Iniciamos hoje um novo ano litúrgico mergulhando na atmosfera silenciosa e luminosa do Advento. É como abrir uma porta para um tempo em que cada passo, cada gesto, cada respiração se torna preparação para acolher Aquele que vem ao nosso encontro. Não se trata apenas de recordar um nascimento antigo, mas de despertar para a presença viva de Cristo que, em cada Advento, deseja nascer novamente dentro de nós. Por isso, a liturgia insiste: “vigiai”, “ficai atentos”, “não adormeçais”. Essas palavras ecoam como um convite urgente. Quantas vezes deixamos a vida espiritual escorregar entre nossos dedos por pura distração? Quantas oportunidades de graça se perdem no barulho das preocupações, no cansaço da rotina ou na indiferença que lentamente endurece o coração?
Isaías, na Primeira Leitura (Is 2,1-5), abre diante de nós o horizonte de um sonho: a paz universal, a comunhão entre os povos, a superação de todas as violências. Parece impossível? Talvez aos olhos humanos. Mas Isaías fala de uma promessa divina – e Deus não promete o que não pretende cumprir. No fundo, o profeta desperta em nós a pergunta: ainda acreditamos que Deus pode transformar a história? O Advento nos lembra que, com o nascimento de Jesus, esse sonho começou a encarnar-se no mundo. Cada gesto de bondade que realizamos é um fragmento dessa promessa tomando forma.
Paulo, na Segunda Leitura (Rm 13,11-14a), nos sacode suavemente, como quem chama alguém que está prestes a perder o horário. Ele diz: o tempo está passando; a salvação está mais próxima do que imaginamos. Por isso, deixemos para trás as sombras – tudo aquilo que nos afasta de Deus e de nós mesmos – e revistamo-nos da luz. É um apelo concreto: abandonar hábitos que obscurecem a alma e cultivar atitudes que iluminam o cotidiano.
O Evangelho (Mt 24,37-44) retoma esse chamado com a força das palavras de Jesus no Monte das Oliveiras. Ele nos pede vigilância, não terror; atenção, não ansiedade. É uma vigilância amorosa, que se traduz em vida vivida com sentido: acolher o irmão, perceber os sinais de Deus, não se deixar aprisionar por superficialidades. A verdadeira disponibilidade para Cristo nasce de atos simples, mas cheios de amor.
No fundo, Advento é isso: DESPERTAR. Redescobrir a capacidade de esperar, de acreditar, de amar. Pois para quem segue Jesus, a indiferença nunca é uma opção.
Leituras
O Senhor reúne todas as nações para a paz eterna do Reino, convidando-nos a “caminhar na luz do Senhor”, para que, vigilantes e unidos, transformemos nossos dias com esperança viva e fé corajosa.
estará firmemente estabelecido
no ponto mais alto das montanhas
e dominará as colinas.
A ele acorrerão todas as nações,
à casa do Deus de Jacó,
para que ele nos mostre seus caminhos
e nos ensine a cumprir seus preceitos”;
porque de Sião provém a lei
e de Jerusalém, a palavra do Senhor.
estes transformarão suas espadas em arados
e suas lanças em foices:
não pegarão em armas uns contra os outros
e não mais travarão combate.
Palavra do Senhor.
Que alegria invade o coração quando ouvimos o chamado: “Vamos à casa do Senhor!”, pois ali encontramos paz, fraternidade e a esperança que renova nossa caminhada em meio aos desafios do tempo presente.
R. Que alegria, quando me disseram: “Vamos à casa do Senhor!”
1 Que alegria, quando ouvi que me disseram: *
“Vamos à casa do Senhor!”
2 E agora nossos pés já se detêm, *
Jerusalém, em tuas portas. R.
4 para lá sobem as tribos de Israel, *
as tribos do Senhor.
Para louvar, segundo a lei de Israel, *
o nome do Senhor.
5 A sede da justiça lá está *
e o trono de Davi R.
6 Rogai que viva em paz Jerusalém, *
e em segurança os que te amam!
7 Que a paz habite dentro de teus muros, *
tranquilidade em teus palácios! R.
8 Por amor a meus irmãos e meus amigos, *
peço: “A paz esteja em ti!”
9 Pelo amor que tenho à casa do Senhor, *
eu te desejo todo bem! R.
Em cada despertar, percebemos que “A salvação está mais perto de nós”, convidando-nos a abandonar sombras antigas e revestir o coração da luz de Cristo, que transforma fragilidades em caminho de renovada esperança.
11 Vós sabeis em que tempo estamos,
Com efeito, agora a salvação está mais perto de nós
do que quando abraçamos a fé.
despojemo-nos das ações das trevas
e vistamos as armas da luz.
nem de orgias sexuais e imoralidades,
nem de brigas e rivalidades.
Que o vosso coração não se entorpeça com a fadiga dos dias, pois, na vigília atenta da alma, se encontra a luz que prepara o eterno encontro com o Senhor.
até o dia em que Noé entrou na arca.
Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem.
certamente vigiaria e não deixaria
que a sua casa fosse arrombada.
o Filho do Homem virá”.
Palavra da Salvação.
Homilia
DESPERTAR PARA O INESPERADO DE DEUS
Irmãos e irmãs, iniciamos hoje o Tempo do Advento, esse período tão precioso em que a Igreja nos convida a retomar o essencial e a reacender a chama da esperança. Advento não é apenas lembrança de um acontecimento passado; é um tempo de vigilância, de expectativa, de abertura para o Deus que continua vindo ao encontro de cada um de nós.
No Evangelho deste domingo, Jesus nos apresenta uma cena surpreendente. Ele recorda os dias de Noé e diz: “Comiam, bebiam, casavam-se…” (Mt 24,38). Ou seja, viviam sua rotina, seus planos, sua aparente normalidade. Nada de errado. Mas, de repente, “chegou o dilúvio e levou a todos” (Mt 24,39).
O que o Senhor quer nos ensinar?
Que a vida pode mudar num instante. Não quando planejamos. Não quando estivermos prontos. Mas justamente quando acreditamos que tudo está sob controle.
Depois Jesus apresenta outra imagem que nos toca profundamente:
“Dois estarão no campo: um será levado, o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo: uma será levada, a outra será deixada” (Mt 24,40-41).
Não se trata de medo nem de castigo. Jesus não fala de destruição, mas de ENCONTRO.
A vinda do Filho do Homem é a manifestação gloriosa daquele mesmo Jesus dos Evangelhos, que vem ao nosso encontro para conduzir-nos à vida plena. A grande questão não é QUANDO Ele virá, mas COMO nos encontrará.
E aqui está a pergunta do Advento:
SE JESUS VIESSE HOJE AO NOSSO ENCONTRO… COMO ESTARIA NOSSO CORAÇÃO?
Estaríamos distraídos, vivendo no automático, com a alma adormecida?
Ou O esperaríamos com alegria, com o coração desperto, prontos para reconhecê-Lo como o Redentor e Libertador que dá sentido à existência?
A diferença entre aqueles dois no campo não é ONDE estavam, mas COMO estavam.
Um desperto, o outro adormecido.
Um presente, o outro distante.
Um vivendo, o outro apenas sobrevivendo.
Por isso o Senhor nos adverte com força e ternura:
“Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor” (Mt 24,42).
Meus irmãos, Advento não é saudade romântica do presépio.
ADVENTO É AGORA.
É o Deus vivo que bate à porta do nosso cotidiano:
– Na notícia inesperada que muda tudo.
– Na oportunidade que aparece sem aviso.
– No encontro que transforma a vida.
– Na provação que nos pede coragem.
– E, sim, naquela vinda definitiva que só Ele conhece.
Quando o inesperado chegar – e ele sempre chega – pode ser graça que ilumina… ou escuridão que nos encontra dispersos e vazios. A diferença é o estado do coração.
Por isso, este tempo sagrado nos convida a recuperar a capacidade de nos maravilhar, de sonhar, de esperar o extraordinário escondido dentro do ordinário.
De perceber que Deus não é um espectador distante:
Ele vem… Está vindo… E quer entrar na nossa vida – não para condenar, mas para realizar o que nem ousamos sonhar.
CONCLUSÃO
A liturgia de hoje nos deixa uma pergunta simples e decisiva:
Quando o Senhor vier – seja num acontecimento inesperado, seja na sua vinda definitiva – Ele nos encontrará despertos?
Que este Advento:
- Nos tire da estagnação, do cansaço espiritual, do piloto automático.
- Que reacenda em nós a esperança.
- Que abra nosso coração para acolher o Amigo, o Salvador, Aquele que dá sentido a tudo.
ORAÇÃO FINAL
“Desperta-nos, Senhor, para a Tua Vinda”
Senhor nosso Deus,
neste início do santo Tempo do Advento, colocamos diante de Ti o nosso coração, tantas vezes cansado, disperso e adormecido. Tu és o Deus que vem, o Deus que entra na história, o Deus que caminha conosco até quando não percebemos a Tua presença.
Desperta-nos, Senhor.
Liberta-nos do hábito de viver no automático, da rotina que sufoca o espírito, da distração que nos faz perder o essencial. Ensina-nos a reconhecer-Te nas pequenas coisas, nos encontros simples, nos gestos silenciosos em que revelas o Teu amor.
Aumenta em nós a vigilância, não de medo, mas de esperança;
não de ansiedade, mas de confiança.
Que sejamos encontrados de coração desperto quando chegares – seja no inesperado da vida, seja na Tua vinda gloriosa no fim dos tempos.
Que o Teu Espírito Santo reacenda em nós o desejo de conversão, o amor pela Tua Palavra e a coragem de trilhar novos caminhos. Que este Advento nos faça sonhar de novo, esperar de novo, acreditar de novo.
Senhor Jesus,
Tu que és o Amigo, o Salvador e o Sentido de tudo,
entra na nossa vida como luz que vence toda escuridão,
como paz que acalma toda tormenta,
como esperança que renova todas as coisas.
Vem, Senhor!
Prepara o nosso coração para acolher-Te com alegria,
para reconhecer-Te na noite e no dia, no silêncio e no clamor,
na dor e na festa.
Que ao final deste tempo santo possamos dizer, com humildade e verdade: “O Senhor veio, e nós estávamos despertos.”
Amém.
Texto inspirador: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU
Este artigo foi produzido com a assistência de ferramentas de inteligência artificial.