A frase do título acima é do Papa Francisco, e refere-se à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que se celebra no mês de janeiro no hemisfério norte. Por aqui, a semana acontece antes do domingo de Pentecostes, mas o tema da unidade será ressaltado já durante a quaresma, pois a CAMPANHA DA FRATERNIDADE deste ano, chamada ecumênica por realizar-se juntamente com outras Igrejas cristãs, ressalta o diálogo como caminho indispensável para a construção da unidade, como compromisso da fraternidade, como compromisso de amor. “FRATERNIDADE E DIÁLOGO: COMPROMISSO DE AMOR” é justamente o tema da Campanha, cujo lema se inspira na carta aos Efésios: “CRISTO É A NOSSA PAZ: DO QUE ERA DIVIDIDO FEZ UMA UNIDADE” (Ef 2,14a). Um motivo para envolver outras pessoas, além das comunidades cristãs, é o Dia Internacional da Fraternidade Humana, criado pela ONU em dezembro de 2020, a ser celebrado em 04 de fevereiro. A unidade é sempre superior ao conflito e é um valor de identidade do cristão. Jesus, em oração na ceia derradeira com os apóstolos, pede pela unidade: “Que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em mim, e eu em ti. Que também eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 16, 21). A unidade foi bem cuidada na Igreja, como o atestam a vida e os escritos dos primeiros cristãos. Além da insistência sempre presente na pregação apostólica, são inúmeros os testemunhos da patrística e do magistério constante da Igreja. Não é apenas válida nos dias atuais, mas extremamente necessária. Não se pode descuidar desse valor em momento algum. E valor é algo do qual não se pode abrir mão. É inegociável! Santo Inácio de Antioquia (Séc. I), bispo e mártir, um dos primeiros pais da Igreja, chamado inclusive de pai apostólico, insistia sobre a necessidade de construir a paz e viver na unidade, tendo como centro da comunhão a Eucaristia:
“Nada há mais precioso do que a paz, que desarma todo o inimigo celeste ou terrestre. Nada disto vos ficará escondido, se mantiverdes de modo perfeito em Jesus Cristo a fé e a caridade, que são o princípio e o fim da vida: a fé é o princípio e a caridade é o fim. Ambas unidas são o próprio Deus; delas derivam todas as outras virtudes que conduzem à perfeição”.
Quem está fora da unidade e da comunhão, está fora do corpo, se distancia de Deus. Usando uma expressão forte, podemos dizer que está excomungado. Isto deve questionar as pessoas, individualmente, mas também as várias comunidades cristãs. A unidade como dimensão essencial da vida cristã, e o diálogo necessário para construí-la e como expressão da fraternidade, receberam ultimamente fortes impulsos na pregação do Papa Francisco, que nos brindou no final do ano passado com a CARTA ENCÍCLICA FRATELLI TUTTI, e que propôs o “Ano Família Amoris Laetitia”, comemorando cinco anos da Exortação Apostólica “A alegria do amor”. A Campanha da Fraternidade apresenta-se como mobilização de iniciativas para aprofundar a reflexão e a vivência do que esses documentos propõem. A Fratelli Tutti é a mais recente encíclica do Papa Francisco e indica a atualidade do tema da fraternidade e da unidade para superar as desigualdades e violências, e construir uma nova realidade de justiça e paz. Traduz para os dias atuais a mensagem do Evangelho, para o crescimento do Reino de Deus, construindo um mundo mais justo e fraterno. Este empenho deve realizar-se em todas as dimensões da vida pessoal e da sociedade, nas relações quotidianas, na vida social, na política e nas instituições. O texto base da Campanha da Fraternidade de 2021 foi escrito antes da publicação desta Encíclica, por isso não faz referência a ela. O tema da Campanha, porém, com suas reflexões e sugestões práticas, ajuda a transformar as reflexões da Fratelli Tutti em ações concretas, ressaltando de modo particular o aspecto do diálogo na construção da paz. A Campanha da Fraternidade oferece oportunidade para aprofundar de modo especial este ano o diálogo na família, primeiro espaço de experiência da comunhão, onde se aprende a conviver com amor. A FAMÍLIA É A BASE DA SOCIEDADE, e não está isolada no mundo, por isso, naturalmente, a proposta do Ano Família Amoris Laetitia abrange todas as expressões de família, como a Igreja, as várias formas de comunidades eclesiais e sociais, as organizações e movimentos da sociedade que cultivam a mística de um ideal comum, em busca de um mundo melhor, construindo a paz com bem querer e amizade social: somos todos irmãos! O tempo da quaresma, momento de conversão e de graça, nos prepare para reencontrar a paz, e vivê-la no diálogo e encontro com os irmãos. “CRISTO É A NOSSA PAZ”. A paz é a primeira saudação de Cristo ressuscitado aos seus discípulos. “A paz esteja convosco”, repetimos com frequência na Liturgia e em nossos encontros fraternos. Encerramos nossas celebrações com este belo augúrio: “Ide em paz, e que o Senhor vos acompanhe”. Sejam enfraquecidas as forças satânicas que promovem as divisões e a violência, e sejam fortalecidos os bem-aventurados que promovem a paz, porque estes “são verdadeiramente filhos de Deus”.
Texto: DOM TARCÍSIO SCARAMUSSA,SDB
Imagem: Campanha da Fraternidade – CNBB
Fonte: PRESENÇA DIOCESANA