São essas coincidências que “parecem cair do céu”! Justamente nesta semana, a última da propaganda eleitoral e caminhando para as eleições neste final de semana, eu li e reli os pontos 176 a 197 da última Encíclica do Papa Francisco, “FRATELLI TUTTI”. Nesses pontos, o Papa desenvolve o tema da “Uma caridade social e política”, no qual tem alguns parágrafos sobre “O amor político”. Logo pensei: por que não repartir essa profunda compreensão do Papa quando discorre sobre “o amor político”. Permitam-me parafrasear o escrito pontifício, sem deixar de citar algumas frases textuais.
Primeiramente chama atenção o próprio título que o Papa dá aos parágrafos: “O AMOR POLÍTICO”. Um pouco antes, ele afirmava que muitos, atualmente, possuem uma má noção de política, e, isso se deve frequentemente “por causa dos erros, a corrupção e a ineficiência de alguns políticos” (Ft n.176). Mais existem também “as estratégias que visam enfraquecê-la, substituí-la pela economia ou dominá-la por alguma ideologia” (Ft n.176). Diante disso, o Papa, se pergunta: PODERÁ O MUNDO FUNCIONAR SEM POLÍTICA?
Claro que Francisco deixa claro a sua resposta afirmativa da necessidade da política, como já tinha também expresso claramente na sua Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” de 2013: “A POLÍTICA É UMA SUBLIME VOCAÇÃO, É UMA DAS FORMAS MAIS PRECIOSAS DE CARIDADE, PORQUE BUSCA O BEM COMUM” (Eg n.205).
Para confessar sua convicção de que a política é uma forma mais preciosa de caridade, Francisco desenvolve o conceito do “amor político”. Ele, o “amor político” tem como base o reconhecimento de todo o ser humano como irmão e irmã e a procura de uma amizade social que é capaz de integrar a todos – e esse reconhecimento da fraternidade universal e procura da amizade social, segundo o Papa, “não são meras utopias” (Ft n.180). Mais, todo e qualquer esforço nesta linha “torna-se um exercício alto de caridade” (Ft n.180). Se, como indivíduos somos chamados a sermos caridosos, mais ainda quando gerarmos “processos sociais de fraternidade e justiça para todos, entramos no campo da caridade mais ampla, a caridade política. Trata-se de avançar para uma ordem social e política, cuja alma seja a caridade social” (Ft n.180).
Deus apenas almeja da humanidade o cumprimento do mandamento do amor para ela ser feliz. Esse amor deve ser vivido entre as pessoas individualmente, mas ele é também “civil e político, manifestando-se em todas as ações que procuram construir um mundo melhor. Por este motivo, o amor expressa-se não só nas relações íntimas e próximas, mas também nas macrorrelações como relacionamentos sociais, econômicos e políticos” (Ft n.181)
O “amor político” promove o “amor social”, que por sua vez, leva-nos “a amar o bem comum e a buscar efetivamente o bem de todas as pessoas, consideradas não só individualmente, mas também na dimensão social que as une” (Ft n.182). E a partir desse “amor social”, é possível avançar para uma civilização do amor a qual todos nos sentimos chamados.
Finalizo meu escrito com uma profissão de fé: Juntamente com o Papa Francisco e com toda a Palavra de Deus, creio neste “amor político”. Porque creio, também desejo de coração, como pastor e também emprestando minha voz a todos os que formamos os seguidores de Cristo da Igreja Particular de Pelotas, que os nossos políticos eleitos neste final de semana sejam imbuídos deste “amor político” e tenham a força de vivê-lo vivamente, podendo contar com a minha bênção episcopal.
Texto: DOM JACINTO BERGMANN – Arcebispo de Pelotas (RS)