NATAL MISTERIOSO: Uma Interpretação Sublime

DESTAQUE

O Natal de Jesus é apresentado pela Igreja à luz de alguns dos textos mais sublimes e, ao mesmo tempo, mais desafiadores do Novo Testamento: as linhas iniciais da Carta aos Hebreus e o misterioso prólogo do quarto Evangelho. Ambos nos conduzem para além de um simples relato histórico e nos introduzem no coração do Mistério. Nestes dias, tornou-se quase um lugar-comum falar da pobreza e da guerra em nosso mundo – e é justo que o façamos. Contudo, como é fácil esquecer o Mistério dos Mistérios! É preciso ser solidário… é verdade. Mas, antes de tudo, é preciso ADORAR, porque:

“O VERBO SE FEZ CARNE” (Jo 1,14)

O Evangelho de João nos transmite o nascimento de Jesus com palavras surpreendentes: O Verbo se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1,14). No recém-nascido, deitado numa manjedoura, o evangelista contempla – nada menos – a própria Palavra de Deus:

Aquele que era Deus, a Luz de todos os homens, por quem tudo foi criado, e que agora assume a carne humana e faz de nós a sua morada.

Quem nasceu é o Verbo, a Palavra de Deus. Nela está a vida. A Palavra de Deus é Luz. Quando essa Palavra é pronunciada, tudo se ilumina e as trevas se dissipam.

Entretanto, o evangelista nos alerta com realismo: as trevas resistem à Luz. Não querem acolhê-la. De fato, houve – e continua havendo – seres humanos que se opõem à Luz. Ainda assim, o anúncio permanece: a Palavra se fez carne. Jesus é a Palavra de Deus feita carne, também hoje, no meio de nossas sombras contemporâneas.

“ERA O FILHO DE DEUS” (Carta aos Hebreus)

A Carta aos Hebreus, de autor desconhecido, fala de modo mais concreto e menos abstrato. Ela revela algo absolutamente impensável para os hebreus de então. Deus falou muitas vezes e de muitos modos, nos tempos antigos: pelos profetas, pelos autores sagrados; mas o que era totalmente inimaginável é que, nestes últimos tempos, Deus nos tenha falado por meio de seu Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo (Hb 1,2).

Essa revelação era escandalosa para um hebreu: Deus nunca foi um Deus solitário, fechado em si mesmo; Deus tem um Filho desde sempre; e, finalmente, falou-nos por meio desse Filho. Trata-se de Jesus de Nazaré.

Também para nós, homens e mulheres de hoje, é difícil imaginar que um recém-nascido seja o Unigênito, o Filho único de Deus. O autor da Carta aos Hebreus aprofunda ainda mais esse mistério ao afirmar que Ele é o resplendor da glória de Deus e a expressão do seu ser, sustentando todas as coisas com a palavra do seu poder (Hb 1,3). Eis o Menino que repousa na manjedoura: Aquele que sustenta o universo.

O PORTADOR DE UM ANÚNCIO INIMAGINÁVEL (Isaías)

Poderíamos celebrar o nascimento de muitos homens e mulheres que foram grandes dons para a humanidade. Mas por que esta noite, por que este Natal de 25 de dezembro?

Do capítulo 52 de Isaías:

“Como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa notícia, que proclama a salvação e diz a Sião: ‘Teu Deus reina!’” (Is 52,7).

Esse texto não fala de um profeta de desgraças, mas do profeta das Boas Notícias para toda a humanidade: o Mebasser, em hebraico. Vê-lo caminhar pelos montes, com os pés descalços, para anunciar a notícia, é uma imagem de extraordinária beleza. E sua mensagem não poderia ser mais consoladora: Deus reina – sobre a terra, sobre a história, sobre o universo. Inaugura-se o Reino de Deus.

CONCLUSÃO

Esta é a notícia extraordinária que, desde Jesus até hoje, deve ser anunciada. Não estamos abandonados à própria sorte. Mesmo quando tudo parece desmentir essa verdade, Deus reina no mundo. Há esperança. Há futuro. Há Paraíso.

E ressoa, também para nós, a promessa feita pelo Crucificado: Hoje estarás comigo no Paraíso (Lc 23,43).

MENSAGEM DE NATAL 

Neste Natal, somos convidados a ir além das luzes e das palavras repetidas, para contemplar o Mistério dos Mistérios: o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Na simplicidade de um Menino, Deus se aproxima, assume nossa fragilidade e ilumina nossas trevas com a sua Luz.

Mesmo em meio às dores, às guerras e às incertezas do nosso tempo, permanece a Boa Notícia: Deus reina. Não estamos sós, não fomos esquecidos. A manjedoura nos revela que a esperança tem rosto, tem nome e caminha conosco.

Que este Natal nos conduza à adoração sincera, renove nossa fé e reacenda em nossos corações a certeza de que há vida, há sentido e há Paraíso preparado por Deus para seus filhos.

Feliz Natal, irmãos!

Texto inspirador: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU