SOLENIDADE DE PENTECOSTES (ANO C)

A PALAVRA

Há um sopro que não vem do vento, um fogo que não consome, uma voz que não ecoa nos ouvidos, mas no coração. É assim que a liturgia de Pentecostes nos convida a experimentar o Espírito Santo: não como uma força distante ou abstrata, mas como o próprio hálito de Deus, que nos envolve, nos transforma e nos impulsiona para além de nós mesmos.

O Evangelho (Jo 20,19-23) deste dia nos mostra algo extraordinário: os discípulos, antes fechados no medo, reunidos em torno de Jesus ressuscitado, recebem dele um dom que os refaz por dentro. João descreve esse momento com uma simplicidade que esconde uma revolução: Recebei o Espírito Santo (Jo 20,22). Não é apenas um ritual, mas um renascimento. A mesma comunidade que antes vacilava agora é recriada, não por mérito humano, mas pelo sopro divino que a torna corajosa, unida e missionária.

Quantas vezes nós, hoje, nos sentimos como aqueles discípulos? Encurralados por incertezas, divididos por conflitos, paralisados pelo medo de assumir nossa fé. Pentecostes nos lembra que o Espírito não é um presente apenas para o passado – Ele é a força que ainda hoje pode reunir o que está disperso, reacender o que se apagou e dar voz aos que se calam.

A Primeira Leitura (At 2,1-11) , tirada dos Atos dos Apóstolos, traz uma cena que parece tirada de um sonho: línguas de fogo repousando sobre cada um, e pessoas de todas as nações entendendo os apóstolos como se falassem sua própria língua. O milagre não está apenas no falar, mas no ouvir. O Espírito não impõe uma uniformidade fria, mas faz com que a diversidade – de culturas, histórias e línguas – não seja barreira, mas ponte.

Aqui está um dos maiores desafios da Igreja hoje: ser uma comunidade que não apenas tolera as diferenças, mas as vê como dons. O Espírito não nos dá uma lista de regras para seguir cegamente, mas nos dá um coração novo, capaz de amar além das fronteiras que nós mesmos construímos.

Paulo, na Segunda Leitura (1Cor 12,3b-7.12-13), nos alerta com clareza: os dons do Espírito não são troféus para exibição pessoal, mas ferramentas para construir o bem comum (1Cor 12,7). Quantas vezes, porém, caímos na tentação de usar nossos talentos – seja a palavra, a liderança ou mesmo a piedade – para alimentar nosso ego, em vez de servir?

O verdadeiro dom do Espírito se reconhece não pelo brilho, mas pelo fruto: une onde há divisão, levanta onde há queda, silencia onde há orgulho. Se nossa vida espiritual não nos torna mais humildes, mais próximos dos que sofrem, mais pacientes com os que erram – então ainda não entendemos Pentecostes.

Pentecostes não é apenas uma solenidade do calendário litúrgico. É um chamado a perguntar-nos: Onde o Espírito está agindo em mim?

O Espírito não é um conceito teológico – é fogo que arde, vento que move, amor que transborda. E se hoje a Igreja e o mundo precisam de algo, é justamente disso: homens e mulheres que, cheios desse mesmo Espírito, ousem viver de um modo que o mundo não pode explicar… mas não pode ignorar.

Que Pentecostes não seja apenas uma memória, mas um novo começo.

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

Quando ‘todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar’, não foram palavras vazias que ecoaram, mas o fogo divino que transforma medo em coragem, divisão em unidade, e o silêncio em anúncio de vida – hoje, Ele ainda sopra em nós.

1 Quando chegou o dia de Pentecostes,
os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar.
2 De repente, veio do céu um barulho
como se fosse uma forte ventania,
que encheu a casa onde eles se encontravam.
3 Então apareceram línguas como de fogo
que se repartiram e pousaram sobre cada um deles.
4 Todos ficaram cheios do Espírito Santo
e começaram a falar em outras línguas,
conforme o Espírito os inspirava.
5 Moravam em Jerusalém judeus devotos,
de todas as nações do mundo.
6 Quando ouviram o barulho,
juntou-se a multidão, e todos ficaram confusos,
pois cada um ouvia os discípulos
falar em sua própria língua.
7 Cheios de espanto e de admiração, diziam:
“Esses homens que estão falando não são todos galileus?
8 Como é que nós os escutamos na nossa própria língua?
9 Nós que somos partos, medos e elamitas,
habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia,
do Ponto e da Ásia,
10 da Frígia e da Panfília,
do Egito e da parte da Líbia, próxima de Cirene,
também romanos que aqui residem;
11 judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós
os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus
na nossa própria língua!”
Palavra do Senhor

Quando ‘Envias o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovais’, não é apenas a criação que se transforma – é nosso coração que revive, nossa esperança que floresce, e o mundo, hoje, torna-se novo outra vez.

R. Enviai o vosso Espírito, Senhor,
     e da terra toda a face renovai.

1a Bendize, ó minha alma, ao Senhor! *
  b Ó meu Deus e meu Senhor, como sois grande!
24a Quão numerosas, ó Senhor, são vossas obras! * 
 c Encheu-se a terra com as vossas criaturas! R.

29b Se tirais o seu respiro, elas perecem * 
 c e voltam para o pó de onde vieram.
30 Enviais o vosso espírito e renascem *
e da terra toda a face renovais. R.

31 Que a glória do Senhor perdure sempre, *
e alegre-se o Senhor em suas obras!
34 Hoje seja-lhe agradável o meu canto, *
pois o Senhor é a minha grande alegria! R.

Batizados no mesmo Espírito, somos tecidos em um só corpo: diversidade divina que une, cura e transborda graça, transformando fragmentos em comunhão – respiro sagrado da Igreja, pulsante em cada coração.

Irmãos:
3b Ninguém pode dizer:
Jesus é o Senhor a não ser no Espírito Santo.
4 Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito.
5 Há diversidade de ministérios,
mas um mesmo é o Senhor.
6 Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus
que realiza todas as coisas em todos.
7 A cada um é dada a manifestação do Espírito
em vista do bem comum.
12 Como o corpo é um, embora tenha muitos membros,
e como todos os membros do corpo, 
embora sejam muitos, formam um só corpo,
assim também acontece com Cristo.
13 De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, 
fomos batizados num único Espírito,
para formarmos um único corpo,
e todos nós bebemos de um único Espírito.
Palavra do Senhor.

Espírito de Deus,
enviai dos céus
um raio de luz!

Vinde, Pai dos pobres,
dai aos corações
vossos sete dons.

Consolo que acalma,
hóspede da alma,
doce alívio, vinde!

No labor descanso,
na aflição remanso,
no calor aragem.

Enchei, luz bendita,
chama que crepita,
o íntimo de nós!

Sem a luz que acode,
nada o homem pode,
nenhum bem há nele.

Ao sujo lavai,
ao seco regai,
curai o doente.

Dobrai o que é duro,
guiai no escuro,
o frio aquecei.

Dai à vossa Igreja,
que espera e deseja,
vossos sete dons.

Dai em prêmio ao forte
uma santa morte,
alegria eterna.
Amém.

Como o Pai me enviou, Eu vos envio: respirai o Espírito Santo, deixai-O incendiar vossas vidas e levar a chama divina a um mundo que clama por luz, perdão e redenção!

19 Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana,
estando fechadas, por medo dos judeus,
as portas do lugar onde os discípulos se encontravam,
Jesus entrou e pondo-se no meio deles,
disse: “A paz esteja convosco”.
20 Depois destas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado.
Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.
21 Novamente, Jesus disse:
“A paz esteja convosco.
Como o Pai me enviou, também eu vos envio”.
22 E depois de ter dito isso,
soprou sobre eles e disse: 
“Recebei o Espírito Santo.
23 A quem perdoardes os pecados, 
eles lhes serão perdoados;
a quem os não perdoardes, 
eles lhes serão retidos”.
Palavra da Salvação.

Homilia

PENTECOSTES: O ESPÍRITO DE RECONCILIAÇÃO APARENTEMENTE IMPOSSÍVEL

Para nós, é difícil harmonizar diversidade e unidade. Amamos a biodiversidade na natureza, mas não tanto a ‘humanodiversidade’ quando ela nos parece incompreensível ou nos coloca em conflito. Pentecostes nos fala do Espírito que une a diversidade, realizando aquela que parece uma ‘reconciliação impossível’.

Dividirei está homília em três partes:

  • Muitos carismas… um só Espírito
  • O Espírito da diversidade e da unidade
  • O desejo do Reino… ser guiados pelo Espírito

MUITOS CARISMAS… UM SÓ ESPÍRITO

Contudo, o Espírito de Deus atua como o grande semeador e unificador. Dele brotam a variedade e a diferença, mas também a força que nos congrega e nos conduz à comunhão. São Paulo nos recorda que existem muitos carismas, muitos serviços e muitos dons, mas um só Espírito que a todos vivifica: Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito (1Cor 12,4).

O Espírito não busca impor uma uniformidade que sufoque a riqueza do diverso; ao contrário, Ele tece uma harmonia profunda, tornando possível a unidade na diferença, como uma sinfonia em que cada nota tem seu lugar, sua beleza, sua indispensabilidade.

Em Pentecostes, os apóstolos – tão distintos em personalidade, história e temperamento – receberam o Espírito e, transformados, formaram um só povo, capaz de se compreender além das línguas e culturas (cf. At 2,6-11). Assim, nasce a Igreja: como uma comunidade variada, plural, universal, chamada a viver a comunhão e a inclusão, a superar as divisões e a aprender, com humildade, a escutar-se mutuamente e a complementar-se com amor.

O Espírito Santo hoje nos convida, mais do que nunca, a crescer nesta comunhão profunda; a acolher a diversidade não como ameaça, mas como riqueza; a buscar juntos a harmonia e a paz, sinais visíveis de sua presença.

No tempo em que vivemos – marcado por muros, polarizações e indiferenças – Pentecostes irrompe como um chamado urgente e esperançoso: deixemo-nos reunir pelo Espírito que faz novas todas as coisas (cf. Ap 21,5), que quebra barreiras e nos conduz à plenitude da comunhão.

Que esta Solenidade de Pentecostes (Ano C) nos inspire a ser, como Igreja e como humanidade, sinais vivos dessa unidade reconciliada na diversidade, fruto maduro do Espírito que não cessa de soprar sobre o mundo e sobre cada um de nós.

O ESPÍRITO DA DIVERSIDADE E DA UNIDADE

Percebemos, com clareza dolorosa, que a história e o universo estão quebrados, fragmentados. Há divisões religiosas – diversas religiões, múltiplas confissões cristãs, tendências opostas até mesmo dentro da mesma confissão… Há divisões políticas, que alimentam guerras frias e quentes, e há divisões que nos fazem viver a nossa relação com a criação de maneira tensa, problemática, dramática: a criação geme e sofre como em dores de parto (cf. Rm 8,22), diante de tufões, terremotos e tragédias ecológicas.

Há também divisões que procedem do maligno, daquele poder misterioso que nos separa e nos coloca uns contra os outros. Contudo, o diabólico não apenas divide, mas cria falsas unidades: alianças perversas, redes de maldade que tentam destruir a legítima e saudável diversidade que enriquece a vida.

O Espírito de Deus, ao contrário, é o Espírito da variedade, da diferença, da pluralidade; mas também, e inseparavelmente, é o Espírito da unidade. São Paulo nos recorda, com força e esperança, que há muitos carismas, muitos serviços, muitas energias à nossa disposição, mas: um só é o Espírito (1Cor 12,4).

Neste Pentecostes, somos convidados a contemplar o mistério desta tensão fecunda: diversidade e unidade, diferença e comunhão, pluralidade e harmonia.

No tempo presente, tão marcado por rupturas e polarizações, a ação do Espírito Santo nos desafia e nos anima a ser instrumentos dessa unidade reconciliada, dessa comunhão que não anula as diferenças, mas as acolhe como dons.

Que esta Solenidade de Pentecostes (Ano C) nos desperte para essa missão: ser, no meio das fraturas do mundo, sinais vivos do Espírito que “reúne o que está disperso” (cf. Jo 11,52), que cura as divisões e faz de nós um só povo, animado por um só Espírito.

O DESEJO DO REINO… SER GUIADOS PELO ESPÍRITO

Jesus nos convida à paciência, recordando-nos que somente Deus pode transformar o mundo segundo os desígnios do Seu Reino. A verdadeira inspiração e a autêntica liberdade nascem da espera humilde e confiante, sustentadas pelo Espírito, que nos abre à tolerância e nos conforta ao longo do caminho.

Diante da impaciência dos tiranos – que pretendem impor, à força, a sua vontade – o Espírito nos educa na esperança paciente, ensinando-nos a esperar e a colaborar com a Sua presença surpreendente e silenciosa, que se manifesta quando menos esperamos, como o vento sopra onde quer (cf. Jo 3,8).

Neste tempo de Pentecostes, somos chamados a acolher esse dinamismo: não a pressa dos impérios, mas a paciência de Deus; não o desespero humano, mas a esperança divina que nos dá VIDA NOVA (cf. Rm 6,4).

O Espírito Santo, dom do Ressuscitado, é quem nos anima, fortalece e impulsiona, hoje, a sermos homens e mulheres da esperança, sinal de um mundo novo que já está em gestação. Que, nesta Solenidade de Pentecostes (Ano C), deixemos o Espírito moldar em nós a paciência que transforma, a confiança que renova, e a liberdade que liberta.

CONCLUSÃO

Pentecostes é a solenidade da Beleza, como dizia Santo Agostinho: unidade na variedade. O Espírito, fonte inesgotável de harmonia e criatividade, embeleza o mundo ao restaurar o projeto original de Deus, onde a diversidade não é ameaça, mas riqueza abundante.

Essa beleza, que triunfa sobre a hostilidade e a violência, é a manifestação ativa do Amor e da liberdade dos filhos de Deus, porque todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus (cf. Rm 8,14), chamados à glorificação e ao júbilo da criação reconciliada.

Na Solenidade de Pentecostes (Ano C), somos convidados a contemplar esta Beleza que o Espírito suscita: não uma estética superficial, mas a beleza profunda que brota da comunhão, da reconciliação e do amor fraterno. Hoje, mais do que nunca, em meio aos desafios e feridas do mundo contemporâneo, o Espírito nos inspira a sermos artífices desta obra divina, tecendo com nossas vidas sinais de unidade, paz e esperança.

Que a celebração de Pentecostes desperte em nós o desejo de colaborar com o Espírito Santo, para que a criação inteira possa cantar, em harmonia, o cântico novo da Beleza reconciliada: ENVIAS O TEU ESPÍRITO E ELES SÃO CRIADOS, E ASSIM RENOVAS A FACE DA TERRA (Sl 104,30).

Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU
Este artigo foi produzido com a assistência de ferramentas de inteligência artificial.