A liturgia deste domingo apresenta-nos essa comunidade de Homens Novos que nasce da CRUZ e da RESSURREIÇÃO de Jesus: a Igreja. A sua missão consiste em revelar aos homens a vida nova que brota da ressurreição.
Também neste domingo e celebrada a Festa da Divina Misericórdia para toda a Igreja, festa instituída pelo Papa São João Paulo em 30 de abril do ano 2000.
Na primeira leitura (At 2,42-47) temos, na “fotografia” da comunidade cristã de Jerusalém, os traços da comunidade ideal: é uma comunidade fraterna, preocupada em conhecer Jesus e a sua proposta de salvação, que se reúne para louvar o seu Senhor na oração e na Eucaristia, que vive na partilha, na doação e no serviço e que testemunha – com gestos concretos – a salvação que Jesus veio propor aos homens e ao mundo.
No Evangelho (Jo 20,19-31) sobressai a ideia de que JESUS VIVO E RESSUSCITADO é o centro da comunidade cristã; é à volta d’Ele que a comunidade se estrutura e é d’Ele que ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as perseguições. Por outro lado, é na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu testemunho) que os homens encontram as provas de que Jesus está vivo.
A segunda leitura (Jo 20,19-31) recorda aos membros da comunidade cristã que a identificação de cada crente com Cristo – nomeadamente com a sua entrega por amor ao Pai e aos homens – conduzirá à ressurreição. Por isso, os crentes são convidados a percorrer a vida com esperança (apesar das dificuldades, dos sofrimentos e da hostilidade do “mundo”), de olhos postos nesse horizonte onde se desenha a salvação definitiva.
Leituras
A comunidade cristã é uma família de irmãos, reunida à volta de Cristo, animada pelo Espírito e que tem por missão testemunhar na história a salvação. Os homens do séc. XXI podem acreditar ou não na ressurreição de Cristo; mas têm de descobrir a vida nova e plena que Deus lhes oferece, através do testemunho dos discípulos de Jesus. A comunidade cristã tem de ser uma proposta diferente, que mostra aos homens como o amor, a partilha, a doação, o serviço, a simplicidade
e a alegria são geradores de vida e não de morte.
na fração do pão e nas orações.
que os apóstolos realizavam.
conforme a necessidade de cada um.
tomavam a refeição com alegria
e simplicidade de coração.
mais pessoas que seriam salvas.
Palavra do Senhor.
Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos!
R. Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom;
eterna é a sua misericórdia!
2 A casa de Israel agora o diga: *
“Eterna é a sua misericórdia!”
3 A casa de Aarão agora o diga: *
“Eterna é a sua misericórdia!”
4 Os que temem o Senhor agora o digam: *
“Eterna é a sua misericórdia!” R.
13 Empurraram-me, tentando derrubar-me, *
mas veio o Senhor em meu socorro.
14 O Senhor é minha força e o meu canto, *
e tornou-se para mim o Salvador.
15 “Clamores de alegria e de vitória *
ressoem pelas tendas dos fiéis”. R.
Antes de mais nada, a Palavra de Deus convida-nos a tomar consciência de que, pelo batismo, nos identificamos com Cristo. A nossa vida tem de ser, como a de Cristo, vivida na obediência ao Pai e na entrega aos homens nossos irmãos: é esse o CAMINHO que conduz à ressurreição. A lógica do mundo diz-nos que servir e dar a vida é um caminho de fracos e perdedores; a lógica de Deus diz-nos que a vida plena resulta do amor que se faz dom.
Em quem é que acreditamos? De acordo com que lógica é que conduzimos a nossa vida e fazemos as nossas opções?
pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,
ele nos fez nascer de novo, para uma esperança viva,
e que é reservada para vós nos céus.
que deve manifestar-se nos últimos tempos.
por causa de várias provações.
que é provado no fogo –
e alcançará louvor, honra e glória
no dia da manifestação de Jesus Cristo.
8 Sem ter visto o Senhor, vós o amais.
Isso será para vós fonte de alegria
Palavra do Senhor.
A comunidade cristã gira em torno de Jesus, constrói-se à volta de Jesus e é d’Ele que recebe vida, amor e paz. Sem Jesus, estaremos secos e estéreis, incapazes de encontrar a vida em plenitude; sem Ele, seremos um rebanho de gente assustada, incapaz de enfrentar o mundo e de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem Ele, estaremos divididos, em conflito, e não seremos uma comunidade de irmãos…
Na nossa comunidade, Cristo é verdadeiramente o centro?
É para Ele que tudo tende e é d’Ele que tudo parte?
as portas do lugar onde os discípulos se encontravam,
Jesus entrou e pondo-se no meio deles, disse:
Então os discípulos se alegraram
por verem o Senhor.
Como o Pai me enviou, também eu vos envio”.
a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”.
“Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos,
se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos
e não puser a mão no seu lado, não acreditarei”.
Estando fechadas as portas, Jesus entrou,
pôs-se no meio deles e disse:
Estende a tua mão e coloca-a no meu lado.
E não sejas incrédulo, mas fiel”.
Bem-aventurados os que creram sem terem visto!”
que não estão escritos neste livro.
e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.
Palavra da Salvação.
Reflexão
RUMOR DE VIDA ENTRE OS APÓSTOLOS
O grupo de discípulos está em uma casa com as portas fechadas. Fechados à luz, incapazes de aparecer (face) à vida.
Presos em suas lembranças, tristezas e saudades. Falando baixo apenas quando era imprescindível dizer algo, sem se olharem nos olhos. Incomunicáveis, mesmo estando juntos. Um fracasso ruminado foi fincando raízes amargas no coração.
A noite estava escura (por dentro e por fora), eles não esperavam tal final, um final do qual eles tinham muito do que se envergonhar.
Quão mal nós fizemos! Tomara que tivéssemos reagido de outra forma! Sentiam-se culpados, sem remédio! Eles não podiam nem imaginar que uma nova luz poderia chegar ao amanhecer do primeiro dia da semana.
Eles ainda não haviam descoberto que algo imenso, maravilhoso, esperançoso havia acontecido e mudaria tudo para sempre.
Estar “COM AS PORTAS FECHADAS” é um símbolo significativo. É estar fechado ao diálogo, dando voltas em “o que aconteceu comigo“, o que fiz ou o que fizeram comigo, fechado ao encontro com os outros, não querer saber de nada nem de ninguém; fechado à reflexão sobre o que aconteceu sem tentar encontrar algum sentido. Não saber o que fazer, para onde ir ou o que dizer.
Não vivemos, por vezes, nossas vidas e nossa fé como se estivéssemos escondidos, com medo, apertados por dentro, com desconfiança em relação a tudo o que acontece ao nosso redor? Motivos não nos faltam:
O medo de ser prejudicado novamente, o medo de me julgarem mal,
o medo de se iludir novamente e sonhar, apenas para se decepcionar novamente,
o medo de ficar sozinho, de não ter forças, de fracassar…
Será que a vida não nos deixa um resquício de ceticismo e desesperança?
Ah, mas eles estão em um lugar muito significativo! No Cenáculo. Lá eles compartilharam muitas refeições com Jesus, e especialmente a ÚLTIMA CEIA.
Ainda ressoavam – embora sem as compreender ou acreditar plenamente – as últimas palavras de Jesus:
“Não vos deixarei sozinhos”,
“a minha paz vos dou”,
“tomai e comei”,
“vós sois meus amigos, e dou minha vida por vós”,
“amai-vos uns aos outros como eu vos amei”,
“sede meu corpo”,
“bebei a minha vida”, “fazei o mesmo que eu fiz, em memória de mim”…
Mas também, como palavras cravadas na alma, aquelas outras palavras de advertência:
“Quando o pastor for ferido, as ovelhas se dispersarão.”
“Um de vós me trairá.”
“Antes que o galo cante, me negarás três vezes.”
“Não puderam vigiar sequer uma hora comigo?”
Sentiam-se tão fechados e enterrados como seu Mestre no sepulcro. Mas estavam juntos. Mesmo que algum deles estivesse ausente, estavam juntos!
Pelo menos ainda tinham: a união, o grupo de companheiros que o Mestre havia construído com tanto esforço. Tinham uns aos outros!
Jesus entra e abre as portas. Assim como abriu as portas do seu sepulcro.
E a sua nova vida –a sua Páscoa– é contagiosa, se espalha, se compartilha, se multiplica.
Se ele saiu da escuridão, a luz também tem que chegar aos seus. Se ele não está mais preso, é porque ele sabe abrir todas as fechaduras e trancas. E ele as faz saltar também no Cenáculo.
Frequentemente, Jesus nos encontra no mesmo lugar onde o abandonamos, onde tínhamos ouvido atentamente suas palavras, onde tínhamos comido e bebido com Ele. No lugar onde os irmãos se reúnem e se encontram. E com a sua luz toca a nossa escuridão, alivia e dá sentido ao nosso sofrimento, à experiência do fracasso, à confusão pelo que nos aconteceu.
Assim é, Jesus está sempre disposto a nos encontrar no meio de nossas dificuldades, fracassos e dúvidas. Ele não espera que o busquemos, mas vem ao nosso encontro, mesmo quando menos esperamos. Seu amor e compaixão são incondicionais, e seu desejo é estar no meio de sua comunidade, oferecendo consolo, esperança e sentido às nossas vidas. Mesmo que às vezes tenhamos pensado que o tínhamos perdido para sempre, sua presença está sempre próxima, disposto a abrir-nos as portas e acompanhar-nos em nosso caminhar.
E Ele nos pacifica, em primeiro lugar. Ele nos faz descobrir que nem tudo está perdido. Que nossos erros não são insuperáveis, se Ele colocar sua misericórdia neles. E Ele terá que fazer isso muitas vezes, porque a tristeza, as sombras e o medo muitas vezes se apoderam de nós.
Ao nos pacificar, Ele nos capacita a pacificar e reconciliar os outros. O demônio da violência e do fracasso não tem chance contra a sua paz.
O ciclo vicioso da vingança e da culpa foi quebrado, e graças a Ele, também podemos quebrá-lo. E esse coração ferido por ódios, ressentimentos e inimizades pode voltar a amar, e amar mais, mais forte, mais intensamente, mais generosamente.
E também perdoar e pedir perdão. Responsabilidade surpreendente:
Deus nos perdoou para que possamos compartilhar o perdão com os outros, porque esse perdão que o Senhor nos oferece também deve transbordar.
E isso será possível quando recebermos como um sopro de ar fresco o dom do seu ESPÍRITO.
Em seguida, Ele nos mostrará suas feridas, machucados e sofrimentos, que são os sinais do seu amor:
Aquelas mãos abertas, cheias de ternura, prontas para segurar as nossas.
Aquele lado aberto, do qual o amor transborda como uma fonte inesgotável.
Ele nos convida a tocar as feridas, para que vejamos que a dor pode ser transformada, e porque não foi correto nos afastarmos enquanto Ele sofria na cruz.
Ele nos convida a tocar as feridas, porque somente ao sentir com nossas próprias mãos o sofrimento dos homens, poderemos perceber que ainda estão abertas, sangrando hoje… no corpo de seus irmãos.
PODEMOS PEDIR HOJE AO RESSUSCITADO:
- PAZ E CONSOLO: Podemos pedir-lhe que nos encha de sua paz e nos console em momentos de dificuldades, angústias ou tristezas. Ele é capaz de acalmar nossos corações e nos confortar em meio às adversidades.
- PERDÃO E RECONCILIAÇÃO: Podemos pedir-lhe que nos ajude a perdoar aqueles que nos fizeram mal e nos guie no processo de reconciliação com aqueles com quem tivemos conflitos. Ele é o exemplo supremo de perdão e reconciliação.
- SABEDORIA E DISCERNIMENTO: Podemos pedir-lhe que nos guie em nossa jornada, nos dando sabedoria e discernimento para tomar decisões sábias e justas em nossa vida diária. Ele é o caminho, a verdade e a vida, e pode nos guiar em nossos passos.
- FORÇA E ESPERANÇA: Podemos pedir-lhe que nos dê força e coragem para enfrentar os desafios da vida e nos encha de esperança mesmo nas situações mais difíceis. Ele é nossa força e nossa esperança, mesmo em meio às adversidades.
- AMOR E COMPAIXÃO: Podemos pedir-lhe que nos ensine a amar como Ele amou, com um amor incondicional e compassivo pelos outros. Ele é a personificação do amor e pode nos capacitar a amar os outros como Ele nos amou.
- ORIENTAÇÃO E DIREÇÃO: Podemos pedir-lhe que nos guie e nos mostre o caminho certo em nossa vida, para que possamos seguir Seus passos e cumprir Seus propósitos. Ele é nosso guia e pode nos dirigir em nossos caminhos.
- GRATIDÃO E LOUVOR: Podemos agradecer-lhe por Sua graça, misericórdia e amor incondicional, e louvá-lo por tudo o que Ele tem feito em nossas vidas. Ele é digno de toda a nossa gratidão e adoração.
Em nosso relacionamento com o Cristo ressuscitado, podemos trazer a Ele nossas necessidades, anseios e louvores, sabendo que Ele está sempre pronto a nos ouvir e nos conceder o que é melhor para nós, de acordo com Sua vontade perfeita.
Texto: Quique Martínez de la Lama-Noriega, cmf.
Fonte: MISSIONÁRIOS CLARETIANOS (CIUDAD REDONDA)