IV DOMINGO DO ADVENTO (ANO A)

A PALAVRA DESTAQUE

No último Domingo do Advento, a liturgia conduz nosso olhar para o coração do mistério que estamos prestes a celebrar: o nascimento do Emanuel, o “Deus conosco”. Não se trata de uma ideia abstrata ou de um consolo distante, mas da certeza desconcertante de que Deus escolheu entrar na história humana, partilhar nossas fragilidades e caminhar ao nosso lado como Amigo e Irmão. A vinda do Menino Deus ilumina a existência humana com um sentido novo, capaz de transformar o medo em esperança e o cansaço em expectativa confiante.

A Primeira Leitura (Is 7,10-14), retirada do profeta Isaías, nasce de um contexto marcado pela insegurança. O rei Acaz vê seu reino ameaçado e seu futuro envolto em sombras. É justamente aí que Deus se manifesta: não com discursos grandiosos, mas com um sinal simples e profundamente humano – o nascimento de uma criança. Esse menino é promessa de continuidade, de vida que resiste, de um amanhã possível. O recado é claro: mesmo quando tudo parece instável, Deus permanece fiel e caminha com seu povo nos meandros da história.

No Evangelho (Mt 1,18-24), Mateus nos apresenta o cumprimento pleno dessa promessa. O Menino que nasce de Maria é o verdadeiro Emanuel. Deus não apenas “ajuda de longe”, mas vem habitar entre nós. José, figura silenciosa e forte, ensina-nos como acolher esse mistério. Diante do inesperado e do desconcerto, ele escolhe confiar. Sua obediência não é passiva, mas profundamente corajosa: ele assume a missão de proteger e cuidar do Salvador. José nos recorda que acolher Jesus exige abertura, renúncia e disponibilidade para rever nossos próprios planos.

Na Segunda Leitura (Rm 1,1-7), o apóstolo Paulo se apresenta como alguém radicalmente transformado pelo encontro com Cristo. Ao definir-se como “servo de Jesus Cristo”, Paulo testemunha que sua vida encontrou um novo eixo. Quem se deixa visitar pelo Senhor não permanece o mesmo. Advento, então, não é apenas espera, mas decisão: permitir que Deus entre em nossa história concreta e faça dela lugar de salvação.

Às portas do Natal, a liturgia nos pergunta silenciosamente: estamos dispostos a acolher o Emanuel? A deixar que Deus caminhe conosco, cure nossos medos e nos conduza à vida verdadeira?

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

Hoje, à luz da esperança ferida do mundo, Eis que uma virgem conceberá, sinal eterno de Deus conosco, lembrando-nos que, mesmo no medo, a vida nasce quando confiamos e caminhamos com Ele hoje.

Naqueles dias,
10 o Senhor falou com Acaz, dizendo:
11 “Pede ao Senhor teu Deus que te faça ver um sinal,
quer provenha da profundeza da terra,
quer venha das alturas do céu”.
12 Mas Acaz respondeu:
“Não pedirei nem tentarei o Senhor”.
13 Disse o profeta:
“Ouvi então, vós, casa de Davi;
será que achais pouco incomodar os homens
e passais a incomodar até o meu Deus?
14 Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal.
Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho,
e lhe porá o nome de Emanuel.
Palavra do Senhor.

Em tempos de incerteza, o rei da glória é o Senhor onipotente; abri as portas para que ele possa entrar, convidando-nos a abrir o coração, deixar Deus reinar e transformar lutas em esperança.

R. O rei da glória é o Senhor onipotente;
abri as portas para que ele possa entrar!

1 Ao Senhor pertence a terra e o que ela encerra,*
o mundo inteiro com os seres que o povoam;
2 porque ele a tornou firme sobre os mares,*
e sobre as águas a mantém inabalável. R.


3 “Quem subirá até o monte do Senhor,*
quem ficará em sua santa habitação?”
4a “Quem tem mãos puras e inocente coração,*
b quem não dirige sua mente para o crime. R.

5 Sobre este desce a bênção do Senhor*
e a recompensa de seu Deus e Salvador”.
6 “É assim a geração dos que o procuram,*
e do Deus de Israel buscam a face”. R.

Em meio às buscas humanas, Jesus Cristo, descendente de Davi, Filho de Deus, revela Deus próximo, assume nossa história, chama-nos à fé viva e transforma o cotidiano em caminho de graça e esperança.


1 Eu, Paulo, servo de Jesus Cristo, apóstolo por vocação,
escolhido para o Evangelho de Deus,
2 que pelos profetas havia prometido,
nas Sagradas Escrituras,
3 e que diz respeito a seu Filho, |
descendente de Davi segundo a carne
,4 autenticado como Filho de Deus com poder,
pelo Espírito de Santidade que o ressuscitou
dos mortos, Jesus Cristo, Nosso Senhor.
5 É por Ele que recebemos a graça da vocação
para o apostolado, a fim de podermos trazer à obediência da fé todos os povos pagãos,
para a glória de seu nome.
6 Entre esses povos estais também vós,
chamados a ser discípulos de Jesus Cristo.
7 A vós todos que morais em Roma,
amados de Deus e santos por vocação,
graça e paz da parte de Deus, nosso Pai,
e de nosso Senhor, Jesus Cristo.
Palavra do Senhor.

Hoje contemplamos Jesus nascerá de Maria, prometida em casamento a José, filho de Davi, mistério de Deus que entra na história, assume fragilidades humanas e acende esperança concreta nos dias atuais do mundo.


18 A origem de Jesus Cristo foi assim:
Maria, sua mãe, estava prometida em casamento
a José, e, antes de viverem juntos,
ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo.
19 José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo.
20 Enquanto José pensava nisso,
eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho,
e lhe disse: “José, Filho de Davi,
não tenhas medo de receber Maria como tua esposa,
porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo.
21 Ela dará à luz um filho,|
e tu lhe darás o nome de Jesus,
pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”.
22 Tudo isso aconteceu para se cumprir
o que o Senhor havia dito pelo profeta:
23 “Eis que a virgem conceberá |
e dará à luz um filho. 
Ele será chamado pelo nome de Emanuel,
que significa: Deus está conosco”.
24 Quando acordou,
José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado,
e aceitou sua esposa.
Palavra da Salvação.

Homilia

O “FIAT” SILENCIOSO DE JOSÉ

No IV Domingo do Tempo do Advento, a liturgia nos apresenta um homem que, no silêncio mais profundo, pronunciou um dos “sins” mais decisivos da história da salvação: José. Um homem que não diz uma única palavra nos Evangelhos, mas cuja obediência mudou o mundo para sempre. Sobre ele, São Mateus escreve: “José fez conforme o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu Maria como sua esposa” (Mt 1,24). Um gesto simples, silencioso e, ao mesmo tempo, absolutamente revolucionário.

O DRAMA INTERIOR DE JOSÉ

Imaginemos o coração de José naquela noite. A mulher que ele ama, Maria, sua prometida, espera um filho – e ele sabe que esse filho não é seu. Em sua cultura, isso não significava apenas vergonha, mas podia levar Maria à morte. É nesse abismo que se revela a grandeza de José. O Evangelho o chama de “justo”. Não uma justiça fria, legalista, mas uma justiça enraizada no amor. José prefere perder tudo a expor Maria. Ele intui que ali há um mistério maior do que ele mesmo. Humildemente, dá um passo atrás para que Deus atue.

FILHO DE DAVI, HOMEM DO SILÊNCIO

José é chamado “filho de Davi”. Ele pertence à linhagem real, herdeiro legítimo da promessa messiânica. No entanto, vive escondido, trabalhando com as próprias mãos. Eis a pedagogia de Deus: o verdadeiro Rei não entra na história pelos palácios, mas pelo silêncio de um carpinteiro. Por meio de José é que Jesus será reconhecido como “filho de Davi”, o Messias esperado.

O ANJO E O “NÃO TEMAS”

Na hora mais escura, Deus fala. Em sonho, o anjo lhe diz: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo” (Mt 1,20). Não é uma promessa de facilidade, mas um convite à confiança. José responde sem palavras. Seu “fiat” não é dito, é vivido.

Assim como Maria respondeu com palavras – Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38) – José responde com ações. Dois “sins”, um só mistério: a Encarnação.

PATERNIDADE QUE NASCE DO AMOR

O Evangelho é claro: O que nela foi concebido vem do Espírito Santo” (Mt 1,20). José não é pai biológico, mas é pai verdadeiro. Ele protege, dá nome, oferece casa e cuidado. A paternidade, aqui, revela seu sentido mais profundo: amar, acolher e servir sem possuir.

UMA LIÇÃO PARA HOJE

Em um mundo que busca visibilidade, aplauso e protagonismo, José ensina que é possível mudar a história permanecendo na sombra. Ele é a imagem de uma humanidade madura, firme e humilde. Às vésperas do Natal, José nos pergunta: somos capazes de confiar mesmo sem compreender tudo? De dizer “sim” a Deus, mesmo com medo? 

José nos ensina que o essencial não é que nos vejam, mas que Cristo seja visto. Seu silêncio ainda fala. Seu “fiat” ainda ecoa. Que ele ressoe também em nossos corações.

Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU

Este artigo foi produzido com a assistência de ferramentas de inteligência artificial.