o profeta Isaías na sinagoga, somos chamados a escutar a Palavra que transforma.

Ao comungarmos, unimo-nos a Cristo e à comunidade cristã, tornando-nos reflexos vivos do amor divino. Essa união transcende o tempo e o espaço, renovando nossa missão no mundo.

Neste III Domingo do Tempo Comum, perguntemo-nos: “Tenho me alimentado verdadeiramente da Palavra e do Corpo de Cristo?” Que nossa resposta seja um compromisso renovado com a fé e o amor, para que Cristo viva em nós.

Senhor, que Tua Palavra seja luz para os meus passos e Tua Eucaristia sustento para minha jornada.” Amém!

ORAÇÃO

Senhor Deus,
Tu nos deste a Sagrada Escritura como fonte de vida e luz. Abre nossos corações para reconhecer nela a verdade que guia e a graça que transforma.

Inspira-nos no exemplo de Jesus a viver com coragem e alegria como testemunhas da Tua presença no mundo. Que possamos acolher Tua Palavra com amor e compartilhá-la com esperança, como membros do Corpo de Cristo.

Renova nossas mentes e inflama nossos corações, para que unidos em Tua missão levemos luz e salvação ao próximo.

Por Cristo, Palavra encarnada, que vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém.

Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU
Este artigo foi produzido com a assistência de ferramentas de inteligência artificial.