Um dos símbolos mais significativos do ano jubilar é a “Porta Santa”. Neste Jubileu de 2025, por desejo do Papa Francisco, as Portas Santas foram abertas apenas em Roma, nas seguintes basílicas: São Pedro, São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo Fora dos Muros. Uma exceção foi a abertura de uma Porta Santa no complexo penitenciário de Rebibbia, em Roma. No dia de sua abertura, o Papa Francisco fez questão de enfatizar seu sentido: estimular o respeito pela dignidade humana, fomentar a promoção da justiça e sensibilizar para a necessidade da conversão.
As “Portas Santas” marcam o início e a conclusão do Ano Santo. Porém, para compreendermos melhor o significado delas, é necessário ir além da porta material dos santuários.
Aprofundando o sentido da “Porta Santa”, tomaremos consciência de que ela não está simplesmente em Roma, mas em todos os lugares: em todas as instituições, povos e nações. Pode estar em todas as famílias, comunidades, grupos ou em cada pessoa. A porta é uma estrutura que nos possibilita o acesso ou a saída de um ambiente. A Porta Santa é um convite para a entrada em uma experiência mais intensa de Deus e de fraternidade. Ela nos fala de entrada, decisão e compromisso; é um lugar de abertura, passagem, movimento, acolhida e despedida.
Portanto, a abertura da Porta Santa significa um convite a fazermos uma experiência de encontro com Aquele que habita os santuários, mas, sobretudo, vive em nós: Deus.
Jesus disse: “Eu sou a porta. Quem entra por mim será salvo. Entrará e sairá, e encontrará pastagem” (Jo 10,9). Ele é o único Salvador, e não há outra porta para a Salvação: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). São Pedro declarou: “Não existe salvação em nenhum outro, pois debaixo do céu não existe outro nome dado aos homens pelo qual possamos ser salvos” (At 4,12). A abertura da “Porta Santa” significa o convite para o encontro com Jesus Cristo, o Senhor, que nos educa para o Amor. Não adianta passar pela Porta Santa de um santuário se a porta do coração e da mente continuarem trancadas.
O autêntico e eterno Bom Pastor, Jesus Cristo, nos convida a entrar no curral de suas ovelhas, a sair do isolamento, a escutar sua voz, seguir seus passos e deixar-nos conduzir para fora (cf. Jo 10,3). Isso significa a prática do amor, da acolhida, da solidariedade, do perdão, da misericórdia, da compaixão, da justiça e da reconciliação. Sem o acesso a essas experiências, não haverá mudança interior nem Ano Santo.
Sendo a porta um lugar de trânsito, passar pela Porta Santa significa dinamismo interior: abertura, conversão, caminho, proximidade, esforço e movimento rumo à entrada no dinamismo dos valores e atitudes do Reino de Deus. Jesus convidou seus discípulos “a passar pela porta estreita” (Mt 7,13), ou seja, a serem capazes de fazer esforços pela própria salvação, pois ela é dom e responsabilidade. O amor requer esforço pessoal e, sem ele, não haverá perdão, reconciliação nem paz.
Enfim, da Porta Santa física dos santuários, somos chamados a passar para o cuidado de outras portas que devemos abrir para melhorar a qualidade de nossa vida. Abrindo a porta do coração, predispomo-nos a amar e perdoar. Abrindo a porta da inteligência para o Espírito de Deus, passamos a buscar a Sabedoria que nos leva a colocar nosso intelecto a serviço do Bem. Abrindo a porta da memória, aprendemos a reconhecer os dons de Deus, a ser gratos a todos e a nos exercitar na gratuidade. Abrindo as portas das mãos, seremos capazes de doação pessoal, partilha e voluntariado. Escancarando a porta da esperança, jamais seremos reféns do pessimismo, do medo e do derrotismo, vivendo sempre com otimismo e alegria.
Texto: Dom Antonio de Assis Ribeiro
Fonte: CNBB