IV DOMINGO DA PÁSCOA (ANO C)

A PALAVRA

O quarto Domingo da Páscoa não é apenas mais uma data no calendário litúrgico – é um chamado. Um chamado que ecoa através dos séculos, ressoando no coração de quem está disposto a escutar. Este é o Domingo do Bom Pastor, e a cada ano, a Igreja nos convida a mergulhar no décimo capítulo do Evangelho de João, onde Jesus se revela não apenas como um guia, mas como “O” Pastor que dá a vida por suas ovelhas.

E que imagem mais poderosa que esta? Num mundo onde líderes falham, promessas se desfazem e as vozes que nos cercam muitas vezes nos levam ao desespero, Cristo se apresenta como Aquele que conhece suas ovelhas. Não de longe, não por obrigação, mas intimamente, pelo nome. Ele não é um mercenário que foge diante do perigo; é o Pastor que enfrenta o lobo, que caminha adiante, que chama – e espera que reconheçamos sua voz.

Neste tempo de graça, a Igreja celebra também a presença do seu novo Pastor universal, o Papa Leão XIV, sucessor de Pedro e guia visível de todos os católicos. Ele assume, perante o rebanho de Cristo, a missão de confirmar os irmãos na fé, seguindo o exemplo do Bom Pastor, que dá a vida por suas ovelhas. Que seu pontificado seja um reflexo fiel do amor e da solicitude de Cristo por Sua Igreja.

E neste mesmo Domingo, enquanto meditamos sobre o Pastor que cuida de seu rebanho, celebra-se também o Dia das Mães. Não é por acaso que essas duas realidades se encontram. Se Cristo é o Bom Pastor que conduz, protege e dá a vida por suas ovelhas, as MÃES são, em sua missão terrena, um reflexo desse amor sacrificial.

Quantas mães, ao longo da história, têm sido pastoras em suas próprias famílias? Guiando, corrigindo, sustentando, muitas vezes em silêncio e com uma força que parece inesgotável. Elas conhecem os filhos pelo nome, sabem de suas dores, alegrias e medos – assim como Cristo conhece cada uma de suas ovelhas. E mesmo quando falham (porque são humanas), seu amor perseverante nos lembra que há um Amor maior, perfeito e infalível, que nunca nos abandona.

A Primeira Leitura (At 13,14.43-52) nos coloca diante de uma divisão inevitável: há os que ouvem o chamado e os que se recusam a sair do cercadinho de suas certezas. Quantos de nós preferimos a segurança do conhecido à aventura de seguir Cristo? Quantas vezes trocamos a liberdade de sermos guiados por Ele pela ilusão de autossuficiência?*

É fácil identificar-se com as ‘ovelhas’ instaladas no orgulho, na rotina espiritual, na falsa ideia de que não precisamos de ninguém – nem mesmo de Deus. Mas o Evangelho (Jo 10,27-30) nos desafia: Quem são os verdadeiros perdidos? Aqueles que admitem sua necessidade de um Pastor ou os que insistem em acreditar que nunca se enganam?

A Segunda Leitura (Ap 7,9.14b-17), por sua vez, nos lembra que seguir o Bom Pastor não é apenas uma jornada terrena – é um destino eterno. Aqueles que ouvem sua voz e caminham com Ele, mesmo através dos vales mais escuros, chegarão às fontes da água viva. Não é uma metáfora vaga: é a promessa de que a injustiça, a violência e até a morte não têm a última palavra.

Quantas vezes, no meio das lutas, duvidamos se vale a pena perseverar? Este Domingo nos responde: Sim, vale. Porque o Pastor que nos chama já venceu o pior dos perigos e nos assegura que, se O seguirmos, chegaremos ao mesmo lugar onde Ele está.

Hoje, a pergunta que fica é: Conhecemos a voz do Pastor? Em meio ao ruído do mundo, aos apelos do consumismo, às vozes que nos dizem para buscarmos apenas nosso próprio bem-estar, será que ainda sabemos discernir quem realmente nos guia para a vida plena?

O convite deste Domingo não é apenas para escutar, mas para responder. Para deixar para trás o que nos aprisiona e seguir Aquele que nos ama com um amor que não desiste, não abandona, não se cansa.

E, neste Dia das Mães, também somos convidados a agradecer por aquelas que, à sua maneira, nos ensinaram a ouvir essa voz – que nos conduziram, com seus exemplos, para mais perto d’Aquele que é o verdadeiro Pastor.

No fim, a escolha é simples, ainda que exigente: queremos ser ovelhas perdidas ou pertencer ao rebanho que jamais se perderá?

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

Onde muitos veem rejeição, Deus abre novas pastagens. Como o salmista canta: ‘Eu vos exalto, Senhor, pois me livrastes’. Hoje, o rebanho se expande – e o Pastor chama até as ovelhas que julgávamos perdidas.

Naqueles dias, Paulo e Barnabé
14 partindo de Perge,
chegaram a Antioquia da Pisídia.
E, entrando na sinagoga em dia de sábado, sentaram-se.
43 Muitos judeus e pessoas piedosas 
convertidas ao judaísmo seguiram Paulo e Barnabé.
Conversando com eles, os dois insistiam
para que continuassem fiéis à graça de Deus.
44 No sábado seguinte, quase toda a cidade se reuniu
para ouvir a palavra de Deus.
45 Ao verem aquela multidão,
os judeus ficaram cheios de inveja
e, com blasfêmias, opunham-se ao que Paulo dizia.
46 Então, com muita coragem,
Paulo e Barnabé declararam:
“Era preciso anunciar a palavra de Deus primeiro a vós.
Mas, como a rejeitais
e vos considerais indignos da vida eterna,
sabei que vamos dirigir-nos aos pagãos.
47 Porque esta é a ordem que o Senhor nos deu:
‘Eu te coloquei como luz para as nações,
para que leves a salvação
até os confins da terra'”.
48 Os pagãos ficaram muito contentes,
quando ouviram isso,
e glorificavam a palavra do Senhor.
Todos os que eram destinados à vida eterna,
abraçaram a fé.
49 Desse modo, a palavra do Senhor
espalhava-se por toda a região.
50 Mas os judeus
instigaram as mulheres ricas e religiosas,
assim como os homens influentes da cidade,
provocaram uma perseguição contra Paulo e Barnabé
e expulsaram-nos do seu território.
51 Então os apóstolos sacudiram contra eles
a poeira dos pés, e foram para a cidade de Icônio.
52 Os discípulos, porém, ficaram cheios de alegria
e do Espírito Santo.
Palavra do Senhor.

Entre o barulho do mundo que nos dispersa, ecoa a verdade serena: ‘Somos ovelhas de seu rebanho’. Hoje, o Pastor nos chama pelo nome – e nesse reconhecimento, encontramos nosso lar eterno.

R. Sabei que o Senhor, só ele, é Deus,
nós somos seu povo e seu rebanho.

2 Aclamai o Senhor, ó terra inteira, †
servi ao Senhor com alegria, *
ide a ele cantando jubilosos! R.

3 Sabei que o Senhor, só ele, é Deus, †
Ele mesmo nos fez, e somos seus, *
nós somos seu povo e seu rebanho. R.

5 Sim, é bom o Senhor e nosso Deus, †
sua bondade perdura para sempre, *
seu amor é fiel eternamente! R.

Em meio ao deserto da vida, o Cordeiro nos guia com ternura: ‘Conduzir-vos-ei às fontes da água viva’. Eis a promessa que sacia nossa sede mais profunda – hoje e para sempre.

Eu, João,
9 vi uma multidão imensa
de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas,
e que ninguém podia contar.
Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro;
trajavam vestes brancas
e traziam palmas na mão.
14b Então um dos anciãos me disse:
“Esses são os que vieram da grande tribulação.
Lavaram e alvejaram as suas roupas
no sangue do Cordeiro.
15 Por isso, estão diante do trono de Deus
e lhe prestam culto, dia e noite, no seu templo.
E aquele que está sentado no trono
os abrigará na sua tenda.
16 Nunca mais terão fome, nem sede.
Nem os molestará o sol, nem algum calor ardente.
17 Porque o Cordeiro, que está no meio do trono,
será o seu pastor
e os conduzirá às fontes da água da vida.
E Deus enxugará as lágrimas de seus olhos”.
Palavra do Senhor.

Em um mundo de pastagens efêmeras, Jesus declara: ‘Eu dou a vida eterna às minhas ovelhas’. Não mero prolongamento de dias, mas plenitude que nenhuma sombra poderá extinguir.

Naquele tempo, disse Jesus:
27 “As minhas ovelhas escutam a minha voz,
eu as conheço e elas me seguem.
28 Eu dou-lhes a vida eterna
e elas jamais se perderão.
E ninguém vai arrancá-las de minha mão.
29 Meu Pai, que me deu estas ovelhas,
é maior que todos,
e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai.
30 Eu e o Pai somos um”.
Palavra da Salvação.

Homilia

O BOM PASTOR: LIDERANÇA BELA E TRANSFORMADORA

Neste quarto domingo da Páscoa, somos presenteados com uma das imagens mais comoventes e profundas do Evangelho: a do Bom Pastor. Jesus, o Bom Pastor, não apenas nos guia com ética e retidão, mas sua liderança gera uma harmonia que embeleza e eleva a vida daqueles que O seguem. Hoje, esta imagem ressoa com força especial, especialmente diante da eleição de um novo Papa e do reflexo de sua figura em toda a estrutura pastoral da Igreja.

Dividirei esta homilia em três partes:

  • O Bom Pastor: uma liderança que cria beleza
  • A crise de liderança e a saudade do Pastor
  • A liderança como sacramento do Bom Pastor”

O BOM PASTOR: UMA LIDERANÇA QUE CRIA BELEZA

O adjetivo ‘bom’, quando aplicado ao Pastor, transcende em muito a simples moralidade; é um convite a contemplarmos uma beleza que salva. No Evangelho de João (10,11-18), Cristo se revela não como um mero guia ético, mas como Aquele cuja própria vida se torna luz – uma luz que atrai não pela força, mas pela irresistível beleza do Amor que se entrega. Esta é a pedagogia divina: Deus não nos conquista com argumentos, mas com a beleza transfigurada do Crucificado-Ressuscitado.

Um verdadeiro líder – seja na Igreja, na família ou na sociedade – não se contenta em ser ‘correto’. Como o Bom Pastor, ele é chamado a ser poeta da comunhão: aquele que, como um divino artista, transforma o barro das nossas divisões em vasos de comunhão, as dissonâncias dos nossos conflitos em sinfonia de fraternidade. SEU SEGREDO? A liturgia vivida no cotidiano – onde cada gesto se torna epifania, cada palavra, consagração, não por teatralidade, mas porque aprendeu d’Aquele que ‘veio para que todos tenham vida, e vida em abundância (Jo 10,10).

Neste tempo pascal, a Igreja nos convida a contemplar esta beleza pastoral: num mundo fragmentado por lideranças que dominam, Cristo nos mostra o poder revolucionário do Servo que lava pés. Eis o critério: onde há verdadeira liderança, a vida – mesmo na dor – se torna celebração, e o rebanho disperso reconhece, extasiado, Vede como eles se amam!‘ (Tertuliano). Esta é a herança do Bom Pastor: não técnicas de governo, mas a arte de transfigurar o ordinário em sacramento do Amor eterno.

A CRISE DE LIDERANÇA E A SAUDADE DO PASTOR

Jesus, movido pela compaixão ao ver a multidão ‘como ovelhas sem pastor’ (Mc 6,34), multiplica os pães e os peixes. Um povo, uma comunidade sem pastor, ou conduzida por um mau pastor, mergulha na desventura; o mal-estar se espalha por toda parte. Onde quem lidera é alguém irado, invejoso, narcisista… o que podemos esperar?

O Bom Pastor, como Jesus, não apenas sacia a fome material, mas oferece o alimento para o Espírito (Jo 6,35). Jesus confia a Pedro esse ministério de bom pastor que Ele mesmo exerceu. A Igreja Católica recebeu um NOVO PASTOR‘ (Leão XIV), um novo Pedro. Que ele nos lembre sempre de Jesus, o Bom Pastor, com seu serviço alegre, humilde e belo.

A LIDERANÇA COMO SACRAMENTO DO BOM PASTOR

O verdadeiro pastoreio só encontra seu sentido pleno quando se torna sacramento vivo – sinal visível e eficaz – de Jesus Cristo, o Bom e único Pastor (Jo 10,11). Neste IV Domingo da Páscoa, a Igreja nos convida a contemplar esta verdade profunda que desafia todas as formas de liderança eclesial:

A VOZ QUE ECOA A PALAVRA ETERNA

Minhas ovelhas ouvem minha voz” (Jo 10,27). O pastor autêntico não fala de si mesmo, mas torna-se catequista permanente do Evangelho. Num mundo de ruídos e informações vazias, sua voz deve ser como a do Batista: “É necessário que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30). Quando os fiéis ouvem um sacerdote, devem escutar, através dele, o próprio Cristo.

A PRESENÇA QUE ENCARNA O DEUS-CONOSCO

O pastor “cheira a ovelha” (Papa Francisco), compartilhando alegrias e esperanças, dores e angústias. Sua agenda não é ditada por trâmites burocráticos, mas pelo ritmo do rebanho. Como Jesus que “se compadeceu da multidão” (Mc 6,34), o verdadeiro pastor conhece cada ovelha pelo nome, porque caminha com elas.

A BELEZA QUE ANTECIPA O CÉU

O pastoreio cristão é essencialmente litúrgico – não no sentido ritualista, mas como obra de arte divina que transforma o caos em cosmos. O pastor, como “ministro da beleza” (Bento XVI), deve irradiar a harmonia da Jerusalém celeste (Ap 21,2), onde “Deus enxugará toda lágrima” (Ap 21,4).

O Apocalipse (7:9) retrata uma humanidade reconciliada, pastoreada pelo Cordeiro. Essa visão utópica é possível se os líderes renunciarem aos seus egos e se tornarem canais transparentes do único Pastor: DEUS.

CONCLUSÃO

Este apelo por pastores segundo o Coração de Cristo não é mera utopia, mas urgência profética para nosso tempo. Quando líderes cristãos encarnam o pastoreio de Jesus – que não veio para ser servido, mas para servir (Mc 10,45) – acontece algo extraordinário: as comunidades deixam de ser meras estruturas eclesiásticas para se tornarem verdadeiros sinais do Reino.

A transformação que esperamos começa quando compreendemos que o milagre não está em feitos espetaculares, mas na fidelidade cotidiana ao Evangelho. Como o fermento na massa (Mt 13,33), pastores autênticos operam silenciosamente, criando espaços de graça onde:

As feridas são acolhidas como o Bom Samaritano (Lc 10,34)
Os pequenos são valorizados como no banquete do Reino (Lc 14,13)
Todos descobrem que são “amados, perdoados e chamados” (Christus Vivit, 115)

Neste tempo pascal, deixemo-nos desafiar pelo Pastor que continua chamando: Como o Pai me enviou, eu vos envio (Jo 20,21). Que nossa oração insista: Dai-nos pastores que não brilhem por si mesmos, mas que, como João Batista, sejam ‘voz que clama no deserto’ (Jo 1,23), preparando os caminhos não para seu próprio sucesso, mas para o encontro definitivo com Aquele que é o único Pastor de nossas almas.

Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU
Este artigo foi produzido com a assistência de ferramentas de inteligência artificial.