
No primeiro domingo de agosto, celebramos o Dia do Padre, homens que, em resposta ao chamado divino, se tornam guias nesta peregrinação da fé. E como é belo refletir, neste 44ª edição do Mês Vocacional – cujo tema é “Peregrinos Porque Chamados“ – sobre o nosso relacionamento com Deus! Afinal, como diz São Paulo: “A esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações“ (Rm 5,5), lema do mês vocacional. Mas como vivemos esse amor? Como nos relacionamos com Aquele que nos chama?
Como, de fato, nos relacionamos com Deus? Será que O buscamos apenas nos momentos de aflição, ou cultivamos um diálogo contínuo, onde falamos e escutamos? A liturgia deste domingo nos convida a um exame de consciência: O que ocupa o centro da nossa vida?
No Evangelho (Lc 12,13-21) Jesus, na parábola do “rico insensato”, expõe a tragédia de quem edifica a existência sobre bens passageiros. Aquele homem acumulou tesouros para si, mas esqueceu-se de ser “rico para Deus”. Quantos hoje repetem esse erro, correndo atrás de segurança material, prazeres efêmeros ou reconhecimento vazio, enquanto a verdadeira felicidade — aquela que não se esgota — está no amor que doamos e no Deus que acolhemos.
O Cohelet (Eclesiastes – convite à reflexão sobre o significado da vida à luz da eternidade), na Primeira Leitura (Ecl 1,2; 2,21-23), com seu tom realista, nos lembra: tudo é vaidade se não estiver ancorado no eterno. Não se trata de desprezar os dons da terra, mas de usá-los como degraus para o céu. E Paulo, na Segunda Leitura (Cl 3,1-5.9-11), completa: “Buscai as coisas do alto!“ Ou seja, vivamos já aqui na terra como quem carrega no coração a semente da ressurreição.
Ser peregrino é saber que nada neste mundo nos sacia plenamente, porque fomos feitos para Deus. E os padres, nessa jornada, são sinais vivos desse chamado: homens que, deixando tudo, nos mostram que o maior tesouro é Cristo.
Que este mês nos desperte para a escuta, para o desapego e, sobretudo, para a esperança que não decepciona. Porque, no fim de toda peregrinação, nos aguarda Aquele que é o próprio Amor.
Leituras
Quando tudo parece vaidade e o coração vacila entre o vazio e o absurdo, recordamos com fé que “a vida não termina nem se encerra neste mundo”, mas desabrocha na eternidade.
Tudo é vaidade”.
competência e sucesso,
vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro
que em nada colaborou.
Também isso é vaidade e grande desgraça.
que o desgastam debaixo do sol?
Nem mesmo de noite repousa o seu coração.
Também isso é vaidade.
Palavra do Senhor.
Diante da fugacidade dos dias, suplicamos com fé: “ensinai-nos a contar os nossos dias”, pois só o amor do Senhor pode saciar o tempo e tornar fecundo o nosso existir.
R. Vós fostes ó Senhor, um refúgio para nós.
3 Vós fazeis voltar ao pó todo mortal, *quando dizeis: “Voltai ao pó, filhos de Adão!”
4 Pois mil anos para vós são como ontem, *
qual vigília de uma noite que passou. R.
5 Eles passam como o sono da manhã, *
6 são iguais à erva verde pelos campos:
De manhã ela floresce vicejante, *
mas à tarde é cortada e logo seca. R.
12 Ensinai-nos a contar os nossos dias, *
e dai ao nosso coração sabedoria!
13 Senhor, voltai-vos! Até quando tardareis? *
Tende piedade e compaixão de vossos servos! R.
14 Saciai-nos de manhã com vosso amor, *
e exultaremos de alegria todo o dia!
17 Que a bondade do Senhor e nosso Deus †
repouse sobre nós e nos conduza! *
Tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho. R.
“Ser ‘imagem de Deus” não é perfeição inalcançável, mas Cristo transparecendo em gestos simples: quando amamos sem cálculo, servimos sem cansaço, e sorrimos à eternidade.
onde está Cristo, sentado à direita de Deus;
revestidos de glória.
paixão, maus desejos
e a cobiça, que é idolatria.
e da sua maneira de agir
em ordem ao conhecimento.
inculto, selvagem, escravo e livre,
mas Cristo é tudo em todos.
Palavra do Senhor.
Quando o homem vive só para si e para seus bens, esquece que “louco, ainda nesta noite pedirão tua vida”, pois apenas no amor partilhado o coração encontra dignidade e plenitude.
ou de dividir vossos bens?”
porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas,
a vida de um homem não consiste na abundância de bens”.
Não tenho onde guardar minha colheita’.
neles vou guardar todo o meu trigo,
junto com os meus bens.
Descansa, come, bebe, aproveita!’
E para quem ficará o que tu acumulaste?’
Palavra da Salvação.
Homilia
“BUSCAI OS BENS DO ALTO”: CONTRA A GANÂNCIA E O CONSUMISMO
Existe um momento na vida em que a generosidade cede lugar à avareza ou ao consumismo: as decepções nos levam a focar em nós mesmos, esquecendo as necessidades dos outros.
Dividirei esta homilia em três partes:
- A avareza
- Seu rosto pós-moderno: o consumismo
- Buscai os bens do alto

A AVAREZA
Aquele que se deixa dominar pela avareza recusa qualquer pedido – seja de um pobre ou de uma causa justa – fechando-se ao próximo por medo de não ter o suficiente para si mesmo. Sua vida gira em torno de reter e multiplicar o que possui, numa tentativa ansiosa de afastar a insegurança e o vazio do futuro.
“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3).
A avareza, pecado capital, impede a verdadeira felicidade e plenitude interior; conhecer seus mecanismos é o primeiro passo para vencê-la. Como afirma Humberto Galimberti (filósofo italiano) , a avareza é o mais tolo dos pecados: o avarento acumula bens que jamais desfruta e encontra seu poder apenas no ato de possuir.
O avarento renuncia a viver. Quanto menos gasta, mais acredita estar ganhando, chegando ao ponto de esconder seus bens para que ninguém os deseje. O centro da sua existência é o medo do futuro, o pavor do vazio e da morte. Mas Jesus o adverte com clareza: “Louco! Ainda nesta noite pedirão de volta a tua vida” (Lc 12,20), convidando-o a sair desse labirinto sufocante.
A avareza pode até se disfarçar sob a aparência de uma vida austera e pobre: de que serve privar-se de tudo se isso apenas reforça a dependência do dinheiro que nunca se gasta? No fundo, a avareza conduz à idolatria – à adoração do material – esvaziando o coração da sua dimensão divina.
SEU ROSTO PÓS-MODERNO: O CONSUMISMO
O consumismo é o novo rosto da avareza. Um vício moderno, coletivo e social (como alerta Galimberti), que exclui e marginaliza quem não o segue. Por que chamá-lo de vício?
Nas sociedades atuais, o bem-estar é medido pela produção. E, para que a produção continue, é preciso estimular o consumo: quanto mais se consome, mais se produz – e assim por diante. O consumo torna-se então meio e fim da própria produção.
A publicidade se encarrega de gerar necessidades artificiais. Convida-nos a descartar objetos que ainda servem, a destruir o que funciona, para dar lugar ao novo, que promete ser “imprescindível”. O consumismo opera sob a lógica da destruição. Não favorece a durabilidade, mas a substituição rápida. Mesmo quando algo ainda é útil, é classificado como “fora de moda” ou “obsoleto”.
O mais grave é que uma humanidade que trata o mundo como descartável, passa a tratar a si mesma da mesma forma. Como disse Günther Anders (filósofo alemão), vivemos num mundo onde “o ser humano é também tratado como algo a ser usado e jogado fora”. Vivemos, como alertou Lipovetsky (filosofo francês), “sob o império do efêmero”.
Mas Jesus nos adverte com amor e firmeza: “Tomai cuidado contra todo tipo de ganância. Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não depende da abundância dos seus bens” (Lc 12,15).
BUSCAI OS BENS DO ALTO!
Cristo nos quer felizes – não de uma felicidade ilusória e passageira, mas daquela que vem como dom do alto, inesperado, gratuito, eterno. Aos que não se curvam diante dos ídolos da avareza, do consumismo ou do prazer desordenado, Deus promete o cêntuplo nesta vida e a vida eterna (cf. Mc 10,29-30).
Quem perde, ganha; quem se esquece de si, encontra-se. O mais importante é ser rico para Deus.
“Bem-aventurados os pobres, porque vosso é o Reino de Deus” (Lc 6,20).
Que nossas escolhas revelem onde está nosso tesouro, pois ali também estará nosso coração (cf. Mt 6,21).
CONCLUSÃO
Diante do convite de Jesus para não sermos escravos da avareza nem do consumismo, somos chamados a reencontrar o verdadeiro sentido da vida: não nos bens materiais que passam, mas no amor que nos une a Deus e aos irmãos. A fugacidade das coisas terrenas revela a urgência de cultivarmos os bens do alto, que permanecem eternamente e saciam o coração inquieto. Que a sabedoria do Espírito Santo nos conduza a viver com generosidade, desapego e solidariedade, fazendo do Reino de Deus nossa verdadeira riqueza e esperança segura. Assim, caminhemos confiantes, sabendo que quem se entrega ao amor divino jamais estará vazio ou perdido.
Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU
Este artigo foi produzido com a assistência de ferramentas de inteligência artificial.