
Em meio às rotinas corridas e aos desafios do cotidiano, somos frequentemente tentados a viver de forma passiva, deixando a vida nos levar, como se o tempo fosse apenas algo a suportar. Mas a Palavra de Deus que a liturgia nos apresenta neste segundo domingo de agosto – dia em que também celebramos com carinho o Dia dos Pais – nos convida a algo maior, mais profundo, mais comprometido: redescobrir o nosso lugar no projeto amoroso de Deus.
A fé cristã não é uma teoria distante nem um consolo abstrato. Ela é um chamado concreto a viver despertos, atentos, envolvidos com a realidade ao nosso redor. A lembrança da libertação do Egito, evocada na Primeira Leitura (Sb 18,6-9), não é apenas uma memória gloriosa do passado, mas um convite atual: Deus continua nos libertando, e essa libertação exige escuta, prontidão e resposta. Para os hebreus, aquela noite foi de passagem – da opressão à liberdade, da morte à vida. E hoje, em nossa história, o Senhor ainda passa, nos chamando a caminhar com Ele, a abandonar a escravidão do egoísmo, da indiferença, da apatia.
O Evangelho (Lc 12,32-48) é ainda mais direto: Jesus quer discípulos vigilantes, não acomodados. O Reino de Deus exige serviço, humildade e ação. É um projeto que se constrói nas pequenas fidelidades do dia a dia – no trabalho honesto, na escuta do outro, no cuidado com a família, no compromisso com os pobres, na oração fiel. Não se trata de grandes feitos heroicos, mas de viver cada instante como se fosse oportunidade de amar.
A Segunda Leitura (Hb 11,1-2.8-19) nos oferece os rostos confiantes de Abraão e Sara. Eles não sabiam exatamente para onde iam, mas sabiam em quem confiavam. Sua fé foi caminho, não certeza; foi abandono, não controle. E é assim que somos chamados a viver: com fé corajosa, com esperança ativa, com confiança naquele que nos prometeu a vida em plenitude.
Neste Dia dos Pais, que exemplo mais belo do que o de um pai que, como Abraão, caminha confiando em Deus? Que, como Jesus ensina, serve com simplicidade e entrega? Que nossas famílias sejam lugares onde o Reino de Deus comece a florescer – através de pais vigilantes, mães fiéis, filhos comprometidos e corações despertos para amar.
Leituras
Assim como ‘a noite da libertação revelou a glória dos fiéis’, hoje Deus transforma nossas lutas em triunfo: o mesmo fogo que purifica os justos consome a indiferença do mundo!
se conservassem intrépidos.
chamando-nos a ti.
que os santos participariam solidariamente
dos mesmos bens e dos mesmos perigos.
Isto, enquanto entoavam antecipadamente
os cânticos de seus pais.
Palavra do Senhor.
Como ‘feliz o povo que o Senhor escolheu’, nós, batizados, somos a herança de Deus: em meio ao caos do mundo, Ele nos guarda no abrigo do seu amor inquebrantável!
R. Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança!
1 Ó justos, alegrai-vos no Senhor! *
aos retos fica bem glorificá-lo.
12 Feliz o povo cujo Deus é o Senhor *
e a nação que escolheu por sua herança! R.
18 Mas o Senhor pousa o olhar sobre os que o temem, *
e que confiam esperando em seu amor,
19 para da morte libertar as suas vidas *
e alimentá-los quando é tempo de penúria. R.
20 No Senhor nós esperamos confiantes, *
porque ele é nosso auxílio e proteção!
22 Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, *
da mesma forma que em vós nós esperamos! R.
Como Abraão, que ‘esperava a cidade fundada por Deus’, caminhemos na fé: mesmo sem ver o destino, confiemos que o Senhor constrói em nós sua morada eterna!
e partiu, sem saber para onde ia.
morando em tendas com Isaac e Jacó,
os co-herdeiros da mesma promessa.
se tornou capaz de ter filhos,
porque considerou fidedigno o autor da promessa.
nasceu a multidão “comparável às estrelas do céu
e inumerável como a areia das praias do mar”.
mas a puderam ver e saudar de longe
e se declararam estrangeiros e migrantes nesta terra.
Por isto, Deus não se envergonha deles,
ao ser chamado o seu Deus.
Pois preparou mesmo uma cidade para eles.
sacrificava o seu filho único,
e assim recuperou o filho
– o que é também um símbolo.
Palavra do Senhor.
Mesmo em meio aos medos do presente, ressoa a ternura do Senhor: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-vos o Reino”, esperança que transforma vigília em missão.
um tesouro no céu que não se acabe;
ali o ladrão não chega nem a traça corrói.
para lhe abrirem, imediatamente, a porta,
logo que ele chegar e bater.
Em verdade eu vos digo:
Ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa
e, passando, os servirá.
não deixaria que arrombasse a sua casa.
na hora em que menos o esperardes”.
para dar comida a todos na hora certa?
e começar a espancar os criados e as criadas,
e a comer, a beber e a embriagar-se,
ele o partirá ao meio
e o fará participar do destino dos infiéis.
será chicoteado muitas vezes.
será chicoteado poucas vezes.
A quem muito foi dado, muito será pedido;
a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!”
Palavra da Salvação.
Homilia
A CONFIANÇA – UM CAMINHO DE FÉ QUE NOS CONDUZ AO REINO
A liturgia deste domingo nos apresenta uma mensagem profundamente consoladora e necessária: um convite vibrante à esperança e à confiança, essa virtude tão preciosa e, ao mesmo tempo, tão rara em um mundo marcado por frustrações e desilusões. Muitas vezes, a vida nos golpeia com força, abala nossa capacidade de acreditar e nos deixa inseguros diante das incertezas. A imperfeição da condição humana se revela, e somos tentados a nos fechar. No entanto, a Palavra de Deus hoje nos provoca a olhar além das aparências e a fazer uma escolha ousada: apostar numa confiança radical!
Esta reflexão será dividida em três momentos:
- A confiança: um ato de fé e revelação;
- Deus como horizonte: a vitória final;
- Razões para confiar: o Reino de Deus está próximo.

A confiança: um ato de fé e revelação
A raiz da desconfiança, muitas vezes, está no desconhecimento. Nunca conheceremos plenamente o outro – nem mesmo aqueles que mais amamos – pois sempre haverá um véu de mistério. Diante disso, restam-nos dois caminhos: confiar ou desconfiar. Confiar é um ato de coragem, não um ponto de partida, mas um destino a ser alcançado com um salto de fé. É dizer com o coração: “Confio, e seja feita a vontade de Deus!”. Ao confiar, reconhecemos o valor do outro e nos abrimos ao amor.
Mas e quanto a Deus – estamos dispostos a confiar n’Ele? O Livro da Sabedoria nos recorda com intensidade: os israelitas escravizados confiaram na promessa divina. “Aquilo com que puniste nossos adversários, serviu também para glorificar-nos” (Sb 18,8). Mesmo antes da libertação, já celebravam em hinos a vitória anunciada. É essa confiança nas promessas de Deus que gera comunhão, solidariedade e esperança.
Deus como horizonte: a vitória final
A vida, por vezes, parece uma sucessão de derrotas, mas a partida final está ganha quando colocamos nossa confiança em Deus. A Carta aos Hebreus nos apresenta a fé como a força que sustentou os patriarcas. “A fé é a garantia do que se espera, a prova das realidades que não se veem” (Hb 11,1). Abraão deixou tudo para seguir uma promessa. Viveu como estrangeiro, sem respostas claras, mas com um coração firmemente enraizado na confiança divina.
A fé verdadeira transforma o modo como enxergamos o mundo: mesmo nas situações mais instáveis, Deus permanece como o horizonte seguro, o fundamento da esperança que não decepciona. Podemos perder batalhas, mas jamais perderemos a vitória se estivermos com Ele.
Razões para confiar: o Reino de Deus está próximo
Jesus não formou uma comunidade de desconfiados, mas de discípulos vigilantes, abertos à confiança como forma de vida. No Evangelho deste domingo, ouvimos palavras que ainda hoje ressoam como bálsamo: “Não tenhais medo, pequeno rebanho, porque foi do agrado do Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32). Esta promessa é o nosso tesouro – e onde está o tesouro, ali também estará nosso coração.
Assim como o vigia espera com esperança a luz da aurora, o cristão vive em contínua prontidão, esperando aquele que virá. E quando Ele vier – diz Jesus – “se cingirá, os fará sentar-se à mesa e os servirá” (Lc 12,37). Imagine o próprio Deus, ajoelhando-se para servir os seus filhos! Que grande mistério de amor e humildade.
Por fim, somos chamados à responsabilidade: confiar também é cuidar bem do que nos foi confiado. O Reino é dom, mas também tarefa. Deus espera nossa resposta. A confiança se fortalece quando assumimos, com seriedade, a missão de sermos fiéis à nossa vocação. Hoje, mais do que nunca, o mundo precisa de homens e mulheres que, com os olhos fixos em Deus, tenham coragem de confiar – mesmo quando tudo parecer duvidoso – pois com Ele, a vitória é certa.
Conclusão
Confiar em Deus, especialmente em tempos incertos, é um ato profundamente contracultural — mas é justamente esse o caminho que a liturgia deste XIX Domingo do Tempo Comum nos propõe. A confiança que nasce da fé não é ingênua nem cega; ela brota da escuta da Palavra, da memória das promessas cumpridas e da certeza de que Deus é fiel.
Olhando para o testemunho dos hebreus no Egito, de Abraão em sua peregrinação, e das palavras de Jesus no Evangelho, somos chamados a fazer da confiança uma forma de viver, de esperar e de amar. Não se trata de evitar o sofrimento ou fugir das dúvidas, mas de atravessá-los com os olhos fixos naquele que “nos fará sentar à mesa e nos servirá”.
Hoje, em meio às inseguranças de um mundo marcado por medo, pressa e superficialidade, esta liturgia nos recorda que o Reino de Deus está próximo, e que cada um de nós é convidado a viver como sentinela da aurora — com o coração desperto, os olhos atentos e as mãos dispostas a servir. Confiar é, portanto, uma escolha diária e uma resposta amorosa ao Deus que primeiro confiou em nós. Que essa certeza nos sustente, nos mova e nos transforme.
Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU
Este artigo foi produzido com a assistência de ferramentas de inteligência artificial.