Ao aproximarmo-nos do fim do ano litúrgico, a Palavra de Deus nos convida a erguer os olhos para além do imediato. Em meio a um mundo que, tantas vezes, parece dominado pelo caos e pela desesperança, as leituras de hoje nos sussurram uma verdade revolucionária: a nossa história não é um caminho sem rumo para a perdição, mas uma peregrinação sagrada rumo ao abraço de Deus. Sim, a vida verdadeira nos espera, não como uma fuga, mas como um encontro.
Imagine a comunidade desanimada da Primeira Leitura (Ml 3,19-20a), cansados, ouvindo os céticos dizerem que Deus os havia abandonado. Então, um enviado profético lhes traz uma certeza que corta como uma lâmina: Javé não desertou. O mal não tem as rédeas definitivas da história. No tempo oportuno – o kairós de Deus –, Ele atuará. Das cinzas do que é velho e corrupto, fará brotar uma criação renovada, banhada pela luz da sua salvação. Esta não é uma promessa para um futuro distante; é a lente pela qual devemos enxergar o nosso presente.
Jesus, no Evangelho (Lc 21,5-19), aprofunda esta esperança. Ele nos garante que o ponto final da história humana não é o fracasso, mas a salvação. É esta certeza, íntima e fortalecedora, que nos permite enfrentar as crises, as perseguições e as convulsões de cada época sem perder o chão. No entanto, como São Paulo na Segunda Leitura (2Ts 3,7-12) nos adverte, esta esperança não é um convite à passividade. Pelo contrário! Crer no Deus que age na história é tornar-se protagonista dela. É sujar as mãos na construção do seu Reino, comprometendo-nos com a justiça, a paz e a dignidade de todos.
Neste domingo, em que também celebramos o IX Dia Mundial dos Pobres com o lema “Tu és a minha esperança” (cf. Sl 71,5), somos desafiados a ser, nós mesmos, o rosto desta esperança para os mais frágeis. E, num mundo que geme sob o peso da crise ecológica, elevemos nossas orações pelos participantes da COP30, para que, guiados pela Sabedoria divina, encontrem caminhos corajosos para cuidar da nossa Casa Comum. A construção do mundo novo começa hoje, com nossa fé ativa e nossas mãos em prece e em ação.
Leituras
Quando a escuridão do mundo parecer sufocar a esperança, lembremo-nos da promessa: “Nascerá para vós o sol da justiça”, que aquece os corações feridos, dissipa o mal e faz renascer a vida em Deus.
e esse dia vindouro haverá de queimá-los,
diz o Senhor dos exércitos,
tal que não lhes deixará raiz nem ramo.
trazendo salvação em suas asas.
Palavra do Senhor.
Em meio às injustiças humanas e ao clamor dos que sofrem, confiemos: “O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça julgará”, trazendo equilíbrio às dores e esperança aos corações fiéis.
R. O Senhor virá julgar a terra inteira;
com justiça julgará.
5 Cantai salmos ao Senhor ao som da harpa*
e da cítara suave!
6 Aclamai, com os clarins e as trombetas,*
ao Senhor, o nosso Rei! R.
7 Aplauda o mar com todo ser que nele vive,*
o mundo inteiro e toda gente!
8 As montanhas e os rios batam palmas*
e exultem de alegria. R.
9a Exultem na presença do Senhor, pois ele vem,*
vem julgar a terra inteira.
9b Julgará o universo com justiça *
9c e as nações com equidade. R.
Em um mundo que busca atalhos e evita o sacrifício, recordemos a sabedoria apostólica: “Quem não quer trabalhar, também não deve comer”, pois o verdadeiro sustento nasce da dignidade do esforço compartilhado.
de dia e de noite, para não sermos pesados a ninguém.
“Quem não quer trabalhar, também não deve comer”.
Palavra do Senhor.
Quando tudo ao redor parecer ruir e o medo tentar calar a fé, recorda-te: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!”, pois a perseverança é o nome do amor fiel.
e com ofertas votivas.
Jesus disse:
Tudo será destruído”.
de que estas coisas estão para acontecer?”
porque muitos virão em meu nome, dizendo:
‘Sou eu!’ e ainda: ‘O tempo está próximo.’
Não sigais essa gente!
É preciso que estas coisas aconteçam primeiro,
mas não será logo o fim.’
um país atacará outro país.
acontecerão coisas pavorosas
e grandes sinais serão vistos no céu.
sereis entregues às sinagogas e postos na prisão;
sereis levados diante de reis e governadores
por causa do meu nome.
E eles matarão alguns de vós.
Homilia
CORAJOSOS, NÃO COVARDES! É assim que Jesus nos vê.
O Ano Litúrgico sempre se encerra com um tom apocalíptico, o que nem sempre é fácil de acolher. As três leituras deste XXXIII Domingo do Tempo Comum trazem essa tonalidade: o profeta Malaquias contrapõe o fogo que consome os ímpios à luz que ilumina os justos; São Paulo opõe o trabalho criador à ociosidade destrutiva; e Jesus, o Mestre, ensina seus discípulos a não se deixarem seduzir pelas aparências do que passa, mas a serem corajosos nas zonas de trevas e morte, pois é justamente ali que encontrarão a salvação.
FOGO QUE CONSOME OU LUZ QUE ILUMINA?
A linguagem apocalíptica sempre causa impacto, pois apresenta o confronto final entre o bem e o mal. O profeta Malaquias anuncia uma escolha decisiva: o destino dos perversos será como um “forno ardente”, onde serão queimados até que nada reste deles — nem raiz, nem galho. Mas para aqueles que honram o nome do Senhor, o destino será de luz e transformação, pois “nascerá para vós o sol da justiça, trazendo a salvação em suas asas” (Ml 3,20).
A luz de Deus é, para alguns, fogo que destrói; para outros, vida que renasce. Este será o destino de cada um conforme sua resposta ao amor divino.
A PROMESSA EM MEIO À CATÁSTROFE
Jesus não se mostrou impressionado com a beleza do Templo de Jerusalém. Pelo contrário, alertou seus discípulos sobre o que estava prestes a acontecer. Diante da profecia terrível, eles perguntam:
“Mestre, quando acontecerá isso? E qual será o sinal?”
Então o Senhor inicia seu discurso apocalíptico. Ele anuncia: “Haverá guerras entre povos, revoluções; grandes terremotos, epidemias e fome em muitos lugares; e aparecerão sinais espantosos no céu” (cf. Lc 21,10-11).
E mais ainda: adverte seus discípulos sobre as perseguições que viriam. Falsos messias tentarão enganá-los; serão levados aos tribunais, presos e julgados; até mesmo seus familiares e amigos os trairão — e alguns serão mortos. Tudo isso, porque são discípulos de Jesus, e por isso serão odiados por todos os povos (cf. Lc 21,12-17).
Mas em meio a tamanha tribulação, Jesus oferece uma promessa de esperança: “Nem um só cabelo da vossa cabeça se perderá” (Lc 21,18). É um chamado à coragem e confiança, pois Deus não abandona os seus.
O Mestre nos ensina, assim, a não nos deixarmos fascinar pelo império do efêmero — tudo aquilo que passa: a beleza da juventude, o prestígio da fama, o encanto das conquistas. Tudo é transitório. Somente o amor fiel e a perseverança permanecem, pois “é permanecendo firmes que ireis ganhar a vida” (Lc 21,19).
NADA NEM NINGUÉM NOS PARALISE!
O medo paralisa e enfraquece a alma. Na comunidade de Tessalônica, alguns cristãos, tomados pela expectativa do fim do mundo, deixaram de trabalhar e passaram a “viver sem fazer nada”. O apóstolo Paulo os exorta com firmeza: “Quem não quer trabalhar, também não deve comer” (2Ts 3,10). Ele mesmo se apresenta como exemplo de fé ativa e laboriosa, mostrando que a ação humana tem sentido diante de Deus, mesmo quando parece ser interrompida por forças maiores.
CONCLUSÃO
A palavra “Apocalipse” significa revelação — é o véu que se abre para deixar ver o que estava oculto. Uma Luz vem do futuro ao nosso encontro. Ela não responde a todas as nossas perguntas, mas nos revela que o fim não é trevas, nem frio, nem desespero.
HÁ SALVAÇÃO — E ESTA É A CHAVE QUE DÁ SENTIDO À NOSSA VIDA PRESENTE.
Em meio às dores, incertezas e ruínas do tempo, a fé nos faz esperar pelo Sol da Justiça, cuja luz transforma o fogo do sofrimento em chama de esperança.
Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU