III DOMINGO DO ADVENTO (ANO A)

A PALAVRA

Neste terceiro passo do nosso caminho do Advento, entramos no clima luminoso do Domingo Gaudete, o domingo da alegria. Não é uma alegria superficial, daquelas que dependem de circunstâncias externas. É a alegria profunda de quem sabe que o Senhor está perto, que a salvação já desponta no horizonte, como a primeira luz que rompe a madrugada. O Advento nos diz, quase ao ouvido: Coragem, Ele vem! – e isso muda tudo.

A Primeira Leitura (Is 35,1-6a.10) nos transporta para a dolorosa realidade do exílio na Babilônia. Imagine um povo que, por décadas, viu suas esperanças murcharem. Um povo que talvez já tivesse desistido de acreditar em dias melhores. E, justamente ali, no coração da tristeza, surge a voz de um profeta anônimo – alguém sem nome, mas cheio de Deus – anunciando que o tempo da dor está chegando ao fim. Por quê? Porque Deus está a caminho, pronto para fazer justiça, pronto para abrir estradas onde só há desertos. É a revelação do Deus que nunca abandona os seus filhos, mesmo quando tudo parece perdido.

No Evangelho (Mt 11,2-11), Jesus confirma essa promessa com gestos concretos. Ele não fala apenas de esperança; Ele é a esperança encarnada. Onde Ele passa, a cegueira dá lugar à luz, os paralisados encontram força para caminhar, os excluídos voltam a sentir o calor de uma família, os surdos rompem o silêncio que os isolava, e até a morte perde o domínio sobre aqueles que já não viam sentido algum para viver. Com Jesus, o Reino de Deus irrompe como uma tempestade de misericórdia que transforma a história humana a partir de dentro.

E Tiago, na Segunda Leitura (Tg 5,7-10), dirige-se aos pobres, aos cansados, aos que sofrem injustiças – talvez como muitos de nós. Ele lembra que o Senhor, o verdadeiro Juiz, está próximo. Não um juiz vingativo, mas Aquele que vem restaurar o que foi ferido, erguer o que foi humilhado, consolar quem foi esquecido. Enquanto esperamos, ele nos pede paciência firme, aquela que nasce de confiar que Deus age mesmo quando não vemos.

Assim, este domingo nos chama a uma alegria que nasce da fé: Deus está vindo, Deus está perto, Deus não esquece ninguém. É hora de levantar a cabeça e continuar caminhando.

Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

Quando o deserto da vida parece árido e silencioso, recorda que “É o próprio Deus que vem para vos salvar.”, trazendo força, esperança e uma alegria que renova cada passo do nosso caminho hoje.

1 Alegre-se a terra que era deserta e intransitável,
exulte a solidão e floresça como um lírio.
2 Germine e exulte
de alegria e louvores.
Foi-lhe dada a glória do Líbano,
o esplendor do Carmelo e de Saron;
seus habitantes verão a glória do Senhor,
a majestade do nosso Deus.
3 Fortalecei as mãos enfraquecidas
e firmai os joelhos debilitados.
4 Dizei às pessoas deprimidas:
“Criai ânimo, não tenhais medo!
Vede, é vosso Deus,
é a vingança que vem, é a recompensa de Deus;
é ele que vem para vos salvar”.
5 Então se abrirão os olhos dos cegos
e se descerrarão os ouvidos dos surdos.
6a O coxo saltará como um cervo
e se desatará a língua dos mudos.
10 Os que o Senhor salvou, voltarão para casa.
Eles virão a Sião cantando louvores,
com infinita alegria brilhando em seus rostos:
cheios de gozo e contentamento,
não mais conhecerão a dor e o pranto.
Palavra do Senhor.

Em meio às fragilidades que marcam nossa história, elevamos o coração e clamamos: “Vinde Senhor, para salvar o vosso povo!”, confiando que tua presença restitui dignidade, cura feridas e renova a esperança em nós.

R. Vinde Senhor, para salvar o vosso povo!

7 O Senhor é fiel para sempre, *
faz justiça aos que são oprimidos;
ele dá alimento aos famintos, *
é o Senhor quem liberta os cativos. R.
 
8 O Senhor abre os olhos aos cegos,*
o Senhor faz erguer-se o caído,
o Senhor ama aquele que é justo,*
9a é o Senhor que protege o estrangeiro. R.
 
b Ele ampara a viúva e o órfão,*
c mas confunde os caminhos dos maus.
10 O Senhor reinará para sempre!*
Ó Sião, o teu Deus reinará. R.

Em tempos de espera e incertezas, lembremos que “Fortalecei vossos corações porque a vinda do Senhor está próxima.”, e deixemos essa promessa sustentar nossa esperança, animar nossa fé e renovar cada passo de hoje.

 
Irmãos:
7 Ficai firmes até à vinda do Senhor.
Vede o agricultor:
ele espera o precioso fruto da terra e fica firme
até cair a chuva do outono ou da primavera.
8 Também vós, ficai firmes e fortalecei vossos corações,
porque a vinda do Senhor está próxima.
9 Irmãos, não vos queixeis uns dos outros,
para que não sejais julgados.
Eis que o juiz está às portas.
10 Irmãos, tomai por modelo de sofrimento e firmeza
os profetas, que falaram em nome do Senhor.
Palavra do Senhor.

Diante das dúvidas que atravessam nossa fé, repetimos a pergunta: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar um outro?” e deixamos que a presença viva de Cristo renove nossa confiança hoje.

Naquele tempo,
2 João estava na prisão.
Quando ouviu falar das obras de Cristo,
enviou-lhe alguns discípulos,
3 para lhe perguntarem:
“És tu, aquele que há de vir,ou devemos esperar um outro?”
4 Jesus respondeu-lhes:
“Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo:
5 os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam,
os leprosos são curados, os surdos ouvem,
os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados.
6 Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!”
7 Os discípulos de João partiram,
e Jesus começou a falar às multidões, sobre João:
“O que fostes ver no deserto?
Um caniço agitado pelo vento?
8 O que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas?
Mas os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis.
9 Então, o que fostes ver? Um profeta?
Sim, eu vos afirmo, e alguém que é mais do que profeta.
10 É dele que está escrito:
‘Eis que envio o meu mensageiro à tua frente;
ele vai preparar o teu caminho diante de ti’.
11 Em verdade vos digo, de todos os homens que já
nasceram, nenhum é maior do que João Batista.
No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele”.
Palavra da Salvação.

Homilia

QUANDO A DÚVIDA NOS APROXIMA DE DEUS

A liturgia deste III Domingo do Advento nos coloca diante de uma cena desconcertante: João Batista, o profeta que batizou Jesus, aquele que O apontou como “o Cordeiro de Deus” (Jo 1,29), aquele que clamava no deserto… e agora tem dúvidas. Das trevas de uma cela, ele manda perguntar: “És tu Aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?” (Mt 11,3). Surpreendente! Um grande profeta, como João, pode duvidar? Sim, até os santos duvidam!

A HONESTIDADE BRUTAL DE JOÃO 

Imaginemos sua situação: encarcerado na fortaleza de Maqueronte, em uma cela úmida e escura. Antes, vivia no deserto vasto; agora, só enxerga quatro paredes. Aquele que comia gafanhotos e mel silvestre agora depende do pão duro que seus carcereiros lhe jogam. Aquele que gritava a verdade em liberdade agora ouve apenas o eco de seus próprios pensamentos.

E nesse silêncio forçado, chegam-lhe notícias sobre Jesus. Mas não são as que ele esperava, quando proclamava: “O machado já está posto à raiz das árvores” (Mt 3,10). Ele esperava um Messias que derrubasse os poderosos e fizesse justiça imediata. Contam-lhe, porém, que Jesus come com pecadores, toca leprosos, perdoa mulheres marginalizadas, fala de amor aos inimigos. E João, em sua cela, se pergunta: “Será este o Messias que anunciei? Ou terei me enganado?

É a dúvida que nos atravessa quando a vida não se desenrola como esperávamos: “Tudo isso tem sentido? Vale realmente a pena? Não terei desperdiçado minha vida?”

NOSSA DÚVIDA COTIDIANA

 Duvidamos quando rezamos e parece que nossas orações batem no teto e voltam. Duvidamos quando fazemos o bem e vemos a injustiça triunfar. Duvidamos quando somos fiéis a nossos compromissos e outros, que não o são, parecem mais felizes. Duvidamos quando enterramos um ente querido cedo demais, quando a doença nos golpeia sem explicação, quando o sofrimento dos inocentes nos parte a alma.

E muitas vezes, em nossas comunidades cristãs, nos fizeram crer que duvidar é pecado, que a dúvida é sinal de pouca fé, que os bons cristãos nunca questionam nada. Mas isso é falso.

A dúvida não é o oposto da fé. A dúvida honesta é parte do caminho da fé. O oposto da fé não é a dúvida; é a indiferença. João duvida porque se importa, porque apostou sua vida inteira nisso. Se não lhe importasse, simplesmente teria dado de ombros.

A RESPOSTA DE JESUS

E reparemos em como Jesus lhe responde. Não se ofende. Não lhe diz: “Como ousa duvidar de Mim?”. Não lhe envia um discurso teológico nem lhe receita atos de fé repetitivos. Jesus lhe responde com fatos:

Os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa-Nova” (Mt 11,5).

É como se Jesus lhe dissesse:

João, sei que estás confuso. Sei que isto não é o que esperavas. Mas abre os olhos para o que realmente está acontecendo: onde havia cegueira, agora há luz; onde havia exclusão, agora há acolhida; onde havia desesperança, agora há vida nova”.

Jesus não responde com argumentos abstratos, mas com transformações reais. E termina com uma bem-aventurança preciosa: “Feliz aquele que não se escandaliza por minha causa!” (Mt 11,6). O que isto significa? Que é abençoado aquele que, ainda não compreendendo tudo, ainda que as coisas não sejam como esperava, ainda que Deus aja de maneiras desconcertantes… continua confiando, continua buscando, continua olhando para a luz.

JOÃO É GRANDE PRECISAMENTE EM SUA DÚVIDA

E eis que vem o mais surpreendente do Evangelho. Depois que os discípulos de João se vão, Jesus fala dele à multidão. E não o critica por ter duvidado. Pelo contrário, o exalta:

Entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João Batista (Lc 7,28).

Isto é revolucionário. João é grande aos olhos de Deus mesmo em sua dúvida. É grande porque é honesto, porque é autêntico, porque busca a verdade mesmo quando ela dói. Deus não despreza nossas dúvidas; Ele honra nossa busca sincera. A santidade não consiste em não ter dúvidas, mas em seguir caminhando apesar delas. Em continuar buscando a luz, ainda que estejamos nas trevas.

O ADVENTO DA DÚVIDA

Não finjamos certezas que não temos. Sejamos autênticos diante de Deus. Acolhamos nossas dúvidas com honestidade. Porque Deus prefere nossa dúvida honesta a uma fé fingida; prefere nossas perguntas inquietas a nossas respostas automáticas. Quando duvidamos sobre Deus, sobre a Igreja, sobre o sentido de nossa vida, sobre se vale a pena continuar crendo, não estamos sozinhos. João Batista caminha conosco. E, mais importante ainda: JESUS NÃO SE ESCANDALIZA COMIGO. Ele me responde como respondeu a João: “Olha, abre os olhos: Eu continuo agindo”.

ONDE OLHAR? OS SINAIS DE HOJE

Onde Jesus age hoje? Os cegos continuam a ver: cada vez que alguém descobre que é amado tal como é. Os paralíticos continuam a andar: cada vez que alguém encontra forças, após uma queda, para levantar-se e seguir adiante. Os mortos continuam a ressuscitar: cada vez que um coração endurecido pelo ódio ou uma esperança morta pela desilusão volta à vida. E aos pobres continua a ser anunciada a Boa-Nova: cada vez que alguém à margem da sociedade descobre que sua vida tem uma dignidade infinita e um sentido eterno.

CONCLUSÃO: UMA COMUNIDADE DE CAMINHANTES

Nós, cristãos católicos, somos uma comunidade de buscadores honestos, e não de possuidores arrogantes da verdade. Nossa fé é um caminho a ser percorrido, e não um ponto de chegada onde tudo está claro. Mesmo quando duvidamos e nos sentimos frágeis, o Espírito de Deus está conosco, especialmente quando nos encontramos na cela da doença, do fracasso, da solidão ou da incompreensão. Este tempo do Advento nos convida, com João, a levar nossa inquietação a Cristo e a aprender a ver, com novos olhos, os sinais de sua vinda amorosa e transformadora no meio de nós.

ORAÇÃO PARA O III DOMINGO DO ADVENTO

Senhor Jesus, Luz do mundo,
neste Domingo da Alegria, acolhei nossas dúvidas e inquietações,
como acolhestes a dúvida honesta de João Batista.

Abri nossos olhos para vermos, no meio das trevas do mundo,
os sinais concretos de Vossa compaixão e ação:
no gesto de acolhida, no perdão dado, no pão partido.

Transformai nossa espera passiva em esperança ativa,
nosso medo em confiança e nossa dúvida em busca sincera.
Que o Vosso amor, que se aproxima no Natal,
renasce em nossos corações como fé, alegria e serviço.

Amém.

Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU
Este artigo foi produzido com a assistência de ferramentas de inteligência artificial.