SOLENIDADE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO (ANO C)

A PALAVRA DESTAQUE

Neste domingo, ao celebrarmos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, somos convidados a levantar os olhos e o coração para aquele cuja realeza não nasce do poder, mas do amor que se dá até o fim. A festa, instituída por Pio XI em 1925, surgiu como um apelo urgente ao mundo ferido pela guerra: era preciso voltar a Cristo, reconhecer que somente Ele pode restaurar a paz, reorientar a história e devolver ao coração humano a esperança de que nenhuma força terrestre é capaz de oferecer.

A Palavra de Deus ilumina profundamente esse mistério. A Primeira Leitura (2Sm 5,1-3) recorda a unção de Davi como rei de Israel. Davi não apenas governou; ele inaugurou um tempo que ficou gravado como símbolo de justiça, abundância e fidelidade. Porém, esse reinado era apenas prenúncio de algo infinitamente maior. O povo sonhava com um rei capaz de instaurar, de modo definitivo, a paz sem fim. E esse rei veio – mas veio de modo inesperado.

O Evangelho (Lc 23,35-43) nos apresenta Jesus, o Messias-Rei, cuja majestade surpreende e desconcerta. Seu trono é a cruz; sua coroa, de espinhos; seus soldados, discípulos simples e desarmados; suas armas, o amor e a misericórdia. Em um mundo tão habituado a reis que dominam pela força, Cristo revela um reinado que transforma pelo serviço humilde. É como se Ele nos dissesse: “O verdadeiro poder é o que se inclina para levantar o outro.” E, se somos súditos desse Rei, também nós somos chamados a amar até onde o amor doer, a servir onde ninguém quer servir, a ser presença de paz onde muitos semeiam divisão.

Na Segunda Leitura (Cl 1,12-20), Paulo proclama que Cristo é o centro do universo, aquele por quem e para quem tudo existe. Nele encontramos o sentido da vida, o caminho seguro que nos conduz à eternidade.

Hoje, peçamos orações pelos participantes da COP30, que buscam caminhos responsáveis para cuidar da criação – dom precioso confiado por Deus a toda a humanidade. Rezemos também para que nossa sociedade aprenda a acolher os pobres, reconhecendo neles a presença do próprio Cristo.

Que este Rei, que governa servindo e ama até o extremo, reine verdadeiramente em nossos corações.

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

Ao recordar “Eles ungiram Davi como rei de Israel” contemplamos a fidelidade divina que hoje nos inspira a buscar líderes de serviço humilde, justiça corajosa e coração entregue a Deus para guiar caminhada.

Naqueles dias,
1  Todas as tribos de Israel 
vieram encontrar-se com Davi em Hebron e disseram-lhe:
“Aqui estamos. Somos teus ossos e tua carne.
2 Tempo atrás, quando Saul era nosso rei,
eras tu que dirigias os negócios de Israel.
E o Senhor te disse: 
‘Tu apascentarás o meu povo Israel e serás o seu chefe’ “.
3 Vieram, pois, todos os anciãos de Israel
até ao rei em Hebron.
O rei Davi fez com eles uma aliança em Hebron,
na presença do Senhor, e eles o ungiram rei de Israel.
Palavra do Senhor.

Com o coração vibrante proclamo “Quanta alegria e felicidade: vamos à casa do Senhor!”, pois hoje, entre lutas e esperanças, encontro na comunhão fraterna a força que transforma caminhos e renova a vida.

R. Quanta alegria e felicidade: vamos à casa do Senhor!

1 Que alegria, quando ouvi que me disseram:*
“Vamos à casa do Senhor!”
2 E agora nossos pés já se detêm,*
Jerusalém, em tuas portas. R.

4 Para lá sobem as tribos de Israel,*
as tribos do Senhor.
Para louvar, segundo a lei de Israel,
o nome do Senhor.*
5 A sede da justiça lá está 
 e o trono de Davi. R.

Ao contemplar que “Recebeu-nos no reino de seu Filho amado”, descubro hoje a graça que restaura feridas, ilumina escolhas e desperta em nós a coragem de viver plenamente reconciliados em Cristo para sempre.

Irmãos:
12 Com alegria dai graças ao Pai,
que vos tornou capazes de participar da luz,
que é a herança dos santos.
13 Ele nos libertou do poder das trevas
e nos recebeu no reino de seu Filho amado,
14 por quem temos a redenção, o perdão dos pecados.
15 Ele é a imagem do Deus invisível,
o primogênito de toda a criação,
16 pois por causa dele foram criadas todas as coisas
no céu e na terra,
as visíveis e as invisíveis,
tronos e dominações, soberanias e poderes.
Tudo foi criado por meio dele e para ele.
17 Ele existe antes de todas as coisas
e todas têm nele a sua consistência.
18 Ele é a Cabeça do corpo, isto é, da Igreja.
Ele é o Princípio,
o Primogênito dentre os mortos;
de sorte que em tudo ele tem a primazia,
19 porque Deus quis habitar nele 
com toda a sua plenitude
20 e por ele reconciliar consigo todos os seres,
os que estão na terra e no céu,
realizando a paz pelo sangue da sua cruz.
Palavra do Senhor.

Diante da cruz, clamo: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado”, e encontro hoje a esperança que renova pecadores, cura feridas e abre caminhos de misericórdia que transformam a vida humana.

 
Naquele tempo,
35 os chefes zombavam de Jesus dizendo:
“A outros ele salvou.
Salve-se a si mesmo,
se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!”
36 Os soldados também caçoavam dele;
aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre,
37 e diziam: 
“Se és o rei dos judeus,
salva-te a ti mesmo!”
38 Acima dele havia um letreiro:
“Este é o Rei dos Judeus.”
39 Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo:
“Tu não és o Cristo? 
Salva-te a ti mesmo e a nós!”
40 Mas o outro o repreendeu, dizendo:
“Nem sequer temes a Deus,
tu que sofres a mesma condenação?
41 Para nós, é justo,
porque estamos recebendo o que merecemos;
mas ele não fez nada de mal”.
42 E acrescentou: 
‘”Jesus, lembra-te de mim,
quando entrares no teu reinado.”
43 Jesus lhe respondeu: 
“Em verdade eu te digo:
ainda hoje estarás comigo no Paraíso”.
Palavra da Salvação.

Homilia

A Realeza que Brota da Cruz: O REINO QUE TRANSFORMA CORAÇÕES

Neste último domingo do ano litúrgico, quando a Igreja proclama solenemente Jesus Cristo como Rei do Universo, somos conduzidos a um mistério que desafia nossas expectativas humanas. Esperaríamos contemplar o Cristo glorioso, triunfante, sentado em um trono de luz. No entanto, a liturgia nos faz olhar para o Gólgota. Ali, no lugar do fracasso humano, brilha a vitória divina. É na cruz que o Rei se revela em plenitude – um trono paradoxal, onde o poder se manifesta como entrega e o amor assume a forma de sacrifício.


Diante dessa cena, o Evangelho nos provoca: por que Deus quis que contemplássemos Seu Filho reinando justamente na hora de sua aparente derrota? A resposta não se encontra na lógica humana, mas na lógica do Reino, tão distinta do que conhecemos. 


Os reinos deste mundo se sustentam pela força, pela aparência, pela busca incessante de domínio. O reinado de Cristo, ao contrário, nasce da pobreza da manjedoura e culmina na humildade da cruz. Como afirma o bom ladrão, ao reconhecer o Messias em meio ao sofrimento: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado” (Lc 23,42). Este pedido tão simples se transforma na chave que abre o mistério da realeza de Jesus.

Seu Reino não é feito de súditos, mas de filhos. Não é sustentado por exércitos, mas por corações reconciliados. Não cresce pela imposição, mas pelo testemunho silencioso de quem ama. Por isso, mesmo agonizando, Jesus oferece ao pecador uma promessa infinita: Hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43). Aqui, o Cristo Rei manifesta o núcleo de Sua missão: restaurar a humanidade, reunir os dispersos, curar o que está ferido, devolver ao ser humano sua dignidade primeira.


A Carta aos Colossenses aprofunda esse mistério ao proclamar que nele tudo subsiste” (Cl 1,17). Cristo é a origem, o centro e a meta de toda a criação. Nele, o universo encontra equilíbrio; nele, a história encontra sentido; nele, cada vida encontra esperança. Sua realeza é cósmica, mas também profundamente íntima: toca nossas dores, nossas buscas, nossas fragilidades.

No mundo de hoje – marcado por guerras, polarizações, exclusões e indiferenças – o reinado de Cristo se torna um apelo urgente à conversão. Seu Reino se manifesta sempre que alguém perdoa de verdade, sempre que uma família reencontra a paz, sempre que um pobre é acolhido, sempre que um diferente é respeitado, sempre que uma ferida é tocada com misericórdia. A plenitude de Seu Reino não depende de estruturas grandiosas, mas de corações que se deixam transformar.

 

Celebrar Cristo Rei é, portanto, deixar que Ele reine em nossas escolhas, em nossos relacionamentos e em nossas prioridades. É reconhecer que Sua cruz não é derrota, mas porta aberta para uma humanidade renovada. É permitir que Sua presença reorganize nossa vida, como o sol que, ao nascer, redesenha todas as sombras.


Que hoje, diante do Cristo que reina do alto da cruz, também nós encontremos coragem para rezar como o bom ladrão: Senhor, lembra-te de mim. E que essa súplica abra em nós espaço para o Reino que começa aqui e culmina na eternidade.


Texto de referência escrito por: FERNANDO TORRES, CMF   
Fonte: MISSIONÁRIOS CLARETIANOS (CIUDAD REDONDA)